Oposição, juristas e movimentos de rua apresentam o mais consistente e denso pedido de impedimento da presidente Dilma Rousseff com base em parecer do ministério público divulgado por istoé, atestando a repetição das pedaladas em 2015
Marcelo Rocha
Na quarta-feira
25, a oposição apresentou ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), a mais completa peça jurídica já oferecida até agora para pôr
em marcha o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O documento
contemplou o argumento legal que faltava para enquadrar a presidente por
crime de responsabilidade no exercício do atual mandato: as pedaladas
fiscais de 2015, identificadas em parecer do Ministério Público junto ao
TCU divulgado com exclusividade por ISTOÉ há duas semanas. O texto
inclui os créditos suplementares autorizados de próprio punho pela
presidente da República aumentando os gastos do governo em R$ 800
milhões sem autorização do Congresso Nacional, prática vedada por lei.
Inicialmente, a oposição estudou fazer apenas um aditamento para incluir
as novas manobras fiscais deste ano. Mas preferiu apresentar um novo
pedido, após a decisão do Supremo Tribunal Federal de suspender o rito
previamente definido pelo presidente da Câmara para o processo. “Na
verdade, fizemos uma reordenação. Não muda nada, os fatos estão aí, e
os fatos são graves”, explicou Reale Júnior, um dos signatários do
documento ao lado de Hélio Bicudo e Janaína Paschoal.
Mas se, para a oposição, o documento é
definitivo e incontestável, o mesmo raciocínio não vale – até agora –
para quem detém a prerrogativa de dar o aval para o andamento da análise
do impeachment: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Até a última
semana, Cunha dizia que “somente” as pedaladas não eram suficientes para
iniciar um processo de afastamento da presidente. Tempo é a variável
mais importante nos próximos dias. Segundo a Constituição, Cunha pode
receber ou não o pedido. Ocorre que, abalroado por denúncias de
envolvimento no Petrolão, o peemedebista pretende usar a poderosa carta
política do início ou não do impeachment para administrar seu drama
pessoal. Se ele deferir o impeachment, uma Comissão será constituída
com representação de todos os partidos para produzir um relatório sobre o
impedimento ou não da presidente. Se Cunha decidir não acatar o novo
pedido, restarão duas alternativas à oposição: formular uma nova peça ou
aguardar que um novo presidente a reconsidere. “Até novembro acredito
que a gente vá ter notícias concretas com relação ao pedido
protocolado”, afirmou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE). Nos
corredores na Câmara, porém, a avaliação é a de que Cunha vai primeiro
medir o comportamento de governo e oposição no Conselho de Ética,
durante análise do processo que pede a cassação de seu mandato, para, aí
sim, decidir como agir. A estratégia do governo é empurrar a discussão
do tema para depois do Carnaval. Até lá, espera conseguir arrefecer a
crise política. A oposição não joga a toalha. Avalia que a transferência
da análise do impeachment para 2016 pode até vir a favorecê-la. Para os
oposicionistas, a crise econômica ainda não atingiu o seu ápice, o que
poderá ocorrer nos primeiros meses do próximo ano levando multidões às
ruas novamente. A pressão popular num ano eleitoral – as eleições
municipais estão marcadas para outubro – poderia sensibilizar o
Congresso pelo impeachment da presidente, entendem os líderes da
oposição.
NOVO ROUND
Na quarta-feira 25, oposição protocola novo pedido de impeachment
de Dilma com base em denúncia de ISTOÉ
Palco do novo pedido de impeachment, a
Câmara não é o único foco de preocupação do Palácio do Planalto. Na
terça-feira 20, o Senado começou a analisar formalmente o processo do
TCU que recomendou a reprovação das contas do governo federal de 2014.
Se a conclusão do tribunal for chancelada pelo Parlamento, um eventual
processo de afastamento de Dilma também poderá ganhar musculatura. O
presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), concedeu ao
Executivo prazo extra de 45 dias para se defender. Com isso, transferiu
para março as discussões sobre as pedaladas fiscais. A decisão foi
tomada debaixo alguns protestos, entre eles, o da senadora Rose de
Freitas (PMDB-ES), presidente da Comissão Mista de Orçamento.
Em uma reunião, em que estiveram presentes
Rose, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e outros membros da cúpula do
Senado, Renan ainda estava hesitante em relação a concessão do prazo
extra. A presidente da Comissão colocou-se contra. Muito exaltado, Jader
atravessou a conversa. “Isso aqui não é uma discussão de jardim de
infância”, gritava o parlamentar dando tapas na mesa. A exemplo de
Cunha, a Lava Jato também é problema para Renan e Jader. Os dois foram
citados pelo lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano,
como beneficiários de dinheiro desviados da Petrobras. Para eles, ter o
Palácio do Planalto sob controle neste momento é uma necessidade
estratégica.
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