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segunda-feira, 30 de março de 2015

Brasil fica na 20ª posição em ranking internacional de perda de água

País perde 37% da água que trata, segundo SNIS.
Vazamentos e ligações clandestinas estão entre as causadores das perdas.

Karina Trevizan Do G1, em São Paulo
Perda de água por país (Foto: Editoria de Arte/G1) Quando o assunto é perda de água tratada, o Brasil ocupa a 20ª posição em um ranking com 43 países. O levantamento foi feito pelo IBNET (International Benchmarking Network for Water and Sanitation Utilities), com dados de 2011. De acordo com o estudo, o Brasil perde 39% de sua água tratada. As perdas antes que a água chegue ao consumidor final incluem casos como vazamentos e ligações clandestinas.
Na lista, o Brasil fica atrás de países como Vietnã (que perde 31%), México (24%), Rússia (23%) e China (22%). O que mais perde água tratada na lista é Fiji, um país insular da Oceania que desperdiça 83% da água que trata. Já entre os com menor índice de perda estão Estados Unidos (13%) e Austrália (7%).

O dado do IBNET em relação ao Brasil em 2011 é semelhante ao verificado no mesmo ano pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), ligado ao Ministério das Cidades. Segundo o órgão, o índice de perda em 2011 era de 38,8%.

O dado mais atualizado do SNIS sobre as perdas de água tratada no Brasil é de 2013. Naquele ano, 37% da água tratada no país foi perdida.
O número representa 5,8 trilhões de litros de água. Isso seria suficiente para abastecer a cidade de São Paulo por sete anos e meio. O cálculo foi feito pelo G1 levando em conta apenas a água utilizada para consumo humando, considerando que, em 2013, a média de consumo no estado era de 188 litros diários por habitante, segundo o SNIS. Já o Instituto Trata Brasil estima em 39,1% do total produzido a perda de água tratada.

A quantidade de água desperdiçada inclui perdas com vazamentos em adutoras, redes, ramais, conexões, reservatórios e outras unidades operacionais do sistema. Esses vazamentos são verificados principalmente em tubulações da rede de distribuição, provocados especialmente pelo excesso de pressão em regiões com grande variação de relevo.
Também estão inclusas nos 37% as perdas chamadas pelo SNIS de “não físicas”, que é a água que foi efetivamente utilizada porém não foi medida e deixou de gerar faturamento às empresas prestadoras do serviço. Isso compreende situações como erros de medição (hidrômetros inoperantes, com submedição, erros de leitura, fraudes), ligações clandestinas, “gatos” e falhas no cadastro comercial.
Os estados do Sudeste e do Centro-Oeste estão abaixo da média nacional de perda de água tratada, com índice de 33,4%. A região que tem esse tipo de desperdício mais acentuado é a Norte (50,8%), seguida por Nordeste (45%) e Sul (35,1%). Entre as capitais, a variação no índice de perdas é ampla, com a menor em Goiânia, com 21,3%, e a maior em Macapá, 73,6%.
Selo perda de água (Foto: G1)Os ‘ralos’ das perdas no Brasil
Segundo Rogério Aparecido Machado, professor de Química e Gestão Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie, os vazamentos e as ligações clandestinas de água realmente são responsáveis por uma grande parte da perda de água tratada. Porém o especialista também atenta para a água tratada que é lançada em rios poluídos.
A gente perde muita água não só por vazamento, como também nessas ligações clandestinas as quais não têm controle algum. Mas há outra coisa: nós perdemos muita água porque tratamos nas estações de tratamento de esgoto e a maioria delas não retornam a água para os mananciais”, aponta Machado.
Índice de perdas desde 2009
Veja os valores em % por ano
41,638,838,836,937índice de perda em %2010201236373839404142
Fonte: SNIS
“A água vai acabar parando em rios poluídos. Se desperdiça esse tratamento pois se devolve para o rio sujo na maioria das vezes.” Em São Paulo, o professor cita como exemplo a água tratada que é lançada no Ribeirão dos Meninos, em São Caetano do Sul. “Vai para o Tamanduateí e Tietê”, descreve.
Machado reconhece que lançar água tratada em locais poluídos como o Tietê e o Pinheiros, em São Paulo, ajudam a não agravar a situação desses rios. Porém, ele afirma que a ação, além de desperdiçar a água tratada, não é suficiente para a limpeza dessas águas contaminadas. “Você diminui a quantidade de poluição desses rios, não tenha dúvida. Só que seria muito mais inteligente retornar essa água a um rio que vá cair para uma represa.”
Para Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, lançar esgoto em áreas de mananciais é uma medida “perversa”. “É o caso da Billings, em São Paulo, por exemplo. Isso é um desperdício muito maior do que o que se perde nos canos, ou o que a gente perde em casa lavando chão. Lançar esgoto sem tratamento em qualquer corpo d’água é crime. Mas, no Brasil, tem lei que pega e lei que não pega”, afirma ela.
Malu também atenta para casos de ocupações habitacionais irregulares próximas a áreas de represa, que acabam poluindo a água que poderia ser utilizada para consumo humano. “Estima-se que a gente tenha 2,5 milhões de pessoas morando nessas situações em áreas de manancial na região metropolitana [de São Paulo]. Essas pessoas estão expostas a risco de saúde pública, desprovidas do acesso a água tratada, alguns têm ‘gato’ de água”, aponta. “Esse perfil de ocupação do solo sem planejamento dificulta a questão do saneamento.”
“A gente tem que fazer moradia popular, mas em local adequado”, defende Malu. “Colocar essas pessoas em área de manancial é fazer o que foi feito de 1960 até o final dos anos 80. É um crime.”
  • “A gente perde muita água por vazamento e  ligações clandestinas. Mas há estações de tratamento de esgoto que não retornam a água para mananciais, e a água acaba em rios poluídos."
Rogério Machado, professor de Química e Gestão Ambiental
Malu afirma que redes de saneamento muito antigas em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo também contribuem para a manutenção de um alto índice de perda de água tratada. “Essas capitais têm redes muito velhas”, diz.

Água não aproveitada
Machado e Malu atentam para o mau aproveitamento da água da chuva no Brasil. “Tem tudo feito, mas na hora de aproveitar a água, não consegue. Existe tubulação na rua que é só para pegar água da chuva. Essa água deveria estar pensada para não se sujar, para que no final da tubulação não estivesse misturada com esgoto e fosse para mananciais. Mas o problema é que na tubulação por onde passa a água de chuva tem um monte de ligação de esgoto clandestino”, diz Machado.
Malu ressalta que a água da chuva em grandes centros urbanos já chega poluída por causa da própria sujeira nas cidades. No entanto, ela não descarta o reuso dessa água.

“Água de chuvas pode ser aproveitada mediante tratamentos, porque ela é muito poluída. No Piscinão do Pacaembu, em que a SOS Mata Atlântica faz análise de agua, ela é muito poluída. Vem como todo tipo de contaminante. Mas pode ser essa ‘água cinza’ para lavar rua depois de feira livre, irrigar jardins, enfim, para usos menos nobres. Só que não existe norma hoje. Nós precisamos criar uma orientação técnica.”
Para Malu, o mau uso da água no Brasil reflete um fator cultural. “A gente vive no Brasil com uma falsa ideia de abundância de água”, opina.
O que dizem as empresas
O G1 procurou o posicionamento de empresas responsáveis pelo abastecimento de água das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
A gente vive no Brasil com uma falsa ideia de abundância de água"
Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica
Em São Paulo, a Sabesp diz que em 2014 aumentou em 31% das vistorias de perdas de água com fraudes. No ano, o volume desviado por fraudes foi de 2,6 bilhões de litros de água potável, suficientes para abastecer 260 mil pessoas por um mês inteiro. O aumento no número de fraudes detectadas foi de 13% em relação a 2013, e o valor cobrado dos fraudadores foi de R$ 17,4 milhões. “O volume recuperado foi de 2,6 bilhões de litros, o que corresponde a dois dias de produção do Sistema Cantareira atualmente”, diz a Sabesp.

No Rio de Janeiro, a Cedae informou que o índice de perdas com vazamentos e ligações clandestinas é de 30% de toda a água tratada. A empresa afirma que esse número vem reduzindo ano a ano, porém não possui dados fechados dos últimos meses.

Em Minas, a Copasa divulgou em seu site que adotou um programa para reduzir o índice de perdas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que atualmente chega a 40%. “Uma das principais ações foi o lançamento do programa CaçaGotas, que conta com 40 equipes de campo, cada uma com dois integrantes, especializadas no combate ao vazamento”, diz a empresa. “As principais causas das perdas são os vazamentos no percurso entre a distribuição e o consumidor e as ligações clandestinas, conhecidas como ‘gatos’. A meta da Copasa é reduzir o tempo de chegada das equipes aos locais de nove para quatro horas e, dessa forma, minimizar a gravidade das ocorrências.”

domingo, 29 de março de 2015

A insustentável máquina do governo

Os 39 ministérios de Dilma custam mais de R$ 400 bilhões por ano e empregam 113 mil apadrinhados. Só os salários consomem R$ 214 bilhões - quase quatro vezes o ajuste fiscal que a presidente quer fazer às custas da sociedade

Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
Diante da necessidade imperativa de disciplinar as desordenadas contas públicas, legadas da farra fiscal praticada no mandato anterior, a presidente Dilma Rousseff impôs ao País um aperto de cintos. Anunciou como meta de sua segunda gestão um ajuste fiscal capaz de gerar uma folga de R$ 66 bilhões no Orçamento até o fim do ano. O necessário ajuste seria digno de louvor se as medidas anunciadas até agora pela presidente não tivessem exigido sacrifícios apenas de um lado dessa equação: o dos cidadãos brasileiros. Mais uma vez, a conta da irresponsabilidade fiscal de gestões anteriores sobra para o contribuinte. Ao mesmo tempo em que aumenta impostos, encarece o custo de vida da população, ameaça suspender a desoneração de empresas e retira dos trabalhadores direitos previdenciários e trabalhistas, Dilma Rousseff segue no comando de uma bilionária máquina pública aparelhada, inchada e – o mais importante – ineficiente.
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Na semana passada, pressionada por líderes no Congresso, especialmente do PMDB, a presidente sacou mais uma de suas promessas. “A ordem é gastar menos com Brasília e mais com o Brasil”, disse. A despeito do efeito publicitário indiscutível da frase, a presidente dá sinais de que seguirá na toada já recorrente de dizer uma coisa em público e praticar outra bem diferente no exercício do poder. O governo, na realidade, sempre resistiu em cortar na própria carne. Por isso, permanece desde 2010 com uma colossal estrutura administrativa composta por 39 ministérios, a maioria deles criados para acomodar apadrinhados políticos, cujos custos de manutenção – o chamado custeio – consomem por ano R$ 424 bilhões. Desse total, o gasto com pessoal atinge a inacreditável marca de R$ 214 bilhões, o equivalente a 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Esse universo de servidores soma quase 900 mil pessoas distribuídas pela Esplanada, sendo 113.869 ocupantes de funções comissionadas e cargos de confiança, as chamadas nomeações políticas baseadas no critério do “quem indica. A credibilidade do governo está no fundo do poço, e é impossível imaginar a sociedade acreditando no ajuste fiscal sem que sejam tomadas medidas radicais para reduzir o tamanho dessa monumental máquina. Sem cortar na própria carne, o governo do PT não tem autoridade para pedir sacrifícios ou falar em ajuste fiscal”, afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
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Não bastassem os 39 ministérios com seus milhares de cargos de indicação política, o que se vê hoje na Esplanada em Brasília é o claro desperdício do dinheiro público, facilmente ilustrado pelo excesso de regalias e benesses à disposição dos ocupantes do poder. A principal função do ministério da Pesca, por exemplo, é distribuir o seguro-defeso – espécie de seguro-desemprego pago a pescadores. A pouca expressividade da pasta não limita as vantagens e os benefícios de quem garantiu um cargo executivo no órgão provavelmente chancelado por algum partido aliado de Dilma. Segundo apurou ISTOÉ, há carros de luxo com motoristas disponíveis aos sete integrantes da cúpula do ministério para deslocamento em Brasília. O custo estimado com a regalia é de R$ 1,5 milhão por mês. Embora o ministério esteja constantemente ameaçado de extinção, a pasta vem se mantendo com estrutura que chama a atenção. São mil servidores em exercício, sendo 440 indicados políticos.
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O benefício de ter carros e motoristas à disposição não é uma exclusividade do ministério da Pesca. Segundo gestores públicos ouvidos por ISTOÉ que já atuaram em diferentes órgãos do governo petista, pelo menos 28 das 39 pastas permitem a benesse para quem está até cinco níveis da hierarquia abaixo do ministro. Isso sem contar os celulares, os cartões corporativos e uma dezena de assessores cujas funções frequentemente coincidem. No ministério do Turismo, que tem uma estrutura mais enxuta e apenas 268 cargos de confiança, o que causa espécie é a quantidade de garçons e copeiras disponíveis para atender a cúpula da pasta. Segundo um dos servidores, há 16 funcionários para servir água e cafezinho aos executivos do ministério.
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No ministério do Turismo, 16 garçons e copeiras foram
contratados para servir os executivos do órgão
Embora prometa cortar despesas, Dilma e sua equipe econômica não querem ouvir falar em redução de pessoal, que consome muito mais do que os principais programas sociais do governo. O Bolsa Família, por exemplo, receberá R$ 27 bilhões – o correspondente a 12% do que o País gasta com servidores federais. Já a Saúde, considerada área prioritária para os brasileiros em todas as pesquisas realizadas, terá investimentos de R$ 109 bilhões neste ano. Custará, portanto, metade do gasto do governo com o funcionalismo. Atualmente, o ministério da Educação é a pasta com maior número de funcionários da Esplanada e serve para mostrar que o tamanho da máquina está longe de ser sinônimo de eficiência. No órgão, há mais de 44 mil cargos de confiança, além dos 285 mil efetivos. Nos últimos anos do governo Dilma, foram criadas 50 mil novas vagas. Em 2015, se a presidente preservar os recursos previstos para a pasta, serão R$ 101 bilhões destinados a cumprir a promessa utópica de campanha de transformar o Brasil em uma “pátria educadora”. Mas até aqui as demonstrações de gestão dadas pelo MEC são da mais completa ineficiência. Um exemplo é o programa de financiamento estudantil, o FIES. O governo flexibilizou as regras relacionadas aos fiadores dos estudantes e reduziu as taxas de juros. Mas falhou no controle dos preços das mensalidades e forçou a ampliação do programa sem analisar os reflexos financeiros. Um exemplo típico de má gestão em um órgão aparelhado por servidores.
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FARRA DOS CARROS OFICIAIS
Não é rara a utilização dos veículos oficiais pelos ministros
fora do horário do expediente 
A Presidência da República figura em segundo lugar no ranking do número de servidores: emprega 6.969 pessoas. Os cargos vêm acompanhados das benesses, o que significam mais e mais gastos com o dinheiro do contribuinte. Em outubro do ano passado, para atender aos seus servidores, a Presidência comprou 130 taças de cristal por R$ 4,5 mil. No apagar das luzes de 2014, além de eletrodomésticos, toalhas de banho e de rosto, o Planalto adquiriu aparelhos de malhação e até roupões de banho. Ao todo, a conta saiu por R$ 262,8 mil. O conjunto de banho completo custou R$ 7,8 mil. Já a aquisição de 20 frigobares, 100 bebedouros e 30 fragmentadoras de papel custou ao órgão R$ 155,7 mil. A Presidência justificou a compra por eventuais atendimentos em cerimônias oficiais. Outros R$ 99,3 mil foram gastos pela Presidência na reposição de aparelhos de ginástica. Na lista, figuram um crossover angular, um banco extensor e outro flexor, um apolete, um crucifixo, duas esteiras eletrônicas e um smith machine (plataforma para a realização de vários exercícios). Segundo o órgão, a aquisição dos equipamentos ocorreu em função da necessidade de manutenção ou melhoria do treinamento de força e do condicionamento físico do pessoal da segurança e para melhoria da qualidade de vida dos servidores.
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UNIDOS PELA REFORMA ADMINISTRATIVA
Os presidentes da Câmara e Senado, Eduardo Cunha e Renan
Calheiros, propõem a redução dos ministérios
A criação desenfreada de ministérios é obra recente da democracia do País e se acentuou na era petista no poder. O ex-presidente Getúlio Vargas (1951-54) contava com apenas 11 pastas de primeiro escalão. Juscelino Kubitschek (1956-61), 13. O governo Fernando Henrique Cardoso terminou seu mandato (1994-2002) com 24 órgãos. Lula (2003-2010), para abrigar a aliança que o elegeu, criou mais 11, chegando a 35 – um recorde até então. Dilma o superou: subiu para 39. O cenário de distribuição de poder em Brasília é uma anomalia especialmente se comparado a outros países, como França, Portugal, Espanha e Suécia, que possuem uma média de 15 ministérios. Para se ter uma ideia do despropósito do aparelhamento, quem hoje discute corte de ministérios como ocorre atualmente no Brasil é o pobre Moçambique, que possui 28 pastas e está sendo pressionado a reduzir a própria estrutura por países que o apóiam financeiramente. “Essa forma de gestão caminha na contramão da história e de tudo aquilo que seria o ideal para a administração pública, não só no Brasil, mas em qualquer País. A criação desses ministérios é uma forma de abrigar a base aliada do governo e acelera ainda mais as distorções dentro da máquina pública”, afirma José Matias-Pereira, professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB).
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A necessidade de enxugamento da máquina administrativa ganhou eco durante a última campanha presidencial. O então candidato à presidência Aécio Neves (PSDB) propôs a fusão de ministérios, de modo a reduzir drasticamente os gastos e a estrutura governamental. Nos últimos dias, foi a vez de o PMDB encampar a bandeira da reforma administrativa. Como se não ocupasse fatia considerável da Esplanada e não exigisse a nomeação de um sem-número de afilhados políticos como condição ao apoio ao governo – a qualquer governo, diga-se – caciques peemedebistas, caso do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, querem limitar a 20 o número de ministérios. Um projeto de sua própria autoria já está em tramitação na Casa. Na semana passada, depois de discursar para empresários, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), engrossou o coro. Afirmou, em tom de ironia, que o momento exigia o lançamento pelo governo do programa Menos Ministérios, numa brincadeira com o programa Mais Médicos. Renan promete apoiar a proposta de Cunha. “Isso vai gerar menos cargos comissionados, menos desperdício e menos aparelhamento. Devemos aproveitar a oportunidade”, disse ele.
Pressionada pelo Congresso e pelos protestos nas ruas, Dilma pode ser forçada a repensar a estrutura da portentosa burocracia que ajudou a criar. No final da última semana, informações oriundas do Planalto deram conta de que um estudo teria sido encomendado à Casa Civil visando à redução no número de pastas. Resta saber se a presidente ficará mais uma vez na retórica ou atenderá ao clamor público.

sábado, 28 de março de 2015

As operações de Palocci na Lava Jato

Consultorias do ex-ministro teriam sido usadas para desviar R$ 100 milhões ao PT. Agentes da PF relacionam intermediação de petista à doação milionária à campanha de Dilma em 2010

Claudio Dantas Sequeira e Mário Simas Filho
A pedido da Procuradoria Geral da República está em curso na Justiça Federal do Paraná uma investigação sobre a participação do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil, Antônio Palocci Filho, no esquema do Petrolão. Entre os alvos principais do processo estão contratos feitos entre a Projeto – consultoria financeira pertencente ao ex-ministro – e empresas que fizeram direta ou indiretamente negócios com a Petrobras. Com base em delações premiadas, documentos apreendidos e até na prestação de contas feitas pelos partidos, procuradores e delegados da Operação Lava Jato calculam que consultorias feitas por Palocci possam ter sido usadas para desviar cerca de R$ 100 milhões do Petrolão para os cofres do PT. “Vamos demonstrar que, assim como o ex-ministro José Dirceu, Palocci trabalhou para favorecer grupos privados em contratos feitos com a Petrobras e canalizou ao partido propinas obtidas a partir de recursos desviados da estatal”, disse um dos procuradores na tarde da quarta-feira 25.
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Até a semana passada, os procuradores observavam com lupa seis contratos da empresa de Palocci e nas próximas semanas deverão recorrer ao juiz Sérgio Moro para que autorize a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-ministro. Os documentos e depoimentos que mais têm despertado a atenção de delegados e procuradores dizem respeito às relações do ex-ministro com a WTorre Engenharia e com o Estaleiro Rio Grande. De acordo com os relatos feitos por procuradores da Lava Jato, em 2006, após deixar o governo Lula acusado de violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa (leia quadro na pág. 38), Palocci teria intermediado a aquisição do Estaleiro Rio Grande pela WTorre. Meses depois da negociação e sem nenhuma expertise no setor naval, a empresa venceu uma concorrência para arrendamento exclusivo do estaleiro à Petrobras. Em seguida, a estatal fez uma encomenda para a construção de oito cascos de plataformas marítimas, em um contrato de aproximadamente US$ 6,5 bilhões. “Não é comum que uma empresa sem nenhum histórico no setor vença uma concorrência bilionária”, afirma um dos procuradores da Lava Jato. Os indícios encontrados pelo Ministério Público, porém, vão além do simples estranhamento.
Investigações promovidas pela Operação Lava Jato indicam que, por orientação de Palocci, o Estaleiro Rio Grande buscou parcerias internacionais para poder cumprir o contrato com a Petrobras. Uma das empresas procuradas para tanto foi a holandesa SBM, já relacionada como uma das mais fortes pagadoras de propinas no esquema do Petrolão. Os documentos em poder da Operação Lava Jato mostram que, no início do ano passado, um ex-executivo da SBM, Jonathan Taylor, procurou a Receita e o Ministério Público da Holanda e revelou que empresa destinara US$ 102 milhões para o pagamento de propinas no Brasil, em troca de contratos para o fornecimento de navios e plataformas a Petrobras.
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Passados quatro anos, a parceria do Estaleiro Rio Grande com a SBM não se concretizou, embora o contrato para o fornecimento dos oito cascos permanecesse em vigor. Com isso, a Petrobras passou 48 meses sem receber os cascos contratados. Agora, os procuradores investigam quais os pagamentos efetuados pela estatal ao estaleiro durante esse período. “Temos informações de que o estaleiro usou dinheiro pago pela estatal para investir em plataformas, mas não entregou nada a Petrobras”, disse na sexta-feira 27 um dos agentes da PF que atuam na Lava Jato. De acordo com dados preliminares obtidos pela Lava Jato entre 2006 e 2010 a estatal teria repassado anualmente ao Estaleiro Rio Grande cerca de R$ 25 milhões.
Em 2010, meses antes de assumir a coordenação de campanha presidencial de Dilma Rousseff, Palocci e sua consultoria voltaram a operar em favor do estaleiro. O ex-ministro, segundo os procuradores da Lava Jato, trabalhou ativamente na venda do Estaleiro Rio Grande da WTorre para a Engevix – outra empreiteira já envolvida no Petrolão – em parceria com o Funcef, o fundo de pensão dos servidores da Caixa Econômica Federal. Um dos interlocutores de Palocci na negociação foi o vice-presidente da Engevix, Gerson de Mello Almada, atualmente preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, apontado pelo Ministério Público como um dos principais corruptores do Petrolão. Depois de comprar o estaleiro, a Engevix obteve da Petrobras um contrato de US$ 2,3 bilhões para a construção de três navios sonda. Em janeiro desse ano, Almada admitiu aos procuradores da Lava Jato que fez pagamentos de propinas a “agentes da Petrobras” para que pudesse ganhar os contratos e na semana passada, o empresário manifestou o interesse de aderir à delação premiada. Para que seja feito o acordo, porém, o Ministério Público Federal vem insistindo para que o empreiteiro revele detalhes do envolvimento de Palocci e sua empresa na venda do estaleiro. Como boa parte dos contratos de consultoria permite o sigilo, caso o vice-presidente da Engevix não colabore, os procuradores não descartam a possibilidade de recorrer ao Judiciário para obter cópia da documentação.  
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PROPINODUTO
Ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco afirmou que a construção de navios-sonda,
cujo negócio teria sido intermediado por Palocci, envolveu o pagamento de
R$ 60 milhões em propina, sendo R$ 40 milhões para o PT
Com a quebra do sigilo bancário de Palocci, os procuradores da Lava Jato esperam checar informações já passadas por Almada e descobrir se houve ou não a participação do ex-ministro na elaboração do contrato de US$ 2,3 bilhões com Petrobras. Em delação premiada, o ex-gerente de serviços da estatal, Pedro Barusco, afirmou que esse negócio envolveu o pagamento de R$ 60 milhões em propinas, dos quais R$ 40 milhões teriam abastecido os cofres do PT. “Temos indícios de que durante anos o Estaleiro Rio Grande serviu como um poderoso braço para canalizar propinas do Petrolão e que essa parte do esquema seria comandada pelo ex-ministro Palocci”, disse um dos procuradores na manhã da quinta-feira 26.
Ao aprofundar as investigações sobre as relações de Palocci com o Estaleiro Rio Grande, os procuradores e delegados da Operação Lava Jato confirmaram importantes revelações feitas pelos maiores delatores do Petrolão e nas últimas duas semanas começam a traçar a participação do ex-ministro em uma ligação direta entre o propinoduto da Petrobras e recursos para a campanha eleitoral de 2010. Em um de seus depoimentos, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, assegura que Palocci teria pedido e intermediado a remessa de R$ 2 milhões para a primeira campanha presidencial de Dilma Rousseff. Na semana passada, ao analisarem a prestação de contas do PT, agentes da Polícia Federal identificaram uma doação oficial de R$ 2 milhões feita pela WTorre Engenharia ao diretório nacional do partido. O dinheiro, segundo os documentos, foi entregue em duas parcelas de R$ 1 milhão. “É muito provável que essa doação esteja ligada a venda do Estaleiro Rio Grande da WTorre para a Engevix”, afirma um dos procuradores.
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O negócio intermediado por Palocci movimentou R$ 410 milhões e foi concluído dois meses antes do primeiro repasse de R$ 1 milhão feito ao comitê financeiro nacional do PT, em 24 de agosto de 2010. O outro R$ 1 milhão caiu na conta do comitê em 10 de setembro. Para a WTorre, a venda do estaleiro foi um excelente negócio. A empresa declara ter investido cerca de R$ 170 milhões nos quatro anos em que esteve à frente das operações e vendeu o empreendimento por R$ 410 milhões. A Engevix também se deu bem, pois assumiu o estaleiro com uma encomenda de mais de US$ 2 bilhões e ainda assinou outro contrato com a Sete Brasil para o fornecimento de plataformas à petrolífera brasileira. Para a Petrobras, o negócio significou um prejuízo, segundo os procuradores da Lava Jato, ainda não calculado. O atraso na entrega das plataformas consumiu o período de 10 anos que a estatal tinha de exclusividade sobre o estaleiro e ainda a obrigou a encomendar novas plataformas da China para atender sua demanda. Além do Estaleiro Rio Grande, o ERG 1, entrou no pacote da Engevix o direito de exploração das áreas adjacentes, batizadas de ERG 2 e ERG 3.
Longe das plataformas marítimas, mas também pelas mãos de Palocci, segundo os procuradores da Lava Jato, a WTorre teria conseguido um outro negócio exclusivo e bilionário com a Petrobras. Com um investimento de aproximadamente R$ 600 milhões, a construtora ergueu no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, um moderno complexo de quatro edifícios envidraçados e, sem que houvesse qualquer tipo de licitação, assinou um contrato de locação com a estatal válido até 2039 pelo valor de R$ 100 milhões, reajustáveis anualmente. Os prédios e o contrato de locação deveriam dar lastros para a criação de um fundo imobiliário com o qual a empresa previa obter R$ 1,2 bilhão no mercado. Com tantas construtoras no País chama a atenção dos procuradores o fato de que a Petrobras, para locar uma nova sede no Rio de Janeiro, tenha optado justamente por aquela que tinha Palocci como consultor.
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Também pesam contra o ex-poderoso ministro de Lula e de Dilma Rousseff as delações feitas pelo doleiro Alberto Youseff e o testemunho de empresários da Camargo Corrêa que colocaram o setor energético na mira da Operação Lava Jato. Os procuradores tentam detalhar a participação de Palocci em favor da CPFL, a maior distribuidora de energia elétrica do País, que tem a Camargo Corrêa como principal acionista privado. O ex-ministro teria atuado junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para conseguir a aprovação de uma norma que liberou o uso de medidores de energia inteligentes para redes de alta tensão, como indústrias. Com a licença, a empresa conseguiu instalar os medidores em 25 mil unidades de consumo de oito distribuidoras em São Paulo e na Região Sul, num negócio que envolveu cerca de R$ 215 milhões. Os equipamentos garantiram privilégios à companhia como maior eficiência energética, com redução de perdas e economia na manutenção. A Companhia também teria obtido posteriormente, com auxílio do consultor, autorização do Ministério de Minas e Energia de projetos eólicos de sua subsidiária CPFL Energias Renováveis. Os procuradores querem saber se houve alguma contrapartida financeira da Camargo Corrêa ao PT em troca da ação de Palocci na Aneel. “Há indícios de que Palocci seja um dos principais elos entre os empresários envolvidos no Petrolão e o PT”, afirma um dos procuradores. Em delação premiada, o doleiro Youseff, principal operador do esquema, revelou que de fato era o ex-ministro Palocci o contato do partido com o empresário Júlio Camargo, da Toyo Setal. A empresa tem cerca de R$ 4 bilhões em contratos com a Petrobras e Camargo já fez várias delações. “Estamos finalizando alguns cruzamentos de dados para definir melhor a suposta participação do ex-ministro nos esquemas ligados à área energética”, afirmou um dos procuradores. 
Há ainda uma equipe da Operação Lava Jato que analisa a atuação parlamentar de Palocci, a partir de 2007, quando já trabalhava paralelamente como consultor. O então deputado petista teve papel destacado em todos os projetos relacionados a Petrobras que foram à votação na Câmara. Palocci foi o primeiro relator do polêmico projeto de capitalização da estatal e também nos projetos que instituiu o modelo de partilha para exploração do pré-sal, criou o Fundo Social e a empresa pública Pré-sal Petróleo S.A. (PPSA). Com o primeiro, aprovado depois de longa discussão no Congresso, o governo Dilma conseguiu injetar na estatal mais de R$ 120 bilhões, sendo que R$ 74,8 bilhões saíram do BNDES. Como não tem foro privilegiado, toda a investigação que envolve o ex-ministro será acompanhada pela Justiça Federal no Paraná e caberá ao juiz Sérgio Moro a palavra final sobre os próximos passos a serem dados pelos procuradores e delegados da Lava Jato.
Na tarde da sexta-feira 27, por intermédio de seu advogado, José Roberto Batochio, o ex-ministro informou que seu relacionamento com a WTorre se restringe a palestras proferidas ao corpo diretivo da empresa. Palocci também afirmou que nunca teve contato e desconhece a existência da Engevix e que jamais foi contratado pela CPFL para qualquer assunto. A WTorre informou que desconhece qualquer investigação e que nunca utilizou a intermediação do ex-ministro em seus negócios. Sobre o estaleiro, a empresa afirma que em 2006 participou de concorrência organizada pela Rio Bravo Investimentos S/A DTVM, administradora de um Fundo de Investimento Imobiliário que tinha o objetivo de construir um estaleiro que seria alugado posteriormente para a Petrobas. “A WTorre venceu a concorrência, construiu e entregou o estaleiro para o Fundo Imobiliário. A Petrobras tinha a prerrogativa de devolver o estaleiro ao cabo de um período de 10 anos de uso. Foi este direito que a WTorre vendeu para a Engevix”, registra a nota encaminhada pela empresa. Sobre as doações para a campanha de Dilma, a empresa afirma que fez tudo de acordo com a legislação.

sexta-feira, 27 de março de 2015

PF prende sócio da Galvão Engenharia

Empresário é acusado de pagar propina a políticos e executivos da Petrobras por facilidades em contratos da estatal

Por: Daniel Haidar
Polícia Federal de Curitiba
Polícia Federal deflagrou a 11ª fase da Operação Lava Jato(Ivan Pacheco/VEJA)
A Polícia Federal prendeu na manhã desta sexta-feira em São Paulo o empresário Dário Queiroz Galvão, sócio da Galvão Engenharia. Ele já é réu em uma ação penal originada pela operação Lava Jato, acusado de pagar propina a políticos e executivos da Petrobras por facilidades em contratos da estatal.
Também foi preso no Rio de Janeiro o operador Guilherme Esteves de Jesus. Ele é um dos 11 operadores investigados na My Way, a nona fase da operação Lava Jato, e investigado de pagar propina a mando do estaleiro Jurong, segundo depoimentos em acordo de delação premiada do ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco.
Os dois foram alvos de mandados de prisão preventiva, ou seja, sem prazo para expirar. Os presos serão levados para a sede da Policia Federal em Curitiba.
Agentes da Polícia Federal cumprem três mandados judiciais em São Paulo e no Rio de Janeiro na 11ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta sexta-feira. São dois mandados de prisão preventiva, um em cada cidade, e um mandado de busca e apreensão na capital paulista.
Na décima fase da Lava Jato, deflagrada em 16 de março, foi preso o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, apontado pelos investigadores como um dos principais arrecadadores de propina do PT.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Galvão Engenharia entra com pedido de recuperação judicial

Empresa é citada no escândalo de desvios de recursos da Petrobras e um de seus diretores está preso na penitenciária de Curitiba

Grupo Galvão
Grupo Galvão(VEJA.com/Reprodução)
A Galvão Engenharia e a Galvão Participações apresentaram nesta quarta-feira, à Justiça do Estado do Rio de Janeiro, pedido de recuperação judicial. O grupo é um dos envolvidos na Operação Lava Jato, que apura o desvio de recursos da Petrobras para partidos políticos, por meio de contratos superfaturados com empreiteiras.
O diretor de Negócios da Galvão Engenharia, Erton Medeiros Fonseca, estava preso desde dezembro do ano passado na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. Foi transferido no início desta semana, junto com os demais presos da Lava Jato, para a penitenciária estadual, em Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense.

Em nota, a empresa afirma que o pedido decorre da "inadimplência de alguns de seus principais clientes, dentre eles a Petrobras". A estatal congelou pagamentos a empresas envolvidas no escândalo, o que tem impactado diretamente a saúde financeira das empresas. "Apesar de todos os esforços feitos para a execução dos empreendimentos a cargo da Galvão Engenharia, a partir do final de 2013 houve atrasos recorrentes em pagamentos devidos pela Petrobras em diversos contratos. Junte-se a isto a retração do mercado de crédito para o segmento de infraestrutura, fortemente impactado pela Operação Lava Jato", informa a nota.
As empresas Alumini e Schahin Engenharia, também citadas na Lava Jato, já entraram com pedidos similares. Se a Justiça acatar, as empresas ganham proteção judicial para renegociar suas dívidas com credores.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Queda de avião na França: veja o que se sabe e o que ainda falta esclarecer

Havia alemães, espanhóis e turcos a bordo; 150 pessoas morreram.
Airbus da Germanwings ia da Espanha para a Alemanha e caiu nos Alpes.

Do G1, em São Paulo
Autoridades da França começam a investigar as causas que levaram à queda do voo 4U9525, que ia de Barcelona (Espanha) a Düsseldorf (Alemanha) com 150 pessoas a bordo, nos alpes franceses nesta terça (24). Veja o que se sabe até o momento sobre o caso e o que ainda precisa ser esclarecido:
A que horas exatamente o avião partiu e quando a queda ocorreu?
A aeronave começou o procedimento de decolagem às 9h55 (horário local de Barcelona) na pista do aeroporto El Prat e 35 minutos depois, aproximadamente, começou a perder altura.
Onde ocorreu a queda?
Nos alpes franceses, próxima a Digne-les-Bains, na região de Alpes-de-Haute-Provence. Os destroços estão a 2.000 metros de altitude, em um local de difícil acesso.
Confira também a localização no mapa abaixo:
Arte completa - mapa da queda, raio-x do avião Airbus A320 e altitude (620px) (Foto: Arte/G1)
Há sobreviventes?
O governo francês diz que, pela força do impacto e pela cena encontrada no local do acidente, há poucas esperanças de localizar sobreviventes.
 
Quais eram as nacionalidades dos passageiros do voo?
Ainda não foi divulgada uma lista de passageiros, mas segundo as informações da companhia Germanwings, entre as 150 vítimas do acidente, havia 72 alemães, 35 espanhóis, 2 australianos, 2 argentinos
2 iranianos, 2 venezuelanos, 2 americanos
1 britânico, 1 holandês, 1 colombiano, 1 mexicano, 1 dinamarquês, 1 belga e
1 israelense. Outras vítimas ainda não tiveram a nacionalidade identificada.
Eram 144 passageiros, dois pilotos e quatro tripulantes.
Pode haver brasileiros entre as vítimas?
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, até o momento não há informações da presença de nenhum brasileiro no avião. O Itamaraty diz que o consulado brasileiro em Barcelona está checando a lista de passageiros com as autoridades europeias.
O gerente de exportação Rafael Rebello, que mora em Barcelona, conta que desistiu na última hora de comprar passagem para o voo 4U9525. O brasileiro diz que o preço da companhia levou a "mudar a data e ir por outra companhia".
A caixa-preta do avião já foi encontrada?
Sim. O ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, fez o anúncio: "A caixa-preta estará sujeita a uso imediato nas próximas horas para permitir que a investigação avance rapidamente", disse. "Foram tomadas medidas para garantir a segurança na zona de queda para a investigação ser realizada nas melhores condições.”
Caixa-preta (Foto: Reuters)Caixa-preta foi encontrada (Foto: Reuters)
O avião se chocou nos alpes? Qual foi a razão da queda?
Ainda não se sabe os detalhes sobre os motivos da queda. Investigações ainda precisam apontar quais eram precisamente as condições da aeronave.
Já foi informado, no entanto, que a queda do avião durou 8 minutos. A aeronave perdeu contato com o tráfego aéreo francês quando estava a 6 mil pés de altura.
Já foi feito o resgate dos corpos dos passageiros?
Não. O tenente-coronel Jean-Paul Bloy, que participa das buscas, disse ao site “Haute-Provence” que os detritos estão espalhados por uma área de cerca de um hectare, de difícil acesso. A área é muito íngreme. Há uma dúzia de detritos grandes, o resto é muito fragmentado", acrescentou. Ele disse que "pode levar vários dias para retirar os corpos da zona de queda."
Como é a Germanwings, a empresa que fez o voo?
É uma filial de baixo custo do grupo aéreo alemão Lufthansa, que está prestes a transferir para ela a maioria de seus voos dentro da Alemanha e da Europa. Foi criada pela empresa Eurowings em 2002, foi comprada em 1º de janeiro de 2009 pela Lufthansa, que detém 100% de seus ativos. A ideia é ser mais competitivo no mercado de passagens de menor preço.
A Germanwings nunca tinha tido "perda total de uma aeronave", de acordo com um porta-voz da empresa.
Mas a Lufthansa enfrenta problemas atualmente?
A queda ocorre em meio à retomada da temporada de greve dos pilotos da empresa, que negocia há um ano o convênio coletivo com os pilotos sem ter chegado ainda a um acordo sobre o sistema de aposentadorias antecipadas, que até agora era totalmente pago pela empresa aos membros do coletivo. A Lufthansa não quer permanecer com o total dos custos.
Qual era o modelo do avião que caiu?
Um Airbus A320. Até fevereiro de 2015, a empresa alemã Airbus já havia recebido mais de 7.597 pedidos de aeronaves da família A320, tendo entregue 3.889 deles. Atualmente, estão em operação 3.660 unidades, diz a construtora.
Foi um acidente ou pode ter sido um atentado terrorista?
A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Bernadette Meehan, em comunicado, disse não haver "indícios de relação com o terrorismo neste momento".
Vejo muitos casos de acidentes áereos no noticiário. Está mais perigoso viajar de avião?
Na verdade não. O que acontece é que há mais pessoas viajando de avião e, assim, mais acidentes tendem a acontecer. O ano passado teve um número recorde de passageiros - 3,3 bilhões de pessoas em 27 milhões de voos, segundo um relatório da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA).
Ocorreram 21 acidentes fatais no ano passado, mas este número é o mais baixo da história em termos de perdas de aeronaves e número total de voos. Equivale a dizer que houve um acidente para 4,4 milhões de voos em 2014.

terça-feira, 24 de março de 2015

Empresário entrega recibos da propina paga ao PT

Augusto Mendonça Neto, sócio do grupo Toyo Setal, entregou comprovantes de doações partidárias que ocultavam suborno. Ele repassou 4,2 milhões de reais ao partido

Por: Daniel Haidar
Recibo de doação PEM Engenharia Ltda ao Partido dos Trabalhadores em 2010
Recibo de doação PEM Engenharia Ltda, uma das empresas de Augusto Mendonça Neto, ao Partido dos Trabalhadores em 2010(VEJA.com/Reprodução)
Comprovantes de transferências bancárias e recibos de doações eleitorais são algumas das provas do Ministério Público para demonstrar como o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, cobrou propina de fornecedores da Petrobras. O suborno era liberado na forma de contribuições partidárias, como revelou o empresário Augusto Mendonça Neto, sócio do grupo Toyo Setal. Com base no depoimento de Mendonça Neto, que fechou acordo de delação premiada, o Ministério Público sustenta que o empresário e comparsas desviavam dinheiro da Petrobras para contas bancárias do PT, com a cobrança e o conhecimento do tesoureiro do partido.
Mendonça Neto apresentou à Justiça recibos e comprovantes de pagamentos como prova. Apenas o empresário fez 4,2 milhões de reais em doações que, na verdade, eram oriundos do propinoduto da Petrobras. Foram 24 repasses por empresas controladas por ele em dezoito meses, no período de 2008 a 2012. Por exigência do acordo de delação premiada fechado com o Ministério Público, o empresário entregou aos investigadores os recebos dos pagamentos.
"O próprio Augusto Mendonça, em colaboração premiada, declarou que teria feito as doações em questão por solicitação de Renato Duque e que elas comporiam o acerto de propina com a Diretoria de Serviços", afirmou o juiz Sérgio Moro na decisão em que tornou Vaccari e outras 26 pessoas réus em ação penal por desvio de recursos da Diretoria de Serviços da Petrobras. "Portanto, a realização de doações eleitorais, ainda que registradas, com recursos provenientes de crime, configura, em tese, crime de lavagem de dinheiro", acrescentou Moro.
Os documentos foram anexados na segunda-feira passada à denúncia apresentada à 13ª Vara Federal do Paraná, contra Vaccari e outras 26 pessoas envolvidas no esquema de corrupção em contratos da Diretoria de Serviços da Petrobras. Nos recibos, é possível ver a assinatura de Ângela Silva, da Secretaria Nacional de Finanças do PT.
Não foi só a Toyo Setal que pagou propina na forma de doações ao PT. De acordo com o vice-presidente da construtora Camargo Corrêa, Eduardo Leite, a empresa também foi cobrada a pagar mais de 10 milhões de reais ao PT. O PP também recebia parte da propina na forma de doações oficiais, de acordo com o doleiro Alberto Youssef. Mesmo sem ocupar nenhum cargo no partido, Youssef chegava a cobrar executivos da Queiroz Galvão, por exemplo, a efetivar doações para o partido.
O juiz cobrou do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que apresente, se possível em 15 dias, informações sobre doações feitas pelas empresas de Augusto Mendonça Neto (Setal Óleo e Gás, Setec, Projetec, Tipuana, PEM Engenharia e Energex).

segunda-feira, 23 de março de 2015

De novo, a culpa é (só) do tesoureiro?

Como no caso Delúbio, o PT quer colocar toda a responsabilidade pela corrupção do partido apenas nos ombros dos arrecadadores de dinheiro

Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br)
João Vaccari Neto e Delúbio Soares nunca tiveram títulos na nobreza do PT. Na hierarquia da sigla eles pertencem, no máximo, à ordem dos escudeiros. A fidelidade inabalável de Vaccari e Delúbio ao projeto de poder da legenda os lançou em uma função inglória: a tesouraria do partido. Em 2000, o PT adotou um discurso mais ameno para ampliar o perfil do eleitorado. A mudança acarretou uma guinada de vida no partido, que começou a forrar seus cofres para financiar um duradouro projeto de poder. Delúbio assumiu a Secretaria Nacional de Finanças. Só saiu de lá em 2005, denunciado como um dos operadores do mensalão. Vaccari é o Delúbio da vez. Na segunda-feira 16, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por corrupção e lavagem de dinheiro. Contra o tesoureiro pesam depoimentos de dois ex-funcionários da Petrobras e quatro empreiteiros que fizeram acordos de delação premiada. Todos unânimes em apontá-lo como recolhedor de propinas para o PT.
Com as acusações decorrentes da Operação Lava Jato, caiu por terra a defesa ferrenha que alguns petistas faziam da honra de Vaccari. Internamente, antigos companheiros pedem seu afastamento da secretaria de finanças para preservar o partido. As apurações da Polícia Federal e do MPF indicam que U$186 milhões em propina teriam passado pelas mãos do homem responsável por arrecadar dinheiro para o PT. Segundo os delatores, o dinheiro abasteceu o caixa de campanha da presidente Dilma Rousseff. Ainda assim, a degola de Vaccari pedida pelos correligionários sugere uma estratégia marota: colocar todos os malfeitos do partido nos seus ombros, evitando que as denúncias extrapolem para outros nomes.
O mesmo ocorreu com Delúbio no escândalo do Mensalão. O tesoureiro foi para o altar dos sacrifícios, admitiu que arrecadava recursos além do contabilizado pelas campanhas eleitorais e figurou como coordenador do “núcleo central da quadrilha” no processo do mensalão. Ele foi o único, entre os oito petistas investigados por participar do esquema, a ser expulso do partido. Saiu em 2006, mas retornou aos quadros de filiados em 2011, após a eleição de Dilma. O ex-tesoureiro foi condenado a seis anos e oito meses de prisão, passou cinco meses no presídio da Papuda e outros cinco em regime semiaberto. Em setembro, ganhou o direito de cumprir o restante da pena em casa.
Se as descobertas dos investigadores da Lava Jato forem confirmadas na Justiça, Delúbio e Vaccari ficarão na história do reinado petista como os responsáveis por ilícitos financeiros que beneficiaram da alta cúpula do partido aos diretórios no interior do País. Embora tenham trajetórias parecidas, os dois adotaram práticas diferentes. O modus operandi usado por Vaccari pouco lembra o antigo estilo de arrecadação posto em prática por Delúbio. A falta de uma legislação eleitoral que obrigasse o detalhamento da prestação de contas explica, em parte, a opção de Delúbio pelo esquema de caixa 2. Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de 2002 obrigou candidatos e comitês financeiros a expor em minúcias as receitas e despesas. Essa regra dificultou a vida de Delúbio. Em uma reunião do Diretório Nacional, no mesmo ano, o então tesoureiro discursou contra a divulgação do nome dos doadores e disse uma frase que entrou para a história. “Transparência demais é burrice.” Transparência não foi um problema para Vaccari. As investigações mostram que ele mascarou as propinas que o PT recebeu no esquema da Petrobras em forma de doação oficial de campanha.
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domingo, 22 de março de 2015

