Considerado por muito tempo como o advogado do PT, o ministro assume o desafio de restabelecer o clima de tranquilidade na Suprema Corte brasileira
Internamente, Toffoli não é mais questionado por seus pares. Como ministro, esteve longe de demonstrar desconhecimento jurídico – embora tenham permanecido as críticas por decisões tomadas ao lado de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, que beneficiaram investigados na Operação Lava Jato, tanto do PT quanto de outros partidos. As ações do trio são um dos pilares que marcaram as divergências na gestão de Cármen Lúcia. O desafio de Toffoli será tentar restabelecer no STF um necessário clima de unidade e estabilidade. A dúvida que o persegue: ele conseguirá?
Toffoli declara-se disposto a tentar. Os ministros mais próximos dele avaliam que Cármen Lúcia acabou estabelecendo um período em que o protagonismo do STF, avançando sobre outros poderes na decisão sobre temas de relevância, como mandar de novo o Congresso votar as 10 medidas contra a corrupção propostas pelo Ministério Público, ajudou a aumentar a fervura na corte. Toffoli quer restabelecer um clima de conciliação. Avalia que tal tarefa poderá ser possível pelo fato de começar seu mandato pouco antes do momento em que o país também renovará os demais poderes, elegendo um novo presidente da República e um novo Congresso Nacional.
Toffoli pretende aproveitar esse período de transição também no Congresso e no Palácio do Planalto para tentar instituir uma espécie de agenda comum dos Três Poderes. Já na próxima terça-feira 18, ele fará uma primeira reunião com o presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara e Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (MDB-CE), para começar a discutir pontos em comum que ajudem a eliminar atritos.
Além de evitar as guerras externas, Toffoli pretende aparar arestas internas. Ele deve definir um calendário de conversas com os demais ministros para buscar soluções colegiadas. É dessa forma que ele deseja organizar a pauta das sessões do STF. A pauta é uma decisão monocrática do presidente, mas ela gerou diversas controvérsias nos últimos tempos. Um dos principais exemplos nesse sentido foi a decisão de Cármen Lúcia, – acertada mas internamente polêmica, – de não levar novamente à discussão do plenário a questão sobre a possibilidade de prisão após condenação por órgão colegiado em segunda instância, que é o que ampara a prisão de Lula.
Uma questão espinhosa que deve explodir no colo de Toffoli é a relacionada ao aumento dos salários da magistratura. Entidades como a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) pressionam o Congresso a aprovar o aumento de 16,38%. Toffoli, por sua vez, trabalha para que essa proposta gere o menor impacto possível nos cofres públicos. Hoje, estima-se que esse aumento possa acarretar um aumento de R$ 4 bilhões nos gastos públicos com folha de pessoal. A priori, o presidente Toffoli tem duas ideias para atenuar esse problema: extinguir o auxílio moradia ou, até mesmo, propor que o Congresso aprove a desvinculação do aumento dos ministros do Supremo com o teto do funcionalismo público federal.
Com todos os desafios postos, Toffoli passa a ideia de que está aberto ao diálogo e que os próximos dois anos da Suprema Corte tendem a ser de menos dissensos. Agora, é esperar para ver se a prática será tão exemplar quanto a teoria.
Aos 50 anos, Toffoli é um dos mais jovens ministros do STF. Sua trajetória sempre foi ligada ao PT
> Em 1990, formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco,
da USP
> De 1995 a 2000, foi assessor jurídico da liderança do PT na Câmara
> De 2003 a 2005, foi subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, na gestão de José Dirceu
> Em 2009, foi indicado por Lula para o STF
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