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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Presidente do PT é deputado que mais falta em São Paulo

Até o mês de julho deste ano, ele deixou de comparecer a pelo menos 187 das 584 sessões em plenário do legislativo paulista
  Agência Estado
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi o deputado que mais faltou a sessões na atual legislatura da Assembleia Legislativa de São Paulo. Até o mês de julho deste ano, ele deixou de comparecer a pelo menos 187 das 584 sessões em plenário do legislativo paulista, segundo levantamento feito pelo Estado com base em dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. É a primeira vez que a Casa abre os registros de frequência dos parlamentares.
Na prática, o número de ausências de Falcão, como de todos os outros parlamentares, é ainda maior, uma vez que, pelo regimento interno da Assembleia, quando há 12 deputados na Casa, uma sessão pode ser aberta, e quando isso ocorre todos os 94 deputados ganham presença, mesmo que não compareçam. O presidente do PT afirma que tem sido um dos deputados mais atuantes da Casa.

Mas, para evitar muitos descontos no salário, todos os meses Falcão se vale - como muitos outros deputados - de um dispositivo do regimento interno que permite o abono de até quatro faltas mensais. Desde 2011, ele teve abonadas 72 faltas com base no artigo 90 do regimento.
Uiara Lopes/PT
Uiara Lopes/PT / presidente do PT afirma que tem sido um dos deputados mais atuantes da Casa 
presidente do PT afirma que tem sido um dos deputados mais atuantes da Casa
Contudo, esse mesmo artigo determina que “considera-se presente a deputada ou deputado que”, entre outros “faltar a 4 sessões ordinárias, no máximo, por mês, a serviço do mandato que exerce”. O Estado encontrou diversos casos em que Rui Falcão foi abonado por ausência, mas estava fora do Estado de São Paulo cuidando de assuntos da organização interna do PT ou das eleições de 2012.
Isso ocorreu, por exemplo, nos dias 14 e 15 de agosto do ano passado - terça e quarta-feira. O site do próprio deputado registrou que, nesses dois dias ele participou de “atividades da campanha eleitoral em várias cidades”. Cumpriu agenda em Itabuna Ilhéus e Vitória da Conquista, todas na Bahia, além de São Luís (MA) e Teresina (PI).
Em 1.º e 2 de junho de 2011 ele também foi abonado pelas duas faltas, mas na quarta-feira (1.º) participou de reunião do Conselho Político do governo federal com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, e na quinta (2), também na capital federal, presidiu a reunião da Executiva Nacional do PT. O site do deputado registrou nessa data: “Rui Falcão discutirá Eleições 2012 e Reforma Política com presidentes estaduais do PT”. Essa mesma nota informava que, nos dias anteriores, ele viajara a Goiás, Rondônia e Acre.
Uma semana antes, no dia 26 de agosto de 2011, uma quinta-feira, o site do deputado também registrou a viagem que o deputado fez a Goiânia, durante o dia todo. Uma reportagem intitulada “Rui Falcão inicia viagens pelo País para discutir Eleições 2012 e Reforma Política” dava conta, em seu final, de uma extensa programação, que começaria com a chegada ao aeroporto às 12h30 e terminaria às 21h30. Nesse dia, em que houve sessão na Assembleia, ele nem precisou abonar a falta: teve presença computada.
Para efeito de comparação, ele registrou 16 ausências - pelas quais não recebeu salário -, ante as 72 faltas abonadas. Todas as ausências foram computadas em meses em que ele já chegara no limite de quatro faltas abonadas. As demais ausências do petista ocorreram em sessões extraordinárias, que não são levadas em conta para o cálculo da remuneração mensal, mas são consideradas para o cômputo do 13.º salário.
Presença rara
Incumbido da tarefa de comandar o PT nacionalmente, Rui Falcão fica muito na sede do partido em São Paulo, viaja pelo Brasil e pouco aparece na Assembleia. O presidente do PT deixou de comparecer a um número maior de sessões do que deputados que tiveram diversas licenças médicas por doenças ou acidentes. Também faltou mais do que parlamentares licenciados por longos períodos entre julho e outubro de 2012 para disputar as eleições municipais.
Entre março de 2011 e março de 2013, ele não abriu mão do cargo de primeiro secretário da Assembleia, responsável por departamentos como o de Finanças e Recursos Humanos. Em 14 de agosto, em um dos dias mais movimentados da Assembleia em 2013, quando ocorria uma manifestação contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB) na frente, e a votação de uma importante PEC, a reportagem do Estado flagrou um deputado petista comentando com outro: “Hoje até o Rui veio!”.
Outros faltosos
Depois do presidente do PT, os deputados que mais faltaram a sessões foram Milton leite Filho (DEM), que não foi a 167 sessões; Roque Barbiere (PTB), que teve 148 faltas; Feliciano Filho (PEN), com 144 ausências, e Roberto Engler (PSDB), 139 faltas em sessões.

Exército vai reforçar investimentos em tecnologias de defesa no Brasil

Brasília

Terrestre


Uma das razões para o investimento é a defesa estratégica dos recursos naturais do país. Cerca de 1,2 bilhão de reais serão aplicados na próxima década para criar polo de produção de pesquisa tecnológica.
O Exército brasileiro quer investir em pesquisa, especialmente no desenvolvimento de novas tecnologias de defesa. Até 2025, cerca de 1,2 bilhão de reais vão construir o Polo de Ciência e Tecnologia do Exército em Guaratiba (Pcteg), Rio de Janeiro. Uma das razões para o investimento é a defesa estratégica dos recursos naturais do país.
O general Sinclair Mayer, Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, destaca que o espaço não vai servir apenas para a formação e pesquisa militar. Assim como ocorre na Escola Superior de Guerra, por exemplo, civis poderão estudar e pesquisar no complexo. "Temos hoje poucos peritos na área de defesa e temos o interesse de formar mais gente", adianta Mayer.
Os benefícios da pesquisa militar se aplicariam a outros campos. "Não se pode fazer um carro de guerra sem antes testar combustíveis", compara. Mas a preocupação com tecnologia não está restrita à produção de material bélico – também está relacionada à posição estratégica do país.
O modelo se assemelha ao usado pelo exército norte-americano, que além do desenvolvimento de armas, investe em áreas como logística, química e saúde.

Defesa de recursos

Para o pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora, Expedito Bastos, o Brasil precisa de investimentos na área de defesa, já que concentra recursos estratégicos privilegiados como grandes reservas minerais, petróleo e água doce. "O mundo tem por hábito buscar essas coisas quando precisa", argumenta o especialista. O general do exército reconhece a possibilidade, mas minimiza os riscos. "Existe preocupação com o futuro, mas a própria estratégia nacional de defesa prevê isso", afirma.
Para Bastos, uma melhora na defesa brasileira ainda não seria o bastante para fazer frente ao poderio militar de grandes potências, mas ajudaria a "diminuir a ânsia de que tentassem fazer alguma coisa contra nós". Outra preocupação é a situação fronteiriça, uma vez que alianças importantes de países vizinhos poderiam oferecer riscos ao Brasil.

Conhecimento centralizado

Os planos do Pcteg são de concentrar órgãos já existentes, como o Instituto Militar de Engenharia (IME) e outros braços técnicos, em um mesmo espaço, no estado do Rio de Janeiro, que já conta com cerca de 20% de toda a estrutura planejada.
O Exército tem parceiros no governo, mas planeja garantir o dinheiro por meio de parcerias público-privadas (PPPs). O primeiro investidor é o Ministério da Educação. O órgão não confirma o montante, mas diz que o investimento vai triplicar o número de vagas do IME.
A concepção do projeto é da década de 1980, quando a área militar de 25 quilômetros quadrados recebeu as primeiras instalações. Por lá já funcionam o Centro Tecnológico e o Centro de Avaliações do Exército. Além do IME, o espaço deve receber ainda o Instituto Militar de Tecnologia (IMT), o Centro de Avaliações do Exército (CAEx), o Centro de Desenvolvimento Industrial (CDI), a Agência de Gestão da Inovação (AGI), o Instituto de Pesquisa Tecnológica Avançada (IPTA), uma Incubadora de Empresas de Defesa (IED), o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro (AGR), uma base administrativa e um batalhão de comando.

Conhecimento desperdiçado

Apesar de aprovar a iniciativa do Exército de investir em tecnologia, o estudioso de assuntos militares não acredita em uma mudança da situação. Ele cita que o Brasil passou por ciclos de investimento e sucateamento dessa força. Em cada uma dessas oportunidades, a descontinuação das pesquisas provocou a perda do conhecimento gerado e anos de trabalho foram perdidos, aponta Bastos. A culpa disso seria o planejamento em curto prazo – a visão para um governo ou dois – e não a montagem de uma estratégia mantida a longo dos anos.
Outra crítica de Bastos é quanto às parcerias internacionais, que trazem tecnologia externa, mas não fazem a transferência do conhecimento prevista nos contratos. Para ele, essa tentativa de troca é inválida se as duas partes não estiverem no mesmo patamar de desenvolvimento. Em casos assim, uma das partes vai ser meramente usuária do recurso. "É o que está acontecendo conosco", avalia.
Para o especialista, a virada depende não apenas de investimentos militares, mas da solução de problemas básicos do país, com educação de qualidade desde a base. Além disso, ele vê com ceticismo a garantia de recursos para a conclusão do projeto, uma vez que o Ministério da Defesa costuma ser penalizado em cada ajuste do orçamento da União. Este ano, a pasta foi a que mais perdeu no ajuste de contas. Dos 18,7 bilhões de reais inicialmente previstos, foram mantidos 14,2 bilhões no orçamento deste ano, incluindo a folha de pagamentos, previdência e a própria manutenção das estruturas já existentes.

domingo, 29 de setembro de 2013

Luta pela água será maior a cada dia, alertam especialistas

Luta contra o desperdício deve estar no topo das prioridades

AFP
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A disputa por água será cada vez maior no mundo, se não forem aplicadas medidas para usar este recurso natural de forma eficiente, alertaram nesta quarta-feira especialistas durante um fórum continental realizado em Campana, 62 km ao norte de Buenos Aires.

