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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Delúbio arrecada mais de R$ 1 milhão para pagar multa do mensalão

Prazo para pagamento da multa termina nesta sexta-feira (31).
Valor arrecadado supera em R$ 500 mil quantia estipulada pela Justiça.

Mariana Oliveira Do G1, em Brasília
O site criado pela família do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, condenado no processo do mensalão, arrecadou mais de R$ 1 milhão em oito dias para o pagamento da multa imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), segundo informações do site divulgadas nesta quinta-feira (30). O valor superou em mais de R$ 500 mil a quantia estipulada pela Justiça, de R$ 466,8 mil.
O prazo para pagamento da quantia termina nesta sexta (31). Segundo o advogado Celso Villardi, que defende Delúbio, a multa será quitada dentro do prazo.
Delúbio Soares ao chegar para o primeiro dia de
trabalho na CUT (Foto: André Coelho / O Globo)
Delúbio Soares chega para o primeiro dia de trabalho (Foto: André Coelho / O Globo) Preso em novembro, Delúbio cumpre pena de 6 anos e 8 meses por corrupção ativa em regime semiaberto em Brasília. Obteve autorização para trabalhar na CUT durante o dia e começou no novo emprego no dia 20 de janeiro, com salário de R$ 4,5 mil. Além de corrupção, também foi condenado por formação de quadrilha, mas aguarda julgamento de recurso no STF que pode reverter a pena de mais 2 anos e 3 meses.
De acordo com o coordenador do setor jurídico do PT, Marco Aurélio Carvalho, assim como fez o ex-presidente do PT José Genoino, que doou R$ 30 mil do que sobrou do dinheiro que arrecadou para Delúbio, o ex-tesoureiro também doará o excedente do valor arrecadado para outro petista condenado pelo STF no processo do mensalão. Carvalho disse que o beneficiado pode ser o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que ainda não foi notificado para pagar a multa.
Condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, Dirceu terá que pagar 260 dias-multa no valor de 10 salários mínimos (no montante vigente à época do crime, de R$ 260), o que dá ao menos R$ 676 mil. O valor ainda vai aumentar porque será atualizado com base na inflação quando a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal intimar o petista, o que ainda não ocorreu.
A quantia exata arrecadada no site criado para Delúbio foi de R$ 1.013.657,26 - até quarta (29) o valor era de R$ 415 mil e mais que dobrou até esta quinta. Na avaliação de Marco Aurélio Carvalho, foram dois os responsáveis pela elevada arrecadação: a militância do PT e o presidente do STF, Joaquim Barbosa. Segundo ele, a declaração de que condenados do mensalão deveriam permanecer no "ostracismo", dada na Europa, revoltou os petistas.
"Foram dois grandes responsáveis: o militante do PT, que tem um valor intrínseco enraizado, o valor da solidariedade. Por isso um chama o outro de companheiro. Nossa direção nacional e estadual tiveram papel importante porque conclamaram a militância. O segundo fator, temos que agradecer a Joaquim Barbosa, presidente do Supremo, que insuflou a militância que deu uma resposta rápida à declaração sobre o ostracismo. Nenhum deles (petistas condenados pelo STF) estará no ostracismo porque eles são condenados políticos", disse Marco Aurélio Carvalho.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Empréstimo “tipo exportação” contrasta com demanda interna

