Empreiteiras são alvo de ações civis, e 48 políticos são investigados.
PF apura esquema de lavagem de dinheiro e corrupção na Petrobras.
Amanda Polato e Rosanne D'Agostino
Do G1, em São Paulo
A Operação Lava Jato completa nesta terça-feira (17) um ano desde que a
Polícia Federal (PF) fez as primeiras prisões em um posto de gasolina
no Distrito Federal. Os primeiros 81 mandados de busca e apreensão de
então resultariam na maior operação contra corrupção já deflagrada no
país, que investiga um esquema de desvio de recursos da Petrobras,
movimentando R$ 10 bilhões.
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Em suas 10 fases até o momento, a PF já cumpriu mais de 350 mandados de
prisões preventivas, temporárias, busca e apreensão e condução
coercitiva (quando o investigado é levado a depor).
Ao todo, 22 pessoas estão presas – a maioria está na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
As prisões mais recentes ocorreram na segunda-feira (16), quando a PF cumpriu 18 mandados judiciais. Entre os detidos está Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras. Ele e o tesoureiro do PT João Vaccari Neto foram denunciados por corrupção e lavagem de dinheiro.
A atuação da polícia culminou na abertura de 19 ações penais que
tramitam contra 82 réus na Justiça Federal do Paraná, o coração da
operação, além de cinco ações civis públicas contra as empreiteiras
acusadas de cobrar propina da estatal.
São alvo as empreiteiras Camargo Corrêa, Sanko-Sider, Mendes Júnior, OAS, Galvão Engenharia e Engevix. Onze réus já foram condenados e recorreram.
O juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal, é o responsável pela Operação Lava Jato (Foto: J.F. Diorio/Estadão Conteúdo)
O juiz federal
Sérgio Moro, responsável pelos
processos da Lava Jato na primeira instância, já ouviu quase uma centena
de testemunhas de acusação e defesa nos processos, que têm como um dos
principais fundamentos um instituto polêmico entre operadores do
direito: a delação premiada. Foram fechados 12 acordos de delação.
O doleiro Alberto Youssef, preso da Operação Lava Jato (Foto: Vagner Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Foi principalmente baseado em depoimentos do doleiro
Alberto Youssef,
suspeito de operar o esquema de desvios da Petrobras, e do ex-diretor
de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa, que Moro
encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) vasta documentação que
culminou na abertura de inquéritos para investigar 48 políticos.
O ministro Teori Zavascki, do STF (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)
A autorização para a abertura das investigações foi dada pelo ministro
Teori Zavascki
em 6 de março deste ano. Foram citados 22 deputados federais, 13
senadores, 12 ex-deputados e uma ex-governadora de cinco partidos: PT,
PSDB, PMDB, PP e PTB.
O empresário Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano (Foto: Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo)
Também são investigados o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o lobista Fernando Soares, o
"Fernando Baiano",
apontados como operadores do esquema. Youssef também apontou que o
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso condenado pelo mensalão,
recebia dinheiro do "caixa 2" para o PT provindo da corrupção na
estatal.
O ministro Dias Toffoli (Foto: Roberto Jayme/TSE)
Mas Teori pode nem chegar a julgar possíveis ações penais, já que seu mandato termina em maio. O ministro Antonio
Dias Toffoli é quem deverá presidir a Segunda Turma do STF, para onde pediu transferência.
Dilma e Aécio não foram incluídos na investigação (Foto: Ricardo Moraes/Reuters e Alexandre Durão/G1)
A presidente
Dilma Rousseff e o senador
Aécio Neves
(MG), presidente nacional do PSDB, foram citados em depoimentos de
delatores, mas tanto a Procuradoria Geral da República quanto o ministro
Zavascki, do STF, entenderam que a investigação em relação a ambos não
se justificava.
O governador do Acre, Tião Viana e o o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (Foto: G1)
Em 12 de março, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) abriu ainda inquéritos para investigar os governadores do Rio de Janeiro,
Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do Acre,
Tião Viana (PT). O ministro também decidiu derrubar o segredo de Justiça das duas investigações.
Os dois foram citados por delatores da Operação Lava Jato como
beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras. Eles negam as
acusações. No inquérito de Pezão, também serão investigados o
ex-governador do Rio Sérgio Cabral e o ex-chefe da Casa Civil Regis
Fichtner.
CPI da Petrobras ouve Pedro Barusco (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
Até agora, o MPF conseguiu a repatriação de R$ 139.666.471,17, que foram desviados por
Pedro Barusco,
ex-gerente da Petrobras. O dinheiro estava em contas na Suíça. Mas a
Procuradoria quer a devolução de R$ 1,5 bilhão dos acusados.
O que se sabe sobre o esquema
As investigações da PF e do MPF revelaram uma suposta ligação entre o ex-diretor da Petrobras
Paulo Roberto Costa com o esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef.
Costa foi preso após receber um carro de luxo avaliado em R$ 250 mil do
doleiro. O ex-diretor foi detido em 20 de março de 2014 enquanto
destruía documentos que podem servir como provas no inquérito. Hoje,
cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro.
À esq., o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Foto: Vagner Rosario/Futura Press)
Em agosto de 2014, Costa decidiu aderir à delação premiada, auxiliando a
Justiça em troca de diminuição da pena, e revelou o esquema de
pagamento de propina na Petrobras que, segundo ele, era cobrada de
fornecedores da estatal e direcionada para atender a PT, PMDB e PP. Os
recursos teriam sido usados na campanha eleitoral de 2010. Os partidos
negam. Segundo Costa, as diretorias comandadas pelos três partidos
recolhiam propinas de 3% de todos os contratos.
De acordo com o ex-diretor, a operação teve início em 2006, quando se
formou um cartel entre grandes empreiteiras para prestação de serviços à
Petrobras e para obras de infraestrutura, como a construção de
hidrelétricas e aeroportos. Segundo a PF, 11 investigados seriam os
operadores do esquema.
Cassação
A apuração da PF também trouxe à tona indícios de ligação entre Alberto Youssef e o deputado federal cassado
André Vargas
(sem partido-PR). Os dois teriam atuado para fechar um contrato
milionário entre uma empresa de fachada e o Ministério da Saúde. Além
disso, o parlamentar do Paraná reconheceu que, em janeiro, viajou para
João Pessoa (PB) em um jatinho emprestado pelo doleiro.
O deputado André Vargas (sem partido-PR) (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Vargas alegou que não há irregularidades na sua relação com o doleiro
preso pela operação Lava Jato. Pressionado pelo próprio partido em razão
das denúncias, Vargas renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara e
se desfiliou do PT. Ele também se tornou alvo de processo por quebra de
decoro no Conselho de Ética da Câmara, que aprovou parecer que pede sua
cassação. Em dezembro de 2014, o plenário votou pela cassação.
O deputado
Luiz Argôlo (SD-BA) também se tornou alvo
das investigações da PF devido à relação com Alberto Youssef. Em
relatório, a PF disse que"os indícios apontam que o deputado tratava-se
de um cliente dos serviços prestados por Youssef, por vezes repassando
dinheiro de origem aparentemente ilícita, intermediando contatos em
empresas, recebendo pagamentos, inclusive tendo suas atividades
operacionais financiadas pelo doleiro". Argôlo nega as acusações.
O deputado Luiz Argôlo (Foto: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados)
Em outubro do ano passado, o Conselho de Ética da Câmara aprovou
parecer pedindo a cassação do mandato de Argôlo por considerar ter
havido “tráfico de influência, prática de negócios e pagamentos
ilícitos”. Mas ele conseguiu terminar o mandato sem que o relatório
fosse votado.
Acho essa operação uma furada, porque está investigando pessoas inocentes igual ao Pezão e deixando corruptos impunes.
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