"Em diferentes fóruns é analisada como possibilidade que, se houver uma terceira guerra mundial, esta será pela água", declarou à AFP o espanhol Joan Girona, engenheiro agrícola e professor da Universidade de Lleida.

"Enfrentamos o desafio de produzir mais alimentos para mais população, mas com menos água", advertiu Girona.

Se a população mundial crescer até 9 bilhões de pessoas em 2050, como se estima, "será preciso usar mais água, entre 56% e 128% (a mais) da que dispomos agora", disse, no âmbito do fórum do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) na cidade de Campana.

"Se formos capazes de tornar mais eficiente o uso da água, a crise não ocorrerá. Se continuarmos na direção atual, a luta será maior dia a dia", acrescentou.

Acontece que para a elaboração é indispensável o uso de água e em uma medida que surpreende, explicou este especialista.

Para cultivar uma maçã, por exemplo, são necessários 70 litros d'água, que incluem a irrigação.

Para fazer uma xícara de chá, são necessários 140 litros, entre água para cultivo, colheita, transporte e preparo, até a que se usa na fabricação da xícara na qual se bebe.

Se o desperdício for evitado e forem aplicadas tecnologias de irrigação, só no caso da maçã, "o uso de água diminuiria 17 litros", disse Girona.

"Se estamos exportando alimentos, dentro deles há água. Produzir uma tonelada de cereais consome 1.500 metros cúbicos de água", disse à AFP Gertjan Beekman, um engenheiro civil nascido na Holanda, mas que mora no Brasil desde criança.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), presente no fórum como delegado, uma pessoa consome de 2 a 4 litros d'água por dia, mas são necessários entre 2.000 e 5.000 litros para produzir seus alimentos diários.

Beekman lembra que grande parte do território brasileiro, mas também parte de Paraguai, Uruguai e Argentina abrigam o aquífero guarani, uma das maiores reservas de água doce do mundo.

"Não virão aqui (de outras latitudes) por nossa água, mas pelo alimento que a água contém", responde Beekman.

Desperdício de água e de alimentos

Os desafios que Girona e Beekman revelam são analisados por especialistas e ministros da Agricultura de 34 países da América em um luxuoso hotel de campo, em um local simbólico porque se situa na fronteira agrícola, onde está para começar a colheita de soja, que representa 25% das exportações argentinas.

"Desejamos que esta luta pela água seja civilizada, com debates e fóruns. Mas se não se avança na gestão eficiente, haverá muitíssimas mais tensões. E quando começam as tensões, nunca se sabe aonde podem parar", disse Girona.

A encruzilhada é que "não há suficiente água para produzir os alimentos para satisfazer a demanda", disse o especialista espanhol.

Além disso, as mudanças climáticas, devido às emissões de gases de efeito estufa, provoca secas e inundações.

"Acabamos de vê-lo com os desastres meteorológicos no México", comentou Beekman sobre as incomuns tempestades que deixaram 130 mortos na semana passada naquele país.

Claudia Ringler, diretora do Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares, disse no fórum que "há uma contração da região agrícola na América Latina que sofre desmatamento".

Ásia, Oceania e África também estão sob estas ameaças e cerca de 1,6 bilhão de pessoas vivem em regiões com escassez de água, segundo a FAO.

A cada ano são desperdiçadas cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, de acordo com estatísticas do organismo internacional.

O mexicano Víctor Villalobos, reeleito durante a conferência como diretor do IICA por mais quatro anos, também lançou o alerta, ao afirmar que "não será possível assegurar a disponibilidade de alimentos se os sistemas produtivos continuarem atuando como até agora".

Crise na Argentina já afeta turistas

Preços sobem toda a semana e são apenas uma parte da política econômica pouco transparente que o país vem adotando nos últimos tempos
  Cristina Rios
Tomar um café expresso em Buenos Aires pode significar ter de desembolsar 22 pesos, o que equivale a R$ 8, mais que o dobro do que se paga em uma cidade como Curitiba. A diferença mostra como a inflação argentina vem causando estragos e engolindo a vantagem cambial entre o real e o peso, que costumava fazer a farra das compras dos brasileiros há alguns anos. “Os preços sobem toda a semana. As pessoas estão mais pobres”, diz o taxista que faz o percurso entre o aeroporto de Ezeiza e o centro da capital, uma distância de 30 quilômetros, que não sai por menos de 240 pesos.
Segundo dados oficiais, a inflação da Argentina em 2013 será de cerca de 10%, apesar de as estimativas de consultoras privadas apontarem para 25%. A inflação é apenas um dos problemas econômicos da Argentina, envolvida ainda em um processo de reestatização de concessões, aumento de medidas protecionistas, congelamento de preços nos supermercados, controle de dólares e rebaixamento pelas agências de classificação de risco. O país também tenta, pela terceira vez, renegociar sua dívida, de mais de US$ 100 bilhões, fruto da moratória decretada em 2001.
Situação é alerta para o Brasil
Argentina e Brasil guardam algumas semelhanças que preocupam os economistas. Assim como o seu vizinho, o Brasil assiste a uma precarização das suas condições econômicas, com aumento da dívida pública, piora no balanço de pagamentos e inflação mais alta – acima do centro da meta, de 4,5% - além de uma política de maior intervenção do estado na economia. “Mais dos que para os efeitos da relação com a Argentina, o Brasil precisa evitar repetir o caminho do país vizinho. Uma coisa é um gato cair do quinto andar. Outra é um elefante fazer o mesmo”, compara o economista Masimo Della Justina, professor da PUCPR.
Para Roberto Zürcher, analista do departamento econômico da Fiep, o país precisa ficar atento. “Quem gasta mais do que tem um dia vai pagar a conta”, afirma. Ainda assim, a economia brasileira avançou muito desde 2001, quando os efeitos da moratória argentina chegaram a respingar no Brasil, com uma maior desconfiança dos investidores com o país. “Beneficiada pelo dólar favorável às importações, a indústria nacional investiu na compra de maquinário e se modernizou entre 2009 e 2010, o que não ocorreu com a indústria argentina, que permaneceu com um parque mais antigo”, diz.
Para o argentino e professor do departamento de Economia da UFPR, Demian Castro, a Argentina vem de um longo período de dificuldades econômicas e políticas, que produziu um legado, com enfraquecimento da moeda nacional, um questionável processo de privatização e uma inflação alta.
Moratória
Em um processo de reestatização de concessões, aumento de medidas protecionistas, controle de dólares e rebaixamento pelas agências de classificação de risco, a Argentina também tenta, pela terceira vez, renegociar sua dívida, de mais de US$ 100 bilhões, fruto da moratória decretada em 2001.
“A Argentina tem problemas estruturais, provocados pela insegurança fiscal, dificuldades para financiar sua dívida, déficit na balança de pagamentos e um câmbio paralelo que ajuda a impulsionar a inflação. Hoje fazer uma compra no supermercado, que em Curitiba custaria R$ 30, em Buenos Aires sai por R$ 50”, diz Masimo Della Justina, professor de economia da PUCPR.
A complicada situação do vizinho do Sul vem afetando não apenas a vida dos turistas brasileiros na capital portenha. Terceiro destino das exportações brasileiras, a Argentina reduziu em 20,75% as compras de produtos do Brasil em 2012, para US$ 17,99 bilhões. Em 2013, as exportações vem se recuperando, com crescimento de 8,39% de janeiro a agosto, para US$ 13 bilhões. Além de parceiro no comércio exterior, o país concentra duas centenas de filiais de empresas com matriz no Brasil. Parte delas teve os investimentos frustrados no país vizinho. Em junho, a América Latina Logística (ALL) teve de devolver a concessão da sua malha ferroviária de 8 mil quilômetros por conta da reestatização promovida pelo governo de Cristina Kirchner.
A Vale suspendeu, em março, um projeto de extração de potássio em Mendoza, depois de ver seus custos aumentarem agressivamente de US$ 6 bilhões para US$ 11 bilhões. A Deca, do grupo Duratex, fechou as portas da subsidiária que mantinha em Buenos Aires.
Segundo Roberto Zurcher, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), mesmo as empresas argentinas vêm pensando em abandonar o barco no país e transferir operações para o Brasil. “Entre o fim de 2011 e o início de 2012 recebemos vários empresários argentinos interessados em mudar para o Sul do país. E a situação, na época, nem estava tão ruim como agora”, diz.
Risco faz Standard & Poor’s rebaixar nota do país
Um sinal de piora das condições da Argentina veio com a decisão recente da Standard & Poor’s (S&P) de rebaixar os ratings de longo prazo em moeda local e estrangeira da Argentina de B- para CCC+, com perspectiva negativa.
Segundo a agência, a nota foi rebaixada por conta do risco do serviço da dívida, em função da disputa na Justiça dos EUA sobre os bônus que o país não pagou após o calote de 2001.
Os ratings de curto prazo foram rebaixados de B para C, e o de transferência e conversibilidade foi cortado de B- para CCC+. Censura do FMI
Acusado de manipular os dados de inflação, o governo argentino tem até o fim deste mês para elaborar um novo índice para medir o reajuste de preços. Por causa das críticas a esses dados oficiais, o Fundo Monetário Internacional (FMI) impôs em fevereiro uma censura ao país, em um fato inédito na história do organismo.
A entidade multilateral ameaçou o governo de Cristina Kirchner de sancionar o país com a perda do acesso a créditos ou do direito a voto (a Argentina não tem créditos atualmente com o organismo) se não reformasse as estatísticas de inflação antes do final de setembro.
A medida levou o ministro argentino da Economia, Hernán Lorenzino, a se reunir com técnicos do FMI para elaborar um novo índice de preços ao consumidor nacional e urbano (IPC), que deve ser apresentado pelo governo no último trimestre do ano.

Adolescentes montados a cavalo assaltam mulheres em Fortaleza

Quatro jovens em dois cavalos roubaram duas mulheres na sexta-feira (27).
Ação foi filmada por câmaras de segurança na Cidade dos Funcionários.

Do G1 CE
Após assalto, mulher corre em buca de ajuda (Foto: Polícia Civil/Divulgação)Após assalto, mulher corre em buca de ajuda
(Foto: Polícia Civil/Divulgação)
Quatro adolescentes montados a cavalo assaltaram duas mulheres na Cidade dos Funcionários, em Fortaleza. O crime chamou atenção da população e da Polícia Militar pela forma inusitada da abordagem. “Esse tipo de abordagem é uma novidade, as pessoas jamais esperam que alguém possa cometer um crime a cavalo e são pegas desprevenidas”, diz o policial Romério.
O crime foi filmado por câmeras de segurança, cujas imagens são avaliadas pela polícia. O assalto ocorreu na tarde de sexta-feira (27) e teve as imagens divulgadas neste domingo (29). De acordo com policiais militares, os suspeitos parecem ser adolescentes de cerca de 16 anos.
O grupo de quatro pessoas montadas em dois cavalos abordou duas mulheres que haviam feito compras em supermercado. Elas correram para tentar evitar o crime e em seguida foram encurraladas pelo animal. Uma das mulheres teve a bolsa roubada.
A polícia foi acionada por uma testemunha do crime. “Poderia até rir se não fosse tão trágico. Além do susto do assalto ela ainda levou um susto do animal, quando ficou presa contra a parede”, diz a testemunha, que prefere não se identificar. Os policiais fizeram buscas pelos suspeitos, mas ninguém foi preso.
Segundo policiais, pessoas que aparecem nas imagens são adolescentes (Foto: Polícia Civil/Divulgação)Segundo policiais, pessoas que aparecem nas imagens são adolescentes (Foto: Polícia Civil/Divulgação)

Governo volta a elevar IPI de eletrodomésticos e móveis

As novas taxas, informou, passam a vigorar a partir de terça-feira, 1.º de outubro, até 31 de dezembro

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland
Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, a alíquota do IPI para refrigeradores passará de 8,5% para 10% (Zé Carlos Barretta/Folhapress)
O governo anunciou nesta sexta-feira mais um aumento no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodomésticos da linha branca, móveis e painéis de madeira. As alíquotas tinham sido reduzidas em 2009, no auge da crise global, para estimular a indústria, mas o retorno às taxas antigas foi iniciado em junho, parceladamente.
Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, a alíquota do IPI para refrigeradores passará de 8,5% para 10%. A da máquina de lavar será mantida em 10%, a das lavadoras semiautomáticas, conhecidas como tanquinhos, subirá de 4,5% para 5%, e a dos fogões passará de 3% para 4%. Ainda segundo ele, a alíquota do IPI para móveis e painéis de madeira subirá de 3% para 3,5%.
As novas taxas passam a vigorar a partir de terça-feira, 1º de outubro, até 31 de dezembro. "Depois, vamos reavaliar essas alíquotas", disse, após ter se reunido por cerca de duas horas com representantes do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) e da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos).
De acordo com o secretário, o governo resolveu recompor as alíquotas por entender que a economia caminha bem no segundo semestre com vendas, produção e nível de capacidade instalada em recuperação.
(Com Estadão Conteúdo)

sábado, 28 de setembro de 2013

Forças Armadas já contam com 30 militares homossexuais reconhecidos

Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo
O cabo reformado da Marinha João Silva e o companheiro, Claudio (Foto: Arquivo Pessoal)Caso do cabo João (à esquerda) foi um dos que
fizeram a Marinha mudar a norma para reconhecer o
dependente (Foto: Arquivo Pessoal)
Levantamento realizado pelo Ministério da Defesa a pedido do G1 aponta que as Forças Armadas registram ao menos 30 militares gays e lésbicas, que tiveram os cônjuges oficialmente reconhecidos como dependentes, garantindo acesso aos sistemas de saúde, de moradia e previdenciário. Os dados foram contabilizados até o mês de setembro deste ano.

O maior número é registrado na Marinha: são 26 militares, 23 deles apresentaram declaração de união estável e outros três, certidão de casamento. Já o Exército registra três pedidos, enquanto que a Aeronáutica diz que não é possível fazer um levantamento, pois o sistema de registro não faz essa distinção. Pelo menos um caso é confirmado: em abril, a FAB reconheceu como dependente o marido de um sargento homossexual que é controlador de voo no Recife (PE).

A tendência é que, agora, o registro de soldados homossexuais nos quartéis deva aumentar. Isso porque a Marinha já alterou as normas internas, acabando com termos como “mulher” ou “marido” e admitindo os dependentes apenas como “cônjuges”.
O Exército, que teve o 1º homossexual reconhecido após decisão judicial em agosto, começa agora um processo para adequar “todas as normas internas” que tratam de inclusão de dependentes, buscando estender aos casais homossexuais todos os direitos concedidos aos heterossexuais.

Enquanto os manuais estão em adequação, os militares que possuírem uma união homoafetiva não precisarão mais recorrer à Justiça. Os pedidos, garante o Exército, serão reconhecidos administrativamente.
Exército está 'em processo de adequação de todas as normas que regulam a inclusão de dependentes em consequência de união homoafetiva'
Segundo a Marinha, o alto número de registros ocorre devido a uma mudança feita no manual de Declaração de Dependentes e Beneficiários, chamada de DGPM-303. O texto, de 1996, sofreu revisões em outubro de 2011, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de equiparar os direitos de casais do mesmo sexo, e em 2013. A primeira alteração ocorreu após o cabo reformado João Batista Pereira da Silva, de 41 anos, brigar durante dois anos pelo reconhecimento do companheiro, Claudio Nascimento da Silva, de 40 anos. Casados no Rio de Janeiro, eles decidiram que "a Justiça não era o caminho".
Casal pernambuco sargento (Foto: Arquivo Pessoal)Sargento foi o primeiro a obter reconhecimento
da união homoafetiva no Exército
(Foto: Arquivo Pessoal)
“Queríamos que a Marinha mudasse as regras e que outros militares pudessem ser beneficiados sem ter que sofrer o que sofremos. Por isso optamos por brigar internamente, fazer a Marinha mudar, em vez de buscar o meio judicial”, diz Claudio, que é ativista GLBT e superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro.

“O Exército está atrasado. Hoje, os princípios são de igualdade. Não estamos mais no tempo da ditadura. Somos procurados por muitos militares que querem orientação e ficam com medo de preconceito nos quartéis”, acrescenta ele.

João foi marinheiro de gola por mais de 20 anos e diz ter enviado e-mails à Presidência e ao Ministério da Defesa até conseguir o registro do dependente. Com a união estável registrada desde 2010, o casal procurou, pela primeira vez, a Diretoria Geral de Pessoal da Marinha em abril de 2011. Foram vários "não" ouvidos até setembro de 2011, quando a Marinha os comunicou que o cadastro era possível. Contudo, explica João, na época eles já estavam com certidão de casamento e o órgão indeferiu o pedido, alegando que a equiparação de direitos só valia para uniões estáveis – e não para casamentos. Foi só em 24 de agosto do ano passado que os dois foram registrados, enfim, como um casal militar.

“Quando solicitamos a equiparação de direitos à Marinha, um oficial nos disse que éramos loucos, que os militares nunca reconheceriam um casal gay”, relembra Claudio.
Quando solicitamos a equiparação de direitos à Marinha, um oficial nos disse que éramos loucos, que os militares nunca reconheceriam um casal gay"
Claudio Nascimento da Silva,
companheiro de um cabo da Marinha
Mudanças em andamento
No Exército, as mudanças ainda estão em andamento após o Tribunal Regional Federal de Pernambuco determinar que um estudante de 21 anos seja reconhecido como companheiro de um sargento de 40. O praça largou a mulher em 2000, com quem tinha um casamento, por causa da paixão pelo estudante. O processo dele junto ao Comando Militar do Nordeste estava parado desde 2000.

Em primeira instância, um juiz federal negou preliminarmente o pedido de equiparação de direitos – alegou que a legislação em vigor para servidores públicos militares dispõe que a assistência médica só considera como dependente “a mulher” e os filhos do soldado. Já em agosto, o TRF de Pernambuco determinou que o Exército reconheça o casal. A Advocacia Geral da União (AGU) divulgou que não irá recorrer da decisão, mas um recurso sobre o valor a ser pago de custas judiciais adiou a homologação do caso.

“A União ainda não foi notificada e depois começa a correr um prazo de 30 dias até que transite em julgado. A partir de então o Exército terá que cumprir”, diz a advogada do sargento gay, Laurecília Ferraz.

“O Exército é uma instituição legalista, cumpre a lei. A notícia de que eles estão mudando as normas é bem-vinda, vai acelerar o processo de todos os demais. Para nós, é uma vitória este reconhecimento de direitos”, comemora a defensora.

Além do sargento de Recife, outros dois casos foram contabilizados no Exército: um já está regularizado e o outro está com homologação em andamento, mas também será atendido. A Força diz ter “perene compromisso de obediência às leis vigentes”. Já a Marinha diz que agiu “proativamente” na primeira revisão da norma, no sentido de se adequar à decisão do Supremo. A Aeronáutica diz que não faz distinção e que os documentos internos já usam o termo cônjuge.

Vítimas da dependência digital

Com a explosão dos smartphones, cerca de 10% dos brasileiros já são viciados digitais. A medicina aprofunda o estudo do transtorno e anuncia o surgimento de novas opções de tratamento, como a primeira clínica de reabilitação especializada

Monique Oliveira
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"Eu literalmente não sabia o que fazer comigo”, disse um estudante do Reino Unido. “Fiquei me coçando como um viciado porque não podia usar o celular”, contou um americano. “Me senti morto”, desabafou um jovem da Argentina. Esses são alguns dos relatos entre os mil que foram colhidos por pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Eles queriam saber o que sentiam jovens espalhados por dez países, nos cinco continentes, depois de passarem 24 horas longe do computador, dos smartphones e tablets. As descrições, como se viu, são assombrosas. E representam exatamente como sofrem os portadores de um transtorno preocupante que tem avançado pelo mundo: o IAD (Internet Addiction Disorder), sigla em inglês para distúrbio da dependência em internet. Na verdade, o que os entrevistados manifestaram são sintomas de abstinência, no mesmo grau dos apresentados por quem é dependente de drogas ou de jogo, por exemplo, quando privado do objeto de sua compulsão.
Estima-se que 10% dos brasileiros enfrentem o problema. Esse número pode ser ainda maior dada a velocidade com que a internet chega aos lares nacionais. Segundo pesquisa da Navegg, empresa de análises de audiências online, o Brasil registrou o número recorde de 105 milhões de pessoas conectadas no primeiro trimestre deste ano. Dados da Serasa Experian mostram que o brasileiro passa mais tempo no YouTube, no Twitter e no Facebook do que os internautas do Reino Unido e dos EUA. A atividade na rede é impulsionada pela explosão dos smartphones. De acordo com a consultoria Internet Data Corporation, esses aparelhos correspondiam a 41% (5,5 milhões) dos celulares vendidos em março. Em abril, o índice pulou para 49% (5,8 milhões).
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Tantas pessoas usando esses aparelhos está levando ao surgimento de um fenômeno que começa a chamar a atenção dos estudiosos. Trata-se do vício específico em celular e da nomofobia, nome dado ao mal-estar ou ansiedade apresentados por indivíduos quando não estão com seus celulares. No livro “Vivendo Esse Mundo Digital”, do psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas, do Hospital das Clínicas de São Paulo, há uma das primeiras referências ao tema. Nele, estão descritas as consequências dessa dependência. “Os usuários estão se distraindo com facilidade e têm dificuldade de controlar o tempo gasto com o aparelho”, escreveu o especialista. A obra também pontua os sintomas da dependência. O que assusta é que eles são muito parecidos com os manifestados por dependentes de drogas. Um exemplo: quando não está com seu smartphone na mão, o usuário fica irritado, ansioso (leia mais no quadro na pág.67).

No futuro, a adesão aos óculos inteligentes, à venda a partir de 2014, poderá elevar ainda mais o número de dependentes. Esses aparelhos são, na verdade, um computador colocado no campo de visão. Empresas como o Google, por meio de seu Google Glass, apostam alto nessa tecnologia.
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Como todas as dependências descritas pela psiquiatria, a digital não é facilmente reconhecida. Mas, da mesma forma que as outras, pode ser diagnosticada a partir de um critério claro. Ela está instalada quando o indivíduo começa a sofrer prejuízos na sua vida pessoal, social ou profissional por causa do uso excessivo do meio digital. Na vida real, isso significa, por exemplo, brigar com o parceiro/a porque quer ficar online mesmo com a insatisfação do companheiro/a ou cair de produção no trabalho porque não se concentra na tarefa que lhe foi delegada.

A gravidade do problema está levando a uma mobilização mundial em busca de soluções. Uma das frentes – a do reconhecimento médico do transtorno – está em franca discussão. Recentemente, a dependência foi um dos temas que envolveram a publicação da nova versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicação da Associação Americana de Psiquiatria adotada como guia para o diagnóstico das doenças mentais. Na edição final, o vício, não citado em edições anteriores, foi mencionado como um transtorno em ascensão que exige a realização de mais estudos. Muitos especialistas criticaram o manual porque acreditam já ser o distúrbio uma doença com critérios diagnósticos definidos.
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Uma das vozes a defender essa posição é a psiquiatra americana Kimberley Young, reconhecida autoridade na área e responsável, agora, por dirigir uma experiência mundial inédita: a primeira rehab digital, aberta no mês passado. O centro de reabilitação fica na Pensilvânia, como um anexo do Centro Médico Regional de Bradford. O modelo é igual ao de programas de reabilitação de drogas. No local, o indivíduo passará por uma internação de dez dias. O tratamento terá como base a terapia cognitivo-comportamental, cujo objetivo é substituir hábitos nocivos por outros saudáveis, além de sessões em grupo, individuais e intervenção medicamentosa consensual, se necessária, em situações extremas. “Há uma crescente demanda para esse tipo de serviço”, disse Kimberley à ISTOÉ.

Em países como Japão, China e Coreia do Sul, a dependência já é tratada como questão de saúde pública. Programas desses governos foram criados na tentativa de mitigar o problema. O Ministério da Educação japonês lançou um projeto que atenderá 500 mil adolescentes. Além de psicoterapia, a iniciativa definirá áreas ao ar livre nas quais os jovens serão exortados ao convívio social por meio da prática de esportes, com uso restrito às mídias digitais. Na China, o programa é militarizado, o que desperta críticas no Ocidente. “É um tratamento militar, com total restrição à mídia”, diz Rosa Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Psicologia em Informática da PUC-SP, serviço que atende os dependentes por meio de orientações transmitidas por e-mail. Na Coreia do Sul, onde cerca de 30% dos adolescentes são viciados, os jovens passam 12 dias internados.
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 No Brasil, a assistência aos dependentes é feita em serviços vinculados a universidades (leia quadro abaixo). O tratamento se baseia em terapia, intervenção familiar e remédios, se necessário. “Damos atendimento de acordo com o caso”, explica Dartiu Xavier, diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes, da Universidade Federal de São Paulo.

Em Israel, cientistas da Universidade de Tel-Aviv criaram uma terapia de exposição gradual às mídias digitais. É uma tentativa de ajudar o indivíduo a treinar o autocontrole até o ponto no qual seja capaz de acessar a rede e dela sair depois de um tempo curto. A instituição foi uma das primeiras a considerar o vício um transtorno vinculado ao transtorno do impulso, dando uma dimensão da gravidade dos casos. “Essa dependência é um transtorno grave similar aos que vemos, como a obsessão por lavar as mãos”, diz o psiquiatra Pinhas Dannon, da Universidade de Tel-Aviv.

Outro recurso são os aplicativos que controlam a intensidade da navegação na web. É possível bloquear sites como o Facebook por meio de programas (plug-ins) instalados em navegadores como Internet Explorer e Chrome, ou impedir o uso da internet 3G no celular. Também se pode lançar mão de aplicativos como o “AppProtector”, que não permite o uso de aplicativos e de jogos em tablets e celulares.

Nos laboratórios, os cientistas tentam conhecer melhor as causas e repercussões do transtorno. Algumas certezas estão colocadas. “A humanidade está condenada a ficar presa em um modelo de interrupções mentais frequentes e sem se aprofundar em nada”, diz o psicólogo Cristiano de Abreu. Para Peter Whybrow, da Universidade da Califórnia, a internet induz a ciclos de mania, seguidos por ciclos de depressão. “O computador é como a cocaína”, disse à ISTOÉ. “O abuso leva à compulsão.” De fato, pesquisas mostram que o vício digital aciona o sistema cerebral de recompensa, o mesmo estimulado pelas drogas. Quanto mais se cede à compulsão, mais sensação de prazer o cérebro produz. E isso vai até um ponto no qual a pessoa não consegue mais ficar sem essa sensação, tornando-se dependente de seu foco de compulsão.

Também é sabido que adolescentes que apresentem déficit de atenção, fobia social e depressão estão mais propensos a desenvolver o vício. Pesqui­­­sadores da Universidade de Kaohsiung, Taiwan, ana­lisaram a relação entre esses trans­tornos em cerca de 2,3 mil adolescentes. Cerca de 10% dos adolescentes eram dependentes, e todos apresentavam sinais de algum dos transtornos associados (o de déficit de atenção foi o mais prevalente).

Na Alemanha, pesquisadores da Universidade de Bonn descobriram que os dependentes apresentam uma variação genética já identificada naqueles com propensão ao vício da nicotina. “Essa alteração eleva a probabilidade de comportamentos compulsivos”, diz Christian Montag, um dos autores da pesquisa.
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Mais crianças e adolescentes estão sofrendo de dores nas costas e no pescoço por culpa do excesso de horas manuseando consoles de videogames ou jogando em tablets e celulares. A constatação é de cientistas holandeses liderados pelo cirurgião ortopédico Piet van Loon. Em artigo escrito para a principal revista médica da Holanda, a “Medisch Contact”, Van Loon adverte que o vício postural pode originar dores persistentes de coluna, hérnias de disco e alterações como a hipercifose (curvatura anormal para a frente na região do tórax). “Ficar sentado muito tempo em posição errada comprime as cartilagens e discos vertebrais. Pais e escolas precisam ficar atentos”, disse ele à ISTOÉ.
O problema se agrava se for aliado ao sedentarismo. “A prática de esportes e exercícios ajuda a restaurar a boa postura e a prevenir problemas crônicos”, diz o médico Miguel Akkari, membro do Comitê de Ortopedia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Porém, se forem usadas de modo exagerado, versões de games que simulam exercícios e esportes, a exemplo do Wii Fit, Xbox Kinect ou Playstation Move, também podem causar danos. “Há casos de tendinite em pernas e braços por exagero nos gestos em jogos virtuais que dispensam o console e o movimento do jogador é o que comanda a ação”, relata o médico Akkari. Foi o que aconteceu à sua filha Gabriela, 10 anos, que teve mais restrito o acesso aos jogos. “Precisei limitar a uma hora nos fins de semana o uso de plataformas para simular jogos e dança por causa de dores nos joelhos”, diz o especialista.

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 Um estudo feito pela Universidade de Nova York (EUA) já havia alertado para os riscos das diversões eletrônicas em função dos gestos repetitivos que impõem. A comparação entre 257 estudantes com idades entre 9 e 15 anos mostrou que as dores no punho e nos polegares provocadas pelos videogames eram maiores do que os sintomas de quem digitava em smartphones. Observou-se também que as meninas sentiam duas vezes mais dores do que os meninos por causa do envio de mensagens de celular.
Mônica Tarantino
Estima-se que 10% dos brasileiros enfrentem o problema. Esse número pode ser ainda maior dada a velocidade com que a internet chega aos lares nacionais. Segundo pesquisa da Navegg, empresa de análises de audiências online, o Brasil registrou o número recorde de 105 milhões de pessoas conectadas no primeiro trimestre deste ano. Dados da Serasa Experian mostram que o brasileiro passa mais tempo no YouTube, no Twitter e no Facebook do que os internautas do Reino Unido e dos EUA. A atividade na rede é impulsionada pela explosão dos smartphones. De acordo com a consultoria Internet Data Corporation, esses aparelhos correspondiam a 41% (5,5 milhões) dos celulares vendidos em março. Em abril, o índice pulou para 49% (5,8 milhões).
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Tantas pessoas usando esses aparelhos está levando ao surgimento de um fenômeno que começa a chamar a atenção dos estudiosos. Trata-se do vício específico em celular e da nomofobia, nome dado ao mal-estar ou ansiedade apresentados por indivíduos quando não estão com seus celulares. No livro “Vivendo Esse Mundo Digital”, do psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas, do Hospital das Clínicas de São Paulo, há uma das primeiras referências ao tema. Nele, estão descritas as consequências dessa dependência. “Os usuários estão se distraindo com facilidade e têm dificuldade de controlar o tempo gasto com o aparelho”, escreveu o especialista. A obra também pontua os sintomas da dependência. O que assusta é que eles são muito parecidos com os manifestados por dependentes de drogas. Um exemplo: quando não está com seu smartphone na mão, o usuário fica irritado, ansioso (leia mais no quadro na pág.67).

No futuro, a adesão aos óculos inteligentes, à venda a partir de 2014, poderá elevar ainda mais o número de dependentes. Esses aparelhos são, na verdade, um computador colocado no campo de visão. Empresas como o Google, por meio de seu Google Glass, apostam alto nessa tecnologia.
Como todas as dependências descritas pela psiquiatria, a digital não é facilmente reconhecida. Mas, da mesma forma que as outras, pode ser diagnosticada a partir de um critério claro. Ela está instalada quando o indivíduo começa a sofrer prejuízos na sua vida pessoal, social ou profissional por causa do uso excessivo do meio digital. Na vida real, isso significa, por exemplo, brigar com o parceiro/a porque quer ficar online mesmo com a insatisfação do companheiro/a ou cair de produção no trabalho porque não se concentra na tarefa que lhe foi delegada.

A gravidade do problema está levando a uma mobilização mundial em busca de soluções. Uma das frentes – a do reconhecimento médico do transtorno – está em franca discussão. Recentemente, a dependência foi um dos temas que envolveram a publicação da nova versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicação da Associação Americana de Psiquiatria adotada como guia para o diagnóstico das doenças mentais. Na edição final, o vício, não citado em edições anteriores, foi mencionado como um transtorno em ascensão que exige a realização de mais estudos. Muitos especialistas criticaram o manual porque acreditam já ser o distúrbio uma doença com critérios diagnósticos definidos.
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Uma das vozes a defender essa posição é a psiquiatra americana Kimberley Young, reconhecida autoridade na área e responsável, agora, por dirigir uma experiência mundial inédita: a primeira rehab digital, aberta no mês passado. O centro de reabilitação fica na Pensilvânia, como um anexo do Centro Médico Regional de Bradford. O modelo é igual ao de programas de reabilitação de drogas. No local, o indivíduo passará por uma internação de dez dias. O tratamento terá como base a terapia cognitivo-comportamental, cujo objetivo é substituir hábitos nocivos por outros saudáveis, além de sessões em grupo, individuais e intervenção medicamentosa consensual, se necessária, em situações extremas. “Há uma crescente demanda para esse tipo de serviço”, disse Kimberley à ISTOÉ.

Em países como Japão, China e Coreia do Sul, a dependência já é tratada como questão de saúde pública. Programas desses governos foram criados na tentativa de mitigar o problema. O Ministério da Educação japonês lançou um projeto que atenderá 500 mil adolescentes. Além de psicoterapia, a iniciativa definirá áreas ao ar livre nas quais os jovens serão exortados ao convívio social por meio da prática de esportes, com uso restrito às mídias digitais. Na China, o programa é militarizado, o que desperta críticas no Ocidente. “É um tratamento militar, com total restrição à mídia”, diz Rosa Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Psicologia em Informática da PUC-SP, serviço que atende os dependentes por meio de orientações transmitidas por e-mail. Na Coreia do Sul, onde cerca de 30% dos adolescentes são viciados, os jovens passam 12 dias internados.

No Brasil, a assistência aos dependentes é feita em serviços vinculados a universidades (leia quadro abaixo). O tratamento se baseia em terapia, intervenção familiar e remédios, se necessário. “Damos atendimento de acordo com o caso”, explica Dartiu Xavier, diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes, da Universidade Federal de São Paulo.
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Em Israel, cientistas da Universidade de Tel-Aviv criaram uma terapia de exposição gradual às mídias digitais. É uma tentativa de ajudar o indivíduo a treinar o autocontrole até o ponto no qual seja capaz de acessar a rede e dela sair depois de um tempo curto. A instituição foi uma das primeiras a considerar o vício um transtorno vinculado ao transtorno do impulso, dando uma dimensão da gravidade dos casos. “Essa dependência é um transtorno grave similar aos que vemos, como a obsessão por lavar as mãos”, diz o psiquiatra Pinhas Dannon, da Universidade de Tel-Aviv.

Outro recurso são os aplicativos que controlam a intensidade da navegação na web. É possível bloquear sites como o Facebook por meio de programas (plug-ins) instalados em navegadores como Internet Explorer e Chrome, ou impedir o uso da internet 3G no celular. Também se pode lançar mão de aplicativos como o “AppProtector”, que não permite o uso de aplicativos e de jogos em tablets e celulares.

Nos laboratórios, os cientistas tentam conhecer melhor as causas e repercussões do transtorno. Algumas certezas estão colocadas. “A humanidade está condenada a ficar presa em um modelo de interrupções mentais frequentes e sem se aprofundar em nada”, diz o psicólogo Cristiano de Abreu. Para Peter Whybrow, da Universidade da Califórnia, a internet induz a ciclos de mania, seguidos por ciclos de depressão. “O computador é como a cocaína”, disse à ISTOÉ. “O abuso leva à compulsão.” De fato, pesquisas mostram que o vício digital aciona o sistema cerebral de recompensa, o mesmo estimulado pelas drogas. Quanto mais se cede à compulsão, mais sensação de prazer o cérebro produz. E isso vai até um ponto no qual a pessoa não consegue mais ficar sem essa sensação, tornando-se dependente de seu foco de compulsão.

Também é sabido que adolescentes que apresentem déficit de atenção, fobia social e depressão estão mais propensos a desenvolver o vício. Pesqui­­­sadores da Universidade de Kaohsiung, Taiwan, ana­lisaram a relação entre esses trans­tornos em cerca de 2,3 mil adolescentes. Cerca de 10% dos adolescentes eram dependentes, e todos apresentavam sinais de algum dos transtornos associados (o de déficit de atenção foi o mais prevalente).

