SELVA

SELVA

PÁTRIA

PÁTRIA

terça-feira, 30 de junho de 2015

Lobista ligado a Dirceu faz acordo de delação premiada

Milton Pascowitch pagou parte da sede da JD Assessoria e Consultoria, empresa do ex-ministro apontada como um dos possíveis propinodutos para lavar dinheiro desviado da Petrobras

Por: Laryssa Borges, de Brasília
José Dirceu e Milton Pascowitch
José Dirceu e Milton Pascowitch(Dida Sampaio/Estadão Conteúdo e Vagner Rosário/VEJA)
O empresário Milton Pascowitch, preso em maio na 13ª fase da Operação Lava Jato da Polícia Federal, celebrou acordo de delação premiada e prometeu contar às autoridades o que sabe sobre o escândalo do petrolão. Pascowitch é ligado ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado no julgamento do mensalão e também investigado em um inquérito sobre o esquema de corrupção que envolve a Petrobras, que pode ter movimentado mais de 6 bilhões de reais. Sua delação, já homologada pelo juiz Sergio Moro, pode contribuir para que a força-tarefa consiga novos indícios da participação do ex-homem forte do governo Lula no propinoduto que sangrou os cofres da estatal.
Milton Pascowitch é o 18º delator da Lava Jato. Além de dar informações sobre o possível envolvimento de Dirceu com o esquema, as revelações do lobista podem abrir e reforçar novas linhas de investigação, principalmente sobre o bilionário mercado de exploração do pré-sal. Em depoimento, o ex-vice-presidente da construtora Engevix, Gerson Almada, disse ter pago até 0,9% para Pascowitch por contratos de sondas de exploração de petróleo da Petrobras com a empresa Sete Brasil.
Pascowitch foi preso no final de maio pela Polícia Federal. Com a delação, ele foi autorizado a cumprir prisão domiciliar com o uso de uma tornozeleira eletrônica. O empresário pagou parte da sede da JD Assessoria e Consultoria, empresa do ex-ministro José Dirceu, apontada pelos investigadores do petrolão como um dos possíveis propinodutos para lavar dinheiro desviado da Petrobras. A empresa Jamp Engenheiros Associados, de propriedade do empresário, desembolsou 400.000 reais dos 1,6 milhão de reais utilizados na aquisição do imóvel que sediava a JD, em São Paulo. Mais: uma empresa de Milton Pascowitch também comprou um imóvel em nome de Camila, filha de Dirceu, no bairro da Saúde, na capital paulista.

O Ministério Público Federal investiga há meses a Jamp, considerada uma empresa de fachada suspeita de ser usada para lavar dinheiro do escândalo do petrolão. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o vice-presidente da Engevix, Gerson Alamada, disse que Dirceu fazia "lobby internacional" em nome da empreiteira, enquanto Pascowitch atuava como mediador das "relações partidárias" da construtora. A Engevix pagou pouco mais de 1 milhão de reais à JD Assessoria e Consultoria, empresa de Dirceu, conforme mostrou o site de VEJA. Pascowitch já havia sido detectado também na lista de supostos clientes da "consultoria" de José Dirceu. No rol de contratantes compilados pela Receita Federal, aparece a Jamp - ela pagou 1,457 milhão de reais para Dirceu.
Sigilos - Condenado no julgamento do mensalão por corrupção ativa, José Dirceu é alvo de inquérito na Lava Jato e teve os sigilos fiscal e bancário quebrados em janeiro após o Ministério Público, em parceria com a Receita Federal, ter feito uma varredura nas empreiteiras investigadas na Lava Jato em busca de possíveis crimes tributários praticados pelos administradores da OAS, Camargo Correa, UTC/Constran, Galvão Engenharia, Mendes Junior, Engevix e Odebrecht. Os investigadores já haviam suspeitado que as empreiteiras cujas cúpulas são alvo de investigação, unidas em um cartel fraudaram contratos para a obtenção de obras da Petrobras, utilizavam empresas de fachada para dar ares de veracidade à movimentação milionária de recursos ilegais.
Ao site de VEJA, o advogado Roberto Podval, que integra a banca de defesa do ex-ministro da Casa Civil, disse que a delação do executivo "não muda nada" para o ex-ministro José Dirceu. "Dirceu não tem nenhuma ligação com a Petrobras", afirmou. "Para se fazer justiça e prender o Zé Dirceu é necessário prender todos os outros que foram citados". O advogado de Pascowitch, Theo Dias, declarou que não poderia comentar o caso.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Lula treme

Temendo a prisão, Lula revela desespero ao criticar publicamente o PT. O ex-presidente, que tem dormido pouco, apresenta crises de choro, diz que o governo Dilma não tem mais jeito e avalia que a vitória de Aécio em 2014 poderia até ter sido melhor

Sérgio Pardellas (sergiopardellas@istoe.com.br)
O ex-presidente Lula anda insone. Segundo amigos próximos, o petista não consegue sossegar a cabeça no travesseiro desde a prisão, há duas semanas, de Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, e do executivo Alexandrino Alencar, considerados os seus principais interlocutores na empresa. Tem dormido pouco. Nem quando recebeu o diagnóstico de câncer na laringe, em 2011, o petista demonstrou estar tão apreensivo como agora. Pela primeira vez, desde a eclosão da Operação Lava Jato para investigar os desvios bilionários da maior estatal brasileira, a Petrobras, Lula teme amargar o mesmo destino dos empreiteiros. Até um mês atrás, o ex-presidente não esperava que sua história poderia lhe reservar outra passagem pela cadeia. Em 1980, o então líder sindical foi detido em casa pelo DOPS, a polícia política do regime militar. Permaneceu preso por 31 dias, chegando a dividir cela com 18 pessoas. Agora, o risco de outra prisão – desta vez em tempos democráticos – é real. Na quinta-feira 25, o tema ganhou certo frisson com a divulgação de um pedido de habeas corpus preventivo em favor do ex-presidente impetrado na Justiça Federal do Paraná. Descobriu-se logo em seguida, no entanto, que a ação considerada improcedente pelo Tribunal Regional Federal não partiu de Lula nem de ninguém ligado a ele. Mas, de fato, o político já receia pelo pior. O surto público recheado de críticas ao governo Dilma Rousseff e petardos contra o partido idealizado, fundado e tutelado por ele nos últimos 35 anos expôs, na semana passada, como os recentes acontecimentos têm deixado Lula fora do eixo.
abre.jpg
FORA DO EIXO
Vivendo o pior momento de sua história, Lula atira contra a
própria obra. Pela primeira vez, o ex-presidente teme os
desdobramentos da Operação Lava Jato
Em privado, o ex-presidente exibe mais do que nervos à flor da pele. Na presença de amigos íntimos, parlamentares e um ex-deputado com trânsito nos tribunais superiores, Lula desabou em choro, ao comentar o processo de deterioração do PT. Como se pouco ou nada tivesse a ver com a débâcle ética, moral e eleitoral da legenda, ele lamentou: “Abrimos demais o partido. Fomos muito permissivos”, justificou. Talvez naquela atmosfera de emoção, Lula tenha recordado de suas palavras enunciadas em histórica entrevista à ISTOÉ no longínquo fevereiro de 78, quando na condição de principal líder sindical do ABC paulista começava a vislumbrar o que viria a ser o PT, criado em 1980. “Para fazer um partido dos trabalhadores é preciso reunir os trabalhadores, discutir com os trabalhadores, fazer um programa que atenda às necessidades dos trabalhadores. Aí pode nascer um partido de baixo para cima”, disse na ocasião. Hoje, o PT, depois de 12 anos no poder, não reúne mais os trabalhadores, não discute com eles, muito menos implementa políticas que observem as suas necessidades. Pelo contrário, o governo Dilma virou as costas para os trabalhadores, segundo eles mesmos, ao vetar as alterações no fator previdenciário, mudar as regras do seguro para os demitidos com carteira assinada e adotar medidas que levam à inflação e à escalada do desemprego. Agora crítico mordaz da própria obra, Lula sabe em seu íntimo que não pode se eximir da culpa pela iminente derrocada do projeto pavimentado por ele mesmo.
Restaram os desabafos, sinceros ou não, e a preocupação com o futuro. Num dos momentos de lucidez, o ex-presidente fez vaticínios impensáveis para quem, até bem pouco tempo, imaginava regressar triunfante ao Planalto daqui a três anos. Em recentes conversas particulares no Instituto que leva o seu nome, em São Paulo, Lula desenganou o governo Dilma, sucessora que ele mesmo legou ao País. “Dilma já era. Agora temos que pensar em salvar 2018”, afirmou referindo-se às eleições presidenciais. Para o petista, a julgar pelo quadro político atual, “teria sido melhor” para o projeto de poder petista e da esquerda “que (o senador tucano) Aécio Neves tivesse ganho as eleições” presidenciais do ano passado. Assim, no entender dele, o PSDB, e não o PT, ficaria com o ônus das medidas amargas tomadas na esfera econômica destinadas a tirar o País da crise, o que abriria estrada para o seu retorno em 2018. Como o seu regresso não é mais favas contadas, o petista tem confidenciado todo o seu descontentamento com a administração da presidente Dilma. Lula credita a ela e ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o avanço da Lava Jato sobre sua gestão. Embora essa hipótese ainda seja improvável, petistas ligados ao ex-presidente não descartam a possibilidade de ruptura, o que deixaria a presidente ainda mais vulnerável para enfrentar um possível processo de impeachment. A atitude, se levada adiante, não constituiria uma novidade. Em outros momentos de intensa pressão, como no auge do mensalão e do escândalo do caseiro Francenildo, Lula não se constrangeu em rifar aliados e até amigos do peito, como os ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Ricardo Berzoini.
LULA-3-IE.jpg
ISOLADA
A presidente tentou minimizar as declarações de Lula,
mas no paralelo mandou emissários procurá-lo
Quem testemunhou as confidências de Lula na ampla sala de reuniões de seu Instituto, sediado na capital paulista, não chegou a ficar surpreso com o destempero verbal apresentado pelo petista na semana passada. Não se pode dizer o mesmo da maioria expressiva da classe política, impossibilitada de privar da intimidade do ex-presidente. De tão pesados e surpreendentes, os ataques de Lula a Dilma e ao PT foram recebidos com perplexidade. O primeiro tiro foi disparado na quinta-feira 18. Numa reunião com padres e dirigentes religiosos, Lula admitiu, em alusão ao nível baixo do sistema da Cantareira, que ele e Dilma estão no volume morto. “E o PT está abaixo do volume morto”, avaliou. Na segunda-feira 22, Lula elevou ainda mais o tom. Só que contra o PT. Em debate com o ex-presidente do governo espanhol Felipe Gonzáles, disse que o partido “está velho, só pensa em cargos e em ganhar eleição”. “Queremos salvar a nossa pele, nossos cargos, ou queremos salvar o nosso projeto?”, questionou Lula, durante a conferência “Novos Desafios da Democracia”. Nos dias subseqüentes às declarações, enquanto o meio político tentava interpretar o gesto do petista, o Planalto reagia a seu modo. Num primeiro momento, Dilma minimizou.“Todos têm direito de fazer críticas, principalmente o presidente Lula”. No dia seguinte, no entanto, Dilma orientou o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, a procurar Lula para tentar entender as razões de tamanha fúria. Paralelamente, o ex-presidente tratou de se proteger. Articulou junto à bancada do PT no Senado a divulgação de uma nota de desagravo a ele próprio. Criou, assim, mais uma jabuticaba política: fez com que o partido atacado emitisse um documento em apoio ao autor dos ataques. Na nota, o PT manifestou “total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de uma campanha pequena e sórdida de desconstrução de uma imagem que representa o que o Brasil tem de melhor”. No fim da semana, ao perceber o ar rarefeito, Lula mandou emissários espalharem o suposto reconhecimento de que ele 'se excedeu”. Era tarde.
LULA-A-IE.jpg
ELA TIRA O SONO DELE
Integrantes da Lava Jato querem investigar suposto depósito milionário
feito em Portugal pela amiga de Lula, Rosemary Noronha
Para o cientista político da USP, José Álvaro Moisés, ao abrir confronto contra Dilma e o PT, Lula “jogou para a plateia”. “Ele está vendo o navio fazer água, por isso age assim”, avaliou. Para Oswaldo do Amaral, da Unicamp, ao dizer que o partido precisa de uma renovação, Lula tenta uma reaproximação com o eleitorado mais jovem, segmento hoje refratário a ele (leia mais em matéria na página 46). O jornalista José Nêumanne Pinto, autor do livro “O que sei de Lula”, no qual conclui que o ex-presidente nunca foi efetivamente de esquerda, é mais contundente. Para ele, “Lula é sagaz e não tem escrúpulo nenhum para mudar seu discurso”. “O ex-presidente tem circunstâncias e conveniências que ele manipula”, afirmou. “Na verdade, ele não quer se descolar do PT e sim da Dilma. Com esse discurso da utopia, ele planeja atrair parte do PT que finge ser honesto”, disse.
01.jpg
O mais espantoso na catilinária lulista é que o ex-presidente se comporta como se fosse um analista distante de uma trama da qual é personagem principal. Numa analogia com o futebol, recurso metafórico muito utilizado por Lula quando estava na Presidência, seria como se o zagueiro e então capitão da seleção brasileira David Luiz descrevesse os sete gols da Alemanha como se não tivesse assistido entre atordoado e impassível ao baile de Toni Kroos, Schweinsteiger e companhia em campo. No caso do ex-presidente há um agravante: Lula nunca foi apenas um mero integrante do time, mas o mentor, o grande líder e artífice da caminhada petista até aqui. Por isso mesmo, causou ainda mais espécie a repreensão de Lula ao PT por sua sede por cargos. Ora, o aparelhamento da máquina pública pelo PT e aliados começou e recrudesceu durante os dois mandatos do petista. Quando Lula chegou ao poder em 2003, havia 18 mil cargos de confiança na administração federal. Ao transmitir o cargo para Dilma, em 2011, já eram cerca de 23 mil.
Do mesmo modo, Lula não pode lamentar, como fez em privado, que o crescimento do partido levou aos desvios éticos e à corrupção – hoje marca indissociável ao PT. O escândalo do mensalão, que resultou na condenação de dirigentes petistas em julgamento no STF, remonta ao seu governo. E o processo de abertura da legenda, bem como à rendição à política tradicional de alianças, baseada no fisiologismo e no toma lá, da cá, beneficiou o próprio Lula. Sem isso, o ex-presidente dificilmente se elegeria em 2002. Ao chegar ao Planalto, Lula cansou de dar demonstrações de que não sabia separar o público do privado. A mais chocante delas foi a ousadia de ornar os jardins do Alvorada com a estrela rubra do PT. O limite entre o público e o privado foi ultrapassado também quando Lula nomeou a amiga Rosemary Noronha para a chefia de gabinete de um escritório da Presidência em São Paulo. Hoje, Rosemary responde a uma ação na Justiça por formação de quadrilha, tráfico de influência e corrupção passiva. Ela integraria um esquema de vendas de pareceres técnicos de órgãos públicos federais. Agora, a personagem muito próxima a Lula pode retornar ao noticiário numa outra vertente das investigações da Lava Jato. Trata-se da retomada das apurações do episódio envolvendo um suposto depósito milionário feito em Portugal por Rosemary. Para a PF, o caso converge com a investigação sobre a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. É que Otávio Azevedo, preso na 14ª fase da Lava-Jato, foi representante da Portugal Telecom no Brasil. A empresa de telefonia era em grande medida controlada pelo Grupo Espírito Santo, parceiro da Odebrecht em vários empreendimentos em território português. “Tudo converge para os mesmos personagens.
02.jpg
Se já houver outra investigação em curso, também podemos colaborar”, afirmou à ISTOÉ um delegado ligado a Lava Jato. Até hoje não se sabe o que houve com o ofício protocolado pelo então deputado Anthony Garotinho (PR/RJ) sobre o périplo de Rosemary em solo português. Em 2012, Garotinho denunciou o caso com base em relatos de um ex-delegado federal. Rosemary, segundo essa fonte, teria desembarcado em Lisboa com passaporte diplomático e autorização para transportar uma mala. Ao chegar à alfândega, questionada sobre o conteúdo da bagagem, teria revelado que transportava 25 milhões de euros para depositar na agência central do Banco Espírito Santo no Porto. Segundo a mesma versão, as autoridades alfandegárias sugeriram que ela contratasse uma empresa de transporte de valores. Para executar o serviço, a empresa Prosegur exigiu a contratação de um seguro, pelo que Rosemary teve de preencher uma declaração com a quantia e a titularidade dos recursos. Ela, então, teria identificado o próprio Lula como proprietário do dinheiro.
Não restam dúvidas de que a explosão do petista deriva principalmente dos rumos tomados pelas investigações da Lava Jato nas últimas semanas. Mas seus recentes arroubos guardam relação também com os resultados das últimas pesquisas de opinião. De janeiro para cá, os levantamentos mostram a vertiginosa queda de popularidade de Dilma e dele próprio, que já perderia para o senador Aécio Neves se as eleições presidenciais fossem hoje. De acordo com o último Datafolha, Aécio aparece com 10 pontos na frente de Lula. Segundo a mesma pesquisa, o governo Dilma foi reprovado por 65% dos eleitores. Este índice de reprovação só não é maior do que o do ex-presidente Fernando Collor no período pré-impeachment, em setembro de 1992. Na época, Collor era rejeitado por 68% dos brasileiros. No levantamento, o governo Dilma é classificado como bom ou ótimo por apenas 10% dos brasileiros. É a maior taxa de impopularidade da petista desde 2011. A taxa de aprovação da presidente no Sudeste é de apenas 7%. No Nordeste, histórico reduto eleitoral do PT, é de somente 14%.
03.jpg
Num cenário nada alvissareiro para Dilma como o atual, em que ela está às voltas com um processo no TCU que pode até levar ao seu afastamento, o pior dos mundos para ela seria um rompimento com o padrinho político. Nesse cenário, Lula levaria com ele para o outro lado da trincheira parte do PT que hoje critica severamente a política econômica do governo. Se uma ruptura oficial é improvável, o mesmo não se pode dizer de um racha na prática, mas não declarado. O embrião do que pode vir a ser um contraponto ao governo surgiu na quarta-feira 24, em reunião na casa do senador Randolfe Rodrigues, do PSOL. Nela estavam presentes parlamentares do PSB e petistas de proa, como o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e o senador Lindbergh Farias (RJ). No encontro, articularam o que chamam de “Frente de Esquerda”. Se o movimento florescer, o grande responsável pela ascensão e projeção política de Dilma – o ex-presidente Lula – poderá ser também o principal artífice do seu irremediável isolamento.
04.jpg
Com reportagem de Claudio Dantas Sequeira
Colaborou Ludmilla Amaral
Fotos: Michel Filho / Agência O Globo, DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE; Jorge Araujo/Folhapress; Andre Penner/AP Photo, Ed Ferreira/Folhapress; Pedro França/Agência Senado; JOEL RODRIGUES/FRAME/ESTADÃO CONTEÚDO 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Justiça do Paraná recebe pedido de Habeas Corpus preventivo para Lula

O Instituto Lula nega que o ex-presidente tenha feito o pedido. Segundo a instituição, qualquer cidadão poderia ter requerido o Habeas Corpus Preventivo em nome do ex-presidente

Da Redação
Lula_Institulo-Lula_483x303.jpg
A Justiça Federal do Paraná recebeu um pedido de Habeas Corpus preventivo para que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva não seja preso em decorrência das investigações da Operação Lava Jato.
O Instituto que leva o nome do ex-presidente negou a autoria do pedido e reforçou que qualquer cidadão pode entrar na Justiça requerendo um Habeas Corpus. Ainda não está claro quem deu entrada exatamente às 16h20 da quarta-feira 24, no Tribunal Regional Federal da 4º Região, em Curitiba, com o pedido de Habeas Corpus Preventivo para Lula.


O HC número 5023661-46.2015.4.04.0000 tem como relator o desembargador João Pedro Gebran Neto, da oitava turma, que também é relator dos casos da Operação Lava Jato. Até a manhã da quinta-feira 25, o desembargador não havia se manifestado.


habeas-corpus.jpg

 

O pedido de Habeas Corpus Preventivo em nome do ex-presidente

terça-feira, 23 de junho de 2015

Delatores confirmam à PF que Braskem pagou propina

Youssef cita pagamentos de 5 milhões de dólares em troca de favorecimento na compra de nafta. Paulo Roberto Costa acusa de novo caixa paralelo para campanha de Roseana Sarney

 Laryssa Borges, de Curitiba
O ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef
O ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef(Lucio Bernardo Jr/ Vagner Rosario/VEJA)
O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa confirmaram nesta segunda-feira, em acareação na Polícia Federal em Curitiba (PR), que a Braskem, petroquímica ligada à Odebrecht, pagou de 1% a 3% em propina, em dinheiro vivo, tanto para Costa quanto para políticos filiados ao Partido Progressista (PP) entre 2006 e 2012.
Entre os parlamentares citados estão os deputados e ex-deputados Pedro Henry e Pedro Corrêa, ambos já condenados no julgamento do mensalão, Nelson Meurer, João Pizzolati, Mario Negromonte, Luiz Fernando Sobrinho, José Otávio, Arthur de Lira, Dudu da Fonte e Aguinaldo Ribeiro e os senadores Ciro Nogueira e Benedito de Lira. No esquema de pagamento de propina, o dinheiro era desembolsado para acelerar a compra de nafta, composto proveniente do petróleo utilizado como matéria-prima do setor. De acordo com a delação premiada de Alberto Youssef, em troca do favorecimento para a compra do insumo, a Braskem pagou em média 5 milhões de dólares em propina por ano.
"As versões foram coincidentes. A Braskem anualmente fazia compra de nafta, com pagamento de propina para acelerar procedimento de compra de nafta", disse o advogado de Youssef, Tracy Reinaldet. As negociações para pagamento de propina na Braskem eram feitas, segundo os delatores, na sede da petroquímica em São Paulo ou em hotéis.
Os acordos para acertar o valor das vantagens indevidas, também segundo depoimentos já prestados anteriormente pelos delatores, eram feitos entre o ex-deputado federal José Janene, morto em 2010, e Alexandrino de Alencar, executivo que era da Braskem e que hoje está no grupo Odebrecht. Alexandrino foi preso na 14ª fase da Operação Lava Jato. Ele é citado por delatores do petrolão como operador de propina na empreiteira e como companhia frequente do ex-presidente Lula em viagens para lobby internacional. E entre 2008 e 2012, Alencar encontrou-se diversas vezes com Rafael Angulo Lopez, auxiliar do doleiro Alberto Youssef que, além de distribuir a propina do petrolão para políticos, também fazia depósitos em contas no exterior para beneficiários do esquema criminoso.
Em nota, a Braskem informou que "reafirma que todos os contratos com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia". "É importante lembrar que os preços praticados pela Petrobras na venda de nafta sempre estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira", disse a empresa.
Maranhão - Durante o confronto de versões com Youssef, Costa manteve a acusação de que a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB) recebeu 2 milhões de reais propina para a campanha eleitoral de 2010. Ao contrário do que aponta o ex-diretor da Petrobras, Youssef nega que tenha intermediado o pagamento, embora não conteste o fato de ter havido a envio da vantagem indevida para a peemedebista.
Costa e Youssef foram questionados por procuradores e delegados da Polícia Federal por quase nove horas na superintendência da PF em Curitiba para esclarecer contradições nas delações premiadas de ambos. Ao final do interrogatório, porém, as versões de Paulo Roberto e Youssef continuaram conflitantes. Nos depoimentos de delação premiada, o ex-dirigente da Petrobras diz que "reuniu-se pessoalmente com Roseana em 2010 para tratar de propina". De acordo com Paulo Roberto Costa, o pedido de propina para a campanha ao governo maranhense partiu do então ministro de Minas e Energia e atual senador Edison Lobão (PMDB).
Indicado para a diretoria da Área Internacional da petroleira pelo Partido Progressista, Costa afirma ter retirado do habitual caixa de propina do PP na empresa a parcela enviada à ex-governadora. "O que Alberto [Youssef] contesta não é a existência da operação [de pagamento de propina], mas quem realizou a operação em si, quem efetivou a entrega do dinheiro. Paulo Roberto atribuiu a ele a entrega deste dinheiro, e Youssef diz que não foi ele quem efetivou o pagamento", alega o advogado de defesa de Youssef. Para ele, apesar do conflito sobre quem efetivamente pagou a propina a Roseana, "a divergência mostra que não houve combinação de versões" e não compromete a validade das delações premiadas.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

