Envolvidos no escândalo podem pegar até 20 anos de prisão
AE
Não houve chute na porta do luxuoso hotel Baur au Lac nem algemas
por parte de uma dúzia de policiais. Marin teve até suas malas levadas
pelos policiais. Mas o impacto foi de um verdadeiro terremoto no mundo
do futebol, com o indiciamento do brasileiro e de mais outros dirigentes
por corrupção, lavagem de dinheiro, fraude, conspiração e extorsão, o
que poderia valer até 20 anos de prisão.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, eram os procuradores suíços
que invadiam a Fifa para confiscar documentos, apontando para
irregularidades e crimes na designação das Copas de 2018 e 2022. As
autoridades deixaram claro aos funcionários da Fifa que ninguém deveria
deixar o país, nem mesmo Joseph Blatter.
Não seria por acaso. O que a investigação revela é uma “cultura da
corrupção” que envolvia a entidade há 24 anos e movimentou pelo menos
US$ 150 milhões. Compra de votos para a Copa de 2010, compra de apoio
para a eleição de Blatter em 2011, Copa Libertadores, Copa América, Copa
do Brasil e as suspeitas sobre os Mundiais de 2018 e 2022 são apenas
alguns dos principais destaques de uma ampla investigação conduzida nos
EUA e na Suíça.
Além de Marin, mais seis pessoas foram presas ontem, num esquema
que também envolveu um total de 14 executivos indiciados pelos
americanos. Entre eles estão Eduardo Li, o primeiro a descer de seu
quarto, Jeffrey Webb e Eugenio Figueredo, enquanto esposas choravam no
lobby do hotel. Doze horas depois, Jack Warner, ex-vice-presidente da
Fifa, se entregou aos policiais.
Fontes indicaram ao Estado que, imediatamente depois da prisão,
começou uma busca por advogados na Suíça e nos EUA, enquanto a Conmebol
se reunia em caráter de emergência para debater o que fazer. Em outras
confederações, a mera pergunta sobre o assunto era alvo de críticas.
Cada um dos detidos foi levado a uma prisão diferente. Eles
aguardam a extradição aos EUA. Praticamente todos já indicaram que vão
recorrer, o que deve fazer com que o processo se arraste por seis meses.
Em 40 dias, a Justiça americana terá de convencer os juízes suíços da
legalidade da extradição.
Nem a Justiça americana nem a suíça garantem que o presidente da
entidade, Joseph Blatter, está fora de risco, ainda que a Fifa insista
que ele está “relaxado”. “Isso vai depender da direção que o caso tomar
agora”, admitiu ao Estado um procurador suíço.
“Esse é o começo, não o fim”, comentou a procuradora americana
Kelly T. Currie. Além dos 14 indiciados, outros 25 nomes são apontados
como suspeitos. Mas ainda não foram denunciados. Por enquanto, eles são
acusados de fraude, corrupção e lavagem de dinheiro.
Enquanto isso, entre os cartolas, o nervosismo era evidente, sem
saber quem seria o próximo a ser preso. A delegação da CBF também não
escondia o nervosismo e Marco Polo Del Nero chegou a deixar uma reunião
pelas portas do fundo para evitar ter de falar com a imprensa. Nos
documentos da Justiça, as referências indiretas a Ricardo Teixeira são
amplas.
CRIMES
O MP suíço confirmou ainda que está investigando a compra de votos
pelos russos e pelo Catar para as Copas do Mundo de 2018 e 2022.
“Documentos foram confiscados na sede da Fifa”, confirmou a Justiça de
Berna.
Blatter havia encerrado uma investigação interna sobre o assunto,
alegando que não havia encontrado nada. Mas, ontem, era a Fifa que
insistia que ela havia feito o pedido para que o assunto fosse
investigado. “Estamos colaborando”, declarou a entidade em um
comunicado.
Também ontem, a Fifa fez questão de banir de forma temporária do
futebol todos os envolvidos, inclusive Marin, mesmo que há poucas
semanas alguns deles eram considerados como aliados de Blatter na
eleição. “Não vamos tolerar essa atitude”, disse Blatter.
Nos bastidores, porém, a classe política suíça também se viu
envolvida no caso, questionando se escutas ilegais haviam sido. Em
Moscou, era o governo russo que fazia apelos aos americanos para que não
usem o processo para punir o Kremlin pela situação na Ucrânia. Diante
do caos, coube à Fifa tentar abafar sua pior crise. “Dói. Mas esse é um
bom dia para a Fifa”, declarou o porta-voz da entidade, Walter de
Gregorio.
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