Na Alemanha, pesquisadores da Universidade de Bonn descobriram que os dependentes apresentam uma variação genética já identificada naqueles com propensão ao vício da nicotina. “Essa alteração eleva a probabilidade de comportamentos compulsivos”, diz Christian Montag, um dos autores da pesquisa.
Fonte: Miguel Akkari, do Comitê do Ortopedia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)
Fonte: Grupo de Dependências Tecnológicas do Programa Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
fotos: Gabriel Chiarastelli; divulgação
fotos: Rafael Hupsel/ag. istoé; Pedro Dias/ag. istoé
Fontes: Kimberley Young (Centro Médico Regional de Bradford) e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo
foto: Vinicius Yamada

Poder, sexo e corrupção

Como um doleiro e cinco beldades ambiciosas se juntaram a prefeitos e parlamentares para desviar recursos dos fundos de pensão

Josie Jeronimo
Com 11 homens e cinco loiras, em menos de dois anos uma quadrilha em atividade em sete  Estados brasileiros desviou R$ 300 milhões de institutos de previdência complementar de servidores municipais. Convencido de que a oferta de beleza feminina poderia ser usada como um argumento irresistível para seduzir prefeitos, que têm o direito legal de movimentar, com uma assinatura, as milionárias reservas que garantem a aposentadoria complementar de funcionários públicos, o doleiro Fayed Traboulsi foi à luta por um mercado próspero e seguro.
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BOA DE LÁBIA
Após conversa com parentes do prefeito Maguito Vilela  (acima),
a “pastinha” Luciane Hoepers (abaixo) arrebatou R$ 9 milhões
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Constituído por arquitetos financeiros, investidores e simples oportunistas, o grupo abusava de uma estratégia clássica – a cruzada de pernas em ambiente de trabalho – para conquistar mais clientes e fechar novos contratos. A quadrilha foi apanhada pela Polícia Federal na Operação Miqueias, assim chamada em homenagem a um profeta bíblico do século VII a.C., conhecido por ter deixado uma maldição que atravessou 2.700 anos: “Ai daqueles que tramam o mal em suas camas”. Em relatório, a PF descreve as aventuras de Luciane Hoepers, Isabela Helena, Fernanda Cardoso, Cynthia Cabral e Alline Olivier em Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia e Tocantins.
Lindas e bem ensaiadas, as moças conhecidas como “pastinhas” eram encarregadas de uma  missão decisiva de toda negociação: o primeiro contato. Marcavam visitas em gabinete, aceitavam convites para almoçar e jantar. Não saíam de perto até que os contratos fossem assinados. A polícia não faz relatos explícitos sobre o que ocorria antes, durante e depois dos primeiros contatos. Deixa tudo para a imaginação de cada um.
Loira, olhos azuis, com tatuagens provocantes num corpo de 1,75 m esculpido em academias de ginástica, Luciane Hoepers, 33 anos, foi a pioneira na atividade. Seu potencial para o negócio foi intuído pelo doleiro Traboulsi e confirmado várias vezes. Num bem-humorado depoimento prestado à polícia, na semana passada, Luciane admitiu que, entre dez prefeitos seduzidos, engatou namoro firme com pelo menos um.
Ambiciosa e desembaraçada  – numa experiência profissional anterior animava programas de auditório –, Luciane  trouxe resultados com tanta rapidez que a equipe feminina logo foi ampliada. Uma das moças, Fernanda Cardoso, agia em encontros de prefeitos na capital federal. Garota-propaganda de academia, Cynthia Cabral, 31 anos, disputava fundos de pensão (e atenções dos prefeitos)  em cidades menores nas vizinhanças de Brasília. Mas nenhuma acumulou tantas proezas como Luciane, especialista em grandes transações. Apenas 72 horas depois de receber Luciane em audiência, em Cuiabá, o prefeito Chico Galindo registrou pedido para transferir R$ 21 milhões para os fundos gerenciados pela quadrilha. Após uma conversa iniciada com dois parentes do prefeito Maguito Vilela, de Aparecida de Goiânia, ela arrebatou R$ 9 milhões, operação que, conforme a Polícia, gerou prejuízo de R$ 1,4 milhão. Antes de se dedicar aos fundos de pensão e de ter sido presa pela PF por participar do esquema, Luciane foi sócia de uma empresa que fornecia material gráfico para prefeituras de Santa Catarina, seu Estado natal. Acusada de apresentar notas superfaturadas, foi afastada da empresa pela antiga sócia.
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A mobilização de moças bonitas para dobrar homens públicos é um recurso comum. Quando Brasília debatia a legalização do jogo, sete modelos esculturais recebiam R$ 22 mil mensais para desfilar pelo Congresso e puxar conversa com parlamentares. Hoje, empresas de telefonia, marcas de refrigerante e mineradores investem nesse tipo de auxílio direto. Mas as moças dos fundos de pensão tinham um charme especial: não ficavam de bico calado nas reuniões. Eram treinadas para  argumentar em tom profissional sobre opções financeiras, responder perguntas técnicas e comparar rendimentos dos concorrentes, a começar pela Caixa Econômica e pelo Banco do Brasil, maiores reservatórios dos depósitos dos fundos de pensão do setor público, conhecidos por manter uma postura prudente nos investimentos. A combinação daqueles corpos espetaculares  – depois que o caso foi parar nos jornais, Luciana Hoepers aguarda convites para fotos em revistas masculinas – com uma conversa em torno de milhões de reais deixava os prefeitos boquiabertos e vencidos. “Todo mundo oferece benefícios para atrair um cliente que possui recursos milionários. Mas o padrão é oferecer vantagens, e não mulheres bonitas,” afirma um executivo da Caixa.
Para desvendar os segredos da quadrilha, a Polícia Federal escalou a delegada Andréia Pinho para conduzir as investigações. Andréia logo viu que  o esquema gerou prejuízos ao pensionistas e ganhos incríveis para a quadrilha. Os ganhos maiores não ficavam com a mão de obra feminina, mas mesmo esta era bem remunerada. Costumava receber entre 2% e 5% dos ganhos permitidos por cada negócio. O bando comprou uma dezena de carros de luxo, no valor de R$ 500 mil cada um. Também adquiriu um iate de R$ 5 milhões. No plano pessoal, as companhias femininas abalaram o casamento de pelo menos um parlamentar.
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Ministro da Agricultura determina afastamento de diretor da Conab

Silvio Porto é suspeito de envolvimento com quadrilha que desviava recursos do Fome Zero; Porto ficará fora do cargo até a conclusão das investigações

Hugo Marques, de Brasília
Silvio Porto, diretor de Política Agrícola e Informações da Conab
Porto ficará afastado até o fim das investigações (Elza Fiúza/ABr)
O ministro da Agricultura, Antonio Andrade, determinou nesta sexta-feira o afastamento temporário do diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto. Ele ficará fora do cargo até a conclusão das investigações sobre um esquema de corrupção desmontado nesta semana Polícia Federal (PF). Porto, vinculado ao PT, é suspeito de envolvimento com uma quadrilha que desviava recursos do Fome Zero. A decisão foi tomada em uma reunião entre o ministro e o presidente da Conab, Rubens Rodrigues dos Santos.
A Operação Agro-Fantasma, como o próprio nome diz, detectou que o Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA, é em grande parte uma simulação de produção e de entrega de alimentos. Os produtos não existem, compradores e vendedores não existem, mas o dinheiro existe. Para desviar os recursos públicos, a Conab autorizava repasses para associações e cooperativas rurais, o grande público que vota no PT no campo, utilizando nomes de produtores rurais e notas fiscais frias e superfaturadas.
“A Conab sabia das irregularidades e fazia relatórios falsos para continuar distribuindo dinheiro do programa”, diz o delegado Maurício Todeschini, que coordenou a operação. “Os coordenadores do programa nos municípios eram os principais responsáveis pelos desvios, com a conivência da Conab no acobertamento das irregularidades”.
Um batalhão de 200 policiais cumpriu 92 mandados no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul para recolher documentos, prender onze pessoas e indiciar 58 envolvidos com as fraudes. Assim que os agentes encerraram a operação, começaram a receber denúncias de desvios envolvendo a Conab em Sergipe e na Bahia. Silvio Porto não foi preso, mas teve de ir à Superintendência da PF em Brasília para dar explicações. Na ocasião, alegou que não tinha tido acesso às investigações que posteriormente daria satisfações.
Há dez anos, o presidente Lula lançou o PAA, um dos braços do programa Fome Zero para levar alimentos às comunidades pobres. Os produtos são comprados pela Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, e doados a entidades assistenciais, restaurantes populares, bancos de alimentos e cozinhas comunitárias. Lula escolheu pessoalmente, em janeiro de 2003, o principal responsável pelos programas sociais da Conab, o diretor Silvio Porto.
Petista do Rio Grande do Sul, homem de confiança da presidente Dilma Rousseff e do ministro Gilberto Carvalho, Silvio administrava mais de 1 bilhão de reais por ano em compras que são feitas sem licitação e quase sem nenhum controle. O PAA ajudou na escolha de José Graziano da Silva para a diretoria-geral da FAO, a agência da ONU para agricultura e alimentação. O programa também serviu para neutralizar a ação de muitos movimentos sociais, pois os sem-terra estão entre os beneficiários, seja recebendo comida enquanto acampados ou vendendo ao governo quando assentados.
Investigação – A operação deflagrada pela Polícia Federal na semana passada mostrou que boa parte do dinheiro do programa foi desviada. Os investigadores que acompanharam a ação acreditam que as fraudes tenham surrupiado mais de 30% de todo o dinheiro do programa, que movimentou 5 bilhões de reais em dez anos.
A PF fez um trabalho detalhado em quinze municípios paranaenses e outros dois municípios de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Os agentes visitaram as propriedades que supostamente teriam sido beneficiadas com uma boa parcela dos bilhões administrados por Silvio Porto. Há o caso de um pequeno pecuarista que teria vendido grande quantidade de leite para a Conab. Quando os policiais chegaram lá, o pecuarista desmentiu que tenha vendido leite para o órgão e disse que tem apenas um boi, um bezerro e uma vaca que há muito tempo não dá leite.
Há o caso também de outro agricultor que a Conab diz ter comprado produtos. O agricultor ficou preocupado com a versão dos agentes e pediu que não alardeassem que ele tinha tanta produção em sua propriedade, com medo de sua mulher desconfiar que fosse rico e tivesse outra propriedade e outra família. “O agricultor disse que não tinha comida nem para botar na mesa para a família e a Conab insistia que ele vendia sua produção para o governo”, diz um dos investigadores.
A PF conseguiu localizar a assinatura de Silvio Porto em negócios autorizados com associações reincidentes nas fraudes.
Confiança – Silvio Porto goza de tanta confiança das autoridades do governo que não perdeu o cargo na semana passada, quando a Conab afastou outros sete funcionários envolvidos com as fraudes. Mas foi indiciado nos crimes de peculato culposo, prevaricação, formação de quadrilha e estelionato. E só ele poderá dar explicações, pois Porto tinha total controle sobre sua área na Conab.
Como diretor de Política Agrícola e Informações, Porto tinha a função de planejar, coordenar e acompanhar as políticas ligadas à agricultura familiar, tecnologia da informação, informações agrícolas de abastecimento, análise de mercado, geração de estudos agrícolas e formação de estoques.
A Conab tem um presidente e quatro diretores, mas Porto quase nunca dava satisfações ao colegiado sobre sua área específica. O poder dele na Conab é tão grande que ao longo da semana vários servidores do órgão foram proibidos de falar sobre a operação.
A Conab já foi alvo de inúmeros escândalos. No último, em 2011, o diretor Oscar Jucá, irmão do líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR), denunciou que a companhia era fatiada por PMDB e PTB e que havia esquema de corrupção na Conab. “Ali só tem bandido”, disse Oscar Jucá. Mas o que não se sabia ainda é que a fatia controlada pelo PT na Conab é talvez a que mais desvia dinheiro público.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