Apesar dos problemas de infraestrutura nacional, o BNDES financiou ao menos R$ 3,29 bilhões em empreendimentos executados em 16 países em 2013
  André Gonçalves, correspondente Ao inaugurar o Porto de Mariel, em Cuba, a presidente Dilma Rousseff reacendeu anteontem os holofotes sobre o uso de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o financiamento de obras no exterior. O BNDES emprestou US$ 802 milhões (R$ 1,92 bilhão) para que um grupo de empresas brasileiras lideradas pela Odebrecht executasse o empreendimento. Diversas operações
como essa estão em curso em outros países, com polêmicas sobre os acordos firmados entre o governo brasileiro e as autoridades locais.
Na contramão disso, o Brasil enfrenta dificuldades para viabilizar obras de infraestrutura internas, apontadas como um dos principais obstáculos para o crescimento do país. “Colocar dinheiro que sai do bolso dos brasileiros em investimentos fora do país, ainda mais na situação em que nos encontramos, soa como escárnio”, diz o professor de Administração Pública da Universidade de Brasília José Matias-Pereira. O BNDES é capitalizado por recursos do Tesouro Nacional, impostos e contribuições como o Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Wenderson Araújo/ Gazeta do Povo / Alvaro Dias (PSDB), senador
Wenderson Araújo/ Gazeta do Povo
Alvaro Dias (PSDB), senador
Banco se blinda aos órgãos de controle, diz auditoria
Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) aberta para fiscalizar o maior financiamento da história do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a construção da Usina de Belo Monte, pouco avançou no mapeamento dos recursos públicos, mas revelou a narrativa da blindagem da instituição aos órgãos de controle. Documentos do tribunal consultados pela reportagem e levantamentos no Ministério Público revelam os meios usados pelo banco, maior instituição de fomento da América Latina, para “recusar” informações sobre financiamentos, empréstimos e operações subsidiadas.
Para o TCU, Controladoria Geral da União (CGU) e o Ministério Público Federal (MPF), o banco – que recebeu mais de R$ 400 bilhões em dinheiro do Tesouro Nacional desde o início da crise – não repassa dados suficientes para aferir suas operações. Entre os expedientes usados, o BNDES cita sigilo bancário e se vale da indecisão da Advocacia-Geral da União (AGU) para arbitrar disputas do banco com a CGU.
O caso mais recente de blindagem de dados envolve a construção da hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira (PA), cujo consórcio Norte Energia S/A vai receber R$ 22,5 bilhões do banco para levantar a usina. No meio do ano passado, o TCU abriu uma auditoria para verificar a regularidade do uso de recursos do banco na terceira maior hidrelétrica do mundo, no Rio Xingu, e em outras duas obras de concessionárias de serviços públicos.
Começava ali uma história de resistência, segundo autoridades da corte. Desde 30 de agosto, técnicos e ministros do TCU reuniram-se cinco vezes com integrantes do banco para acessar as informações a fim de embasar a auditoria. Na última manifestação do tribunal no caso, a corte derrubou o sigilo da auditoria, expondo as tentativas frustradas de acesso a informações.
Agência Estado
Financiamentos
Em 2012, o banco financiou empreendimentos executados em 15 países, que totalizaram US$ 2,17 bilhões (R$ 5,2 bilhões). Entre janeiro e setembro de 2013, data do último levantamento disponível, o valor foi de US$ 1,37 bilhão (R$ 3,29 bilhões) para 16 países. Os valores correspondem aos financiamentos do tipo “pós-embarque”, de apoio à comercialização de bens e serviços nacionais no exterior, e representam 2,2% do total de R$ 146,8 bilhões em desembolsos do BNDES entre janeiro e outubro.
As operações feitas pelo banco não são negociadas diretamente com os governos de outros países, mas com empresas brasileiras responsáveis pelos empreendimentos no exterior. No ano passado, contudo, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, tornou sigilosos até 2027 os documentos relacionados aos acordos para obras em Cuba e Angola. A justificativa era de que os papéis envolviam informações “estratégicas” e que o segredo foi solicitado pelos dois países.
De acordo com o Palácio do Planalto, a verba para o porto de Mariel foi gasta com a compra de bens e serviços “comprovadamente” brasileiros, o que teria gerado cerca de 156 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no país. No discurso de inauguração da obra, Dilma anunciou que o BNDES vai financiar mais US$ 290 milhões (R$ 701 milhões) em uma segunda etapa da obra. “O Brasil quer tornar-se um parceiro econômico de primeira ordem para Cuba”, declarou a presidente.
Análise
Professor do programa de mestrado em Planejamento e Governança Pública da Universidade Federal do Paraná, Antonio Gonçalves de Oliveira avalia que os empréstimos para obras fora do país podem ser considerados como uma ação de relações internacionais, mas não como uma prática positiva para a economia brasileira. “Se você investe aqui, gera empregos enquanto a obra está sendo desenvolvida e, depois, na operação da estrutura que foi construída”, avalia.
A estratégia também é criticada pela oposição, que chegou a tentar instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar ações do BNDES no ano passa do. “Que o PT tenha paixão por regimes ditatoriais como Cuba é problema deles. O nosso problema é financiar esses regimes com dinheiro dos brasileiros”, afirma o senador paranaense Alvaro Dias (PSDB).
Dinheiro rumo aos EUA
Apesar das reclamações da oposição sobre o viés ideológico dos financiamentos concedidos pelo BNDES para investimentos no exterior, os Estados Unidos foram o destino da maioria dos recursos do tipo “pós-embarque” financiados pelo banco entre janeiro e setembro de 2013. Ao todo, os investimentos comandados por empresas brasileiras no país chegaram a US$ 436,3 milhões (R$ 1,05 bilhão). Na sequência, porém, aparecem Venezuela e Cuba, governadas por socialistas. Juntos, os dois países receberam US$ 485 milhões (R$ 1,16 bilhão).
Resposta
A assessoria do BNDES afirmou em nota que a instituição tem atendido, “dentro dos limites estabelecidos pela lei”, todas as solicitações de informações realizadas pelos órgãos de controle. “Todos foram plenamente atendidos, salvo quando havia algum impedimento legal”, anotou. A instituição ressaltou que o respeito à lei que protege o sigilo bancário “não é uma escolha do BNDES, mas uma obrigação legal do banco”.

Sem obras de mobilidade, governo divulga orçamento olímpico pela metade

Matriz dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, do governo federal tem orçado apenas 24 dos 52 projetos previstos

Terra
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O governo federal divulgou na manhã desta terça-feira, no centro do Rio de Janeiro, a Matriz de Responsabilidades dos Jogos Olímpicos de 2016. Pela metade. Isso porque apenas 24 dos 52 projetos previstos com investimento público, com valor orçado em R$ 5,64 bilhões, atingiram o nível de maturidade 3 - na explicação da Autoridade Pública Olímpica (APO), são os que já estão licitados e com valores definidos para execução.

Todos estes projetos dizem respeito aos Jogos Olímpicos propriamente ditos, ou seja, não incluem obras de mobilidade urbana, e abrangem apenas investimentos já previstos no caderno de encargos, tais como a construção da Vila Olímpica, do Complexo de Deodoro, do Parque Aquático, dentre outras intervenções necessárias para a realizações das competições.

O governo federal tem no cronograma a apresentação, para a segunda quinzena de março, o que vem sendo chamado de "plano de aceleração de investimentos públicos", desta vez contando com obras de mobilidade urbana ainda a serem esclarecidas e divulgadas. Nenhuma delas, no entanto, consta na Matriz de Responsabilidades. Desta forma, não têm necessidade de estarem prontas para a realização dos Jogos - entre 6 e 21 de agosto.

Na semana passada, o Comitê Organizador Rio 2016 para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos divulgou que o gasto para a operação das competições, que diz respeito, dentre outras coisas, a instalações esportivas, transporte e alimentação de delegações e atletas, está orçado em R$ 7 bilhões - 25% a mais do valor divulgado na época do lançamento do dossiê de candidatura.

A dinâmica de divulgação do orçamento por parte do governo federal atende a seguinte dinâmica: muitos dos afazeres que eram de responsabilidade do Comitê Rio 2016 acabaram sendo transferidos para os órgãos públicos - o Complexo de Deodoro, por exemplo, ficou sob responsabilidade da Prefeitura do Rio de Janeiro, via Autoridade Olímpica Municipal.

Deodoro, aliás,  que será palco de disputas de 11 modalidades olímpicas, é um exemplo notório, segundo as autoridades presentes na entrevista da manhã desta terça-feira, para o fato de orçamento do governo federal, estadual e municipal ainda não estar definido. De acordo com a diretora da AOM, Maria Silvia Bastos Marques, o prazo para que se tenha um valor definitivo será divulgado "no primeiro semestre do ano que vem, talvez até antes". Deodoro deve ter as licitações concluídas até abril deste ano.

"O fato de o valor não estar ali não quer dizer que esteja atrasado. No (estádio do) Engenhão (onde será disputado o atletismo) e no (parque aquático) Maria Lenk (para o polo aquático) não podemos contratar todos os fatos de muito adiantado. Deodoro preocupa a todos, mas a gente simplificou o projeto. Ou seja, não estar ali não quer dizer que é um problema”, complementou Maria Silvia.

De acordo com as autoridades que representam o governo federal, a cada seis meses, em média, a Matriz de Responsabilidades será atualizada e repassada ao público. "Não estou com esse planejamento na minha cabeça. A Lagoa, por exemplo, você não vai fazer os lances de arquibancadas a dois anos dos Jogos", exemplificou ainda a diretora da AOM.

O general Fernando Azevedo e Silva, que assumiu a Autoridade Pública Olímpica (APO) em outubro do ano passado, explicou ainda que "o valor quando entra na matriz é dinâmico. Se o projeto é necessário para os Jogos? É. Qual o escopo dele? A data é a licitação. Foi publicada a licitação, tem o valor, entra. De seis em seis meses a gente faz as alterações e publica elas. O quadro da matriz de responsabilidade é dinâmico. Em abril, Deodoro vai cobrir todo o quadro e vai entrar”.

