Orientados pela presidente Dilma Rousseff e por Lula, movimentos sustentados pelo governo infernizam o País, enquanto o Planalto faz o diabo para tentar inviabilizar a futura gestão de Michel Temer
Marcelo Rocha
A tática é
velha, surrada e remete a Roma antiga. Tal como o imperador Nero fez com
a capital ocidental do Império, para depois atribuir a culpa aos
cristãos, o PT pôs em marcha, nos últimos dias, o que internamente
chamou de “política de terra arrasada”. Orientados pelo ex-presidente
Lula, com o beneplácito da presidente Dilma Rousseff, e inflamado por
movimentos bancados pelo governo, o partido resolveu tocar fogo no País –
no sentido figurado e literal. A estratégia é tentar inviabilizar
qualquer alternativa de poder que venha a emergir na sequência do, cada
vez mais próximo, adeus a Dilma. A ordem é sabotar de todas as maneiras o
sucessor da petista, o vice Michel Temer, apostando no quanto pior
melhor. Mais uma vez, o PT joga contra os interesses do País. Não
importa o colapso da economia, os 11 milhões de desempregados nem se a
Saúde, a Educação e serviços essenciais à população, que paga impostos
escorchantes, seguem deficientes. A luta que continua, companheiros, é
do poder pelo poder. Como Nero fez com os cristãos, a intenção dos
petistas é de que a culpa, em caso de eventual fracasso futuro, recaia
sobre a gestão do atual ocupante do Palácio do Jaburu. Só assim,
acreditam eles, haveria alguma chance de vitória quando o Senado julgar,
em cerca de 180 dias, o afastamento definitivo de Dilma.
Coerente com essa tática de guerrilha, a
determinação expressa no Planalto é a de deletar arquivos e sonegar
informações sobre a administração e programas para, nas palavras de
Lula, deixar Temer “à míngua” durante o processo de transição. “Salvem
arquivos fora do computador e a apaguem o que tiver na máquina. Em
breve, a pasta será ocupada por um inimigo”, disse um auxiliar palaciano
à ministra da Agricultura, Kátia Abreu, fiel aliada de Dilma, na semana
passada. Nada mais antidemocrático para um partido que, nos últimos
dias, posou como o mais democrata dos democráticos, a bradar contra
fantasmas golpistas, que só existem mesmo na narrativa petista. “Vamos
infernizar o Temer. Agora é guerra”, conclamou Lula em reunião com Dilma
na segunda-feira 25. No PT, tarefa dada é tarefa cumprida,
principalmente quando o objetivo é o de promover arruaças e incendiar as
ruas. Na quinta-feira 28, coube aos soldados de Lula a tarefa de
começar a colocar o plano em prática. Em pelo menos nove estados,
movimentos como o MST e o MTST que, ultimamente, só têm fôlego e alguma
capilaridade pelo fato de serem aquinhoados pelas benesses oficiais,
puseram fogo em pneus e paralisaram estradas e avenidas, causando
transtornos à população. Além do bloqueio de rodovias, os manifestantes
planejam invasões de terras e propriedades privadas, onde o apogeu será o
1º de maio.
Sempre que acuado, o PT recorre a esse
lamentável expediente. É a exacerbação do “nós contra eles” que, embora
seja frágil para tirar o lulopetismo das cordas, é eficiente para
mobilizar sua militância. Não seria justo afirmar que o partido esteve
sempre na contramão dos anseios e clamores da sociedade. Mas a
retrospectiva mostra que em alguns momentos cruciais da história –
sobretudo quando estiveram em baixa – os petistas não hesitaram em tomar
posições polêmicas para alcançar os seus objetivos muitas vezes nada
republicanos. Em setembro de 1992, ao defender o impeachment do
presidente Fernando Collor, o então deputado federal José Dirceu falou
do alto da tribuna que o PT apresentaria uma agenda de reformas
políticas e econômicas para o Brasil. Foram palavras ao vento. O PT não
só não embarcou na coalizão proposta por Itamar Franco, que assumira o
lugar de Collor, como trabalhou incansavelmente, como faz agora, para
inviabilizar o novo governo, desde pedidos de impeachment à ferrenha
oposição feita contra o Plano Real, o pacote econômico de 1994 que
proporcionou a estabilidade econômica do País e que, mais tarde, viria a
beneficiar o próprio PT, ao criar o ambiente propício aos avanços
sociais.
