O candidato tucano ao Planalto promoveu uma virada no tabuleiro eleitoral ao unir dez partidos em torno da sua candidatura, criando as condições políticas para, finalmente, decolar. Se, de fato, essa portentosa aliança resultará em votos, só o tempo dirá
Não por acaso, o tucano passou a ser a aposta sólida do establishment político-empresarial. Agora, o desafio é transformar essa máquina eleitoral em votos capazes de lhe catapultar ao segundo turno das eleições. Hoje, Alckmin amarga índices modestos nas pesquisas eleitorais, entre 5% e 7%, a depender do cenário. Para chegar lá, terá de quase triplicar, já que seu principal concorrente direto, o candidato Jair Bolsonaro, do PSL, oscila entre 18% e 20% das intenções de voto. “O mais importante é estarmos unidos, o que nos garante força em qualquer circunstância”, avalia o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).
O anúncio da união do “Centrão” em torno de Alckmin, firmada na quinta-feira 26, foi a notícia mais esperada dos últimos tempos, como resultado das inúmeras conversas mantidas nas duas últimas semanas. Oficialmente, tinha o propósito de alavancar a candidatura à Presidência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. No fundo, visava garantir espaço de destaque do bloco no próximo governo, negociando em conjunto os apoios, em troca de mais ministérios e cargos em um novo governo, mas, sobretudo, que mantivesse o comando da Câmara, reelegendo Maia para o cargo. O bloco negociou três alternativas. Além de Alckmin, conversou com Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro. A conclusão de que deveriam se unir ao candidato do PSDB foi um processo de depuração. Pesava contra Alckmin, e isso adiou a decisão final, o fato de o tucano patinar nas pesquisas, mantendo-se num patamar bem aquém do satisfatório. “Se for por isso, Ciro também está mais ou menos nesse patamar”, argumentava Alckmin, nas conversas com o “Centrão”. “A verdade é que a maior parte dos eleitores ainda vai fazer a sua escolha”, complementavam os tucanos. A partir daí, os partidos estabeleceram que a escolha se daria por consenso, e a união ocorreria em torno de quem seguisse sem vetos e questionamentos.
“Não tem toma lá, da cá”
Em entrevista exclusiva à ISTOÉ concedida na terça-feira 24, o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, garantiu que as negociações das alianças partidárias não se pautaram pelo fisiologismo
Germano Oliveira
Venho trabalhando esse tempo todo para fazer uma boa aliança. É importante para a campanha e para a governabilidade. O esforço de pacificação do País é necessário. Toda vez que o Brasil teve uma conciliação, a democracia consolidou-se, a economia melhorou e os avanços sociais foram maiores. Precisamos olhar para o futuro, trazer esperança para a população.
O PSDB contará com mais de cinco minutos de horário na TV, enquanto que seus adversários terão menos de 30 segundos. Isso será decisivo?
Ajudará muito. Numa campanha mais curta, é importante ter mais tempo na TV para dialogar, apresentar as propostas, sobretudo no meu caso em que nos últimos 14 anos mergulhei aqui no governo de São Paulo. Agora vou ter maior oportunidade de falar com o Brasil todo.
Se por um lado o senhor está recebendo a adesão de partidos que reúnem 279 deputados, por outro realiza uma aliança que atrai políticos polêmicos, como Valdemar Costa Neto (PR) e Roberto Jefferson (PTB). Eles podem contaminar seu palanque?
Nós conquistamos os partidos aliados em torno de uma proposta para o Brasil e não tem toma-lá-dá-cá. Os partidos têm outros quadros expressivos.
Não há nenhuma hipótese de retornar o Imposto Sindical. Ele é uma visão atrasada, cartorial e que os sindicatos que realmente têm representatividade nem querem. O que nós falamos é criar o Conselho Nacional do Trabalho, com participação tripartite. Vamos melhorar o uso do dinheiro do trabalhador, que é o FGTS. Fiz um estudo: se em 1995 o trabalhador tivesse R$ 1 e aplicasse no CDI teria R$ 20 agora. Na poupança R$ 10 e aplicado como é hoje teria R$ 5. O trabalhador foi tungado. Vamos fazer justiça aos trabalhadores com a TLP, para corrigir o FGTS, com juros mais correção monetária.
Pelo fato da sua campanha não decolar, muitos falaram em substituí-lo, inclusive pelo ex-prefeito João Doria. Ficou alguma mágoa?
Eu conheço o João Doria e tenho laços de amizade com ele há quase 30 anos. Zero de mágoa. E eu sou adepto da democratização das prévias. Quando me lancei candidato, abrimos a inscrição para as prévias. Submeti o meu nome e, se o partido escolhesse outro nome, eu acataria. Mas acabei escolhido por unanimidade.