Lei que eleva punição a empresas corruptas começa a valer nesta quarta

A Lei Anticorrupção, que permite ao governo apurar denúncias e punir com multas de até R$ 60 milhões empresas envolvidas em fraudes de contratos públicos, entra em vigor nesta quarta-feira (29) sem a regulamentação de seus artigos.
Com as novas regras, União, Estados e municípios têm autonomia para abrir processos contra empresas suspeitas de corromper a administração pública brasileira ou internacional ou de tentar atrapalhar investigações.
A lei inova ao permitir também que as empresas sejam punidas mesmo que os donos não tenham conhecimento das irregularidades.
Contudo, detalhes como prazos do processo administrativo, critérios para definir o valor de multas e mecanismos de controle interno a serem exigidos das empresas ainda dependem de um decreto para regulamentar a lei.
A regulamentação precisa ser assinada pela presidente Dilma Rousseff, que está em viagem ao exterior. É com base nesse texto que Estados e municípios também irão estabelecer sua regras para seguir a nova lei.
O texto com a regulamentação da lei federal, que traz os detalhes das novas regras, tem 40 itens e está praticamente pronto.
Editoria de Arte/Folhapress
"A regulamentação não é condição para a vigência da lei", afirma o ministro Jorge Hage (Controladoria-Geral da União), ponderando que o detalhamento das regras facilita a aplicação da lei. Hage espera que, até o início da próxima semana, a regulamentação seja divulgada.
Ainda se discute a redação de alguns pontos do decreto. Os técnicos sugeriram, por exemplo, que um processo de punição deverá durar em média 180 dias e que as empresas serão obrigadas a ter código de ética e a dar transparência às doações para políticos e partidos.
A nova lei também prevê que o governo firme um acordo de leniência com as empresas que toparem colaborar com a investigação. Apesar de o auxílio reduzir em até dois terços o valor da multa, a empresa será obrigada a ressarcir o dano causado ao patrimônio público.
"Não vai ser fácil, mas o peso das penas me dão esperança de que o acordo de leniência vai funcionar", diz Hage.
Pela lei, a administração pode aplicar multa de até 20% do faturamento bruto da empresa ou, quando não for possível esse cálculo, de R$ 60 milhões.
Segundo o ministro, as leis atuais preveem "multas ridículas" contra as empresas que fraudam licitações, desviam recursos ou recebem pagamentos indevidos.
As punições mais severas, segundo Hage, são sempre contra pessoas que cometem os atos de corrupção.
'PENA DE MORTE'
A nova lei será aplicada de forma conjunta com as outras já em vigor, permitindo suspender novos contratos com o poder público, declarar uma empresa inidônea e aplicar multas mais altas, independentemente do valor do contrato.
Em casos mais graves, a lei permite ainda que o governo vá à Justiça para pedir a dissolução de empresas corruptas ou suspensão parcial das atividades das companhias. A medida está sendo chamada pelo mercado de "pena de morte" empresarial.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Barbosa diz que condenados no mensalão devem ficar no ostracismo

Ministro retrucou declaração do deputado federal João Paulo Cunha

AE
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O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, criticou nesta segunda-feira, 27, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), condenado pelo mensalão. Para o magistrado, "condenados por corrupção devem ficar no ostracismo" e não ter espaço em "páginas nobres" de jornais. As declarações, feitas em sua chegada a Londres, foram uma resposta ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, que em entrevista publicada no domingo disse que o magistrado fez um "gesto de pirotecnia" ao decretar sua prisão no início de janeiro, mas não assinar o mandado.

As declarações de João Paulo foram feitas ao jornal "Folha de S. Paulo" no domingo. "Excluindo a falta de civilidade, humanidade e cordialidade do ministro, foi um gesto de pirotecnia", disse o deputado, referindo-se à decisão tomada por Barbosa no dia 6, véspera de suas férias, quando ele decretou a prisão, mas não assinou o mandado - segundo o magistrado, por falta de tempo hábil.

Hoje Barbosa foi incisivo em sua crítica. "Esse senhor foi condenado pelos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. Eu não tenho costume de dialogar com réu. Eu não falo com réu", disse, reiterando: "Não faz parte dos meus hábitos, nem dos meus métodos de trabalho ficar de conversinha com réu."

A seguir, o magistrado criticou a imprensa, sem citar nomes de publicações, por entrevistar os condenados. "A imprensa brasileira presta um grande desserviço ao País ao abrir suas páginas nobres a pessoas condenadas por corrupção. Pessoas condenadas por corrupção devem ficar no ostracismo. Faz parte da pena", entende. "A imprensa tem de saber onde está o limite do interesse público. A pessoa, quando é condenada criminalmente, perde uma boa parte dos seus direitos. Os seus direitos ficam em hibernação, até que ela cumpra a pena."

