Como no caso Delúbio, o PT quer colocar toda a responsabilidade pela corrupção do partido apenas nos ombros dos arrecadadores de dinheiro
Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br)
João Vaccari
Neto e Delúbio Soares nunca tiveram títulos na nobreza do PT. Na
hierarquia da sigla eles pertencem, no máximo, à ordem dos escudeiros. A
fidelidade inabalável de Vaccari e Delúbio ao projeto de poder da
legenda os lançou em uma função inglória: a tesouraria do partido. Em
2000, o PT adotou um discurso mais ameno para ampliar o perfil do
eleitorado. A mudança acarretou uma guinada de vida no partido, que
começou a forrar seus cofres para financiar um duradouro projeto de
poder. Delúbio assumiu a Secretaria Nacional de Finanças. Só saiu de lá
em 2005, denunciado como um dos operadores do mensalão. Vaccari é o
Delúbio da vez. Na segunda-feira 16, ele foi denunciado pelo Ministério
Público Federal (MPF) por corrupção e lavagem de dinheiro. Contra o
tesoureiro pesam depoimentos de dois ex-funcionários da Petrobras e
quatro empreiteiros que fizeram acordos de delação premiada. Todos
unânimes em apontá-lo como recolhedor de propinas para o PT.
Com as acusações decorrentes da Operação
Lava Jato, caiu por terra a defesa ferrenha que alguns petistas faziam
da honra de Vaccari. Internamente, antigos companheiros pedem seu
afastamento da secretaria de finanças para preservar o partido. As
apurações da Polícia Federal e do MPF indicam que U$186 milhões em
propina teriam passado pelas mãos do homem responsável por arrecadar
dinheiro para o PT. Segundo os delatores, o dinheiro abasteceu o caixa
de campanha da presidente Dilma Rousseff. Ainda assim, a degola de
Vaccari pedida pelos correligionários sugere uma estratégia marota:
colocar todos os malfeitos do partido nos seus ombros, evitando que as
denúncias extrapolem para outros nomes.
O mesmo ocorreu com Delúbio no escândalo do
Mensalão. O tesoureiro foi para o altar dos sacrifícios, admitiu que
arrecadava recursos além do contabilizado pelas campanhas eleitorais e
figurou como coordenador do “núcleo central da quadrilha” no processo do
mensalão. Ele foi o único, entre os oito petistas investigados por
participar do esquema, a ser expulso do partido. Saiu em 2006, mas
retornou aos quadros de filiados em 2011, após a eleição de Dilma. O
ex-tesoureiro foi condenado a seis anos e oito meses de prisão, passou
cinco meses no presídio da Papuda e outros cinco em regime semiaberto.
Em setembro, ganhou o direito de cumprir o restante da pena em casa.
Se as descobertas dos investigadores da
Lava Jato forem confirmadas na Justiça, Delúbio e Vaccari ficarão na
história do reinado petista como os responsáveis por ilícitos
financeiros que beneficiaram da alta cúpula do partido aos diretórios no
interior do País. Embora tenham trajetórias parecidas, os dois adotaram
práticas diferentes. O modus operandi usado por Vaccari pouco lembra o
antigo estilo de arrecadação posto em prática por Delúbio. A falta de
uma legislação eleitoral que obrigasse o detalhamento da prestação de
contas explica, em parte, a opção de Delúbio pelo esquema de caixa 2.
Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de 2002 obrigou
candidatos e comitês financeiros a expor em minúcias as receitas e
despesas. Essa regra dificultou a vida de Delúbio. Em uma reunião do
Diretório Nacional, no mesmo ano, o então tesoureiro discursou contra a
divulgação do nome dos doadores e disse uma frase que entrou para a
história. “Transparência demais é burrice.” Transparência não foi um
problema para Vaccari. As investigações mostram que ele mascarou as
propinas que o PT recebeu no esquema da Petrobras em forma de doação
oficial de campanha.
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