Um dos casos é o do governador de Minas Gerais, suspeito, entre outros pontos, de ter recebido 20 milhões de reais em propina
A presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, pautou para o próximo dia
2 de março a retomada de uma série de julgamentos que pode representar a
palavra final da justiça contra um mecanismo que garante blindagem a
governadores suspeitos de irregularidades. Estão em pauta sete ações
diretas de inconstitucionalidade (ADI) que questionam se assembleias
legislativas estaduais e a Câmara Legislativa do Distrito Federal
precisam conceder aval prévio para que seus governadores sejam
processados. Além do DF, deverão ser decididos casos envolvendo as
constituições de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Acre, Bahia, Mato
Grosso e Piauí.
Dos processos pautados, o mais
emblemático diz respeito ao caso que envolve Minas Gerais e deve ter
impacto direto no futuro da Operação Acrônimo. Isso porque o julgamento
pode abrir caminho para que o governador mineiro Fernando Pimentel (PT)
seja processado por suspeita de recebimento de propina e, no futuro,
eventualmente suspenso do cargo caso se torne réu. Uma ação direta de
inconstitucionalidade (ADI) envolvendo o caso Pimentel foi colocada como
o primeiro item da pauta do STF na quinta-feira da próxima semana. Nela
é discutida se o governador mineiro pode ou não ser processado e
julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) sem aval prévio da
Assembleia Legislativa mineira.
A Constituição mineira não diz
explicitamente que deve haver aval preliminar do Legislativo para
processar governadores e detalha apenas que “o governador será suspenso
de suas funções nos crimes comuns, se recebida a denúncia ou a queixa
pelo Superior Tribunal de Justiça”. Entre outras acusações, o petista é
suspeito de ter recebido 20 milhões de reais em propina, segundo o
delator Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené.
Em dezembro do ano passado, quando votou
no processo, o relator do caso, ministro Edson Fachin, afirmou que
existem “reiterados e vergonhosos casos de negligências deliberadas
pelas Assembleias Legislativas, que têm sistematicamente se negado a
deferir o processamento dos governadores”. Fachin afirmou que existem
quatro razões para considerar inconstitucional a exigência de aval
prévio para processar o governador mineiro: ausência de previsão
expressa do texto para processamento e julgamento do governador; ofensa
ao princípio republicano, porque a exigência de autorização prévia
significaria o “congelamento de qualquer tentativa de apuração judicial
de eventuais responsabilizações criminais de governadores”; ofensa à
separação de poderes porque o STJ, instância responsável por julgar
governadores, ficaria “impedido de exercer suas competências” até a
autorização do Legislativo estadual e, por fim, ofensa à igualdade
porque blindaria o governador.
Alvo principal da Operação Acrônimo, da
Polícia Federal, Pimentel ganhou sobrevida depois de um pedido de vista
do ministro Teori Zavascki no final do ano passado. Com a morte de
Zavascki em um acidente aéreo em janeiro, o Democratas, autor da ADI,
pediu que Cármen Lúcia pautasse o processo por avaliar que, como o
pedido de vista tem caráter pessoal, não seria necessário aguardar a
nomeação do sucessor do ministro para que o julgamento fosse retomado.
Até o momento Edson Fachin e Roberto Barroso entenderam que a Assembleia
mineira não precisa dar anuência prévia para que o governador possa ser
processado. Marco Aurélio também afirmou que o aval preliminar da
Assembleia é inconstitucional, negou a ação do DEM por razões
processuais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário