SELVA

SELVA

PÁTRIA

PÁTRIA

sábado, 30 de julho de 2016

A estrutura criminosa do governo Dilma

Lava Jato e outras investigações da Polícia Federal e do Ministério Público mostram como a presidente afastada institucionalizou a corrupção no governo federal e envolvem mais de vinte ex-ministros com desvios de dinheiro público, achaque a empresas e ameaças a testemunhas

A estrutura criminosa do governo Dilma
SOB INVESTIGAÇÃO Agentes da Operação Custo Brasil recolhem documentos que incriminam o ex-ministro Paulo Bernardo
SOB INVESTIGAÇÃO Agentes da Operação Custo Brasil recolhem documentos que incriminam o ex-ministro Paulo Bernardo
Há exatamente um ano, em despacho redigido em um dos processos que tem como réu o ex-ministro José Dirceu, o juiz Sérgio Moro escreveu que o País passou a vivenciar um quadro de corrupção sistêmica sob o comando do PT. Na ocasião, muitos analistas políticos e observadores das entranhas do Judiciário trataram o alerta do magistrado responsável pela Lava Jato como alarmista. Hoje, não há quem discorde de Moro. Depois de dois anos de investigações em diversas operações da Polícia Federal e de mais de 70 delações premiadas, fica evidente que as gestões petistas transformaram o governo federal em uma verdadeira e organizada estrutura de corrupção. Praticamente todos os ministros de Dilma Rousseff estão envolvidos em desvios de dinheiro público. Desde aqueles que ocuparam gabinetes no Palácio do Planalto até os mais distantes. “A corrupção que o PT promoveu foi uma corrupção institucional, não foi dispersa nem com indivíduos participando isoladamente”, afirma o professor Álvaro Guedes, especialista em administração pública da Unesp. “Pessoas foram escolhidas a dedo para estar em posições estratégicas e promover o desvio de dinheiro”, conclui o professor.
2434-BRASIL-DILMA-02
CLIQUE PARA AUMENTAR

2434-BRASIL-DILMA-07

Um estado dominado

Um dos expoentes desses “escolhidos a dedo” é Paulo Bernardo, ex-ministro das gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Na semana passada, ele foi indiciado pela Polícia Federal na Operação Custo Brasil. A PF diz ter provas suficientes para assegurar que Bernardo, enquanto esteve no governo, participou de organização criminosa e praticou crime de corrupção passiva. No mês passado, ele foi preso após a polícia constatar que havia recebido R$ 7,1 milhões desviados de uma fraude no crédito consignado que cobrava uma taxa superfaturada dos servidores federais que se encontravam endividados. Paulo Bernardo é casado com Gleisi Hoffmann, uma das líderes da tropa de choque de Dilma no Senado, ex-ministra da Casa Civil e também acusada de receber propinas do Petrolão. Gleisi só não foi presa junto com o marido graças ao foro privilegiado. O casal sempre teve livre trânsito no gabinete e na residência oficial da presidente afastada. No mesmo esquema que lesou milhares de funcionários públicos, está o ex-ministro da Previdência Carlos Gabas, aquele que costumava levar Dilma para passeios de moto aos domingos. Ainda na semana passada, Edinho Silva, outro ex-ministro íntimo da presidente afastada, viu-se diante de novas provas que o envolvem em corrupção e achaque contra empresários que tinham contratos com o governo. Ele, que já era investigado por intermediar, a pedido de Dilma, R$ 12 milhões da Odebrecht para o caixa dois da campanha da petista em 2014, desta vez foi alvejado por investigação promovida pelo TSE. Peritos descobriram que uma empresa pertencente a um ex-assessor de Edinho recebeu R$ 4,8 milhões da campanha de Dilma para serviços que não consegue comprovar (leia reportagem na pág. 38). Em um de seus despachos, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que prometer facilidades na liberação de obras às grandes empreiteiras em troca de recursos para o PT era uma medida habitual de Edinho, que antes de ocupar o ministério foi tesoureiro da campanha da reeleição.
CLIQUE PARA AUMENTAR

Crimes sob encomenda

Outros ex-ministros próximos à presidente afastada também agiam dentro da organização criminosa. São os casos de Fernando Pimentel, Jaques Wagner, Giles Azevedo, Ricardo Berzoini, entre outros. O Ministério Público investiga ainda amigos da presidente afastada que não ocuparam cargos no primeiro escalão de sua gestão, mas comandaram setores estratégicos do governo, como Valter Cardeal e Erenice Guerra. O primeiro foi diretor da Eletrobrás e é acusado de ter se beneficiado com propinas nas obras de Angra 3. Erenice, uma das principais auxiliares de Dilma e ex-ministra de Lula, é investigada por ter recebido R$ 45 milhões desviados das obras de Belo Monte. Como quadrilha organizada, expressão que costuma ser usada pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, ao se referir às gestões petistas, a estrutura criminosa instalada no governo Dilma também locupletou os ministros que chegaram à esplanada por indicação dos partidos aliados (leia quadro na p[ág. 37). “O PT unificou diversas quadrilhas que agiam em setores diferentes”, diz Paulo Kramer, analista e professor da Universidade de Brasília. “O partido deu um comando central à corrupção, decidia quem entraria para o esquema de poder”, complementa.
2434-BRASIL-DILMA-06
Com o avanço da Lava Jato, o governo passou a usar ministros para tentar barrar as investigações. A presidente afastada e o ex-chefe da pasta de Justiça, José Eduardo Cardozo, procuraram nomear ministros comprometidos para os tribunais superiores. Sem êxito, Dilma escalou o ex-ministro Aloizio Mercadante para tentar comprar o silêncio de testemunhas. Ex-ministro da Educação e da Casa Civil, Mercadante foi um dos principais conselheiros dela. Acusado de receber dinheiro de propina da UTC em sua campanha de 2010, ele foi flagrado, em março deste ano, em uma gravação oferecendo dinheiro e ajuda para tentar melar a Lava Jato. A armadilha foi criada pelo assessor do ex-senador Delcídio do Amaral a quem o ex-ministro fez a proposta indecente para tentar impedir que Delcídio fechasse um acordo de delação. Na ocasião, o processo do impeachment de Dilma parecia caminhar para um encerramento favorável ao governo. Mercadante não conseguiu comprar o silêncio de Delcidio e a delação feita pelo ex-senador, publicada com exclusividade por ISTOÉ, permitiu a retomada do processo que a cada dia desvenda novas falcatruas protagonizadas pelo grupo que se instalou no poder a partir de 2003. “Nos últimos anos foi instalada a cleptocracia em Brasília”, diz o ministro Gilmar Mendes.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Australiano 'compra' resort na Micronésia por US$ 49

Homem ganhou rifa promovida por donos que querem deixar ilha.
Mais de 75 mil pessoas, de 150 países, concorreram ao prêmio.

Do G1, em São Paulo
Vista aérea do Kosrae Nautilus Resort, na ilha Kosrae, na Micronésia (Foto: Reprodução/Facebook/Kosrae Nautilus Resort)Vista aérea do Kosrae Nautilus Resort, na ilha Kosrae, na Micronésia (Foto: Reprodução/Facebook/Kosrae Nautilus Resort)
Um australiano se tornou o novo dono de um resort na Micronésia gastando apenas US$ 49. Ele participou de uma espécie de rifa promovida pelos atuais proprietários e teve seu número, 44.980, sorteado na terça (26).

Josh, cujo sobrenome não foi divulgado, é de New South Wales, na Austrália, e foi uma das 75.485 pessoas a comprar uma cota, segundo Doug e Sally Beitz. Eles garantem que o Kosrae Nautilus Resort, que tem 16 quartos e fica na ilha de Kosrae, é um estabelecimento lucrativo e sem nenhuma dívida.

Os atuais donos dizem ainda que 16 funcionários trabalham ali há muitos anos e poderão ajudar na administração caso o ganhador do sorteio não tenha experiência no ramo.
O sorteio do Kosrae Nautilus Resort foi transmitido ao vivo no Facebook (Foto: Reprodução/Facebook/Kosrae Nautilus Resort)O sorteio do Kosrae Nautilus Resort foi transmitido ao vivo no Facebook (Foto: Reprodução/Facebook/Kosrae Nautilus Resort)
Os Beitz justificam o método curioso para escolher quem deve ficar com o local dizendo que não queriam que o estabelecimento fosse simplesmente parar na mão de quem tivesse mais dinheiro. Eles afirmam ainda que queriam dar uma chance para que “qualquer um” pudesse ser o novo proprietário.

No site do concurso, eles dizem que participantes de mais de 150 países compraram cotas. O sorteio foi transmitido ao vivo pelo Facebook, no perfil do resort.

À CNN o casal explicou porque decidiu deixar a ilha. Eles criaram o resort há 22 anos, quando ainda tinham filhos pequenos. Agora que já são avós, decidiram retornar à Austrália para ficar perto da família que vive naquele país.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Caça da Marinha cai durante treinamento no RJ

Modelo AF-1B caiu a cerca de 40 quilômetros da costa de Saquarema, na Região dos Lagos fluminense. Piloto se ejetou, mas ainda não foi localizado

Um caça modelo AF-1B (A-4KU-Skyhawk) da Marinha do Brasil caiu no mar na tarde desta terça-feira em Saquarema, na Região dos Lagos fluminense, a cerca de 100 quilômetros do Rio de Janeiro. O piloto se ejetou da aeronave, mas ainda não havia sido encontrado até a noite desta terça. A queda ocorreu a cerca de 40 quilômetros da costa, durante treinamento com outro avião, que pousou sem problemas na Base Aeronaval de São Pedro D’Aldeia.
Por meio de nota, a Força lamentou o acidente: “A Marinha deu início às buscas pelo piloto e está prestando todo o apoio necessário à família do militar. O acidente aconteceu quando a aeronave retornava de exercícios operativos e suas circunstâncias estão sendo apuradas.” A operação de busca e salvamento envolve cinco helicópteros e dois navios – um deles a fragata Liberal.
As causas da queda do caça ainda estão sendo investigadas. O avião havia passado por processo de modernização na Embraer recentemente.
O acidente é o segundo do tipo no Rio de Janeiro em menos de um mês. No início de julho, um caça F5-FM Tiger da Força Aérea Brasileira (FAB) caiu na Base Aérea de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. Os dois pilotos que estavam na aeronave conseguiram se ejetar da cabine, e, com ajuda de um paraquedas, aterrissaram em segurança.
(com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)

terça-feira, 26 de julho de 2016

O maior sequestro do Brasil

Sogra brasileira de Ecclestone, o todo-poderoso da Fórmula 1, está sequestrada desde sexta. Criminosos pediram resgate de R$ 120 mi divididos em 4 sacolas

Aparecida Schunck , sogra do empresário da Fórmula-1 Bernie Ecclestone, foi sequestrada na sexta-feira à noite, no bairro de Interlagos, em São Paulo. Ela é mãe da brasileira Fabiana Flosi, de 38 anos, que é casada com Ecclestone , de 85. O casal mora em Londres. Os dois se conheceram em 2009, quando Fabiana trabalhava na organização do Grande Prêmio do Brasil. Bacharel em direito, ela era casada com um médico e vivia em São Paulo. Em 2010, Ecclestone, então dono de uma fortuna avaliada em quase 8 bilhões de reais, protagonizou um dos mais ruidosos divórcios da Inglaterra. Ao final do processo, o chefe da Fórmula 1 concordou em pagar 1,7 bilhão de reais à ex-modelo croata Slavica Radic, com quem viveu por 25 anos. Pouco depois da separação, Fabiana deixou o Brasil e, em 2012, casou-se com Ecclestone em uma cerimônia em Gstaad, na Suíça.
Fontes consultadas por VEJA disseram que o valor do resgate pedido a Ecclestone é de 120 milhões de reais – o que faria desse o maior sequestro do Brasil. Os criminosos pediram para que os pagamentos fossem feitos em libras esterlinas, com o dinheiro dividido em quatro sacolas. Entre 2001 e 2002, essa modalidade de crime atingiu o auge no país. O ano de 2002 terminou com 321 casos apenas no Estado de São Paulo – um a cada 27 horas. A Delegacia Anti-Sequestro (DAS) chegou a monitorar, num único dia, 43 cativeiros – num deles estava o publicitário Washington Olivetto, que só foi libertado depois de 53 dias em poder de seus captores, que haviam pedido 18 milhões de dólares por ele.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Mordomia investigada

Dilma Rousseff não consegue explicar os privilégios pagos com dinheiro público à sua família, juristas dizem que ela poderá ser condenada a ressarcir a União e a oposição pede que a denúncia feita por ISTOÉ seja apurada e a mamata suspensa

Crédito: Antonio Cruz/ABR
LUXO ILEGAL: Presidente do DEM , senador Agripino Maia, quer investigação de mordomias de filha de Dilma (Crédito: Antonio Cruz/ABR)
Na semana passada, a presidente afastada, Dilma Rousseff, por meio de nota à imprensa, procurou explicar as mordomias ilegais que, com dinheiro público, privilegiam sua filha, seu genro e seus netos, como mostrou reportagem publicada por ISTOÉ. Mais uma vez, ela lançou mão de argumentos falsos para esconder práticas nada republicanas. Os privilégios concedidos à família da petista serão agora alvos de investigações pedidas pelo DEM. O partido vai solicitar ao Ministério Público e ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que apurem quem as liberou, além de pedir para que sejam suspensas.
2433-Dilma2
Em sua última edição, ISTOÉ revelou que Paula Rousseff, filha da presidente afastada, e Rafael Covolo, seu marido, têm à disposição, em Porto Alegre (RS), uma frota de oito carros oficiais de representação (todos blindados e autorizados a circular com placas frias) e um staff formado por 16 profissionais, entre motoristas e seguranças. A reportagem constatou que esse aparato pago pelos contribuintes é usado pelos familiares de Dilma em atividades corriqueiras, como idas ao cabelereiro, petshop, além do transporte dos netos da petista à escola. Cálculos feitos por técnicos do GSI indicam que a mordomia custa cerca de R$ 300 mil por mês. A reportagem de ISTOÉ constatou que, em junho, gastou-se mais de R$ 13 mil só em combustível.
LEIS DESMENTEM DILMA
“Dilma gosta de exaltar que nunca se beneficiou da coisa pública. É preciso então que sejam esclarecidas estas graves denúncias”, diz o presidente do DEM, senador Agripino Maia. Na semana passada, depois da revelação feita por ISTOÉ, Dilma tentou explicar a mamata. Em nota, ela não negou que o staff pago com dinheiro público esteja a serviço de sua filha e de seu genro, mas procurou dar ares de legalidade, citando uma série de leis e decretos. O problema é que basta uma leitura atenta às leis mencionadas pela própria presidente afastada para concluir que a mordomia dada aos Rousseff é ilegal.
A petista diz que o inciso VII do artigo 6º da Lei 10.683, de 28 de maio de 2003, garante que os familiares do presidente da República e do vice-presidente tenham segurança fornecida pelo Estado. É verdade. A lei sancionada pelo ex-presidente Lula garante que os filhos de presidente tenham direito a seguranças. Mas, ao contrário do que diz Dilma, o texto não prevê o uso de carros oficiais para fazer o transporte da família presidencial, muito menos de um presidente afastado de suas funções.
Em tese, só a escolta para segurança seria permitida e ainda assim se houver risco iminente à integridade. Em outro trecho da nota, Dilma invoca o artigo 5º do decreto 6.403. Novamente, equivoca-se. O decreto prevê o uso de veículos de “transporte institucional” aos parentes do presidente, em ocasiões especiais. Na verdade, Paula Rousseff e o marido usam outro tipo de serviço, o de “carros de representação.” Os carros do chamado serviço institucional são veículos comuns, com identificação de “a serviço do governo federal” nas portas.
Ilegalidades flagrantes: Na edição de 20 de julho, ISTOÉ revelou que Paula Rousseff, filha da presidente afastada, e Rafael Covolo, seu marido, têm à disposição, em Porto Alegre (RS), uma frota ilegal de oito carros oficiais de representação (todos blindados e autorizados a circular com placas frias) e um staff formado por 16 profissionais. A estrutura é usada até para levar o cachorro da família ao petshop
Ilegalidades flagrantes: Na edição de 20 de julho, ISTOÉ revelou que Paula Rousseff, filha da presidente afastada, e Rafael Covolo, seu marido, têm à disposição, em Porto Alegre (RS), uma frota ilegal de oito carros oficiais de representação (todos blindados e autorizados a circular com placas frias) e um staff formado por 16 profissionais. A estrutura é usada até para levar o cachorro da família ao petshop
Já os veículos de representação são os chamados vips. São carros blindados com placas frias. Esses últimos, segundo artigo omitido por Dilma, “são utilizados exclusivamente pelo presidente da República, pelo vice-presidente”, pelos Comandantes das Forças Armadas e por ex-presidentes. Categoria que os parentes dela não se encaixam. Para juristas ouvidos por ISTOÉ na quarta-feira 20, os familiares de Dilma e aqueles que liberaram a mordomia podem ser responsabilizados nas esferas criminal e cível. “Uma ilegalidade destas já fez muitos parentes de prefeitos pelo País responderem pelo crime de peculato”, afirma o especialista em direito público José Badue Freire, do escritório Peixoto e Cury.
“Aqueles que se beneficiaram podem ser condenados a ressarcir as despesas aos cofres públicos acrescidas de multas pelo desrespeito à lei”. Para quem for designado a investigar o caso, o jornal O Estado de S.Paulo publicou, na quarta-feira 20, um caminho a ser seguido. De acordo com a publicação, os veículos usados pela família da petista foram licitados para atender ao então vice Michel Temer. Depois, acabaram desviados em uma canetada de mãe para filha à família Rousseff enquanto Temer permaneceu usando carros mais antigos.

sábado, 23 de julho de 2016

“Menti para não destruir Dilma”

Diante do juiz Sérgio Moro, o marqueteiro João Santana confessa ter recebido US$ 4,5 milhões do caixa dois do PT e revela mais um crime da presidente afastada, o que torna insustentável qualquer possibilidade de seu retorno ao Palácio do Planalto. O dinheiro é parte da propina do Petrolão

Crédito: Geraldo Bubniak / AGB
Caixa preta Santana e Monica tentaram proteger Dilma, mas agora partem para a deleção premiada e revelam novos crimes da presidente afastada (Crédito: Geraldo Bubniak / AGB)
Já em processo de negociação para delação premiada, o marqueteiro João Santana e sua mulher, Monica Moura, prestaram um bombástico depoimento ao juiz Sérgio Moro na quinta-feira 21. Responsável pelas campanhas presidenciais do PT em 2006, 2010 e 2014, Santana foi taxativo. “Recebemos do caixa dois do PT US$ 4,5 milhões em uma conta secreta na Suíça”, afirmou o publicitário. Em fevereiro, quando foram presos pela Lava Jato, Santana e Monica disseram que o dinheiro era produto de campanhas feitas no Exterior.
Indagado pelo juiz sobre a contradição entre as duas versões, o marqueteiro respondeu: “Menti para não destruir Dilma”. Agora, destruiu! Ao admitir o recebimento ilegal dos US$ 4,5 milhões, Santana e Monica acrescentam mais um crime no currículo da presidente afastada, Dilma Rousseff. E, ao contrário do que tentaram demonstrar, não se trata apenas de caixa dois de campanha eleitoral. Trata-se de corrupção. O depoimento dado pelo marqueteiro confirma que os US$ 4,5 milhões recebidos na Suíça eram parte da cota petista da propina do Petrolão, ou seja, dinheiro público desviado da Petrobras.
“Me pergunto em que mundo a presidente afastada vivia. Haja óleo de peroba! Ou é amnésia seletiva ou cara de pau mesmo” Senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES)
“Me pergunto em que mundo a presidente afastada vivia. Haja óleo de peroba! Ou é amnésia seletiva ou cara de pau mesmo”
Senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES)
Santana e Monica disseram ao juiz Moro que para receber o dinheiro foram orientados pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, a procurarem o doleiro Zwi Skornicki, que foi efetivamente o responsável pelos depósitos. Skornicki está preso pela operação Lava Jato e, em processo de fechar uma delação premiada, admitiu ser operador de propinas da Petrobras. Ele representava os interesses do estaleiro Keppel Fels em contratos com a estatal e, em fevereiro, confidenciou aos procuradores da Lava Jato que parte da propina cobrada por Pedro Barusco (ex-gerente de Serviços da Petrobras) foi destinada a João Santana. No depoimento da quinta-feira 21, Santana confirmou tudo e fechou o quebra-cabeças de Moro. Agora, ficou provado quem pagou e quem recebeu a propina.
Segundo Skornicki, embora a Keppel Fels tenha oferecido preços mais baixos para a construção da plataforma P-52, a propina foi exigida para que a empresa pudesse fazer a obra sem atrasos no fluxo de pagamentos. Ele também afirmou ter pago taxas de corrupção para se favorecer em contratos com a empresa Sete Brasil e que tratava do assunto pessoalmente com Barusco. “Há uma relação direta entre as propinas do Petrolão e o dinheiro entregue a João Santana. Além de caixa dois, existe um flagrante crime de corrupção. E quem se beneficiou disso tudo foi a presidente afastada”, disse à ISTOÉ um dos procuradores da Lava Jato, na sexta-feira 22.
O mago de Lula e Dilma
As revelações de Santana e Monica tornam insustentável qualquer tentativa da presidente afastada voltar ao Palácio do Planalto. E a reação de Dilma, mais uma vez, mostra sua total impossibilidade de se defender frente às acusações que lhe são feitas. Acuada, a presidente afastada recorre novamente à tática do avestruz e repete os gestos de seu padrinho Lula quando flagrado no Mensalão. “Não autorizei pagamento de caixa dois a ninguém. Se houve pagamento, não foi com o meu conhecimento”, escreveu a petista em seu perfil em um microblog, na manhã sexta-feira 22.
Horas depois de a presidente afastada se manifestar pela rede social, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) descreveu com precisão ímpar a reação de Dilma. “Me pergunto em que mundo a presidente afastada vivia. Haja óleo de peroba! Ou é amnésia seletiva ou cara de pau mesmo”, disse Ferraço. Certamente é o que pensa boa parte dos senadores. O comportamento de negação da realidade tem sido uma constante nas reações da petista. Ela o adotou, por exemplo, quando foi descoberto o escândalo com a compra da refinaria de Pasadena, que lesou a Petrobras em US$ 1,8 bilhão. Na época, Dilma presidia o conselho da estatal, responsável pela aprovação da negociata.
No início desse ano, ex-diretores da Petrobras disseram, em delação premiada, que o caso de Pasadena foi acompanhado por Dilma passo a passo. Entre os principais líderes petistas, as deleções de João Santana e de sua mulher, Monica Moura, são consideradas como as de maior octanagem. Santana acompanhou de muito perto as principais campanhas políticas do partido desde 2006 e, desde o segundo mandato de Lula, teve acesso direto ao gabinete presidencial. Se realmente contar tudo o que sabe, poderá implodir definitivamente não só a presidente afastada como também ferir de morte qualquer pretensão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Marqueteiro de Dilma admite que recebeu US$ 4,5 mi de caixa 2

João Santana e mulher confessam que US$ 4,5 milhões recebidos por meio de operador de propinas era dívida da campanha eleitoral de 2010

O marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, foram interrogados na tarde desta quinta-feira na ação penal em que são acusados de recebimento de propinas do esquema montado na Petrobras, e confessaram que, ao serem presos em fevereiro pela Polícia Federal, mentiram no inquérito. Ao juiz federal Sergio Moro, o casal esclareceu que 4,5 milhões de dólares recebidos por meio do doleiro e operador de propinas Zwi Skornicki era dinheiro da campanha eleitoral de Dilma Rousseff, em 2010.
Segundo Mônica, os valores recebidos por meio do operador eram relativos a “dívidas da campanha presidencial de 2010 (Dilma) e Zwi lhe foi indicado pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto”. Ela negou, contudo, que soubesse que o dinheiro tinha origem em propinas do esquema Petrobras. Afirmou que está disposta a colaborar com a Justiça, mas só o fará com “acordo assinado”.
Ao ser questionada por Moro sobre o motivo de não ter admitido o caixa 2 logo que foi presa, em fevereiro, Mônica Moura respondeu que estava tentando “poupar” Dilma em meio ao impeachment. “Primeiro, porque eu passava por uma situação extrema. E o país estava vivendo um momento muito grave política e institucionalmente. As coisas acontecendo com a presidente Dilma, todo o processo, eu não quis atrapalhar esse processo, eu não quis incriminar, não queria contribuir com uma coisa para piorar. Acabei falando que (recebeu) de campanha no exterior. Eu queria apenas poupar (Dilma) de piorar a situação.”
Mônica não quis responder sobre os depósitos e pagamentos da Odebrecht que fazem parte de outra ação penal – referente ao Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, conhecido como “Divisão de Propinas”. “Excelência, sobre isso prefiro falar no outro processo. Como eu disse estou disposta a falar, a colaborar com a Justiça, inclusive mediante acordo com a Justiça. Pretendo falar tudo sobre isso, não quero me furtar a falar nada, nenhuma informação, mas no outro processo.”
Mônica Moura foi categórica ao dizer na audiência que o caixa dois é uma prática corriqueira nas campanhas eleitorais. “Caixa dois nunca deixou de haver.” Ao final da audiência, desabafou. “Nunca soubemos de Mensalão, de propinas na Petrobras. Somos publicitários, nunca recebi propina, sempre recebi pelo meu trabalho. Não sou agente público, não sou política, não sou empreiteira. Sempre trabalhei para partidos políticos, fazendo campanha.”
(Com Estadão Conteúdo)

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Fortal injeta ânimo na economia da Capital -Ce

Fluxo maior de turistas no período é refletido em diferentes setores, como hotelaria, varejo e alimentação
Na rede hoteleira de Fortaleza, a taxa de ocupação supera 90%, de acordo com a ABIH-CE. O movimento de turistas também ajuda a incrementar as vendas nos bares, restaurantes e barracas de praia da Capital
Conhecida como o maior Carnaval fora de época do País, o Fortal 2016 já mostra impactos em alguns setores da economia cearense. Na semana da festa, que começa hoje, a ocupação hoteleira no Estado supera os 90%, número que está dentro do previsto pelo setor e que se equipara com o percentual do ano passado, de acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis Ceará (ABIH-CE), Eliseu Barros.
Para ele, a festa movimenta consideravelmente o Estado todos os anos e representa um bom aumento na ocupação hoteleira nos meses de julho. "O Fortal continua muito forte como o principal evento deste mês, atraindo o turista. É a melhor semana de julho e vem garantindo ao longo dos anos uma ocupação (hoteleira) alta", ressalta.
Em consequência da movimentação turística, o segmento de bares, restaurantes e barracas de praia também sente um incremento financeiro no período. Segundo Moraes Neto, presidente do Sindicato dos Bares, Restaurantes e similares do Estado do Ceará, o setor é muito beneficiado pelo evento.
"Na praia, tudo funciona mais durante o dia e não concorre com o horário do Fortal. Então, o comércio na praia se beneficia bastante com esse grande número de pessoas", justifica. "Eu acredito que ¾ do Fortal são de turistas, o que ajuda muito na movimentação", diz, acrescentando que o setor espera uma movimentação 25% a 30% maior. Entretanto, Moraes dá o dado com cautela, explicando que, por ser um ano ainda de cenário recessivo na economia, os números de expectativa oscilam bastante.
"Está difícil, porque a 'coisa' tá muito estranha", diz. "Hoje, a gente deve sentir mais o clima, mas já percebemos que há uma movimentação", acrescenta, frisando que o setor está preparado e atento parar não perder nenhuma oportunidade.
Apesar da avaliação de Moraes, o vice-presidente da Associação dos Empresários das Barracas da Praia do Futuro, Flávio Costa, vê um impacto menor neste ano. "O Fortal sempre impactou muito, mas neste ano foi menos. A movimentação era como se fosse a última semana de janeiro, normalmente aumenta muito, mas neste ano realmente foi menor", analisa. Mesmo assim, Flávio acredita que, em relação à baixa estação, o movimento na Praia do Futuro deve crescer em torno de 50%.
Compras cresceram
Mas a agitação não deve se limitar às praias. No Mercado Central, também há expectativa de movimentação durante os dias de folia. De acordo com o presidente da Associação de Lojistas do Mercado Central (Almec), João Eudes de Oliveira, o aumento no número de turistas no Estado reflete no Mercado Central. "A gente já sentiu uma melhora desde segunda-feira e observa que é muita gente que veio pro Fortal mesmo, 80% dos que estão passeando aqui são turistas", conta, destacando ainda que espera um fluxo ainda maior durante o fim de semana.
Já para a Av. Monsenhor Tabosa, o período em si não influencia de uma maneira tão significativa, conforme Antônio Gonçalves, presidente da Associação dos Lojistas da Monsenhor Tabosa. "Na alta estação, as nossas vendas melhoram, porque além do consumidor nativo, tem a presença dos turistas", explica.
Ele relata que, no Fortal, os jovens não deixam de frequentar o corredor de compras, mas acredita que "eles vão mais direto para lá (para o Carnaval fora de época)", reafirmando que, em julho, as vendas da Monsenhor Tabosa sempre melhoram.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Grupo que apoia EI dá sugestões de atentados para a Rio-2016

As sugestões foram postadas no canal Ansar al-Khilafah Brazil, criado por extremistas brasileiros no aplicativo de mensagens Telegram

O grupo extremista brasileiro que declarou lealdade ao Estado Islâmico (EI) divulgou uma lista com 17 maneiras de cometer um atentado terrorista durante a Olimpíada do Rio. As sugestões foram publicadas no canal Ansar al-Khilafah Brazil, criado pelo grupo no aplicativo de mensagens Telegram, semelhante ao Whatsapp, segundo a especialista americana em monitoramento de atividades terroristas na web Rita Katz, do SITE Intelligence Group.
A relação inclui tipos de alvo, localizações e métodos de ataque que podem ser cometidos pelos chamados lobos solitários – que agem inspirados ou sob orientação de algum grupo radical, mas sem a necessidade de uma célula terrorista ou outra organização formal. De acordo com Katz, a lista menciona atentados em aeroportos e transportes públicos, ataques com facas, envenenamento, ataques visando mulheres e crianças, além de ameaças falsas.
Dentro do grupo no Telegram, o Ansar al-Khilafah Brazil comentou que, “se a polícia francesa não consegue deter ataques dentro do seu território, o treinamento dado à polícia brasileira não servirá em nada”, referindo-se ao apoio que agências internacionais de inteligência têm oferecido ao governo brasileiro na prevenção de ataques terroristas durante os Jogos Olímpicos do Rio.
Em novembro, uma ameaça ao Brasil foi publicada em conta no Twitter vinculada a um membro do Estado Islâmico. “Brasil, vocês são nosso próximo alvo”, dizia o tuíte, publicado dias depois dos ataques terroristas em Paris. A mensagem foi postada na conta – posteriormente suspensa – de Maxime Hauchard, um francês que foi para a Síria em 2013 para integrar o grupo jihadista.
O diretor de Contraterrorismo da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Alberto Sallaberry, alertou que as autoridades brasileiras consideram os chamados lobos solitários “a principal ameaça aos Jogos Olímpicos”.

terça-feira, 19 de julho de 2016

A ação política do PCC

Criada em São Paulo, há duas décadas, a principal organização criminosa do País instalou-se no Ceará. Nas eleições de outubro, pretende financiar a eleição de 10 prefeitos e 50 vereadores

A ação política do PCC
Mesmo preso, Alejandro Herbas Camacho Junior, irmão caçula de Marcola, trabalha para ganhar capilaridade política no Ceará
Em nenhuma capital brasileira, a juventude corre mais risco que em Fortaleza. O número de assassinatos na faixa etária de 16 e 17 anos supera a de países em guerra. Nos indicadores gerais de violência, a capital cearense ocupa o vergonhoso 12° lugar entre as piores cidades do mundo para se viver. A deterioração da segurança pública é mais que o resultado de uma década de fracasso do governo cearense na gestão de segurança pública. O Ceará virou a offshore da principal organização criminosa em atividade no Brasil, o PCC. O sinal mais evidente da importância do Ceará nas operações do grupo era que o controle da quadrilha no Estado estava nas mãos de Alejandro Herbas Camacho Junior, irmão caçula de Marcos Willians Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC. Alejandro Herbas foi preso em março pela Polícia Federal. Considerado o “CEO” da organização, Herbas é o principal nome depois de Marcola. Além de cuidar de perto dos negócios na Região Nordeste, ele dava as cartas em todas as ações do PCC nos demais Estados. Segundo os investigadores cearenses, ele coordenava uma intrincada rede de empresas de fachada usadas para lavar a fortuna originada do tráfico de drogas, assaltos a bancos e das mensalidades cobradas dos presos – hoje estipulada em R$ 750. Até ser preso pela PF, há três meses, Herbas viveu uma vida de fausto no Ceará. Tinha mansões em alguns dos principais cartões-postais do Ceará: a praia de Porto das Dunas, no município de Aquiraz, na idílica Cumbuco, em Caucaia, e em Lagoinha, na cidade de Paraipaba. Nada menos que 40 policiais militares trabalhavam em sua segurança pessoal.
As investigações apontam para as novas ambições do PCC. Os policiais envolvidos no monitoramento da organização descobriram que a quadrilha tem aspirações políticas. Sob as ordens de Herbas, o PCC trabalha para eleger 10 prefeitos e 50 vereadores no Ceará. Com a proibição do financiamento por empresas privadas, o PCC se projeta como uma importante força para irrigar as campanhas. As conversas da quadrilha foram relatadas à polícia por fontes infiltradas na organização. Os alvos do PCC são as disputas pela prefeitura de Mombaça, Caucaia e Itatira. A primeira delas é por razões afetivas. O irmão de Marcola morou na cidade. A segunda é a jóia da coroa. Com a segunda maior população do Ceará, Caucaia é vista pela organização como estratégica. A polícia não identificou quem é o candidato do PCC. Atualmente, as pesquisas apontam a liderança do deputado estadual Naumir Amorim (PMB). O parlamentar apresenta uma folha corrida de 148 processos, entre os quais dois por homicídio. O clima político em Caucaia está tão conflagrado que nos últimos meses os opositores a candidatura de Amorim têm sofrido uma série de ameaças. O coordenador de campanha do PSDB, Marcos Correa, foi alvo de três tentativas de sequestro em 60 dias. Para o delegado Jurandir Braga Nunes, a violência não tem conexões com crimes comuns. “Esses atentados não são assaltos. São obra do PCC”, afirma. Em outra cidade, Itatira, a polícia acompanha as movimentações do PCC para lançar a candidatura de um dos irmãos de Jussivan Alves, o Alemão, que em 2005 comandou o assalto ao Banco Central em Fortaleza. Para Francisco Carlos Crisóstomo, chefe do Departamento de Inteligência Policial(DIP), da Polícia Civil do Ceará, não há dúvidas de que as candidaturas serão financiadas pelo PCC.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A caravana da mentira

Em micro comícios na Bahia e em Pernambuco, o ex-presidente Lula mente de forma descarada, ataca a gestão de Michel Temer e diz que planeja ser candidato em 2018. Antes, porém, terá que se livrar da Justiça

Crédito:  Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Antes de se eleger presidente pela primeira vez, em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva percorreu o País nas chamadas Caravanas da Cidadania. Na semana passada, Lula novamente colocou os pés na estrada. Bem no estilo populista, vestiu um chapéu de couro e percorreu cinco cidades da Bahia e de Pernambuco. O problema é que depois de 13 anos no poder e de protagonizar ao lado do PT o maior escândalo de corrupção já registrado em nossa história, a versão moderna das romarias de Lula nada mais é do que uma caravana de mentiras. Procurando impor um clima de comícios eleitorais em suas paragens, o ex-presidente desfiou um rosário de inverdades para defender a afilhada apeada do Planalto, Dilma Rousseff, chegou a admitir o que chamou de “pequenos erros administrativos” de sua sucessora, mas em nenhum momento fez menção aos desvios de dinheiro público que já levou para a cadeia alguns dos principais líderes de seu partido. E, para se fazer de vítima, insistiu na irresponsável tese do “nós contra eles”. Na tarde da quinta-feira 14, um dos principais líderes do PT no Rio Grande do Sul foi taxativo ao analisar o périplo de Lula: “Desse jeito ele só irá afastar ainda mais o PT de seu antigo eleitor”.
FORA DO TOM Num périplo pelo País, o ex-presidente agride o bom senso com suas falácias
FORA DO TOM Num périplo pelo País, o ex-presidente agride o bom senso com suas falácias
As primeiras mentiras da caravana de Lula foram proferidas em Juazeiro (BA), na segunda-feira 11, e tiveram como alvo o presidente Michel Temer. “Temer quer privatizar porque não sabe governar”, afirmou Lula, tentando bater a velha tecla de que ele seria o único líder capaz de preservar o patrimônio nacional e os demais seriam entreguistas de nossas riquezas. Uma bobagem que pode até ter surtido algum efeito eleitoral no passado, mas que hoje certamente não encontra ressonância. O que o ex-presidente não disse é que nos últimos 13 anos, sob a nomenclatura de “concessões” ou “PPPs”, as gestões comandadas por ele e Dilma não cansaram de passar para o controle da iniciativa privada uma série de rodovias, portos, ferrovias, aeroportos etc. A maior parte das obras do PAC são privatizadas e em 2004 o próprio Lula fez força para aprovar uma lei que garante uma espécie de seguro para que o empresário seja ressarcido caso seu investimento nas “concessões” não tenha o retorno previsto. Na prática, Lula não só promoveu uma série de privatizações, como instituiu no País uma espécie de capitalismo sem risco. Sob seu comando, o lucro é privado, mas o prejuízo, se houver, é público. Ainda em Juazeiro, o ex-presidente afirmou: “Agora eles (governo Temer) estão tentando desmontar os programas sociais”. Outra bravata que não encontrou ressonância. Boa parte dos que ouviam Lula sabiam que em 29 de junho o presidente Michel Temer reajustou em 12,5% o valor do Bolsa Família, aumento superior aos 9% que Dilma havia anunciado em março.
2432-BRASIL-LULA-03
Da Bahia, Lula seguiu para Pernambuco e levou na bagagem novas mentiras (leia quadro ao lado). É difícil afirmar qual delas é a mais descarada. Em Petrolina e no Recife, o ex-presidente afirmou que o impeachment de Dilma “só evoluiu por uma vingança do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha” e que “as pedaladas fiscais foram uma invenção”. O ex-presidente não explicou a seus ouvintes que o processo de impeachment no Congresso foi acompanhado passo a passo e referendado pelo STF. Ele também não disse que as pedaladas fiscais foram reveladas e condenadas pelo Tribunal de Contas de União e também apontadas pelo Judiciário como crimes de responsabilidade. Mas, de todas as mentiras proferidas pelo ex-presidente na semana passada, há duas que chamam a atenção pelo cinismo contido nelas. Na terça-feira 12 em Carpina (PE), disse: “estão me investigando há dois anos e duvido que se ache um empresário a quem eu pedi R$ 10”. Na verdade, o juiz Sérgio Moro tem diversos indícios de que empresários tenham favorecido Lula com milhões de reais. O dinheiro teria sido repassado como pagamento de palestras fictícias. Nesse sentido, há inclusive delações premiadas de ex-diretores da Andrade Gutierrez e a Odebrecht. Existem ainda as suspeitas de que Lula tenha ocultado patrimônio através do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia. Em delação premiada, o empreiteiro Leo Pinheiro, da OAS, afirmou que Lula solicitou e recebeu as melhorias nos imóveis em troca de tráfico de influência a favor da construtora no Exterior. Em seu último evento, no Recife, Lula disse que “só existe apuração de corrupção porque o PT permitiu e não interferiu na escolha do procurador-geral da República”. Mais uma bravata. Na semana passada, o procurador geral, Rodrigo Janot, acusou Lula e Dilma de tentarem barrar as investigações da Lava Jato, não só tentando comprar o silêncio de testemunhas como nomeando para o Superior Tribunal de Justiça ministros que teriam a tarefa de tirar da cadeia os empresários que pudessem aderir às delações. Isso sem mencionar a tentativa do Planalto de fazer de Lula ministro apenas para lhe garantir foro privilegiado. Com tantas mentiras, Lula pode até se iludir. Mas para ser um candidato forte em 2018 precisará encontrar outro discurso, além de escapar da Justiça.

sábado, 16 de julho de 2016

Mordomia: carros oficiais a serviço da família de Dilma

Reportagem de ISTOÉ flagra Paula Rousseff e Rafael Covolo, filha e genro da presidente afastada, utilizando veículos pagos pelo governo para cumprir compromissos pessoais

Mordomia: carros oficiais a serviço da família de Dilma
Como tantas outras Paulas filhas deste País, Paula levanta cedo da cama com o tilintar do despertador. Não raro, o marido, Rafael, já está de olhos abertos. Pela manhã, ela mantém uma rotina nada estranha à maioria das pessoas de classe média. Vai ao cabelereiro, faz compras para abastecer a despensa de casa, reserva uns minutos para o pilates e uma ida rápida à clínica de estética, e, eventualmente, dá uma passadinha no pet shop. Depois de almoçar, leva o filho à escola. À tarde, dirige-se ao trabalho, obrigação já cumprida pelo marido de manhã. Como tantas outras Paulas filhas deste País, Paula seria apenas mais uma brasileira se não carregasse em sua assinatura o sobrenome Rousseff.
Porto Alegre, 12 de julho. 13h40 O genro de Dilma Rousseff, Rafael Covolo, busca o filho na escola com carro oficial. A placa é fria para evitar identificação. Outro veículo também bancado pelo governo o escolta.
Porto Alegre, 12 de julho. 13h40 – O genro de Dilma Rousseff, Rafael Covolo, busca o filho na escola com carro oficial. A placa é fria para evitar identificação. Outro veículo também bancado pelo governo o escolta.
Perante à lei, filhos de presidente da República são iguais a todos. Ombreiam-se aos demais cidadãos. Não deveriam merecer distinção ou receber tratamento especial, salvo em alguns casos de excepcionalidade. Mas a filha de Dilma, que hoje se encontra afastada, ou seja, nem o mandato de presidente exerce mais, não se constrange em cultivar uma mordomia ilegal. Diariamente, Paula Rousseff Araújo desfruta de uma regalia. A máquina do Estado a serve, bem como ao seu marido e filhos. As atividades narradas acima, como uma frugal ida ao cabelereiro, ao pilates e ao pet shop, são realizadas a bordo de um carro oficial blindado com motorista e segurança. Em geral, um Ford Fusion. Acompanha-os invariavelmente como escolta um Ford Edge blindado com dois servidores em seu interior, um deles um agente de segurança armado. O mesmo se aplica ao genro de Dilma, Rafael Covolo, e aos dois netos. No total, oito carros e dezesseis pessoas integram o aparato responsável pela condução e proteção da família da presidente afastada. Trata-se de um serviço VIP.
2432-BRASIL-MORDOMIAS+CAPA-03
Quem banca essa estrutura é o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. Ou seja, o contribuinte. Nas últimas semanas, reportagem de ISTOÉ flagrou os carros oficiais entrando e saindo do condomínio Vila de Leon, zona sul de Porto Alegre, onde moram os familiares de Dilma, para levá-los a compromissos do dia a dia. A rotina dos Rousseff segue um padrão. O 6 de julho dos descendentes da presidente afastada não foi muito diferente dos dias anteriores. Às 18h30, uma quarta-feira, o Fusion blindado escoltado pelo Ford Edge também à prova de balas trouxe a família de volta ao lar, depois de transportá-la para uma série de atividades pessoais. No dia seguinte, às 9h da manhã, os mesmos carros já estavam de prontidão na porta da casa da filha de Dilma para mais uma jornada por Porto Alegre. No dia 12/07 às 13h40, Rafael Covolo, marido de Paula, foi buscar um dos filhos na escola. Como de praxe, com o carro oficial. Um automóvel pago com dinheiro público os escoltou até o retorno para casa. O Fusion levava a placa IVF – 3267 (normalmente é esta ou a IVG – 1376) e o Edge IUF – 3085. Se consultados nos registros do DETRAN, os prefixos figurarão como “inexistentes”. Sim, são placas frias ou vinculadas, inerentes aos chamados carros oficiais de representação.
7 de julho. 9h - Dois veículos oficiais, um para transporte e outro para escolta , buscam os familiares de Dilma no condomínio onde moram
7 de julho. 9h – Dois veículos oficiais, um para transporte e outro para escolta , buscam os familiares de Dilma no condomínio onde moram
Nos locais freqüentados por Paula Rousseff, em geral, há um alvoroço quando ela desembarca com o carro oficial e os seguranças em volta. Embora a filha da presidente afastada tente manter a discrição, não há como não reconhecê-la. O aparato em torno dela desperta a atenção dos funcionários. O atendente da unidade do “Bicho Pet Store”, localizada no bairro Menino de Deus, zona sul de Porto Alegre, diz que Paula é uma cliente assídua. Costuma levar para procedimentos de banho e tosa um cachorro de pequeno porte, semelhante a um shitzu. “A filha da presidente sempre vem ao petshop acompanhada de um monte de seguranças”. O mesmo serviço de transporte vip bancado pelo governo, composto por carro oficial e escolta, a conduz até o “Studio Martim Gomes Pilates”, na Vila Assunção. “Dona Paula vem aqui com freqüência. É nossa cliente”, atesta um funcionário da clínica. A equipe do salão Oikos Hair, também no bairro da Vila Assunção, é mais comedida ao falar de Paula. Questionada por ISTOÉ, uma secretária disse: “A Dilma já veio aqui também. Parou de vir faz tempo (…) Sobre a dona Paula …por razão de segurança não posso desmentir nem confirmar nada”.
6 de julho. 18h30 - Carros oficiais deixam os Rousseff em casa, um condomínio na zona sul de porto alegre
6 de julho. 18h30 – Carros oficiais deixam os Rousseff em casa, um condomínio na zona sul de porto alegre
A mordomia de Paula Rousseff e Rafael Covolo, além de constituir inaceitável privilégio, é também uma benesse totalmente ilegal. A legislação é clara. Reza o artigo 3º do decreto 6.403 de março de 2008, baixado pelo ex-presidente Lula: os veículos oficiais de representação – como os que transportam a família de Dilma – são utilizados exclusivamente pelo presidente da República, pelo vice-presidente, pelos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e pelo Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e por ex-presidentes da República. A única exceção que permitira que filhos de presidente desfrutassem desse privilégio é se fossem usados os chamados carros oficiais de transporte institucional. Com um condicionante: “se razões de segurança o exigirem”. Não é o caso, definitivamente. Primeiro porque carro institucional não possui escolta armada nem placa vinculada ou fria, como os veículos que servem a família de Dilma. Ainda de acordo com instrução normativa do Contran, veículo institucional é identificado com a expressão “governo federal” na cor amarelo ouro e tarja azul marinho. Nenhum dos carros usados por Paula e Rafael Covolo exibe esta inscrição. Mesmo que eles utilizassem esse tipo de veículo, haveria uma outra barreira de cunho legal.
7 de julho. 17h - veículos bancados pelo governo buscam o neto de Dilma na escola. no trajeto, o Ford Edge (acima) escolta o Ford Fusion blindado
7 de julho. 17h – veículos bancados pelo governo buscam o neto de Dilma na escola. no trajeto, o Ford Edge (acima) escolta o Ford Fusion blindado
Os Rousseff só poderiam ser enquadrados nessa situação totalmente excepcional se: 1) Comprovassem a existência de riscos à sua integridade física e 2) Fossem familiares de presidentes em exercício. Quer dizer, hoje o deslocamento da filha, genro e netos de Dilma a bordo de veículos oficiais compõe um mosaico de irregularidades. Se a mamata já seria desnecessária e ilegal com a presidente Dilma no pleno exercício do cargo, em se tratando da chefe do Executivo federal afastada a regalia ofertada à Paula Rousseff, Rafael Covolo e filhos afronta sobejamente a legislação em vigor. Por ironia, o decreto que estabelece regras para a utilização dos carros de governo foi reeditado com pequenas alterações por Dilma em outubro do ano passado, com o objetivo, segundo ela, de “racionalizar o gasto público no uso de veículos oficiais”. A racionalização, claro, não alcançou sua família, como se nota.
14 de julho. 11h30 - O Ford Fusion oficial aguarda um dos filhos de Paula Rousseff em frente à escola
14 de julho. 11h30 – O Ford Fusion oficial aguarda um dos filhos de Paula Rousseff em frente à escola
Os serviços de transporte e segurança dos Rousseff em Porto Alegre estão a cargo de uma empresa terceirizada contratada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República: a Prime Consultoria e Assessoria Empresarial, conforme documentos aos quais ISTOÉ teve acesso. Todo mês, a Prime encaminha ao Palácio do Planalto um relatório de abastecimento dos veículos. A última nota foi emitida no dia 1º de julho. Na prestação de contas estão listados os veículos, suas especificações, bem como as respectivas placas vinculadas, sem registro no DETRAN, e os motoristas responsáveis por atender aos familiares da presidente afastada na capital gaúcha. Em junho, por exemplo, foram gastos só com combustível R$ 13,8 mil. Os familiares de Dilma não precisariam de carros oficiais para o cumprimento de suas tarefas diárias. Paula Rousseff é procuradora do trabalho no Rio Grande do Sul. Entrou no Ministério Público do Trabalho em 2003 por meio de concurso público. Atualmente, recebe salário de R$ 25.260,20. Para quê a mordomia com dinheiro público? Por que o genro de uma presidente afastada precisa usar carro oficial para a execução dos afazeres cotidianos?
TUDO EM CASA Dilma com a filha e o neto, durante evento no Planalto
TUDO EM CASA Dilma com a filha e o neto, durante evento no Planalto
Na política, se não forem estabelecidos limites, necessários à liturgia do cargo, a família tem grande potencial para gerar constrangimentos. Sobretudo porque eventuais privilégios desfrutados por filhos dizem mais sobre os pais do que os próprios herdeiros. No Brasil, um País de oportunidades desiguais, regalias a parentes de políticos chamam muita atenção e, em geral, são consideradas inaceitáveis e despertam indignação e sensação de injustiça na população. Quando a prática é ilegal, a situação se agrava. Por constituir vantagem ilícita a terceiros e atentar contra os princípios da administração pública, o episódio em questão pode até render um processo contra Dilma por improbidade.
2432-BRASIL-MORDOMIAS+CAPA-09
Procurado por ISTOÉ, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência afirmou que “permanece realizando a segurança da Presidenta Dilma e de seus familiares, de acordo com o disposto no inciso VII do Art 6º da Lei Nr 10.683, de 28 de maio de 2003”. O problema é que o referido “amparo legal” não prevê o uso de carros oficiais para fazer o transporte da família da presidente afastada. Em tese, apenas a escolta para segurança seria permitida.
Diz o inciso VII do Art 6º da Lei Nr 10.683: ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República compete zelar, assegurado o exercício do poder de polícia, pela segurança pessoal do Presidente da República, do Vice-Presidente da República e respectivos familiares, dos titulares dos órgãos essenciais da Presidência da República e de outras autoridades ou personalidades, quando determinado pelo Presidente da República, bem como pela segurança dos palácios presidenciais e das residências do Presidente da República e do Vice-Presidente da República.
Três dias antes de deixar a Presidência, em 2010, Lula fez questão de assegurar aos seus filhos a dispensável regalia do passaporte diplomático. Revelada pela imprensa, a esperteza engoliu o dono. Em novembro de 2013, a Justiça determinou a apreensão dos passaportes e o recolhimento dos mesmos pelo Itamaraty. Depois do impeachment de Dilma, o tema voltou à baila com a apimentada discussão sobre eventuais mordomias a que a presidente teria direito afastada do cargo. Uma ação civil pública questionou o uso por Dilma de aviões da FAB. A Justiça até permitiu o deslocamento com os jatos da Força Aérea Brasileira, desde que custeados pela própria mandatária afastada. Recentemente, apoiadores do PT se cotizaram para bancar as viagens. Pela trilha da carruagem, hoje já abóbora, haja crowdfunding militante (a popular vaquinha) para sustentar os privilégios de petistas e congêneres que ainda insistem em se refestelar com as benesses do Estado.
2432-BRASIL-MORDOMIAS+CAPA-12

“É ilegal, mas eles usam mesmo assim”

Na quinta-feira 14, ISTOÉ conseguiu fazer contato com um dos responsáveis pela frota de carros oficiais que serve a família da presidente Dilma Rousseff em Porto Alegre. Com medo de retaliação, ele pediu para não ser identificado
2432-BRASIL-MORDOMIAS+CAPA-11
ISTOÉ – Quantos carros oficiais a família de Dilma tem à disposição?
São oito carros blindados de fábrica. Quatro para o transporte e mais quatro que fazem a escolta armada. É um serviço VIP. No carro oficial e no veículo de escolta há um motorista e um segurança. No total, são quatro pessoas envolvidas para cada dupla de carros.
ISTOÉ – Desde quando a filha, o genro e os netos da presidente afastada contam com o serviço de transporte e segurança pago pelo governo?
Há pelo menos cinco anos. São carros de representação com placa vinculada ou placa fria para não serem identificados. Se você consultar no DETRAN, aparece como placa inexistente.
ISTOÉ – Além de se tratar de uma mordomia, a utilização de carros de representação por familiares de presidente da República é ilegal.
Sim. É ilegal. Mas eles usam mesmo assim. Eles até poderiam usar uma escolta. Não sou PMDB nem nada. Mas, por exemplo, a Marcela Temer (atual primeira-dama) usa a escolta para segurança. É normal. Mas sabemos que, quando morava sozinha em São Paulo, ela ia para compromissos pessoais com o carro dela. Não com carro oficial. Isso que a família de Dilma faz contraria a lei.
ISTOÉ – Nossa reportagem apurou que a filha de Dilma leva o filho à escola, vai para o pilates, pet shop, clínica de estética e até ao cabelereiro com os veículos pagos pelo governo. O genro também usa os carros oficiais para atividades semelhantes. O sr. confirma essa informação?
Confirmo. Os carros oficiais os levam para atividades do dia a dia.
Colaborou Pedro Marcondes de Moura
*Com fotos de Lucas Uebel e Itamar Aguiar

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Presidente da França chega a Nice e afirma que país “será mais forte do que o terror”

François Hollande decidiu estender o estado de emergência no território francês; "Nada nos fará ceder na nossa vontade de lutar contra o terrorismo", afirmou governante

O presidente francês, François Hollande - POOL/AFP/Arquivos
O presidente francês, François Hollande – POOL/AFP/Arquivos
O presidente da França, François Hollande, chegou a Nice, onde se encontra com autoridades de segurança locais para debater a situação após o ataque da noite da última quinta-feira (14), que deixou ao menos 84 mortos e 100 feridos.
O primeiro-ministro, Manuel Valls, e o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, também estão na cidade.
Em pronunciamento realizado ontem à noite, Hollande disse que “é inegável o caráter terrorista do ataque”, acrescentando que entre as vítimas estão muitas crianças.
“A França foi atacada por essa nova tragédia e está horrorizada com o que aconteceu. Essa monstruosidade que consiste em utilizar um caminhão para matar, deliberadamente, dezenas de pessoas que vieram simplesmente celebrar o [feriado] 14 de Julho. A França chorou, está ferida, mas é forte, e sempre será mais forte que os fanáticos que a atacaram”, acrescentou.
Estado de Emergência
O presidente decidiu ampliar o estado de emergência declarado após os atentados de 13 de novembro em Paris, que deixaram ao menos 130 mortos, por outros três meses.
Ele havia anunciado horas antes do ataque que pretendia extinguir a medida. “É toda a França que está sob a ameaça do terrorismo islâmico. Então, nessas circunstâncias, nós devemos fazer uma demonstração de vigilância absoluta e de determinação contínua”, apontou.
Autoridades de Paris avaliam o envolvimento de membros do Estado Islâmico no ataque, apesar de o grupo ainda não ter reivindicado autoria. A polícia também investiga as possíveis ligações do motorista do caminhão, identificado como um francês de origem tunisiana, com grupos extremistas.
Além disso, após o massacre, a França vai “reforçar as operações” contra terroristas do Estado Islâmico “tanto na Síria como no Iraque”. “Nada nos fará ceder na nossa vontade de lutar contra o terrorismo”, concluiu Hollande.
“Fomos golpeados no dia 14 de julho, o dia da Festa Nacional e símbolo da liberdade, pois os fundamentalistas negam os direitos fundamentais”.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

App registra mais de 250 tiroteios no RJ em 7 dias; média é de 1,5 por hora

Foram 265 notificações, sendo 24 tiroteios com vítimas fatais e 20 feridos.
Programa colaborativo recebe e checa notificação de usuários.

Fernanda Rouvenat*Do G1 Rio
Aplicativo Fogo Cruzado mapeia, em tempo real, os locais onde acontecem tiroteios no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução)Aplicativo Fogo Cruzado mapeia, em tempo real, os locais onde acontecem tiroteios no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução)
A iniciativa de alertar os moradores do Rio de Janeiro sobre tiroteios que ocorrem diariamente e assustam a população tem tido boa audiência. Lançado há oito dias, o aplicativo Fogo Cruzado mapeia, em tempo real, os locais onde estão acontecendo disparos de armas de fogo na Região Metropolitana do Rio. Somente nesse tempo, foram feitos 15 mil downloads.

O primeiro relatório, divulgado nesta quarta-feira (13),  mostrou que, em apenas sete dias, 265 notificações de tiroteios foram enviadas para a ferramenta. A média é de pouco mais de 1,5 tiroteio por hora. Desses confrontos, 24 tiveram vítimas fatais e, em 20, pessoas ficaram feridas. Também foram registrados 50 confrontos decorrentes de operação policial.
A região da cidade com o maior número de registros foi o Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. Já na Baixada Fluminense, a cidade de São João de Meriti foi o local que mais cadastrou registros de violência.
Relatório mostra números de ocorrências em 7 dias (Foto: Reprodução)Relatório mostra números de ocorrências em 7 dias (Foto: Reprodução)
Nos três primeiros dias, o aplicativo recebeu 258 notificações. Destas, 28% foram descartadas por serem notificações repetidas, de testes dos usuários ou entradas de outros estados.
A ideia de criar o aplicativo foi da jornalista e especialista em Segurança Pública Cecília Olliveira e surgiu a partir da curiosidade de contar a quantidade de tiroteios que acontecem todos os dias.

“No ano passado eu estava buscando informações sobre feridos por bala perdida e incidência de tiroteios na cidade e não encontrei, mas me deparei com uma informação do Voz da Comunidade que dizia muito: ‘estamos há 100 dias sem paz’. Isso me despertou a ideia de começar a contar os tiroteios - acompanhando via imprensa, boletins da PM que estão disponíveis no site e alguns amigos/coletivos espalhados pela cidade - em uma planilha mesmo. Percebi que a realidade era bem maior do que imaginava e procurei a Anistia para propor o projeto, que foi aceito", disse Cecília Olliveira, pesquisadora e gestora de dados do Fogo Cruzado.
Gráfico mostra áreas que tiveram maior número de notificações (Foto: Reprodução)Gráfico mostra áreas que tiveram maior número de notificações (Foto: Reprodução)
Ferramenta colaborativa
O aplicativo funciona de maneira colaborativa e recebe notificações de usuários, mas também tem informações baseadas em dados da Polícia Militar, que ficam disponíveis no site da instituição, e nas divulgações da imprensa. No site do aplicativo, é possível fazer uma filtragem e visualizar as notificações de acordo com as fontes.

De acordo com a gestora de dados do aplicativo, serão feitos relatórios para mostrar o aumento ou não dos confrontos semanalmente, mensalmente e trimestralmente. Os dados estarão disponíveis na aba “Relatórios” do site e do aplicativo.

“Vale pontuar que nem tudo o que é notificado é um confronto, uma vez que também somos notificados acerca de disparos de arma de fogo”, explicou Cecília.
O aplicativo pretende ajudar a aprofundar o debate sobre segurança pública no Rio de Janeiro e permitir que a população dos bairros mais afetados pelos confrontos se manifeste de forma segura.
* Colaborou Matheus Rodrigues

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Jogos Olímpicos do Rio, um ‘inferno’ para a segurança?


Jogos Olímpicos do Rio, um ‘inferno’ para a segurança?
(8 jul) Policial nos arredores da montagem da arena do vôlei de praia, em Copacabana - AFP
O governo do estado do Rio de Janeiro garante que a segurança será perfeita nos Jogos Olímpicos Rio2016, mas episódios recentes levantam algumas dúvidas, entre eles o corpo esquartejado encontrado pela Polícia perto da Arena de Vôlei de Praia, em Copacabana.
De 5 a 21 de agosto, o Rio de Janeiro receberá cerca de meio milhão de visitantes para o maior evento esportivo do planeta.
“Tenho confiança total nos preparativos para a segurança dos Jogos”, afirmou, a praticamente um mês da abertura, o secretário extraordinário de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça, Andrei Augusto Passos Rodrigues, dizendo estar “totalmente sereno”.
A descoberta, nesse mesmo dia, de um corpo esquartejado em Copacabana, talvez tenha afetado essa serenidade.
Os policiais do Rio, que viram cerca de 50 de seus colegas mortos este ano e protestam contra o atraso no pagamento dos salários, já não têm tanta calma assim.
Um dos mais perigosos do país, o estado do Rio registrou 2.083 homicídios nos cinco primeiros meses de 2016, um aumento de 14% em um ano, enquanto os crimes se multiplicam.
Para os organizadores dos Jogos Olímpicos, o incidente mais constrangedor até agora talvez tenha sido o que aconteceu com as emissoras de televisão alemãs ARD e ZDF, que tiveram seus equipamentos eletrônicos roubados. Estimada em 400.000 euros, a carga foi finalmente recuperada.
Fronteiras porosas
As verdadeiras zonas de insegurança ficam no norte da cidade, onde há enormes favelas, longe da Barra, de Copacabana e de Ipanema, tomadas de turistas.
Há oito anos, as autoridades estaduais iniciaram um ambicioso programa para retomar das mãos de traficantes fortemente armados o controle dessas comunidades.
A criminalidade tenta recuperar esses territórios, aproveitando a crise econômica que fez o governo decretar estado de calamidade pública, escasseando recursos para a polícia.
No mês passado, cerca de 20 homens armados invadiram um hospital do Centro do Rio para resgatar um de seus chefes, conhecido como “Fat Family”. A polícia teria matado nove pessoas na caçada aos bandidos, sem conseguir recuperá-lo.
Considerando-se que o Brasil não está envolvido em nenhuma guerra e que fica muito distante de países como a Síria, é baixo o risco de ver se repetirem aqui violentos ataques reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI) em Bangladesh, na Bélgica, no Iraque e nos Estados Unidos.
Mas sediar o evento esportivo mais acompanhado do mundo vai, necessariamente, atrair as atenções, alerta o especialista em segurança Robert Muggah, do Instituto Igarapé, no Rio.
“Se um grupo terrorista quiser dar um grande golpe em um evento mundial, o Rio seria um bom lugar para começar”, afirma.
A fronteira com o Paraguai é notoriamente porosa, e a com o Uruguai foi atravessada em junho, sem passar por qualquer controle, por um ex-detento da base americana de Guantánamo, acolhido como refugiado pelo pequeno país sul-americano.
E, para conseguir armas de guerra, basta dar uma volta nas favelas.
O ‘próximo alvo’?
Em junho, os Serviços Secretos brasileiros disseram ter detectado mensagens em Português ligadas ao EI em um fórum de Internet. Ainda mais explícito, depois dos atentados de Paris em novembro passado, um jihadista francês do EI tuitou que o Brasil seria “o próximo alvo”.
Cerca de 65.000 policiais e 20.000 soldados – o dobro do efetivo do JO de Londres-2012 – serão mobilizados no Rio.
O Centro de Coordenação Policial incluirá forças de 55 países e aquela encarregada de antiterrorismo, com agentes de sete países, entre eles Estados Unidos, França e Argentina.
Verificações já foram feitas com 394.000 visitantes. A meta é chegar a 600.000.
O Brasil enfrentará ainda seus próprios problemas durante os Jogos. A tensão política poderá deflagrar novas manifestações, enquanto a presidente Dilma Rousseff, afastada por maquiagem das contas públicas, corre o risco de sofrer um impeachment logo depois das Olimpíadas.
E, em meio a uma recessão histórica para o país, o estado do Rio conseguiu um socorro financeiro federal emergencial de R$ 2,9 bilhões. Esse valor deverá ser usado para pagar os salários atrasados dos policiais e a falta gritante de material – de combustível para as viaturas a papel higiênico.
“Bem-vindo ao inferno!”, diz um cartaz levantado por policiais irados na área de desembarque do aeroporto internacional do Rio, esta semana, acompanhado da preocupante frase: “Quem vem ao Rio não está seguro”.

terça-feira, 12 de julho de 2016

O garçom de Lula

Carlos Cortegoso, que serviu Lula na década de 80 num restaurante do ABC, virou milionário com um esquema de empresas de fachada nas campanhas petistas

O garçom de Lula
ASCENSÃO METEÓRICA Garçom de Lula que montou empresa para atender ao PT agora anda de Porsche
ASCENSÃO METEÓRICA Garçom de Lula que montou empresa para atender ao PT agora anda de Porsche
Na década 80, Carlos Roberto Cortegoso era um cara humilde. Trabalhava como garçom no restaurante “São Judas Tadeu – Demarchi”, estrela da rota do frango com polenta do ABC Paulista. Um belo dia, ao contrário da maioria dos colegas de profissão, Cortegoso encontrou a sorte grande. De bandeja, o garçom ganhou sua mega sena particular: conheceu o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva. O petista se apiedou daquele que o servia regularmente com contagiante bom humor e arrumou uma boquinha no Partido dos Trabalhadores para ele. A partir daí, sua vida virou do avesso. A conta bancária, hoje rechonchuda, aumentou proporcionalmente à mudança de personalidade. Hoje, Cortegoso anda de Porsche, como se nota na foto acima. Por ser o proprietário da Focal, gráfica de fachada que recebeu R$ 24 milhões da campanha de Dilma, mas não conseguiu declarar os serviços prestados durante perícia do TSE, Cortegoso está encrencadíssimo na Justiça Eleitoral. O ex-garçom do petista também encontra-se enredado na operação da Polícia Federal, que apura um esquema de desvio de recursos no Ministério do Planejamento por meio de empréstimos consignados. A humildade do passado espatifou no chão como copos e pratos mal equilibrados. Ao ser procurado por ISTOÉ, disparou, em tom esnobe: “Me caracterizaram como ‘garçom do Lula’. É que o repórter precisa do estereótipo para ficar engraçado, para vender mais. Eu entendo. Tem cara que tem que limpar banheiro cheio de m*, tem cara que dá o c*. E tem cara que tem de criar personagem. Porque o empresário perdeu a graça. Então, tem de arrumar um personagem, tipo o mordomo, garçom”.
Cortegoso montou sua primeira empresa, a Ponto Focal Comunicação e Marketing Visual LTDA, graças ao empurrãozinho de Lula. A firma sobreviveu por uma década. O maior cliente, na ocasião, era, claro, o PT, para o qual o empresário trabalhava durante as campanhas eleitorais. Em 2004, na metade do primeiro mandato de Lula, a Ponto Focal decidiu encerrar suas atividades, justamente um ano antes da divulgação da denúncia do mensalão. A manobra tinha como objetivo sair do radar da Polícia Federal. Para investigadores, a ascensão de Carlos Cortegoso pode ter ganhado impulsão no esquema de corrupção. Em delação do publicitário Marcos Valério, sócio da SMP&B, o nome de Cortegoso foi anexado à lista de beneficiário das propinas que o publicitário apresentou à CPI dos Correios. Segundo Valério, o garçom de Lula havia recebido R$ 400 mil da organização criminosa. A partir daí, Cortegoso submergiu.
O TERCEIRO ESCÂNDALO Cortegoso também é acusado de receber propina do esquema de Paulo Bernardo (foto) no Ministério do Planejamento
O TERCEIRO ESCÂNDALO Cortegoso também é acusado de receber propina do esquema de Paulo Bernardo (foto) no Ministério do Planejamento
Embora tenha tirado a empresa de seu nome, continuou, segundo a PF, beneficiário do esquema, agindo à sombra da filha Carla Regina Cortegoso. Dez meses depois do encerramento da Ponto Focal, Carla abriu uma firma no mesmo ramo e deu continuidade aos negócios do pai. Mais uma vez,quem deu suporte foi o PT. Por descuido ou não, a filha de Cortegoso optou por pegar emprestada a marca do antigo empreendimento, excluindo apenas o primeiro nome. Assim, a razão social ficou: Focal Confecção e Comunicação Visual Ltda.
O partido foi o principal cliente da empresa nas últimas eleições. Não bastasse ter sido a segunda empresa que mais recebeu recursos da campanha de Dilma em 2014, de acordo com o TSE, 21 candidatos do PT declararam que tiveram gastos com a Focal, entre os quais, o candidato ao governo de São Paulo Alexandre Padilha e a ex-ministra Gleisi Hoffmann, que em 2014 concorreu ao governo do Paraná. Terminadas as investigações do TSE, as atividades da gráfica que não conseguiu comprovar os serviços prestados à campanha de Dilma correm sério risco de serem encerradas mais uma vez.
Na ficha corrida de Carlos Cortegoso, ainda consta o envolvimento na Operação Custo Brasil, da Polícia Federal, que investiga o desvio de R$ 100 milhões de taxa de empréstimos consignados dos servidores do Ministério do Planejamento. Ele é suspeito de ter recebido R$ 309 mil de propina.
ESTREITAS RELAÇÕES Carla Regina, filha de Carlos Cortegoso, assumiu a Focal e manteve a parceria com Lula e o PT
ESTREITAS RELAÇÕES Carla Regina, filha de Carlos Cortegoso, assumiu a Focal e manteve a parceria com Lula e o PT
Embora suas palavras deixem transparecer o inverso, Cortegoso não nega que tenha trabalhado como garçom. Mas alega ter largado a profissão há quatro décadas. Por isso, na lógica peculiar dele, não poderia mais ser tachado como tal. Ao tentar explicar seu raciocínio, recorreu a mais um paralelo infeliz, para dizer o mínimo: “Depois disso (ter sido garçom), me formei em química. Falo três idiomas. Fui executivo. É igual um menino que faz troca-troca (sexo com pessoa do mesmo gênero) com dez anos. Aí, aos 59, ele é gay?”, questionou. “Então, eu fui garçom há 41 anos”, concluiu. Cortegoso pode ter largado a antiga atividade. Mas, a julgar pelas apurações da PF, ele continuou a receber uma gorjeta mais do que generosa. Em forma de pixuleco.

“Duas coisas no Brasil que dão problema: pensão alimentícia e fiel depositário”

Em entrevista à ISTOÉ, Carlos Cortegoso se recusou a falar sobre as denúncias contra ele e demonstrou irritação:
ISTOÉ – Como o sr. era garçom do Lula e conseguiu ficar milionário?
Carlos Cortegoso – Tem cara que tem que limpar banheiro cheio de m*, tem cara que dá o c*. E tem cara que tem de criar personagem, tipo o mordomo, garçom. Porque o empresário perdeu a graça.
ISTOÉ – Mas o sr. não era garçom?
Cortegoso – Falo três idiomas. Fui executivo. É igual a um menino que fez troca-troca com dez anos. Aos 59, ele é gay? Então, eu fui garçom há 41 anos
ISTOÉ – Em 1998, a Vara de Execuções Fiscais Estaduais de São Paulo decretou a prisão do senhor. Por quê?
Cortegoso – Eu era fiel depositário de um compressor (penhorado pela justiça). Fui lá e paguei. E foi tudo resolvido. Tem duas coisas no Brasil que dão problema: pensão alimentícia e fiel depositário.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Perícia do TSE evidencia que a campanha de Dilma lavou dinheiro do Petrolão

Durante auditoria realizada pelo Tribunal Eleitoral, as gráficas VTPB, Focal e Red Seg, que receberam R$ 52 milhões da campanha da presidente afastada, em 2014, não comprovam que prestaram os serviços declarados

Crédito: Rica Ramos
CAMPANHA EM XEQUE Esquema envolvendo a Focal, a VTPB e a Red Seg movimentou R$ 52 milhões em 2014
CAMPANHA EM XEQUE Esquema envolvendo a Focal, a VTPB e a Red Seg movimentou R$ 52 milhões em 2014 (Crédito:AP Photo/Eraldo Peres)
No dia 20 de abril, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, corregedora-geral da Justiça Eleitoral, autorizou a apuração das suspeitas de que a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014, havia utilizado gráficas para lavar dinheiro do Petrolão. Na última semana, o relatório entrou em fase final de redação e uma perícia deverá ser oficialmente divulgada no próximo mês. ISTOÉ apurou que as evidências de lavagem de recursos desviados da Petrobras se confirmaram. As empresas VTPB, Focal e Red Seg não conseguiram comprovar que prestaram os serviços declarados durante as últimas eleições, o que reforçam os indícios de que eram mesmo de fachada e serviram de ponte para o pagamento de propinas do Petrolão. Juntas, elas receberam uma fábula da campanha de Dilma em 2014: R$ 52 milhões.
A Focal foi a segunda que mais recebeu recursos do PT, só ficando atrás do marqueteiro João Santana. Um total de R$ 24 milhões. Mas a gráfica, assim como a VTPB e a Red Seg, simplesmente não apresentou notas fiscais, comprovantes de pagamento, ordens de serviço, contratos trabalhistas ou de subcontratação de terceiros, além de extratos de transferências bancárias que justificassem as atividades exercidas para a campanha de Dilma a um custo milionário. Esses documentos eram fundamentais para provar que as gráficas não foram usadas como laranjas pelo PT para esquentar dinheiro ilegal. A ausência da papelada compromete a campanha de Dilma e incrementa o caldo político que pode levar ao seu afastamento definitivo em agosto, no derradeiro julgamento do impeachment. “A ausência da devida comprovação de gastos eleitorais, principalmente quando envolver altos valores, pode indicar a ocorrência de graves fraudes e até lavagem de dinheiro, com sérias consequências”, afirmou o presidente do TSE, Gilmar Mendes.
ILÍCITO Para o presidente do TSE, Gilmar Mendes, a ausência de comprovação dos gastos eleitorais indica a existência de fraudes graves
ILÍCITO Para o presidente do TSE, Gilmar Mendes, a ausência de comprovação dos gastos eleitorais indica a existência de fraudes graves (Crédito:Ailton de Freitas/Agência O Globo)
Os peritos do TSE visitaram as três gráficas entre maio e junho. Seus donos contaram histórias mirabolantes na tentativa de atestar que colocaram seu maquinário a serviço da petista em 2014. Por isso, teriam sido aquinhoadas com os R$ 52 milhões declarados pela campanha de Dilma. As versões, repetidas também à ISTOÉ, não param em pé. Para comprová-las, as empresas tinham até o dia 24 de junho para entregar a farta documentação exigida pela Justiça Eleitoral. O não fornecimento das provas exigidas pela Justiça Eleitoral torna muito difícil a absolvição das gráficas pela perícia do TSE.
Quem for hoje às dependências da Focal vai se deparar com uma estrutura ínfima. A empresa de Carlos Cortegoso, ex-garçom de Lula, fica localizada em São Paulo e exibe uma portinha que seria incompatível com o volume de produtos que ela declarou ter fornecido à campanha de Dilma em 2014. Dividida em dois pisos de cerca de 40 metros quadrados cada um, a empresa conta com apenas duas impressoras e só três funcionários trabalham por lá. Os proprietários argumentam que, durante o período da campanha, a empresa chegou a ter 200 funcionários, quando ainda estava sediada em São Bernardo do Campo, cidade vizinha à capital paulista, em um espaço bem maior. Entretanto, não foram apresentados ao TSE contratos de trabalho desses colaboradores. Como desculpa, argumentaram que eram prestados serviços semanais, sem vínculo trabalhista. Alegaram ainda que os equipamentos de offset utilizados para atender ao PT estariam acondicionados em outro imóvel de Cortegoso. Todavia, o empresário não apresentou as notas fiscais das máquinas, nem comprovou ainda que a tralha estava registrada nos ativos da companhia em 2014. “Existem algumas pequenas irregularidades no sentido fiscal, mas no sentido de criminal não tem nada”, jurou Cortegoso, abordado pela reportagem da revista. Carece de explicação ainda como uma gráfica, sediada em São Bernardo, poderia ter erguido palanques para a campanha à reeleição de Dilma Rousseff Brasil afora, conforme declarou ao TSE. Até a última semana, porém, mais essa atividade suspeita não havia sido justificada aos peritos do tribunal.
As dependências da empresa VTPB são ainda mais inacreditáveis, em termos de estrutura física. É uma gráfica muito engraçada, não tem impressora, não tem nada. Nem scanner, sequer máquina de xerox. O endereço fiscal fica registrado em uma kitnet no bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo. Os donos da empresa dizem sem corar a face que a estrutura micro não é conflitante com os R$ 22,9 milhões repassados pela campanha da presidente afastada nas últimas eleições. A empresa, segundo suas explicações, trabalha fazendo a intermediação entre os políticos que precisam de santinhos, por exemplo, e as gráficas que os produzem. Contudo, não foram apresentadas notas fiscais ou contratos que comprovem essas subcontratações. Tampouco comprovantes de pagamentos ou ordens de serviço.
2431-BRASIL-TSE-04
Infográfico: Rica Ramos
Mas quem lacrou mesmo foi a Rede Seg. Abastecida com R$ 6,15 milhões da campanha de Dilma, a gráfica sequer entregou cópias ou originais do livro contábil, porque ele simplesmente não existe. A gráfica – 8ª maior beneficiária de dinheiro da campanha que reelegeu a presidente da República em 2014 – não faz contabilidade escriturada da empresa. Isto, por si só, já configuraria, no mínimo, um “ilícito fiscal”, segundo advogados ouvidos pela ISTOÉ. A Red Seg também está lotada em um imóvel que abriga somente uma guilhotina de papel e uma impressora, que também é filha única. Os documentos do estabelecimento apontam como proprietário Vivaldo Dias da Silva. Um ano antes da campanha, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, ele era motorista e ganhava salário de R$ 1.490.
As suspeitas de que o montante repassado à Focal, VTPB e Red Seg era oriundo do esquema do Petrolão foram levantadas a partir da delação premiada de donos de empreiteiras presos em decorrência dos desdobramentos da operação Lava Jato. O mandatário da UTC, Ricardo Pessoa, que assinou a colaboração com o Ministério Público, afirmou que repassou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma Rousseff (PT). E que o dinheiro teve origem no Petrolão. O mesmo empresário contou que realizou três repasses de R$ 2,5 milhões. Ao que tudo indica, uma dessas parcelas serviu para saldar notas fiscais da VTPB e Focal. O repasse ocorreu em 27 de agosto ao tesoureiro Edinho Silva, ex-ministro das Comunicações, que realizou quatro depósitos na conta da VTPB no total de R$ 1,7 milhão. Outros R$ 672,6 mil irrigaram os cofres da Focal. Aproximadamente R$ 1,8 milhão teve como destino a gráfica Red Seg. Esses não foram os únicos repasses feitos pela campanha de Dilma às fornecedoras suspeitas de lavagem de dinheiro. Os maiores montantes destinados à Focal e à VTPB também são de 2014 e da ordem de R$ 24 milhões e R$ 23 milhões, respectivamente.
MOVIMENTAÇÕES IRREGULARES O COAF já apontava para a ocorrência de lavagem de dinheiro pela gráfica VTPB (foto) durante a campanha à reeleição de Dilma
MOVIMENTAÇÕES IRREGULARES O COAF já apontava para a ocorrência de lavagem de dinheiro pela gráfica VTPB (foto) durante a campanha à reeleição de Dilma
Chamou a atenção do TSE o volume gasto pelo comitê eleitoral de Dilma com serviços de confecção de faixas e santinhos. No dia 29 de julho do ano passado, o ministro Gilmar Mendes, que ocupava a cadeira de vice-presidente da corte eleitoral, pediu à Polícia Federal que investigasse as três empresas. No documento, Mendes recomendou que os agentes concentrassem as atenções na empresa Focal. A PF aproveitou e relacionou a VTPB no bojo da apuração. Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já apontava para a existência de crime de lavagem de dinheiro praticado pela VTPB uma vez que havia a comunicação de movimentação atípica nas contas da empresa.
Outro indício de que as empresas fornecedoras possam fazer parte do esquema de lavagem de dinheiro, por meio de serviços gráficos, refere-se à prestação de contas da campanha da petista. Há centenas de recibos eleitorais de doações de materiais e serviços. Parte deles está em nome dos mesmos financiadores diretos da campanha. Ou seja, o “produto” doado é produzido pelas mesmas empresas suspeitas, mas leva o carimbo de outra campanha. É o caso do deputado Vicentinho. Ele encomendou à Focal Comunicação a produção de centenas de faixas para a campanha da presidente. O que intriga a investigação é que o petista, que arrecadou pouco mais de R$ 1,4 milhão, tenha ainda contribuído materialmente para a reeleição de Dilma com R$ 350 milhões.
TRIANGULAÇÃO Repasse a Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma, feito pela UTC serviu para saldar “notas frias” da VTPB
TRIANGULAÇÃO Repasse a Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma, feito pela UTC serviu para saldar “notas frias” da VTPB (Crédito:Eliaria Andrade/Agência O Globo)
Também intrigou os técnicos do TSE o fato de valores declarados nos recibos de doação de materiais serem muitas vezes bem abaixo do valor praticado no mercado. Do total da produção de santinhos pela Axis Grafica, de São Caetano do Sul (RS), o Comitê Financeiro do PT doou para a campanha de Dilma 6,5% de um total de 30 mil, ou 1.950 itens. O valor declarado pela campanha foi de apenas R$ 14,62. Mas uma no mercado gráfico o valor médio é de R$ 1,8 mil para a quantidade total encomendada e de R$ 121 equivalente ao percentual doado.
A ministra Maria Thereza, relatora do pedido de cassação de Dilma no TSE, ainda está pedindo o compartilhamento de provas e informações obtidas pelas investigações da PF. À ISTOÉ, o ministro Gilmar Mendes ponderou que “nem todas as diligências foram cumpridas pelo TSE e há outras em curso, de modo que há de se aguardar uma maior quantidade de elementos para elaboração do relatório final da perícia”. O prazo é de 90 dias, que alcançará meados de agosto. Até lá, é possível que o afastamento definitivo de Dilma Rousseff já tenha sido julgado pelo Senado.
Colaborou Ary Filgueira