'Pedaladas' continuam a todo vapor no governo Dilma

Segundo levantamento feito por jornal, dívida do Tesouro com os bancos públicos para financiar programas sociais só tem aumentado neste ano

A presidente Dilma Rousseff participa de solenidade que celebra da marca de 5 milhões de Microempreendedores Individuais( MEI), no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), nesta quarta-feira (17)
Presidente Dilma Rousseff terá 30 dias para explicar irregularidades nas contas de 2014 apontadas pelo TCU (Evaristo Sá/AFP)
Condenada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a manobra conhecida como 'pedalada fiscal' continua sendo praticada no governo Dilma Rousseff neste ano, informa reportagem do jornal Folha de S. Paulo publicada nesta segunda-feira.
A manobra consiste em atrasar o repasse do Tesouro para bancos públicos, referente aos recursos necessários para custear benefícios sociais e financiar investimentos com juros mais baixos. Com isso, os bancos acabaram utilizando os próprios recursos para financiar o seu controlador (o governo), o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Na última semana, o tribunal reprovou essa e outras práticas ao avaliar as contas do governo de 2014, e deu um prazo de 30 dias para Dilma se explicar por escrito.
Só no primeiro trimestre de 2015, a dívida do governo com a Caixa e o Banco do Brasil cresceu mais de 2 bilhões de reais com o represamento de recursos. Com essa prática, o governo acaba ficando com mais caixa e, assim, melhora seus indicadores de despesas.
Por outro lado, a dívida do Tesouro com a Caixa, pagadora de programas sociais, como Minha Casa, Minha Vida e Bolsa Família, e o Banco do Brasil, financiador do crédito agrícola, já alcançou a cifra de 19 bilhões de reais até o fim de março.
O Tesouro também tinha um débito de 26,2 bilhões de reais com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no fim do ano passado. Nesse caso, o número de 2015 ainda não foi divulgado, mas técnicos do governo afirmaram que o valor também subiu.
Os dados levantados pelo jornal são os mesmos utilizados pelo TCU para fundamentar a reprovação das pedaladas. Só que referentes a 2014.
Procurado, o Tesouro não negou o aumento da dívida, mas informou estar pagando os bancos segundo o previsto no cronograma do Orçamento. "A STN [Secretaria do Tesouro Nacional] está realizando a execução financeira em consonância com o cronograma estabelecido para o exercícios de 2015", afirmou a instituição, em nota.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A primeira-dama, a enfermeira e o operador do PT

Há um grande segredo envolvendo esses três personagens. Entenda o que une a mulher do governador mineiro Fernando Pimentel, a mulher humilde que teria gasto 36 milhões de reais numa campanha eleitoral e o já notório Bené, acusado de alimentar o caixa do Partido dos Trabalhadores com dinheiro desviado dos cofres públicos

Por: Rodrigo Rangel e Adriano Ceolin

O governador mineiro Fernando Pimentel e a primeira dama Carolina de Oliveira: laços financeiros com o empresário Benedito de Oliveira
O governador mineiro Fernando Pimentel e a primeira dama Carolina de Oliveira: laços financeiros com o empresário Benedito de Oliveira(Luiz Costa/Jornal Hoje em Dia/VEJA)
As duas mulheres que aparecem nesta reportagem não se conhecem. Carolina de Oliveira é jornalista. Cresceu na periferia de Brasília e hoje é a primeira-dama de Minas Gerais. Helena Maria de Sousa, ou Helena Ventura, como também é conhecida, mora em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, é enfermeira da rede pública de saúde e se candidatou a deputada estadual nas últimas eleições pelo PT. Apesar das trajetórias aparentemente distintas, as duas são suspeitas de envolvimento no mais recente escândalo de corrupção investigado pela Polícia Federal. Ambas, cada uma à sua maneira, estão conectadas a Benedito de Oliveira Neto, o Bené, empresário de Brasília que, na última década, fez fortuna como parceiro do governo federal, teve como cliente a campanha da presidente Dilma Rousseff, foi preso e está indiciado por formação de quadrilha.
O acaso levou Carolina a Bené. Formada em comunicação, ela trabalhou numa empresa que prestava serviços ao então prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Logo, foi promovida a assessora pessoal dele - e não se separaram mais. Em 2010, Pimentel foi indicado para coordenar a campanha presidencial de Dilma Rousseff. Carol o acompanhou. O prefeito delegou a Benedito de Oliveira, seu amigo, a montagem do comitê central. Bené alugou a casa e organizou toda a infraestrutura para o início da campanha. Ele era um mero desconhecido, e continuaria nas sombras se não fosse um escândalo que eclodiu antes mesmo do início da campanha. Além de marqueteiros e jornalistas, o empresário contratou para o comitê uma equipe de ex-policiais e arapongas para bisbilhotar a vida de adversários. Revelado por VEJA, o caso provocou o afastamento da dupla Pimentel-Bené do comando da campanha - mas só da campanha.
Eleita, Dilma nomeou Fernando Pimentel para comandar o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O ministro, por sua vez, contratou Carolina como sua assessora no ministério. Ela cuidava dos compromissos oficiais, acompanhava as viagens e estava presente na maioria dos eventos de que ele participava. Em 2012, motivado por rumores, Pimentel recomendou que a assessora deixasse o cargo. A pedido do ministro, ela foi contratada por uma agência que presta serviços ao PT. Montou a própria empresa, a Oli Comunicação, e, recentemente, oficializou a união com o agora governador Fernando Pimentel. Nesse período, Bené continuou ganhando dinheiro. Foram mais de 500 milhões de reais em contratos superfaturados com o governo. Tudo estaria bem para todos se, no ano passado, Bené não tivesse sido apanhado outra vez com a boca na botija. A polícia apreendeu um avião do empresário com 113 000 reais em dinheiro e documentos que sugeriam que ele repetia na campanha de 2014 o mesmo papel que desempenhara em 2010 - o caixa paralelo que financiava o PT.


