Ministério Público de São Paulo e procuradores da Lava Jato investigam a relação entre empresários argentinos que se favoreceram de negócios com a Petrobras e imóveis no condomínio onde fica o tríplex de Lula
Pedro Marcondes de Moura (pedro.marcondes@istoe.com.br)
As
investigações do Petrolão desembarcarão, em breve, em países vizinhos.
Trata-se da “Conexão Argentina”: a ligação entre empresários próximos
aos ex-presidentes daquele país Néstor e Cristina Kirchner e personagens
ligados aos desvios na estatal brasileira durante as gestões petistas.
Delegados e procuradores da Lava Jato focam principalmente na venda de
ativos da Petrobras ao kirchnerista Cristóbal López. Em 2010, ele
adquiriu uma refinaria, estoques de petróleo e cerca de 350 postos de
gasolina da estatal por um terço do valor, numa transação com forte
suspeita de irregularidades, entre elas pagamentos de propina. Dois
documentos obtidos por ISTOÉ mostram que Cristóbal López e investigados
da Lava Jato utilizaram os mesmos intermediários e rotas para ocultar
recursos com origem ilícita. No primeiro documento, o juiz Cam
Ferenbach, do estado americano de Nevada, além de detalhar a suspeita
parceria de López com Lázaro Báez, pivô de um dos principais escândalos
de corrupção das gestões Kirchner, sugere também como ele teria aberto a
offshore Val de Loire. Num despacho de 27 páginas de uma ação movida
pelos credores da dívida argentina, o juiz diz que a
companhia-lavanderia de López foi criada pela M.F. Corporate Services,
em Nevada. A mesma MF está por trás da offshore Murray, alvo da última
fase da Lava Jato. Proprietários de uma dezena de imóveis, inclusive um
tríplex vizinho ao atribuído à família do ex-presidente Lula, os sócios
da Murray buscaram se beneficiar do anonimato, garantido pela legislação
estrangeira, para esconder propina da Petrobras. Há fortes indicativos
de que os seus beneficiários, de fato, sejam ligados ao ex-tesoureiro do
PT João Vaccari Neto.
PREJUÍZO
Petrobras assumiu perdas de mais de US$ 50 milhões com a venda da
refinaria de San Lorenzo para empresário argentino
Em outro documento, a ex-responsável pela
M.F. Corporate, de Nevada, Patrícia Amunategui confirma que empresas,
como a Val de Loire, de Cristóbal López, e a Murray, investigada na Lava
Jato, são de fachada. Patrícia diz, no depoimento às autoridades
americanas em setembro de 2014, que a MF era um braço em Nevada da
panamenha Mossack Fonseca, conhecida mundialmente por auxiliar corruptos
e sonegadores. E vai além. Afirma que a MF contava até com empresas de
prateleira para atender a demanda. Se um cliente precisasse de uma
offshore em menos de um dia, eles já tinham uma para pronta entrega.
Empresário da área de cassinos, Cristóbal
López ampliou sua fortuna graças ao seu relacionamento com o casal
Kirchner antes mesmo de eles chegarem à Presidência. De tão próximo, ele
foi um dos poucos convidados, em 2015, a ir ao aniversário de cinco
anos de morte de Néstor Kirchner no mausoléu onde o ex-presidente está
enterrado. No período de 12 anos de Nestór e Cristina à frente do
governo, encerrado no final do ano passado, ele teria obtido concessões
ou parcerias governamentais nas áreas de jogos de azar e de petróleo.
Assim, ampliou seu império. Alvos de investigações por suspeitas de
agirem como guardiões de recursos ilegais da família Kirchner, ele e
Lázaro Báez são acusados de lavar e ocultar por meio de offshores lucros
de negociatas com entes públicos. O juiz do caso, Cam Ferenbach,
concordou com as acusações. Disse que há suspeitas razoáveis e ainda
assinalou que López e Báez “podem ser ladrões”.
Em 2014, ISTOÉ detalhou os negócios
camaradas do empresário kirchnerista Cristóbal López com a estatal
brasileira. Como parte do plano de desinvestimento, a Petrobras colocou
ativos na Argentina à venda. A refinaria de San Lorenzo, seus estoques
de petróleo e 360 postos foram comprados pela Oil Combustibles, do Grupo
Indalo - de Cristóbal López - em 2010. A companhia desembolsou US$ 110
milhões. Avaliações de consultoria independentes, como a Ernest &
Young, estimaram os bens em aproximadamente US$ 350 milhões. É
praticamente uma Pasadena ao contrário. Para adquirir a refinaria
americana, a Petrobras pagou elevado sobrepreço. Na venda da argentina,
recebeu menos de um terço do valor de mercado. A própria estatal
reconheceu os prejuízos em comunicado enviado a Securities and Exchange
Commission (SEC), agência americana reguladora do mercado de capitais.
Afirmou, em cálculos otimistas, que as perdas alcançaram US$ 55 milhões,
o equivalente a R$ 220 milhões. O fato é que, como ficou claro nas
investigações do Petrolão, algum apadrinhado recebeu e repassou recursos
para que um negócio tão controverso como este pudesse ter ocorrido. Em
breve, a Lava Jato poderá responder.
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