Dilma encastelada

Enquanto os escândalos se sucedem, a presidente se isola com conselheiros palacianos, é tutelada por Lula e se mostra incapaz de fazer o governo andar

Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
A sequência de acontecimentos é avassaladora. Na tarde do domingo 15, dois milhões de brasileiros vãos às ruas gritar contra a presidente Dilma Rousseff. Na noite do mesmo dia, os ministros José Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto, desalinhados nas roupas e desorientados nas ideias, rechaçam os protestos, enquanto as cidades clamam em mais um ruidoso panelaço. Na segunda-feira 16, Dilma faz um pronunciamento sobre as manifestações e ninguém, nem seu séquito, parece dar bola para o que ela diz. Ao contrário: enquanto a presidente fala, ouve-se panelaços em várias cidades do País. Na terça-feira 17, ela é informada que o escudeiro José Dirceu recebeu uma fortuna, em supostos serviços de consultoria, de empresas investigadas pela Operação Lava Jato. Também no dia 17, surge um documento atribuído ao ministro da Comunicação Social, Thomas Traumann, que espezinha o governo. Na quarta-feira 18, a rainha Dilma descobre que os súditos estão insatisfeitos. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, seus índices de rejeição estão próximos aos do ex-presidente Fernando Collor às vésperas do impeachment – palavra que, aqui e ali, começa a circular no País. Na quinta-feira 19, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque depõe na CPI que apura malfeitos na estatal e que deve trazer elementos para incriminar gente graúda do PT, o partido da presidente. Na sexta-feira 20, o dólar dispara, a Bolsa cai e alguém revela que o desemprego avança.  No sábado, o que virá? E no domingo? O que a nação descobrirá nos próximos dias? O que as semanas reservam ao País? Onde isso tudo vai parar?
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Mergulhada na mais grave crise política do Brasil desde a queda de Collor, em 1992,  a presidente Dilma está encastelada em um palácio que parece prestes a desmoronar. A presidente reage tibiamente. Não faz movimentos consistentes. Não toma uma decisão capaz de reverter – ou, pelo menos, estancar – o ciclo de escândalos. É uma rainha à procura da coroa perdida. Em um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, o professor da USP Oliveiros Ferreira compara a presidente ao monarca Luís XIV. Foi ele quem disse “LÉtat cést moi” (“o Estado sou eu”). Por mais que comparações desse tipo sejam imprecisas, Dilma tem agido como se fosse a encarnação de uma soberana auto-suficiente, indiferente aos caos generalizado, incapaz de expressar um gesto qualquer de humildade, de lançar um movimento, de propor uma ação que traga alguma boa nova ao País. Oliveiros faz referências à política externa do governo brasileiro, política essa expressa nas inclinações pessoais da presidente e não nos interesses do Brasil. “LÉtat cést moi” diria uma Dilma confiante de seus propósitos. O País vai mal e a rainha encastelada não ceifa ministérios (em tempos de ajuste de contas, seria simbólico e altamente positivo enxugar a máquina), não assume os erros na condução da política econômica, não corta a corrupção pela raiz (até quando ela vai poupar antigos aliados?). Faz, enfim, apenas o que lhe convém – e não o que é necessário para tirar o Brasil do marasmo.
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Na terça-feira 17, Dilma se encontrou com o rei sem trono, o ex-presidente Lula, e foi informada que o isolamento cada vez maior pode ser perigoso para a sobrevivência dela e do próprio PT. “Se não tem verba, use o verbo”, disse Lula, sem paciência, ao ouvir a ladainha da falta de recursos e convicto de que é preciso melhorar a comunicação do governo. Lula fez lembrar a frase de Maria Antonieta. Ao ouvir de um cocheiro que o povo não tinha o que comer, a consorte da França saiu-se com um “se não têm pão, que comam brioches.”  Para ficar no campo da realeza, há alguns dias o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que “o rei está nu”, numa alusão às feridas escancaradas do governo. FHC tem lançado artilharia pesada. Falou que Dilma precisa vestir as sandálias da humildade e que a presidente “está perdendo as condições políticas de governar.” O tiroteio vem de todos os lados. Na semana passada, o senador João Capiberibe (PSB-AP) afirmou que o Brasil vive “uma cleptocracia.”
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Desde que se elegeu para o segundo mandato, a presidente tem evitado o diálogo com a sociedade. Nesse período, escalou ministros para pronunciamentos vazios, deu respostas confusas sobre os temas que preocupam o País e, nos jantares forçados com aliados, fez promessas de aproximação que se desfizeram nos dias seguintes. Mesmo quando decidiu sair da clausura, fez isso de forma atabalhoada. Na quarta-feira, 18, escalou sua equipe para o lançamento do pacote anticorrupção prometido como resposta às manifestações. Com uma plateia repleta de assessores dispostos a aplaudir os discursos, o clima estava artificialmente favorável, embora o pacote não tenha trazido nenhuma novidade. É formado basicamente por projetos que já tramitavam no Congresso e outros discutidos há anos, como a Lei Anticorrupção, que prevê a punição de empresas envolvidas em práticas relacionadas ao desvio de recursos. A norma esperou na mesa de Dilma quase dois anos por regulamentação. Na semana passada, circularam na internet reportagens sobre o pacote anticorrupção lançado, repare bem, pelo governo Lula, em 2005. É praticamente a mesma coisa que foi proposta por Dilma. Uma década passou e o PT não atualizou suas ideias.
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Antes de ser apresentado ao País, o pacote foi entregue aos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ambos investigados, repare bem novamente, por envolvimento na Operação Lava Jato. Para confirmar que o governo se tornou refém desses políticos, uma reunião na véspera do lançamento do pacote levou o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, a detalhar as propostas para um público especial. Cardozo defendeu os pontos do pacote para parlamentares como Fernando Collor de Mello (PTB-AL), Benedito de Lyra (PP-AL) e Humberto Costa (PT-PE). Detalhe interessante: todos eles foram citados nas delações premiadas dos acusados de operar os desvios de recursos da Petrobras.
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Alheios ao constrangimento de precisar submeter-se aos investigados, Dilma e seus ministros comemoraram o lançamento do pacote. “Acho que esse quadro de rejeição e queda de popularidade é reversível”, disse, como se estivesse alheio à realidade, o secretário-geral da Presidência, Miguel Rossetto. O clima de otimismo durou pouco.  Uma crise política repentina ofuscou a agenda positiva que ela tentou criar. Enquanto os ministros se reuniam em seus gabinetes para avaliar a repercussão das propostas, o então ministro da Educação, Cid Gomes, fazia uma lambança na Câmara dos Deputados (leia reportagem à pág 54).
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Para colocar ainda mais obstáculos ao reinado dilmista, partidos de oposição apresentaram na semana passada um pedido de reconsideração ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, para que analise a possibilidade de a presidente ser incluída no rol de investigados da Operação Lava Jato. Embora tenha sido mencionada em depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, Dilma foi retirada da investigação pelo procurador-geral Rodrigo Janot. Zavascki afirmou que encaminhará o pedido ao Ministério Público Federal. Ilhada, a presidente tenta reagir, mas deixa evidente sua fragilidade e dependência do Congresso, que parece dedicado a lhe ser cada vez mais hostil. Dilma não tem sossego. Na quinta-feira 19, uma proposta aprovada no TCU (Tribunal de Contas da União) poderá levar a presidente a se tornar alvo de ações de fiscalização do órgão que apura desvios na Petrobras. Se isso acontecer, será a abertura das portas do inferno. A decisão permite que Dilma seja investigada, multada e tenha bens bloqueados. Mas isso é coisa da semana passada. Na próxima segunda-feira, na terça, na quarta e nos muitos dias à frente, Dilma provavelmente estará enredada em novos e escabrosos episódios. A rainha precisa sair de seu castelo.  

sábado, 21 de março de 2015

Os esquemas do Duque

As operações nada nobres e a vida imperial de Renato Duque, o ex-diretor da Petrobras que fez fortuna ao alimentar o PT com milhões de reais desviados da estatal

Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br)
“Se o senhor é o duque, quem é o rei?” O questionamento foi feito pelo deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a rede de corrupção instalada dentro da maior estatal brasileira. Preso pela Polícia Federal (PF) na segunda-feira 16, o ex-funcionário da petrolífera prestou depoimento à CPI três dias depois. A PF prendeu Duque após a inteligência da instituição descobrir que ele tentou movimentar mais de 20 milhões de euros de uma conta da Suíça para vários países, entre eles o Principado de Mônaco – não poderia haver, afinal, lugar mais apropriado para um duque. Na comissão, o ex-diretor não revelou quem é o monarca supremo nem respondeu às outras perguntas dos parlamentares. Pelo menos momentaneamente, o silêncio confortou as hierarquias do Palácio do Planalto e do PT. Se confirmasse o teor da denúncia do Ministério Público Federal (MPF) sobre o aparelhamento da Petrobras por uma quadrilha, o reinado petista sofreria abalos irremediáveis. 
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Segundo os investigadores da Operação Lava Jato, a rede de corrupção era integrada por parlamentares, empreiteiros e diretores da Petrobras. Em depoimentos prestados em regime de delação premiada, executivos e donos de empreiteiras revelaram como funcionava a complexa engrenagem montada para capitalizar as empresas e abastecer os cofres de partidos políticos e funcionários corruptos. Duque, ironicamente chamado de “nobre” pelos empreiteiros do cartel, negociava o montante de propina para os petistas. Nesse sentido, as declarações de Augusto Mendonça, do Grupo Setal, forneceram valiosas informações para o Ministério Público.
Documentos obtidos com exclusividade por ISTOÉ revelam o funcionamento detalhado do esquema que chegou ao topo do PT. Um caso narrado por Mendonça e acontecido na área de influência de Duque balizou a denúncia do MPF. A máquina montada para desviar dinheiro público se sustenta com o aumento ilegal dos custos das obras da Petrobras. O pagamento de serviços fantasmas era legalizado por notas fiscais de empresas de fachada. Mendonça relata que os aditivos fictícios na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR), renderam R$ 111,7 milhões a seu grupo de empresas. Desse montante, R$ 4,26 milhões foram repassados como doação oficial de campanha para diretórios do PT, por meio de 24 transferências financeiras realizadas entre outubro de 2008 e março de 2012. O dono do grupo Setal – que reúne as empresas PEM Engenharia, Projetec e SOG Óleo e Gás – apresentou comprovantes e datas destas movimentações financeiras. O contrato da Repar recebeu 32 aditivos, de acordo com o sistema de monitoramento da Petrobras.
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Depois de sucessivos avisos sobre essas irregularidades, o Tribunal de Contas da União (TCU) incluiu a Repar na lista dos empreendimentos irregulares e recomendou que o Congresso – na votação da Lei orçamentária de 2010 – bloqueasse a liberação de recursos públicos para o projeto. O Legislativo avaliou que as denúncias contra a Repar eram graves e suspendeu o pagamento. Mas o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou o texto da lei orçamentária que bloqueava repasses para obras da refinaria. O veto foi publicado no Diário Oficial da União no dia 27 de janeiro de 2010. No mesmo dia, o Diretório Nacional do PT foi contemplado com uma transferência de R$ 350 mil da SOG Óleo e Gás, uma das beneficiárias da obra. Na ocasião, Lula – uma espécie de imperador dos petistas – justificou o veto como uma medida para evitar milhares de desempregos. Mendonça afirma ter pago a propina em troca de favorecimentos de suas empresas em obras da Repar. O contrato com a companhia foi firmado em julho de 2008. A primeira parcela, de R$ 100 mil, caiu na conta do diretório do PT na Bahia três meses depois.
De acordo com os depoimentos dos delatores, os números das contas beneficiadas com os depósitos eram fornecidos pelo tesoureiro do PT, João Vaccari. A utilização do caixa de campanha para mascarar a propina obtida com contratos superfaturados da Petrobras já havia sido mencionada por outros réus colaboradores, conforme revelou ISTOÉ em sua edição de 21 de novembro de 2014. O papel de Renato Duque e Vaccari na rede de corrupção também foi mencionado pelos executivos Shinko Nakandakari (consultor da Galvão Engenharia), Eduardo Leite (vice-presidente da Camargo Corrêa), e Mário Góes (UTC, OAS, Mendes Junior, Andrade Gutierrez e Schain).
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O dinheiro que Duque tentou movimentar no fim do ano passado em Mônaco compõe apenas uma parte dos R$ 311 milhões em propina que ele abocanhou com o esquema, segundo a Operação Lava Jato. Relatórios do MP elaborados a partir dos depoimentos de delação apontam que, entre 2003 a 2012, quando Duque deixou a Petrobras, ele angariou R$ 1,5 bilhão de empreiteiras. Desse total, quase US$ 200 milhões recolhidos por Vaccari foram diretamente para o Partido dos Trabalhadores. Nos depoimentos dos delatores, o tesoureiro e Renato Duque aparecem como a dupla responsável por angariar e recolher a cota de propina que caberia ao PT.
O empreiteiro do Grupo Setal contou ainda que foi procurado por Duque no início de julho de 2010 e o ex-diretor pediu que ele se encontrasse com Vaccari para depositar R$ 500 mil em benefício do PT. De acordo com Augusto Mendonça, cinco transferências de R$ 100 mil foram realizadas em 7 de julho de 2010 no CNPJ do Diretório Nacional. Os recursos seriam “deduzidos do percentual das vantagens indevidas da Diretoria de Serviços da Petrobras em decorrência da obra da Repar”, conforme denúncia do MP. O episódio mostra, no entanto, que o PT já contava com a doação antes mesmo de receber o dinheiro. Na prestação de contas do partido, as transferências de R$ 100 mil foram lançadas no dia 28 de junho de 2010, nove dias antes da data informada pelo empreiteiro à força tarefa da Lava Jato.
O Ministério Público identificou pelo menos 10 das 24 doações partidárias feitas com o objetivo de disfarçar o pagamento de propinas. Esses repasses intermediados por Duque e Vaccari foram realizados para o Diretório Nacional do PT em 2010, ano da disputa eleitoral que consagrou Dilma Rousseff presidente da República. A análise de recibos de transferências para o PT apresentados por Augusto Mendonça abriu uma nova frente de investigação para a Lava Jato. Os procuradores vão cruzar documentos entregues pelos empreiteiros que fizeram delação premiada com a prestação de contas do partido na Justiça Eleitoral. Na terça-feira 17, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi oficiado pelo Ministério Público a entregar “em formato eletrônico pesquisável todas as doações feitas ao Partido dos Trabalhadores desde 2008.” Inconsistências na prestação de contas de Dilma foram encontradas por técnicos do TSE, em dezembro de 2014. Durante o julgamento das contas, os profissionais que elaboraram o relatório deram parecer pela rejeição. Os técnicos apontaram irregularidades em 9% dos documentos apresentados para comprovar a arrecadação de R$ 350 milhões e em 14% das notas fiscais de despesas.
Pelo menos por enquanto, a força tarefa da Lava Jato não tem contado com a colaboração do ex-diretor da Petrobras. Ele resiste às investidas do Ministério Público, não compromete ninguém e alega inocência. Se for julgado culpado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, segundo a denúncia do MP, será condenado a, no mínimo, 30 anos de prisão. As negativas de colaboração com a Justiça colocam a família de Duque no olho do furacão. Em um dos poucos momentos em que soltou a voz na sessão da CPI, foi para negar que sua esposa, Maria Auxiliadora Tibúrcio, tenha procurado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de pedir ajuda para um habeas corpus que tirasse o marido da cadeia na primeira vez em que foi preso, em novembro de 2014.
O filho do ex-diretor, Daniel Duque, também entrou no radar das investigações da CPI. A deputada Elisiane Gama (PPS-MA) questionou a participação de Daniel na empreiteira Technip. Entre 2011 e 2012, ele trabalhou na sede da empresa no Texas, nos Estados Unidos, e na subsidiária brasileira de 2012 a 2014. A Technip tem parcerias com a holandesa SBM Offshore, acusada de pagar US$ 240 milhões em propina a funcionários da Petrobras para obter contratos. Um consórcio integrado pela Technip ganhou, em 2011, a concorrência para um contrato de US$ 1 bilhão de frete e operação de navios que estão sendo construídos na Coreia do Sul.
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Antes de ser preso, Duque recebeu valiosa ajuda da família na montagem de uma grande operação para eliminar provas. Além da tentativa de esvaziar as contas da Suíça, eles limparam as gavetas. Um vizinho do ex-diretor relata que, um dia antes de ser novamente preso, muita coisa foi retirada do apartamento dele, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e levada para a casa do filho, no prédio ao lado. De acordo com o relato dos moradores, foram feitas cerca de 20 viagens de carro, do prédio de Renato Duque para o do filho. Os dois imóveis são colados, parede com parede. “Chegava a ser engraçado”, afirma o vizinho. “O carro, todo fechado e com vidro escuro, saía de frente da garagem do Duque e entrava de ré na garagem ao lado. Depois fazia o caminho inverso.”
Capitalizado com dinheiro ilícito, Duque levou um estilo de vida incompatível com a renda de um diretor da Petrobras. Em sua cobertura duplex na Barra da Tijuca, nobre endereço da zona sul do Rio, a Polícia Federal apreendeu 131 obras de arte. Foram encontrados trabalhos supostamente assinados por artistas como Miró, Djanira, Heitor dos Prazeres, Agostinho Batista de Freitas, Antonio Poteiro, Carybé, Yara Tupynamb e Guignard. O expressivo número de obras pode ser um indício de lavagem de dinheiro. Segundo especialistas, esse é um artifício utilizado por criminosos do mundo inteiro. A questão é saber da autenticidade dos quadros e dimensionar o número de gravuras (que custam, no mercado, no máximo R$ 10 mil) e de pinturas a óleo (um Miró genuíno pode chegar a valer R$ 5 milhões). Por ora, é impossível calcular o valor do acervo. “Pelo que vi nos jornais, o material apreendido só serve para enxaguar e não para lavar dinheiro”, diz o marchand e diretor da Pinakotheke Cultural, Max Perlingeiro.
Duque era rei no prédio onde morava. Dos quatro andares do edifício, três pertencem à sua família. Em número menor, os outros moradores não tinham voz ativa nas decisões do condomínio. Segundo um vizinho, a reforma da cobertura do imperador da Petrobras começou de forma ilegal e só foi regularizada depois que mais de R$ 800 mil foram pagos à Prefeitura do Rio.
O que mais surpreendeu os agentes da Polícia Federal foi a descoberta, na segunda-feira 16, de um cômodo secreto, uma espécie de bunker, dentro do closet do quarto de casal. A primeira porta, por detrás do forro, é aberta apenas quando um ponto específico do armário é pressionado. Depois, surge uma segunda porta, operada por controle remoto, que dá acesso, enfim, ao espaço de aproximadamente seis metros quadrados, com iluminação e ventilação independentes do resto do apartamento. Lá dentro, os policiais encontraram documentos, relógios e joias.
(Colaboraram Helena Borges e Eliane Lobato) 

