A declaração foi dita no início de novembro, após o nome do presidente ser implicado no depoimento do porteiro do condomínio. Ele afirmou à Polícia Civil que confirmou a entrada de Elcio Queiroz, suspeito de matar Marielle Franco, com o “Seu Jair”, da casa 58 – mesmo número da residência do presidente no conjunto. As informações foram reveladas pelo Jornal Nacional. No dia 20 de novembro, o porteiro recuou e mudou o depoimento.
À época, Bolsonaro declarou que havia obtido as ligações feitas na portaria do Vivendas da Barra “antes que fossem adulteradas”. “Nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de ano. A voz não é minha”, afirmou.
A oposição acusou o presidente de obstruir o caso por ter se apropriado de provas de um caso ainda em investigação. A ABI se manifestou de forma semelhante, pedindo uma investigação sobre a ação de Bolsonaro. O órgão classificou o caso como “temerário” e solicitou busca e apreensão do computador ou da base de dados em que estariam armazenadas as gravações para realização de perícia.
“O fato de um condômino ter o eventual acesso à cópia dos áudios da portaria do local onde reside consiste em mero exercício de direito, na medida em que possui o domínio ou posse – embora não exclusivamente – sobre os bens de uso comum (art. 1.335 do Código Civil)”, escreveu Augusto Aras.
O PGR pontuou que os “arquivos de áudio a que alude já se encontram, há muito, sob a guarda das autoridades competentes – Ministério Público e autoridade policial -, tendo havido a análise técnica do seu conteúdo antes mesmo dos fatos noticiados”.
Porteiro
O porteiro relatou ter confirmado a entrada de Elcio Queiroz com o “seu Jair”. Quando o veículo seguiu para a casa de Lessa, ele disse ter ligado novamente para a casa de Bolsonaro para confirmar o destino de Queiroz. Bolsonaro, à época deputado federal, estava em Brasília conforme registros da Câmara dos Deputados.
A versão inicial do porteiro foi dita em duas ocasiões no caso e, como prova, foi levado aos investigadores a planilha de controle de entrada no Vivendas da Barra. O registro apontava a ida de Elcio Queiroz à casa 58. A repercussão levou o presidente a solicitar, via Sergio Moro, atual ministro da Justiça e Segurança Pública, que a PGR apurasse o depoimento.
A solicitação de Moro foi atendida por Aras, que encaminhou pedido à Polícia Federal para abrir novo inquérito para ouvir o porteiro. Na ocasião, ele recuou na declaração inicial e afirmou que se equivocou ao marcar a casa 58 e, por isso, se sentiu “pressionado” pelo próprio erro para dar a versão envolvendo o “Seu Jair”.
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