A PagSeguro faz a mais bem-sucedida abertura de capital de uma empresa brasileira desde 2011. Mas seu modelo de negócios está sob ataque no Brasil
Como a PagSeguro conseguiu essa façanha? Quando foi criada em 2006, a companhia do UOL surgiu para ser um rival do Paypal, o gigante americano que tinha inventado uma carteira virtual e se destacava como meio de pagamentos online. A empresa manteve essa trajetória até 2013, quando começou a vender POS (da sigla em inglês Point of Sales), conhecidas, popularmente, como maquininhas. A companhia se aproveitou da abertura de mercado três anos antes. Até 2010, os cartões da Visa só rodavam nas máquinas da Cielo. Os da Mastercard, nos da Rede. Com a nova regra, elas eram obrigadas a aceitar todas as bandeiras de cartões de crédito. A grande sacada da PagSeguro foi vender a maquininha em diversas parcelas em vez de alugar, como faziam todos os seus rivais naquela época. Com isso, evitou que os empreendedores pagassem mensalidades para o uso do terminal, um custo recorrente e que inviabilizava que muitos usassem o serviço. “O objetivo da PagSeguro é ganhar dinheiro com a cobrança de um percentual sobre as transações e com a antecipação de recebíveis”, diz Boanerges Ramos Freire, presidente da consultoria especializada em varejo financeiro Boanerges & Cia. “Eles vendem a maquininha praticamente a preço de custo.”
Mas esse mar de água calma e de peixes miúdos está chegando ao fim. Nada indica que o PagSeguro terá de enfrentar um tsunami daqui para frente. Mas os seus rivais finalmente acordaram, assim como novos competidores surgiram neste oceano. Um deles é a Stone, controlada pelos fundadores da Arpex Capital, André Street e Eduardo Pontes, e que tem entre seus acionistas minoritários a empresa britânica de aquisição Actis e a brasileira Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. A companhia adquiriu a Elavon, do Citibank, em dezembro do ano passado. Com o ativo, a ideia é encarar a PagSeguro. A Stone estuda também abrir o capital nos Estados Unidos, segundo informação publicada pela agência de notícias americana Reuters. O dinheiro da captação seria usado para reforçar suas baterias contra Cielo e Rede. Procurada, a Stone não confirma a informação.
Os gigantes dessa área também estão se movimentando. A GetNet, por exemplo, entrou nessa briga quando lançou a Vermelinha, seu terminal que pode ser comprado em vez de alugado, em setembro do ano passado. A ideia é atingir o profissional liberal e os microempreendedores. “Queremos dar opção aos nossos clientes”, diz Pedro Coutinho, presidente da GetNet, que tem 800 mil pontos de vendas ativos. A Cielo também despertou. Uma semana antes de a companhia do UOL abrir o capital na Nyse, a empresa anunciou a compra de 70% da Stelo, da qual já detinha 30% do capital. A credenciadora pagou R$ 87,5 milhões pela empresa e deve usá-la como uma marca de combate para enfrentar a PagSeguro, segundo analistas com quem DINHEIRO conversou. “É um movimento para se proteger da crescente concorrência nesse meio e para ganhar mais força no segmento de comércio eletrônico e entre os pequenos comerciantes”, diz Rafael Passos, analista da corretora Guide Investimentos. Com a nova marca, a Cielo, que é comandada por Eduardo Gouveia, deve entrar também na briga de venda das maquininhas, algo que evitou até agora para não canibalizar seu próprio negócio, segundo a visão do mercado. Procurada, a Cielo não quis conceder entrevista.
A receita da PagSeguro mais que quintuplicou desde 2014, quando faturava R$ 325 milhões. Nos nove primeiros meses deste ano, alcançou R$ 1,7 bilhão. O lucro multiplicou-se por onze vezes, neste mesmo período, chegando a R$ 290 milhões. Além disso, os investidores estão enxergando a PagSeguro como uma empresa que está surfando na onda do bom humor com mercado de fintechs, as startups tecnológicas que estão inovando no mundo financeiro. A americana Square, que tem perfil semelhante ao da PagSeguro, vale US$ 17,2 bilhões na Nyse. É um sinal de que há espaço para a valorização da companhia brasileira. Antes, no entanto, ela precisa combinar com Cielo, Rede e GetNet, que também querem participar dessa festa. E vão entrar de qualquer jeito. Nem que seja de penetra.
Correção: o valor de aquisição da Stelo pelo Cielo é em reais e não em dólares como foi publicado na primeira versão dessa reportagem.
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