Moreira Franco, ministro da
Secretaria-Geral da Presidência da República, foi citado 34 vezes em uma
das delações da construtora Odebrecht, mas ainda não é oficialmente
investigado pela Operação Lava Jato. (Crédito: Beto Barata/Agência
Brasil)
O ex-presidente Michel Temer e o ex-ministro Moreira Franco, junto
com os demais presos nesta quinta-feira, foram responsáveis por
movimentar, irregularmente, R$ 1,8 bilhão, envolvendo vários órgãos
públicos e empresas estatais. Segundo o Ministério Público Federal
(MPF), a organização atuava há 40 anos, tendo entre os envolvidos, Temer
e o amigo dele João Baptista Lima Filho, conhecido como coronel Lima.
A procuradora Fabiana Schneider ressaltou que a organização começou
quando Temer era secretário de Segurança de São Paulo e coronel Lima
como auxiliar imediato. “Coronel Lima e Temer atuam desde a década de 80
juntos, quando Temer ocupou a Secretaria de Segurança de São Paulo.
Lima passou a atuar na Argeplan (empresa e engenharia), com vários
contratos públicos. Houve crescimento de contratações da Argeplan quando
Temer ocupou cargos públicos. Uma planilha identifica pagamentos e
promessas ao longo de 20 anos para MT, ou seja, Michel Temer”, disse a
procuradora.
Segundo ela, o caso da mala de dinheiro apanhada por Rodrigo Rocha
Loures, na época era assessor de Temer, propiciou a coleta de áudios,
identificando que coronel Lima atuava na intermediação para entrega de
dinheiro. A reforma na casa de Maristela Temer, filha do ex-presidente,
segundo a procuradora, foi feita com dinheiro ilícito. “A reforma na
casa de Maristela Temer não deixa dúvida de como o dinheiro entrava na
Argeplan e saia em benefício da família Temer”, disse. De acordo com
Fabiana Schneider, foi identificado pelo Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf) uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões
na conta da Argeplan, em outubro de 2018.
O procurador regional da República, Eduardo El Hage, explicou que o
valor de R$ 1,8 bilhão é fruto da soma de todos os crimes imputados ao
grupo, nos últimos 40 anos. “Existe uma tabela discriminando todos os
valores de propinas na peça do MPF. Eles vêm assaltando os órgãos
públicos há décadas”, disse El Hage, acrescentando que a Lava Jato
continuará as investigações.
A composição do valor bilionário também foi comentado pelo procurador
da Lava Jato, Sérgio Pinel. “Este grupo criminoso adotava como
modus operandi o
parcelamento da propina por vários anos. Todas as propinas que
identificamos ou que esteja em investigação, promessa ou paga, somamos e
chegamos a esta cifra”, explicou.
Presos
Temer e Moreira Franco, presos hoje (21), em um desdobramento da
Operação Lava Jato, ficarão detidos em uma cela especial da Unidade
Prisional da Polícia Militar, em Niterói, na região metropolitana do Rio
de Janeiro. A determinação é do juiz Marcelo Bretas, titular da 7ª Vara
Federal Criminal, atendendo um pedido da Força-Tarefa da Operação Lava
Jato do Ministério Público Federal. Os procuradores alegaram que, por
ser ex-presidente da República, Michel Temer tem direito a tratamento
especial, assim como Moreira Franco, que foi ministro até dezembro de
2018.
O coronel Lima também terá direito a cela especial no Estado Maior da
PM, em Niterói. Segundo o MPF, o coronel é o operador do esquema de
corrupção chefiado pelo ex-presidente.
Michel Temer foi preso em casa, em São Paulo, e Moreira Franco, ao
desembarcar no Aeroporto Internacional Galeão-Tom Jobim, no Rio de
Janeiro. Ambos devem passar por exame de corpo delito antes de serem
levados para a unidade prisional.
O ex-presidente e o ex-ministro são acusados de receber propina de obras relacionadas à Usina Nuclear Angra 3, no Rio de Janeiro.
Defesas
O advogado do ex-presidente, Eduardo Carnelós, disse, por meio de nota, que a prisão de Temer não tem fundamentos.
Em nota, a defesa de Moreira Franco manifestou “inconformidade com o decreto de prisão cautelar”.