A enfermeira Helena Ventura: sua campanha a deputada federal, que lhe rendeu apenas 29 votos, repassou 36 milhões de reais a Bené
A enfermeira Helena Ventura: sua campanha a deputada federal, que lhe rendeu apenas 29 votos, repassou 36 milhões de reais a Bené(VEJA.com/VEJA)
​As investigações indicam que Bené montou uma ampla rede criminosa envolvendo empresas-fantasma para financiar as campanhas petistas, incluindo a do governador Pimentel. Basicamente, ele superfaturava contratos com o governo e repassava parte do que arrecadava aos partidos através de doações legais, como no petrolão, ou clandestinas, através das empresas-fantasma. Na operação policial que prendeu o empresário, a polícia realizou buscas no apartamento onde Carolina Oliveira morava antes de se mudar para Belo Horizonte. Procurava documentos que mostrassem negócios entre ela e o empresário. A sede da Oli Comunicação estava registrada no mesmo endereço de uma empresa-fantasma de Bené.
É nesse ponto que a história de Carolina converge com a de Helena Ventura. Sindicalista e filiada ao PT, a enfermeira disputou três eleições. Foi candidata a deputada federal em 2010, a vereadora em 2012 e, no ano passado, tentou uma vaga na Assembleia Legislativa de Minas. Somando o resultado das três eleições, ela teve incríveis 29 votos. Mas o que chamou atenção foi o custo de sua última campanha. Dona de um salário de 2 000 reais, Helena declarou ter gasto 36 280 000 reais com a candidatura. E o mais interessante é que praticamente todo o dinheiro, 36 250 000  reais, foi pago a um único fornecedor - a Gráfica Brasil, cujo proprietário é Benedito de Oliveira. É evidente que existe algo muito estranho nessa história.
Há um grande segredo envolvendo esses personagens. Segundo um relatório do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, o dinheiro a ser repassado para a Gráfica Brasil tinha como origem declarada o fundo partidário - a verba que os partidos políticos recebem dos cofres públicos. O PT não quis se pronunciar. A enfermeira disse que desconhece tanto a origem quanto o destino do dinheiro. "Se eu tivesse esse dinheiro, seria eleita com certeza", afirmou ela ao jornal Hoje em Dia. Helena também garante que nunca ouviu falar do empresário. Benedito de Oliveira, já solto, disse, por meio de seu advogado, Celso Lemos, que nem sabe quem é Helena. Caroline Oliveira não foi localizada. Seu advogado, Pierpaolo Bottini, informou que a primeira-dama de Minas Gerais mantém apenas relações de amizade com a família de Bené. Negócios? Nenhum. A coincidência de endereços teria sido apenas um grande mal-entendido. O advogado diz que a Oli funcionou num escritório no centro de Brasília até julho de 2014 e, depois disso, uma das empresas de Bené se instalou no mesmo endereço. Por equívoco, alguém se esqueceu de formalizar a mudança. Simples assim.
Com reportagem de Hugo Marques

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Governo 'se arma' para conseguir aprovar contas de 2014 no TCU

Diante da condenação das chamadas 'pedaladas fiscais' por parte dos ministros, governo teme que o órgão reprove as contas oficiais referentes ao ano passado

A presidente Dilma Rousseff em sua primeira visita de Estado à Cidade do México
Manifestantes anti-Dilma chegaram a protocolar pedidos de impeachment contra a presidente, alegando que ela cometeu crime de responsabilidade fiscal por 'pedaladas'(Edgard Garrido/Reuters)
O governo Dilma Rousseff costura com ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) a aprovação das contas oficiais do governo relativas ao ano de 2014. O governo teme que, depois de os ministros terem condenado as chamadas 'pedaladas fiscais', o órgão de fiscalização fique mais próximo de reprovar as contas da União. A apreciação do tribunal está marcada para o dia 17 de junho.
Uma rejeição, inédita, poderia abrir uma nova crise política e dar ainda mais fôlego para a oposição, que já ingressou com ação penal contra Dilma na Procuradoria Geral da República (PGR) pelas 'pedaladas', como ficaram conhecidas as operações feitas pela gestão Dilma entre 2013 e 2014. Nelas, o governo atrasava, propositalmente, o repasse de recursos do Tesouro Nacional a bancos, especialmente à Caixa, de modo a melhorar artificialmente as contas públicas.
A operação "antirreprovação" do governo já começou. As defesas das 17 autoridades do governo culpadas pelas "pedaladas" são coordenadas pelo advogado-geral da União (AGU), Luis Inácio Adams, e serão entregues ao ministro relator do caso, José Múcio, entre os dias 5 e 15 de junho, no limite dos prazos dados pelo tribunal aos envolvidos no caso. Múcio e seu gabinete técnico somente poderão iniciar as avaliações com todas as defesas em mãos.

"Seria muito precipitado que o TCU decidisse pela reprovação das contas do governo baseado neste caso [das pedaladas], que ainda não teve a fase do contraditório, com as defesas", disse Adams. Ele afirmou que já tem mantido contato com todos os ministros do Tribunal de Contas para sustentar esse argumento. "O TCU deve analisar as defesas dos envolvidos no caso para então tomar uma decisão final", defendeu.
Defesa - O ministro revelou qual será a linha geral das defesas que serão apresentadas ao TCU no caso das 'pedaladas'. Segundo ele, o governo não descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, uma vez que os contratos entre a União e a Caixa são de prestação de serviços e até o próprio TCU será usado como exemplo. "Esse modelo de contrato existe até no TCU. O tribunal tem contratos com prestadores de serviços, que preveem que, em caso de eventuais atrasos de pagamentos, o prestador de serviços pode realizar pagamentos a descoberto", disse Adams. "Então, se esse modelo é errado, então ele é errado para toda e qualquer prestação de serviço".
Diante da comprovação das 'pedaladas' pelos auditores do TCU, porém, o procurador Júlio Marcelo de Oliveira produziu parecer onde sustentou que a prática infringiu o artigo 36 da LRF. Ao atrasar o repasse de dinheiro à Caixa, o governo forçou que a instituição usasse recursos próprios para continuar o pagamento de benefícios, como o Bolsa Família e o seguro-desemprego. A LRF proíbe que um banco público "financie" o Tesouro. Segundo o MP, houve uma operação de crédito entre o Tesouro e a Caixa.
Mas Adams insiste que os atrasos nos repasses entre 2013 e 2014 - que o governo Dilma confessa terem existido - não representam crime fiscal. "A prática [as 'pedaladas'] não constituiu empréstimo. Entre o Tesouro e a Caixa há uma relação de prestação de serviço", disse o advogado-geral da União.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Navio de cruzeiro com mais de 450 a bordo naufraga na China

A embarcação 'Estrela do Oriente' foi atingida por tempestade, diz capitão.
Maioria dos passageiros tem entre 50 e 80 anos.