Além de Aécio Neves, em Minas, tem outros tucanos como o Paulo Preto, em São Paulo, envolvidos na Lava Jato. O senhor acha que eles prejudicarão sua campanha?
Sempre defendi, independentemente de pessoas, que a lei é para todos. Tem que haver investigação e que se faça Justiça. Quem tem que ser inocentado, que o seja. E quem tem que ser punido, que seja punido. Nós não desmoralizaremos as instituições.
Existem nomes ótimos, mas a definição do vice ficará bem mais para a frente.
Bateu na trave
Contra Bolsonaro, pesaram também posicionamentos, que levaram insegurança quanto à garantia de manutenção da atual lógica democrática de presidencialismo de coalizão. O bloco precisava ter certeza de que, forte no Congresso, teria peso nas decisões do próximo presidente. Sentiu mais segurança nesse sentido com Alckmin. “Ficamos muito perto de obter a unidade do campo democrático que pregávamos”, comemora o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG). “Tínhamos a esperança de unir ainda Marina, Meirelles e Alvaro. Mas a união já garantida é um grande avanço”. Falta apenas a definição do vice na chapa. Josué Gomes, do PR, desistiu. Na última semana, estavam cotados nas bolsas de apostas Aldo Rebelo (SD), Mendonça Filho (DEM) e a atual presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputada federal Tereza Cristina, do DEM.
As três cartadas
O feito obtido por Alckmin tem três aspectos importantes. O primeiro é o tempo de TV conquistado pela aliança. Um triunfo nada desprezível. Alckmin terá cerca de seis minutos de inserção nas propagandas na televisão. Mesmo em tempos de internet e redes sociais, os especialistas consideram que a TV ainda terá enorme peso, principalmente os pequenos comerciais ao longo da programação. Será uma vantagem imensa, em comparação com o que dispõem aqueles seus principais adversários na disputa.
Quando a maré está favorável, até o apelido pejorativo vira um trunfo. É o que pretende fazer o marqueteiro da campanha Lula Guimarães. Nas próximas semanas, a ideia é difundir o slogan “bom pra chuchu”, mostrando que o antes insosso e insípido “picolé de chuchu”, como Alckmin sempre fora conhecido, pode ser sim favorável para o País devido ao seu perfil de conciliador. É nesse aspecto que ele pretende se diferenciar dos concorrentes, tidos como incendiários, num ambiente em que o mais apropriado para o País seria eleger alguém capaz de colocar água na fervura. Por isso, nos programas de TV, as características pessoais de Alckmin serão ressaltadas à exaustão. Por exemplo, desde jovem, o ex-governador de São Paulo cultiva um cacoete retórico que guarda relação direta com sua personalidade. Gosta de falar pausadamente dando ênfase às sílabas, as quais pronuncia de maneira separada, quase em tom professoral. Para seus aliados, trata-se exatamente do perfil que o Brasil necessita. Alguém em condições de explicar didaticamente à população as medidas amargas que precisarão ser adotadas, para que voltemos a sonhar com um futuro promissor, com o retorno dos investimentos, da renda e do emprego. “Sempre se cobrou do Alckmin uma postura açodada que não combina com seu estilo. Ele é do diálogo, de fazer as coisas aos poucos. Ele eleva ao estado da arte aquele ditado segundo o qual a pressa é inimiga da perfeição. Ele quer a perfeição, mas com tudo a seu tempo”, afirmou um integrante da campanha.
Claro que existem indisfarçáveis efeitos colaterais com os quais Alckmin terá de lidar ao longo da campanha. A coligação com partidos que representam a fina flor de uma política rejeitada por setores expressivos do eleitorado será um flanco a ser explorado por seus adversários. Não será simples explicar, por exemplo, a incorporação ao palanque de figuras indigestas da política brasileira, como Valdemar Costa Neto (PR), Roberto Jefferson (PTB), condenados no mensalão por corrupção, e o famigerado Paulinho da Força. Na última semana, editorial do Estadão bateu forte no excesso de pragmatismo tucano, lembrando um termo adotado pela ex-presidente Dilma Rousseff na campanha de 2014, que se transformou numa máxima do vale-tudo eleitoral: para vencer “a gente faz o diabo”.
Desde que não se entregue os dedos, em vez dos anéis, é possível transformar a mega aliança partidária, a despeito da inclusão de alguns indesejados cacarecos, em algo frutífero para o Brasil. Nos tempos da ditadura militar, a cada derrota da oposição era comum ouvir entre os políticos a seguinte frase: “A esquerda só se une na cadeia”. Trinta e três anos depois da redemocratização, Lula está na cadeia, mas a esquerda está muito longe de se unir sobretudo porque o ex-presidente não abre mão de uma candidatura ilegal. Enquanto a vaidade pessoal de Lula desune as esquerdas, o Alckmin ensaia já na largada um governo de concertação nacional. Trata-se de um inegável trunfo para chegar lá.
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