Carlos José Marques
Lula não sabe mais o que falar. Depois da hecatombe que
dizimou o seu partido ficou desnorteado. Disse que negar a política é
ficar nas mãos da elite. Na prática, reclamou do voto nulo, do voto em
branco, do não voto, dos que estão repudiando a política convencional.
Logo ele que, assim como a sua pupila Dilma, tratou de encarnar a
própria negação da política ao se recusar a votar. Vai entender! As
abstenções de ambos nas eleições do último domingo coroaram a derrocada
petista e simbolizaram a contradição em si que sempre marcou atos e
palavras desses dois mandatários. O que pregam, pedem e prometem não se
escreve. Ou, no mínimo, não vale para eles, obedecendo ao velho ditado
do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Comportamento
claramente autoritário, diriam alguns. Propaganda enganosa de
princípios, apontariam outros. De qualquer maneira, é emblemático notar
que Lula, em especial, tem uma visão muito peculiar de seu papel na
sociedade, como se estivesse acima ou ao largo das regras de boa conduta
que servem aos demais. Ainda nos idos de 88, no papel de vestal da
moralidade, questionando os chamados crimes do colarinho branco, apontou
que “rico não vai pra cadeia, vira ministro”. Soou premonitório. Tempos
depois, ele mesmo, numa clara manobra para escapar das investigações da
justiça, urdiu nos gabinetes palacianos um plano para virar ministro de
Dilma. Não deu certo por intervenção do Supremo. Na semana passada, ato
contínuo a ausência nas urnas, o líder do PT soltou a pregação
regimental para alunos de uma universidade: “Nós temos que aprender que
cada vez mais, ao invés de a gente negar a política, a gente tem que
fazer política, porque a desgraça de quem não gosta de política é que é
governado por quem gosta”. Quem o ouviu poderia facilmente confundi-lo
com um fervoroso defensor de ensinamentos democráticos. Mas democracia
não casa com abstenção nas urnas. Como alguém pode ir às ruas pedir voto
quando se recusa a dar o seu próprio? Lula teve dessa vez a pachorra de
reclamar de algo que ele mesmo fez. E se superou. No primeiro turno,
ainda movido por bravatas, apostou alto. Afirmou que o PT iria
surpreender nessa eleição e provocou os paulistas: “Se o povo de São
Paulo tiver a inteligência que pensa que tem, ele não tem outra coisa a
fazer que não seja votar no Haddad”. Errou feio. Nos dois casos. Há algo
de cretinice naqueles que tentam julgar o voto alheio. Lula só gosta do
jogo que lhe é favorável. Do contrário, fala em sabotagem, protesta.
Quando Dilma estava para sofrer o impeachment ameaçou não sair mais das
ruas. Na verdade a abandonou à própria sorte. Às vésperas da sova que
levou nas eleições municipais, voltou a repetir a cantilena dizendo que
correria o País a alertar a população. Sumiu de cena após a lavada. Lula
decerto perdeu o eixo. Não sabe mais o que fazer. Seus correligionários
partem em debandada. Ao menos 40 parlamentares do partido estão
dispostos a fundar uma nova sigla na qual Lula, réu e na iminência da
prisão, não deve ter papel de destaque. Muitos, às centenas, foram
embora em definitivo da legenda, desiludidos com a bandalheira, com as
patéticas desculpas, com as práticas endêmicas de enriquecimento
ilícito, com a fama petista – difícil de limpar – de agremiação
criminosa. A maioria não quer sequer Lula por perto. Os candidatos, de
Norte a Sul do País, pediram para ele se afastar durante a campanha,
temendo a contaminação de sua má reputação. Deplorável fim para quem já
comandou as massas. Lula e o PT que ele criou não são mais sequer
arremedo daqueles tempos gloriosos nos quais ambos pregavam o interesse
da maioria em primeiro lugar. Nos últimos dias, tudo que buscaram foi o
poder a qualquer preço e unicamente a seu favor e da patota.
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