Documento da Lava Jato indica envolvimento de Lula com práticas criminosas. Constatação basta para que ele seja investigado como qualquer cidadão brasileiro
Um dos
relatórios que embasam a operação que prendeu o marqueteiro João
Santana, com mais de 40 páginas, aponta para o mais alto hierarca do
petismo: Luiz Inácio Lula da Silva. O documento diz que é “possível o
envolvimento do ex-presidente da República em práticas criminosas”, mas
considera que isto “deve ser tratado com parcimônia, o que não significa
que as autoridades policiais devam deixar de exercer seu mister
constitucional.” O raciocínio das autoridades soa estranho. O que se
espera dos delegados e procuradores da Lava Jato é que o ex-presidente
seja investigado, sim, como qualquer cidadão brasileiro. Desde janeiro
de 2011, quando passou a faixa para sua sucessora, Lula se tornou um
cidadão comum. Pode até ter seguranças e combustível custeados pelos
contribuintes, mas não tem direito a foro ou tratamento privilegiado. Já
motivos para apurar sua conduta não faltam, a julgar pelas evidências
levantadas nas últimas semanas.
SEM BLINDAGEM
Razões para implicar o ex-presidente não faltam
O próprio material encontrado no celular do
empreiteiro Marcelo Odebrecht, revelado pela Polícia Federal, indica
pagamentos da empreiteira referentes ao instituto que leva o nome de
Lula. Está escrito Predio-IL nas anotações, acompanhado da cifra R$ 12,4
milhões. Para as investigações, “é possível que IL seja a abreviação de
Instituto Lula”. Tamanhas são as ligações das empreiteiras do Petrolão
com Lula que procuradores possuem fortes evidências de que elas bancaram
a reforma do sítio frequentado pelo ex-presidente e sua família em
Atibaia, fato reconhecido pelas próprias empresas na semana passada. Há
farta documentação, aliás, para se concluir que a propriedade
beneficiada pela construtora pertence ao petista e não, aos sócios de
seu filho como consta no papel. Isto em si já configuraria ocultação de
patrimônio.
Lula sofre derrota no conselho do MP e promotor
Cássio Conserino permancerá à frente do caso do tríplex
O ex-presidente Lula também se enrola ao
negar ser dono de outra propriedade: o tríplex no Guarujá, reformado com
recursos da construtora OAS, dona no imóvel, segundo o registro
oficial. Promotores de São Paulo já sinalizaram que pedirão o
indiciamento dele. Em uma medida protelatória, Lula chegou a obter uma
vitória suspendendo o seu depoimento e o da mulher Marisa Letícia,
marcado para a quarta-feira 17. Parecia estar acima da lei. Mas a
calmaria durou pouco. Na terça-feira 23, o Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) decidiu por 14 votos a zero manter o promotor
paulista Cássio Conserino à frente das investigações. A decisão contou,
inclusive, com o voto do relator. Ele havia concedido liminar
suspendendo o inquérito e, portanto, os depoimentos até que fosse
julgado um recurso de aliados do ex-presidente. Prevaleceu o argumento
de que não há ilegalidade em Conserino permanecer à frente do caso.
Agora, ele pode remarcar os depoimentos de Lula e de Marisa Letícia para
desespero do petista. Dificilmente, o ex-presidente escapará de ser
acusado pelo Ministério Público. Numa clara referência a Lula, Conserino
já disse que ninguém deve estar acima da lei. Com tantos indícios
apontado para Lula e seus familiares não há motivos para que o
ex-presidente seja tratado de forma diferenciada pelos investigadores.
Os brasileiros já perceberam isto e se manifestaram batendo panelas na
terça-feira 23. Protestaram enquanto Lula aparecia no horário de
propaganda do PT na televisão.
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