O líder dos sem-teto é mais um
representante da esquerda a se desvincular de Lula, maculado pela
corrupção, e almejar a Presidência. Dificilmente, porém, terá
musculatura eleitoral para chegar lá
FICA, VAI TER BOULOS
Lula até tentou convencer Boulos a não ser candidato a presidente da República. Ele não obedeceu (Crédito: Alice Vergueiro)
Por trás das ocupações e acampamentos do Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto (MTST) em todo o País, há uma liderança radical,
que defende a invasão a terrenos privados e públicos nas grandes
cidades, especialmente São Paulo, onde vive. É Guilherme Boulos, 35
anos, o coordenador nacional do movimento, que se envolveu, desde muito
jovem, na luta por moradias para famílias carentes, deixando de lado a
vida luxuosa que levava no seio de uma família de classe média alta. Seu
pai é um dos mais bem conceituados infectologistas do País. Aos 19
anos, Boulos resolveu morar num acampamento de sem-teto, ao mesmo tempo
em que cursava a Faculdade de Filosofia na USP. Acabou casando com uma
sem-teto e personificou a luta ao lado dos que desejam moradia própria.
Por isso mesmo, o nome dele não para de ganhar espaço entre os
militantes de partidos de esquerda. Há quem já o aponte como sucessor de
Lula e possível candidato à Presidência da República. O PSOL não
esconde o interesse em contar com ele para a disputa já no ano que vem.
O crescimento do nome de Boulos na esquerda já está assustando até o
PT lulista. Para convencê-lo a desistir do projeto, Lula se reuniu com
Boulos no acampamento de quase 20 mil sem-teto num terreno em São
Bernardo do Campo. Acompanhado pela presidente nacional do PT, a
senadora Gleisi Hofmann, o ex-presidente ponderou com Boulos que a sua
candidatura atrapalharia a esquerda, já que tiraria votos do PT.
Conversa vai, conversa vem, Lula saiu convencido de que Boulos foi
picado pela “mosca azul” e que está disposto a participar da sucessão
presidencial, independentemente das pressões do PT. O ex-presidente não
gostou nada do que ouviu. Afinal, as fileiras petistas já estão sofrendo
outras baixas na esquerda. Recentemente, a deputada Manuela D´Ávila
também anunciou que sairá candidata a presidente pelo PCdoB, eterno
aliado petista. Essas divergências enfraqueceriam ainda mais a
candidatura de Lula, já bombardeada pelas decisões judiciais que o
condenaram à prisão e o tornaram réu em inúmeras ações por corrupção.
Divergências
No início de novembro, Boulos publicou um vídeo nas redes sociais em
que adotou uma postura de candidato. Falou sobre propostas para melhorar
o Brasil, incluindo o combate à corrupção e à desigualdade, e defendeu
as ocupações realizadas pelo MTST. O líder dos sem-teto não esconde a
admiração pelo Podemos, da Espanha, um partido de esquerda com raízes na
classe trabalhadora. Em julho, reuniu-se com o deputado espanhol Rafa
Mayoral para trocar experiências. Em outubro, foi a vez de Mayoral vir
ao Brasil para falar da atuação da legenda. Boulos é um dos fundadores
da plataforma “Vamos!”, inspirada no Podemos e formada por um grupo que
tem debatido políticas públicas para 2018. O envolvimento de Boulos com o
“Vamos!” aumentou a especulação de que ele entraria de cabeça na vida
política.
Fiel seguidor da tática de agitação, Boulos não perde oportunidade de
aparecer. No final de outubro, quando a Justiça impediu a realização de
um show de Caetano Veloso no acampamento ‘Povo Sem Medo’, em São
Bernardo do Campo, Boulos reagiu: “É um absurdo, é censura, é ilegal”.
Em resposta à proibição, o MTST reuniu cerca de 20 mil pessoas, numa
caminhada de São Bernardo do Campo à sede do governo de São Paulo. Em
janeiro, foi preso sob a suspeita de desobediência e incitação à
violência. A confusão aconteceu durante a reintegração de posse de um
terreno no interior paulista. Como se nota, o projeto político de Boulos
é marcado pelo radicalismo.
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