'Fogo está extinto', afirma comandante do Corpo de Bombeiros

Foram quase 60 horas de trabalho das equipes em São Francisco do Sul.
Incêndio químico no depósito começou no final da noite de terça-feira (24).

Cristiano Anunciação Do G1 SC
Incêndio químico foi controlado por volta das 8h de sexta (27) (Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina/Divulgação)Com o céu visível, bombeiro observa centro do galpão onde ocorreu o incêncio químico em empresa de fertilizantes (Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina/Divulgação)
O comandante do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, coronel Marcos de Oliveira, informou que o incêndio químico em São Francisco do Sul, na região Norte do estado, foi controlado por volta das 8h desta sexta-feira (27). "Missão Cumprida. O fogo está extinto", disse, após quase 60 horas do início do incidente. No entanto, os bombeiros ainda trabalham no controle da fumaça resultante do processo de resfriamento do local.
"Não há mais risco. O que estamos fazendo agora é encharcar o material com jatos de água. A pouca fumaça que sai é vapor d'água por causa da alta temperatura do material. Após esse processo, vamos trabalhar na remoção dos resíduos, que deve durar mais alguns dias", explicou Oliveira. A previsão era de que as chamas fossem controladas até as 12h desta sexta (27).
Ainda de acordo com o comandante, o uso de uma câmera térmica estava tornando o trabalho mais eficiente. Ele explicou que o equipamento permitiu identificar com precisão os focos de calor no interior do galpão onde está depositada a carga de 10 mil toneladas de fertilizantes. Segundo um levantamento preliminar, o volume de água utilizado ultrapassou a marca de um milhão de litros.
Galpão atingido por incêndio químico após controle do fogo pelos bombeiros na manhã desta sexta (27) (Foto: Lisandra Oliveira/RBS TV)Galpão atingido por incêndio químico após controle
do fogo pelos bombeiros na manhã desta sexta
(Foto: Lisandra Oliveira/RBS TV)
O incêndio químico no depósito de fertilizantes começou no final da noite de terça (24). Pelo menos 157 pessoas foram hospitalizadas após inalarem a fumaça. Um bombeiro que deu entrada no Hospital Regional de Joinville na tarde de quarta (25) continua internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em estado grave. Segundo o Hospital, até as 8h desta sexta (27), David Marcelino, de 59 anos, ainda respirava com ajuda de aparelhos.
Bairros evacuados
A Prefeitura de São Francisco do Sul informou na tarde de quinta (26) que pelo menos 20% da população de 47,5 mil habitantes deixou a cidade após o início do incêndio. Este número deve ter aumentado consideravelmente até o início da manhã desta sexta (27), conforme informações da assessoria do governo municipal. Isto porque entre a tarde e a noite de quinta (26), o vento passou a oscilar bastante e atingiu pelo menos 13 bairros.
Vento
Incêndio durou quase 60 horas em São Francisco do Sul (Foto: Emanuel Soares/CBN)Incêndio durou quase 60 horas em São Francisco
do Sul (Foto: Emanuel Soares/CBN)
De acordo com o meteorologista Leandro Puchalski, o ciclone que mantinha a força do vento nos últimos dias e ditava a direção predominante já está afastado do continente. "O vento acalmou e a fumaça pouco se afastou da cidade fazendo com que muitos bairros tivessem problemas. Nesta sexta (27), o vento é calmo e, por isso, a fumaça, que já é pouca, não deverá sair muito da região", afirmou.
A direção do vento é no sentido sudeste/leste e ao longo do dia pode levar esta fumaça para dentro do continente em direção ao Norte do estado, como Joinville, Garuva, Campo Alegre e algumas cidades do Paraná. "O vento calmo não deverá levar esta fumaça para muito longe de São Francisco do Sul", acrescentou o meteorologista.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Trabalho dos bombeiros deve seguir até sexta-feira em São Francisco do Sul

Fumaça do incêndio avança nesta quinta-feira e chega na Ilha do Mel, no Paraná


Trabalho dos bombeiros deve seguir até sexta-feira em São Francisco do Sul Leandro Junges/Agência RBS
Fumaça densa continua em São Francisco do Sul na manhã desta quinta-feira Foto: Leandro Junges / Agência RBS
A operação do Corpo de Bombeiros para controlar a fumaça causada pela explosão de uma carga de fertilizantes à base de nitrato de amônio na noite da terça-feira, dia 24, em São Francisco do Sul, Norte de Santa Catarina, deve seguir até sexta-feira.

— O grande problema ainda é a produção de fumaça que atrapalha o combate e faz com que a população tenha que ficar 800 metros distante do local do acidente — disse o Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar de SC, Marcos de Oliveira.

Na manhã desta quinta-feira o helicóptero Águia da Polícia Militar fez um sobrevoo na região e constatou que a fumaça avançava em uma coluna em direção para Itapoá e chegava até a Ilha do Mel, Litoral do Paraná. Informações preliminares dão conta de quem a coluna de fumaça seja de 10 quilômetros de extensão.

No começo da manhã, o vento chegou a levar a fumaça para as praias do Capri e Ubatuba. A previsão indica que a fumaça possa chegar até o Litoral Sul de São Paulo.


Bombeiros trabalharam durante a madrugada de quinta
Foto: Corpo de Bombeiros de SC/Divulgação

Nesta quinta, os cerca de 200 bombeiros que trabalharam durante a madrugada no combate do incêndio, devem ter o reforço de um equipamento para fazer a retirada do material. Pela manhã as paredes dos galpões foram derrubadas.

Uma máquina com uma concha irá empurrar por vez 6 toneladas de material para fora do terminal. Esta é uma das quatro etapas da estratégia montada na quarta-feira pelo Corpo de Bombeiros.

De acordo com o comandante, a prioridade é a criação de uma barreira de contêiners como forma de direcionar o vento para que a fumaça não atinja os profissionais que estão tralhando no local, como medida de segurança; lançar água no local para que a temperatura não suba e cause risco de explosão; usar máquinas pesadas mais potentes para a remoção das dez mil toneladas de fertilizantes e a construção de um tanque para depositar a água utilizada no combate ao incêndio, já que é um produto que pode contaminar o solo e a água.

A Prefeitura de São Francisco do Sul decretou Situação de Emergência na quarta-feira, dia 25. A decisão tem como objetivo reforçar as ações de resposta ao desastre e à realização de campanhas de arrecadação de recursos, junto à comunidade, com o objetivo de facilitar as ações de assistência à população afetada pelo desastre.

TCU manda suspender supersalários do Senado

Tribunal também determinou 464 servidores devolvam os valores pagos acima do limite determinado por lei

Plenário do Senado durante sessão deliberativa
Auditoria do TCU apontou 464 servidores do Senado com supersalários (Arthur Monteiro/Agência Senado)
O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou, nesta quarta-feira, que o Senado interrompa o pagamento de salários acima do teto constitucional (28 059,29 reais) e que servidores devolvam as quantias recebidas a mais nos últimos cinco anos – cerca de 200 milhões de reais, no total. Segundo a Agência Brasil, os servidores podem recorrer da decisão ao próprio TCU. Caso o recurso seja negado, eles ainda podem apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Uma auditoria realizada pelo TCU identificou que 464 servidores do Senado recebem salários acima do teto, que é estabelecido de acordo com os vencimentos dos ministros do STF.
“O Brasil precisava fazer isso há muito tempo. Não podemos continuar com salários diferenciados, pessoas ganhando salários de marajás e pessoas recebendo salário mínimo”, disse o presidente do TCU, ministro Augusto Nardes, acrescentando que levará a decisão para o presidente do Senado, Renan Calheiros, na manhã desta quinta-feira.
O relator da matéria, ministro Raimundo Carreiro, chegou a defender que os valores a mais foram recebidos de boa-fé e, portanto, não precisariam ser devolvidos pelos servidores. No entanto, a maioria dos ministros acompanhou o posicionamento do ministro Walton Alencar, que argumentou que os pagamentos eram irregulares e, por isso, teriam de ser devolvidos aos cofres públicos.
Câmara – A mesma decisão foi tomada pelo TCU no dia 14 de agosto com relação aos servidores da Câmara dos Deputados. A diferença é que não houve determinação para que os valores pagos a mais fossem devolvidos. Uma auditoria identificou na folha de pagamentos da Casa 1 100 funcionários recebendo salários acima do teto do funcionalismo.
Segundo Nardes, a estimativa de economia com os salários que deixarão de ser pagos na Câmara e no Senado é 3,3 bilhões de reais em cinco anos.