Em 1982, ano das primeiras eleições
estaduais após o golpe de 1964, o partido atacou mais o candidato do
PMDB, Franco Montoro, um dos expoentes do movimento das Diretas Já, do
que o candidato apoiado por Paulo Maluf e pela ditadura militar. Em
1985, o PT se posicionou contra a eleição do mineiro Tancredo Neves para
a Presidência, em eleição indireta na Câmara, orientando seus deputados
a votar nulo. Quem descumpriu a determinação, foi expulso da legenda. O
texto da Constituição de 1988 também foi rechaçado pelo PT por Lula,
com bem lembrou a advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido
de impeachment contra Dilma, em sessão no Senado semana passada. “Os
brasileirinhos devem acreditar nesse livro sagrado”, disse ela
visivelmente emocionada e com a Constituição erguida. “Esse é um
documento que o PT não assinou”, rememorou ela. Como se vê, são fartos
os episódios na história do partido que denunciam a postura do quanto
pior melhor. Mais recentemente, a legenda se opôs à criação da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), norma aprovada em 2000 que obrigou
governantes a gastarem só o que arrecadam. É uma legislação muito
elogiada, que representou uma mudança de paradigma na administração
pública. Não à toa, quinze anos depois de aprovada a LRF sem o endosso
petista, a presidente Dilma foi condenada no TCU por contrariar a lei,
ao incorrer nas pedaladas fiscais – ironicamente o principal mote do
pedido de impeachment.
As ações do PT na tentativa de sabotar o
País extrapolam as nossas fronteiras. Nas últimas semanas, o partido
usou a máquina pública para tentar disseminar informações falsas a
Países e organismos estrangeiros a respeito do processo de impeachment,
com o objetivo de deslegitimar o futuro governo. O ponto alto, e mais
inacreditável, foi quando Dilma, depois de mencionar a “grave situação”,
e contraditoriamente, afirmar ser o Brasil uma democracia vigorosa, em
evento na ONU, pediu a expulsão do País do Mercosul, caso seja
confirmado o seu afastamento. Em grave atentado contra a soberania
nacional, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o assessor
internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, formalizaram o
pedido em encontro com o secretário-geral da Unasul. Nunca antes na
história, um chefe de Estado ou de governo solicitou graves sanções
contra o seu próprio País. Mas, no governo do PT, tudo virou possível.
As tentativas de desacreditar o futuro
governo Temer começaram antes mesmo da votação do processo de
impeachment no plenário da Câmara dos Deputados, no domingo 17 de abril.
Em um discurso duro gravado em vídeo, a presidente Dilma chamou de
“traidores da democracia” os defensores do seu afastamento e disse que
ficará “gravada na testa” de seus adversários a tentativa de “golpe”. A
fala da presidente seria exibida em cadeia nacional na sexta-feira 15,
mas o ministro José Eduardo Cardozo, da Advocacia-Geral da União (AGU),
recomendou que a peça não fosse veiculada porque poderia caracterizar
crime a utilização de recursos federais para que ela fizesse a defesa de
seu mandato. O material, no entanto, acabou vazando e repercutiu
amplamente nas redes sociais. A permanecer nessa toada, Dilma poderá ser
questionada no Supremo por suas investidas. A presidente atenta contra
os outros poderes quando diz que o processo é ilegal. E isso, segundo o
artigo 4º da Lei 1079, é crime de responsabilidade. É impossível
sustentar a tese do golpe como quer o PT. A opinião pública está
participando do processo - a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por
exemplo, manifestou-se pró-impeachment -, os meios de comunicação dão a
devida publicidade ao passo a passo do processo, a comissão especial da
Câmara que analisou o pedido se reuniu em sessões públicas, o relatório
foi ao plenário em sessão aberta. O mesmo ocorre agora no Senado.
Deputados já articulam entrar com recursos na Justiça para que a
presidente seja impedida de acusar a Câmara de golpista, depois de a
Casa votar, ancorada na Constituição, pelo seu afastamento. Não
bastassem as tentativas de obstrução de Justiça, atestada em gravações
feitas a pedido do juiz Sérgio Moro, impedir ou sabotar a atuação do
Legislativo também configura crime de responsabilidade. Numa outra
trincheira política, parlamentares ameaçam provocar o STF caso Dilma
confirme a intenção de montar uma espécie de bunker, no Palácio da
Alvorada, depois de afastada pelo Senado. Como se trata de uma situação
inédita no País, a discussão sobre os direitos e deveres de um
presidente afastado vai esquentar nos próximos dias. A questão é:
poderá, Dilma, abrigada em móveis do governo, e utilizando aviões
oficiais para suas viagens políticas, continuar a investir contra
poderes constituídos?
Enquanto isso, o ex-presidente Lula critica
sem corar a face quem, até pouco tempo, esteve na sua base de
sustentação, sendo alguns deles parceiros no escândalo do mensalão. Em
recente encontro da Aliança Progressista, Lula disse que “Dilma é vítima
de uma aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de
oposição e a tal quadrilha legislativa, responsáveis, segundo ele, por
uma agenda do caos”. O ex-presidente só se esqueceu de dizer que “a
quadrilha legislativa” a qual ele se referiu tinha assento preferencial
no hotel de onde ele despacha quando os petistas ainda sonhavam em
reverter votos contra o impeachment. Ademais, desqualificar um Congresso
que lhe foi tão útil e benevolente nos últimos tempos e que,
independentemente de sua qualidade, foi eleito pela via democrática, soa
como choro de perdedor. Como o de Nero.
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