Do G1, em São Paulo
Um navio de cruzeiro chinês com 458 pessoas a bordo naufragou no Rio Yangtze, na província chinesa de Hubei, na noite desta segunda-feira (1º), informou a agência estatal de notícias “Xinhua”, que cita como fonte a administração de navegação do rio. Mais de 400 pessoas estão desaparecidas. Os passageiros e tripulantes são todos chineses, segundo as autoridades locais.
A agência de notícias chinesa Xinhua informou que até agora 15 pessoas foram resgatadas com vida, incluindo o capitão e o engenheiro da embarcação. Eles disseram que o barco naufragou rapidamente após ser atingido por uma tempestade. A Efe fala em 13 sobreviventes por enquanto, entre eles uma idosa de 85 anos. A Reuters estima o número de resgatados com vida em 19.
Não há ainda informações oficiais sobre mortos. A "BBC" afirma que uma morte foi confirmada, mas a Reuters diz que cinco corpos foram resgatados da água.
Navio de cruzeiro está de cabeça para baixo (Foto: AP Photo)Navio de cruzeiro está de cabeça para baixo (Foto: AP Photo)
A embarcação “Dongfangzhixing (“Estrela do Oriente)” levava 406 passageiros chineses, cinco funcionários de uma agência de viagens e 47 integrantes da tripulação, segundo o órgão de administração de navegação.
A maioria dos passageiros é composta por turistas com idades entre 50 e 80 anos. De acordo com uma lista um passageiro teria 3 anos. Não haveria estrangeiros no barco.
Uma centena de passageiros reservou as passagens em uma agência de turismo de Nankin, enquanto as demais reservas ocorreram em Suzhou e em outras cidades, declarou Yao Wenge, oficial encarregado do transporte fluvial, citado pela agência Xinhua.
O navio partiu de Nanjing, capital da província de Jiangsu, no leste do país, e seguia para a cidade de Chongqing, no sudoeste.
O naufrágio ocorreu por volta de 21h28 (horário local).
Equipes carregam um barco para resgate (Foto: Chen Zhuo / Reuters)Equipes carregam um barco para resgate (Foto: Chen Zhuo / Reuters)
A BBC informou que o barco não teria enviado sinal de socorro antes de emborcar.
A TV estatal chinesa, a “CCTV”, disse que um navio de resgate e equipamento para desvirar a embarcação foram enviados ao local do naufrágio. Imagens da TV mostraram o navio de cabeça para baixo no rio. A região do naufrágio tem cerca de 50 pés (15 metros) de profundidade.
Soldados, policiais, paramilitares, mergulhadores e centenas de barcos estão no local para ajudar na busca por sobreviventes. A equipe é composta de 140 pessoas e cinco helicópteros. Mas chove e venta muito na região, o que dificulta o trabalho de resgate.
De acordo com o jornal “The New York Times (NYT)”, equipes de resgate ouviram sons de batidas no casco, vindas do interior do navio, o que indica que há pessoas vivas no interior da embarcação virada.
O premiê chinês, Li Keqiang, viajou para o local do naufrágio.
Premiê chinês, Li Keqiang, discute plano de resgate com um mapa nas mãos (Foto: Reuters)Premiê chinês, Li Keqiang, discute plano de resgate com um mapa nas mãos (Foto: Reuters)
Segundo a CCTV, o navio foi construído em fevereiro de 1994 e é capaz de transportar 534 pessoas. A embarcação é propriedade da Chongqing Oriental Ferry Company.
O Yangtze é o terceiro rio mais longo do mundo e o mais importante navegável da China, muito usado pelos navios de cruzeiros.
Segundo a imprensa estatal, o presidente Xi Jinping ordenou o emprego de "todos os esforços possíveis" nas tarefas de resgate, e o primeiro-ministro, Li Keqiang, está a caminho do local para coordenar pessoalmente os trabalhos.
Em janeiro, um rebocador afundou durante uma viagem de teste na parte leste do Yangtze, deixando 22 mortos.
Após o acidente, o governo provincial disse que o barco estava em fase de testes sem completar adequadamente os procedimentos necessários e sem fornecer informações sobre a condição do navio, tal como exigido pelos regulamentos.
O Yangtsé é o rio mais longo da Ásia, com 6.300 km, e tem registrado várias tragédias fluviais.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

O apagão das universidades

Greve de professores e servidores agrava a crise na educação e mostra o descaso do governo com as instituições de ensino publico do País, já comprometidas pelo corte nos repasses