Após 30 horas, bombeiros preveem mais um dia para combater fumaça

Equipes já utilizaram 200 mil litros de água para tentar conter o incêndio.
Pelo menos 121 pessoas foram atendidas com sintomas de intoxicação.

Do G1 SC
Moradores com máscaras observam fumaça em São Francisco do Sul (Foto: Emanuel Soares/CBN)Moradores observavam fumaça na manhã desta quinta (Foto: Emanuel Soares/CBN)
A fumaça que encobre o céu de São Francisco do Sul, na região Norte de Santa Catarina, dura mais de 30 horas. Segundo o Corpo de Bombeiros, a previsão é que a fumaça seja controlada em até pelo menos mais um dia, o que deve ocorrer na sexta-feira (27). Até a manhã desta quinta (26), as equipes haviam utilizado cerca de 200 mil litros de água para tentar conter as chamas no armazém de fertilizantes, mas o incêndio químico continua.
O armazém de fertilizantes pegou fogo no final da noite desta terça-feira (24) na BR-280, em São Francisco do Sul, e moradores de pelo menos seis bairros precisaram deixar as casas. Segundo os Bombeiros Voluntários, o incêndio começou por volta das 23h, resultando em uma fumaça alaranjada que, se inalada, causa irritação nas mucosas.
Mapa Incêncio São Francisco do Sul (Foto: Editoria de Arte/G1)
No local, há 10 mil toneladas do material. O material está sendo retirado e transportado por caminhões da prefeitura para um pátio. "A gente continua inundando aquela quantidade de material com água para garantir que a temperatura fique baixa. O objetivo é chegar no ponto central do incêndio. Aí, nós vamos introduzir uma mangueira com um tipo de esguicho metálico dentro da estrutura para inundar internamente, baixando a temperatura e extinguindo de forma definitiva o incêndio. O problema ainda é a grande produção de fumaça", explicou o coronel Marcos de Oliveira, comandante-geral do Corpo de Bombeiros.
De acordo com o secretário de Estado da Defesa Civil, Milton Hobus, a fumaça é considerada tóxica e, por isso, a região próxima ao local precisou ser evacuada. Cerca de 800 pessoas foram para abrigos ou casas de parentes e amigos. Pelo menos 121 pessoas foram atendidas com sintomas de intoxicação.
Secretaria Municipal de Meio Ambiente de São Francisco do Sul construiu uma piscina de, aproximadamente, 100 metros de comprimento e 44 metros de largura para colocar toda a água utilizada no processo de resfriamento e que é retirada do local.
Situação de emergência
Na tarde de quarta (25), Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina, decretou situação de emergência no município do Norte catarinense em função do incêndio na carga de fertilizante. Segundo os bombeiros, as causas do incêndio ainda são desconhecidas e serão apuradas assim que a fumaça for controlada, por meio de uma perícia.
Fumaça em outros estados
A meteorologista Josélia Pegorim, do Clima Tempo, destacou que há um ciclone extratopical ao longo da costa Sul-Sudeste do Brasil, que está provocando ventos fortes na direção Sudoeste-Sul. “Essa direção de ventos é favorável a levar a fumaça em direção ao litoral do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. A previsão é que essa direção de ventos permaneça por pelo menos 24 horas. Como há ventos de até forte intensidade, a fumaça se dispersa, um pouco. A fumaça pode chegar a essas regiões, mas não com a concentração que está em Santa Catarina”, explica a meteorologista.

Açudes estão com 30,5% da capacidade-Ce

Apenas um dos 19 reservatórios da Região Metropolitana de Fortaleza possui volume considerado bom
Símbolo de resistência à seca, o mandacaru dá sinais de que está perdendo a luta contra a pior estiagem enfrentada pelo cearense nos últimos 50 anos. A falta de chuvas prolongada castiga não só o sertão, mas chega muito perto da Capital. Basta percorrer os municípios da Região Metropolitana de Fortaleza e Maciço de Baturité para perceber os estragos causados e os impactos sobre as comunidades não só da sede, mas, principalmente dos distritos. Poços e pequenos reservatórios secaram e os açudes da Bacia Metropolitana estão com 30,5% de sua capacidade. Os dados são da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) que, em parceria com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), monitora 139 açudes no Ceará.

O Açude Amanary, em Maranguape, tem uma das piores situações: 8,7% de armazenamento. No distrito de São João do Amanari, é comum observar carros-pipas e pessoas com baldes e latas nas mãos em busca de água Foto: José Leomar

Dos 19 reservatórios, apenas o Gavião, em Pacatuba, está com 93,4% de seu volume total. O restante possui menos de 50% de água. Na pior situação, o Penedo, em Maranguape, com apenas 2,47% de armazenamento; o Amanary, no mesmo município, com 8,7% e o Pompeu Sobrinho, em Choró, com 14,16%. Também em situação preocupante, o Pesqueiro, em Capistrano, com 20,3% de volume; o Castro, em Itapiúna, com 20,9% e o Sítios Novos, em Caucaia, com 29,79% de água.

No cenário de escassez, observar carros-pipas e pessoas quase desesperadas com baldes e latas nas mãos em busca de água é panorama comum. No distrito de São João do Amanari, em Maranguape, o casal Valcenir Viana e Antônia Daiane Lima faz o que pode para sobreviver com um pouco de água no dia a dia. Eles moram quase às margens do Açude Amanary, que está praticamente seco.

"A água que sobrou é esverdeada e com mau-cheiro e não podemos usar para beber ou cozinhar. Para isso, a gente vai até um cacimbão comunitário mais adiante para encher dois baldes por dia", conta Valcenir, olhando o reservatório. "Quando cheguei aqui, uns anos passados, isso era pra mim uma imensidão de água e achava que nunca iria acabar, mas tá acabando", lamenta o vaqueiro.

Abastecimento

Na sede do distrito, a dona de casa Celeste Soares conta que o abastecimento também está comprometido. "Temos água nas torneiras, mas isso só de três em três dias. A luta por água aqui é grande. Muitos já perderam gado com essa estiagem dos diabos", afirma.

Em Penedo, cisternas de mil litros estão espalhadas pelas ruas do distrito. Elas são abastecidas pelos carros-pipa que percorrem as cidadezinhas, levando um pouco de alento para os moradores. "Aqui é assim, quando a água chega é uma correria danada. Tem vez que falta por dias e dias. É muito sofrimento", lastima o comerciante Francisco Soares, enquanto enche duas latas de água e segue para casa. Ele mora com esposa, filhos e neto e garante que nunca passou por tempo pior. "É de fazer chorar", reafirma.

Nas proximidades do Açude Penedo, moradores cavam um poço profundo. Até agora, muito barro e lama. "Vamos continuar cavando", afirmam.

O assessor de Desenvolvimento Rural da Associação dos Prefeitos do Estado do Ceará (Aprece), Nicolas Fabri, aponta que uma das dificuldades dos municípios da RMF é que eles não são enquadrados como semiárido, um dos critérios para entrar no Programa das Cisternas, do governo federal.

"Nesses casos, os prefeitos estão colocando reservatórios da maneira que podem no meio da rua e de praças dessas localidades para assegurar o abastecimento", informa.

Para ele, os açudes com 30% de capacidade ainda não é de entrar em desespero. "Somente aqueles como o Penedo ou Amanary, quase secos totalmente, trazem preocupação para as populações da zona rural", frisa.

Ele acredita que a situação dos açudes monitorados e os investimentos realizados pelo governo do Estado, nos últimos anos, garantem a segurança hídrica necessária ao consumo humano, industrial e de outros usos, como é o caso do Eixão das Águas, até o início da quadra chuvosa de 2014.

"Nossa maior atenção recaem sobre municípios onde o perigo de colapso total no abastecimento está bem próximo, como os casos de Canindé e Irauçuba", destaca Fabri.

Racionamento

Em Aratuba, Caririaçu, Moraújo, Pacoti, Guaramiranga, Mulungu, Palmácia, Potiretama e Pacujá já é recomendado o racionamento de água. "Nesses municípios localizados na serra, onde a fonte principal de abastecimento é o poço, é preciso, sim, ter cuidado para que a água chegue até à próxima estação chuvosa", aconselha.

A reportagem tentou inúmeras vezes ouvir a Cogerh sem sucesso. A pessoa indicada para falar em nome da companhia não teve hora na agenda para responder as perguntas.

FIQUE POR DENTRO

178 municípios em situação de emergência
Das 184 cidades cearenses, 178 estão em situação de emergência devido à seca. Segundo o último balanço divulgado pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), pelo menos 18 municípios do Estado podem ter problemas de abastecimento de água até o fim de 2014.

São eles, Acopiara, Alcântaras, Antonina do Norte, Beberibe, Canindé, Caridade, Crateús, Fortim, Irauçuba, Itatira, Milhã, Nova Russas, Parambu, Pindoretama, Potengi, Quiterianópolis, Salitre e Tauá. Entra na lista também o distrito de Pecém, em São Gonçalo do Amarante. Seis municípios não decretaram situação de emergência: Fortaleza, Eusébio, Horizonte, Itaitinga, Pacatuba e Guaramiranga.

LÊDA GONÇALVESREPÓRTER