sexta-feira, 20 de março de 2015

Cade faz acordo de leniência com o grupo Setal, investigado na Lava Jato

O acordo é uma espécie de delação premiada em que a empresa delatora detalha quais foram as práticas anticoncorrenciais levadas adiante em conluio com outras companhias

O consultor Júlio Camargo que intermediava pagamento de propinas no escândalo do petrolão
O consultor Júlio Camargo que intermediava pagamento de propinas no escândalo do petrolão(Reprodução/VEJA)
A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) informou nesta sexta-feira que celebrou acordo de leniência com o grupo Setal, administrado por um dos delatores do petrolão, Julio Camargo. Também aderiram ao acordo pessoas físicas, funcionários e ex-funcionários das empresas do grupo. O acordo, que funciona como uma espécie de delação premiada, foi assinado em conjunto com o Ministério Público Federal do Paraná (MPF/PR), dentro da Força-Tarefa da Operação Lava Jato.
Os materiais obtidos por meio do acordo de leniência, assim como outros eventualmente colhidos pelo Cade, poderão ser utilizados pelo MPF/PR como subsídio no âmbito dos processos penais. O acordo de leniência celebrado no âmbito do Cade é diferente daquele previsto na Lei Anticorrupção, pois não livra as empresas da inidoneidade - ou seja, elas ainda podem ser impedidas de prestar serviços ao governo. Para que consigam continuar participando de licitações, as empresas precisam firmar o acordo de leniência com a Controladoria Geral da União (CGU). O decreto que detalha os termos do acordo e a regulamentação da lei foi publicado na quinta-feira.
O Cade informa que, por meio desse acordo, os signatários confessam sua participação, fornecem informações e apresentam documentos probatórios a fim de colaborar com as investigações do alegado cartel entre concorrentes em licitações públicas de obras de montagem industrial onshore da Petrobras. Acompanha o acordo de leniência um Histórico da Conduta, no qual a Superintendência-Geral do Cade descreve de maneira detalhada a prática anticompetitiva relatada pelos signatários e subsidiada pelos documentos probatórios apresentados.
Segundo o Cade, os signatários dispensaram a confidencialidade do acordo e de seus anexos. Desse modo, a SG/Cade, em concordância com o MPF/PR, divulgou uma versão pública do Histórico da Conduta. Mas alguns documentos e informações, incluindo os nomes dos funcionários das empresas concorrentes que segundo os signatários teriam participado do alegado cartel, estão, por enquanto, sendo mantidos sob acesso restrito, "no interesse das investigações".
A Superintendência-Geral do Cade conduz inquérito administrativo sigiloso no qual investiga a conduta de cartel relativo a esse caso. O material obtido no acordo de leniência subsidiará as investigações, em conjunto com outras diligências e evidências colhidas pela Superintendência-Geral do Cade, incluindo materiais dos inquéritos e ações penais movidas pela Polícia Federal e pelo MPF/PR na Justiça Federal do Paraná. Do mesmo modo, poderão ser utilizadas eventuais provas apreendidas em sede de buscas e apreensões realizadas pelos dois órgãos, cujo compartilhamento com o Cade foi judicialmente autorizado, explica o Conselho.
Ao final do inquérito, cabe à Superintendência decidir pela eventual instauração de processo administrativo, no qual são apontados os indícios de infração à ordem econômica colhidos e as pessoas físicas e jurídicas acusadas. Nessa fase, os representados no processo serão notificados para apresentar defesa. Ao final da instrução, a Superintendência emite parecer opinativo pela condenação ou pelo arquivamento do caso em relação a cada acusado. As conclusões são encaminhadas ao Tribunal do Cade, responsável pela decisão final.
(Com Estadão Conteúdo)

quinta-feira, 19 de março de 2015

Fifa fatura R$ 16 bilhões com a Copa no Brasil, valor recorde para a entidade

Cifra superou até mesmo as estimativas mais otimistas da organização máxima do futebol

AE
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Na Fifa, lucros recordes. No Brasil, estádios deficitários, fechados e até afetados pela Operação Lava Jato. A Copa do Mundo de 2014 garantiu para a entidade que controla o futebol mundial o maior resultado financeiro de sua história e milhões acima até mesmo do que a entidade previa.
O jornal O Estado de S. Paulo obteve com exclusividade o balanço comercial mantido em sigilo pela entidade que será revelado nesta sexta-feira e aponta que o Mundial rendeu à Fifa perto de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 16 bilhões). Diante do recorde, jamais a entidade acumulou uma fortuna como a que hoje dispõe.
 
Entre 2010 e 2014, enquanto o mundo pena para sair de sua pior crise financeira em 70 anos, a Fifa segue um caminho radicalmente diferente graças aos contratos no Brasil. Apenas no ano de 2014, a renda foi de quase US$ 2 bilhões, um recorde absoluto com contratos comerciais, vendas de ingressos e direitos de televisão.
 
Nenhum outro evento jamais se comparou aos ingressos gerados pelo Brasil, e sem a cobrança de impostos. Para a Copa de 2010, na África do Sul, a renda chegou a US$ 4,1 bilhões. No ano de renda máxima na história da entidade, em 2006, os ingressos chegaram a US$ 249 milhões. Agora, os valores apontam para um salto de dez vezes.
 
A entidade argumenta que deixou parte dessa renda ao Brasil, com um pacote de US$ 100 milhões para o desenvolvimento do futebol no País. O que a Fifa não diz é que o volume é equivalente ao que paga, por ano, em salários a seus próprios cartolas.
 
Buraco
 
Se a Fifa nada em dinheiro hoje, a situação dos estádios brasileiros nem sempre acompanha esses benefícios. Pelo menos seis dos 12 estádios da Copa estão com sérias dificuldades para se financiar.
 
Na Fonte Nova, em Salvador, o problema é o impacto dos escândalos de corrupção no Brasil e a Operação Lava Jato. A OAS, empresa que administra o estádio, teve suas ações bloqueadas pela Justiça e pode ser obrigada a se desfazer do investimento na arena.
 
Em Manaus, os times amazonenses têm evitado usar o estádio diante dos custos para os jogos do Estadual. A Arena Amazônia, que custou R$ 670 milhões, precisa de R$ 700 mil por mês em manutenção. Mas, entre o final da Copa e fevereiro deste ano, o estádio recebeu apenas sete partidas e o prejuízo supera a marca de R$ 2 milhões. Em média, o campeonato amazonense de futebol de 2015 tem recebido um público pagante de 659 pessoas por jogo.
 
Em Brasília, a falta de jogos no Estádio Mané Garrincha levou o governo do DF a levar parte de sua burocracia para ocupar o local. Hoje, seu buraco é de mais de R$ 5 milhões.
 
Em Natal, o ABC rompeu nesta semana um acordo com o consórcio que administra a Arenas das Dunas. Um contrato previa que os clássicos do Estado fossem realizados no estádio. Mas, no início do mês, a partida entre ABC e América foi disputado no Frasqueirão.
 
O América manteve seus jogos na Arena. Mas, em sete partidas, acumulou uma média de meros 3,5 mil pagantes por jogo - 10% da capacidade do estádio.
 
O Maracanã ainda luta para operar com lucros. Para que uma partida represente um benefício para os administradores, o estádio precisa contar com pelo menos 30 mil torcedores. No atual campeonato estadual, a média de público não passa de 3,6 mil por jogo. No caso do Flamengo, a média é de 16 mil.
 
Em janeiro, a Arena Pantanal foi obrigada a fechar suas portas para uma reforma "urgente". Isso tudo apenas sete meses depois da Copa.