Camila Brandalise (camila@istoe.com.br)
Falta luz nas salas de aula. O número de assaltos aumentou porque seguranças foram demitidos. O lixo está entulhado depois do corte nas equipes de limpeza. Reformas estão paralisadas. O pagamento das bolsas está atrasado. Grande parte das 63 universidades federais brasileiras já enfrentou pelo menos um desses problemas algum dia. Muitas delas mantêm grandes estruturas e o dinheiro em caixa nem sempre é suficiente. Mas em 2015 essas situações não só se tornaram recorrentes como generalizadas. No discurso, a educação é uma prioridade do governo, porém a realidade mostra o contrário. Neste ano, a verba repassada para as instituições de ensino superior que recebem dinheiro do cofre federal sofreu um corte de cerca de 30%. Segundo o Ministério da Educação (MEC), em janeiro e fevereiro foram repassados o equivalente a 1/18 do valor anual, mas a partir de março as transferências teriam sido regularizadas. A informação é negada por universidades consultadas por ISTOÉ, que afirmam estar até agora recebendo repasses reduzidos. Sem dinheiro suficiente, as administrações cortaram serviços básicos e criou-se um ambiente incompatível com o aprendizado. A crise fica ainda mais pungente com o início da greve de servidores e professores na quinta-feira 28. Entre outras reivindicações relacionadas às suas carreiras, os profissionais exigem normalização dos repasses do governo. Um dos pontos cruciais para o desenvolvimento do País, a universidade federal se vê hoje imersa em dívidas e chegando ao extremo de suspender aulas e cancelar contratações, comprometendo as pesquisas e uma geração de futuros profissionais. Sem perspectiva de resolução, e com o governo se recusando a assumir a responsabilidade, fica a questão: quem pagará essa conta?
abre.jpg
Considerada a maior do país, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é um dos casos mais emblemáticos – e dramáticos. Com 62.240 alunos, 4.036 docentes e 9,3 mil servidores, a instituição teve de suspender aulas em alguns cursos no começo de maio porque não havia serviços de limpeza e segurança. Funcionários entraram em greve por falta de pagamento e, dias depois, a situação ficou insustentável. Para a professora do Instituto de Química Glória Braz, desde a implementação do programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), a tragédia estava anunciada. “O número de alunos aumentou, mas a estrutura de apoio não acompanhou”, diz. O atraso no pagamento das bolsas-auxílio, de pesquisa, extensão e iniciação científica também deixou os estudantes apreensivos. Na segunda-feira 25 os servidores declararam greve e os alunos decidiram na quinta-feira 28 parar em apoio aos funcionários. Thainá Marinho, 19 anos, está no quinto período de Letras/Latim. “Este ano a rotina acadêmica mudou bastante. Em relação à estrutura, os banheiros ficaram imundos, com pilhas de lixo e um cheiro forte”, diz.
01.jpg
Em relação à estrutura e ao funcionamento das instituições, há situações similares em todo o País. Na Universidade de Brasília (UnB), o repasse mensal, que deveria ser de R$ 11 milhões, caiu para R$ 7 milhões. “Em janeiro, fevereiro e abril, a gente teria que receber um determinado valor para despesas de custeios que cobrem jardinagem, segurança, papel, luz. Recebemos um terço a menos do que o previsto. Estamos na pior situação”, afirma César Augusto Tibúrcio, decano de planejamento e orçamento. Contas de água e luz estão atrasadas e há reformas paradas. “Temos um valor de despesa de custeio em torno de R$ 15 milhões. Parte disso vem do governo e parte de recursos próprios, de imóveis que administramos. Mas ainda assim não é suficiente.” A maior crítica feita por Tibúrcio é a falta de informação por parte do governo, que só definiu a programação orçamentária na sexta-feira 22, mas até agora não se pronunciou sobre quanto será repassado às universidades. Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o atraso nos salários causou uma paralisação entre funcionários da vigilância do campus. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os fornecedores também não foram pagos. “Os repasses do governo são feitos sem uma frequência ou data pré-estabelecida, o que ocasiona um descompasso no fluxo financeiro”, afirma a instituição em nota.
02.jpg
Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), a reitoria organizou um ato público para informar sobre os problemas gerados pelo contingenciamento de 40% nos repasses e do déficit de R$ 28 milhões referentes a 2014. Pagamentos de contas de energia elétrica e fornecedores estão comprometidos. Foram estipuladas algumas medidas para redução de custos, como corte de até 25% nos contratos de serviços terceirizados, que provoca diminuição das equipes de segurança, portaria e recepção, manutenção e limpeza. A mesma estratégia foi adotada pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o diretório central dos estudantes (DCE) tem discutido o corte no orçamento. “Seguranças foram dispensados e os assaltos aumentaram muito”, afirma Izabella Lourença, coordenadora geral do DCE. A universidade tem mais de 30 mil alunos e dois campi principais. Outro problema da UFMG é o atraso no pagamento das bolsas-auxílio. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em um comunicado divulgado para os alunos, a entidade explica que o atraso no pagamento das bolsas se devia ao fato de o governo federal ainda não ter efetuado o repasse do orçamento. Em vez de quatro parcelas de R$ 400 por semestre, os alunos receberam só uma, sem garantia das outras três.
Foram os funcionários que puxaram a greve. Servidores de 60 universidades, segundo a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), aderiram oficialmente à paralisação que começou na quinta-feira 28. No mesmo dia, docentes de 18 instituições começaram a paralisação em 12 estados. Segundo Rolando Rubens Malvásio Junior, coordenador de administração e finanças da Fasubra, mais docentes devem suspender as aulas nos próximos dias. “Sem os servidores, tudo pára: biblioteca, restaurante... Hospitais universitários funcionam somente para urgências e tratamentos continuados”, afirma. Instituições do Mato Grosso, Sergipe, Bahia, entre outros, terão aulas paralisadas por tempo indeterminado. No Rio de Janeiro, professores da Universidade Federal Fluminense (UFF) também param. Na UFRJ, só servidores, como na UFMG, e alunos.
03.jpg
O MEC afirma que a greve só faz sentido quando estiverem esgotados os canais de negociação . “O Ministério recebeu as entidades representativas de professores e servidores nas últimas semanas, mas desde o início elas já informaram ter data marcada para a greve”, afirma, em nota. Uma das explicações para a retenção dos repasses é a necessidade de se aguardar a publicação da programação orçamentária de 2015, o que aconteceu somente na sexta-feira 22, com anúncio de corte de R$ 9,42 para a pasta da educação. Não se sabe ao certo quanto essa medida afetará as federais. Na quarta-feira 27, foram liberados R$ 7,2 bilhões como crédito suplementar a órgãos do poder executivo e às universidades federais. Esse valor, porém, não cobre a diminuição de 30% dos repasses anteriores. Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), diminuir gastos com universidades é criar um apagão intelectual. “É um enorme atraso para um momento em que queremos entrar no mundo da inovação. O futuro está no conhecimento”, diz. Em um País onde faltam serviços básicos nos mais importantes centros de ensino e pesquisa, pensar no futuro, hoje, causa mais medo do que esperança.
Colaborou Helena Borges
Foto: José lucena/Futura Press, LULA MARQUES; Ronildo de Jesus/ Futura Press