O documento “será devolvido às instâncias técnicas para a negociação da contratação de energia elétrica da Itaipu Binacional”, afirma um comunicado oficial divulgado nesta quinta-feira.
O pedido para cancelar o ato bilateral veio do governo de Abdo, após a rejeição que provocou no Paraguai e que levou a oposição a anunciar que iria exigir seu impeachment.
Após essa anulação, o pedido que devia ser feito ante o congresso perdeu força.
Sem os dissidentes do governista Partido Colorado, a oposição não conta com os votos necessários para destituir o presidente.
Depois de 24 horas sem aparecer em público, Abdo emitiu uma mensagem à nação, agradecendo aos que o apoiaram na crise, em particular o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
“A democracia triunfou”, disse ele.
O Itamaraty ratificou seu apoio nesta quinta-feira em um comunicado, destacando a convergência de valores entre os dois governos e desejou um deselnace sem quebra da ordem democrática.
A crise provocada pelo acordo obrigou na segunda Luis Castiglioni a renunciar ao cargo como chanceler do Paraguai. Junto com ele, apresentaram demissão outros três funcionários.
– Preço de mercado –
Segundo alguns especialistas, o acordo teria causado uma perda de mais de 200 milhões de dólares para o Paraguai.
“O Paraguai deixou de receber US$ 75 bilhões por não vender sua parte de energia ao Brasil a preço de mercado, desde que a usina começou a operar em 1984”, disse o cientista político Miguel Carter à AFP, segundo um cálculo baseado em números oficiais.
Possui uma capacidade instalada de 14.000 megawatts e abastece os estados mais ricos do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul, entre outros.
O Paraguai utiliza apenas 7% da energia produzida e vende todo o seu excedente para a Eletrobras.
“Exigimos pagamento a preço de mercado”, disse Ricardo Canese, especialista em hidrelétricas e parlamentar da Frente Guasú (Frente Ampla).
“Esta questão é tão sensível para os paraguaios que deveria ter sido tratada diretamente entre Abdo e Bolsonaro”, destacou, por sua vez, o analista brasileiro Hiram Pessoa de Melo, especialista em campanhas políticas.
“O desenvolvimento do Paraguai e sua participação ativa como valioso membro do Mercosul e da comunidade hemisférica é de enorme interesse para o Brasil”, afirmou ainda o texto.
Bolsonaro chegou a declarar que estava aberto a discutir com o Paraguai.
“Lá vocês sabem como funciona, né? Lá é muito rápido o impeachment”, afirmou.
Otávio Rêgo Barros, porta-voz de Bolsonaro, confirmou em outro comunicado que “o Brasil está aberto para discutir os termos do acordo que busca o benefício dos dois países”.
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