Para Barbosa, entrevistas como a concedida por João Paulo Cunha passam uma imagem errada dos condenados. "No Brasil, estamos assistindo à glorificação de pessoas condenadas por corrupção à medida que os jornais abrem suas páginas a essas pessoas como se fossem verdadeiros heróis", argumentou.

Na sexta-feira, o advogado de João Paulo, Alberto Toron, já havia atacado o presidente do STF por sua decisão de decretar a prisão sem assinar o mandado. "É o fim da picada. Eu acho que não tem que dizer muito mais do que isso. E ele confortavelmente dando seu 'rolezinho' em Paris", disse ele, referindo-se à viagem de Barbosa por Paris e Londres, onde, em meio a suas férias, teve compromissos oficiais. Então o magistrado respondeu: "Um advogado vir a público fazer grosserias preconceituosas contra um membro do Judiciário que julgou seu cliente é prova de um déficit civilizatório".

Barbosa chegou a Londres no início da tarde desta segunda. Ainda hoje, tinha previsto em sua agenda um encontro a portas fechadas com o parlamentar Kenneth Clarke, ex-secretário britânico de Justiça, e especialista em programas anticorrupção. Sua agenda na capital se estende até a quarta-feira, quando vai palestrar no tradicional Kings College. Antes chegar à Inglaterra, o presidente do STF passou cinco dias em Paris, onde discursou no Conselho Constitucional - espécie de supremo francês.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sobreviventes da boate Kiss vivem entre o trauma e a luta por Justiça

Aniversário da tragédia une famílias dos 242 jovens mortos em Santa Maria e moradores da cidade em campanha pela punição dos responsáveis

Alexandra Zanela e Carlos Guilherme Ferreira
Jovens na vida noturna de Santa Maria
Jovens na vida noturna de Santa Maria - Nabor Goulart
Rodrigo Moura Ruoso, 21 anos, vive permanentemente com uma imagem na memória. “O que eu vi lá dentro não é o que passou na televisão. Imagine 200 corpos amontoados. Parecia que eles estavam dormindo, mas estavam mortos”, descreve, detalhando a cena que presenciou no momento em que algumas pessoas ainda tentavam deixar o inferno em que se transformou a boate Kiss, na madrugada de 27 de janeiro de 2012. Ruoso era segurança da Kiss. Foi ele o primeiro a tentar apagar o fogo, depois de o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, acender o sinalizador que, em contato com o isolamento acústico inflamável, iniciou as chamas e pôs fim à vida de 242 jovens.
O aniversário de um ano da tragédia faz com que parte do Brasil reviva a dor daquele fim de semana. Ruoso nunca deixou de conviver com essas sensações, e, desde então, os dias são uma tentativa permanente de recomeçar sem ser assombrado pelas lembranças. A vida do segurança foi, de muitas formas, moldada a partir daquela madrugada. A namorada que o apoia, Jakellinne Lankart, 32 anos, conheceu Ruoso a partir do dia da tragédia. Em solidariedade a ele, enviou uma mensagem pelo Facebook, por tê-lo reconhecido em uma transmissão de TV. Os dois se aproximaram e acabaram se envolvendo mais e mais. “Ele já acordou gritando ‘fogo, fogo, pula, pula’ bem perto da janela do quarto. Eu tive de segurá-lo e explicar que nada disso estava acontecendo”, conta Jakellinne.
Das primeiras mensagens até o encontro, houve demora de muitos dias. Depois da primeira conversa, Ruoso sumiu. Jakellinne não entendeu o motivo do silêncio no novo amigo. Nesse período, o segurança ficou internado, passou 20 dias em coma e iniciou um longo processo para se recuperar de problemas respiratórios, causados pelas inúmeras vezes em que voltou para dentro da boate na tentativa de salvar quem havia desmaiado por conta do cianeto. O gás tóxico – o mesmo usado nas câmaras de gás nazistas – foi produzido pela queima da espuma inadequada, usada como revestimento acústico da boate.
Depois de retomar as conversas, os dois tentaram morar em Salvador. Com dificuldades de adaptação, o casal voltou a viver em Santa Maria. Ruoso atualmente tem dificuldade de encontrar um novo trabalho. Além do trauma psicológico, ele precisa de acompanhamento médico, e, como conta, as empresas preferem não contratá-lo. O que salva é a ajuda da família e o auxílio do INSS, já que Ruoso ainda tem a carteira de trabalho assinada pela Kiss. Para aumentar a renda, ele e a namorada entregam quentinhas. “Teve momentos que eu não queria mais viver. Comia porque a associação ajudava com cesta básica. Fiquei muito magro”, conta.
Mariane Wallau Vielmo tinha 25 anos e estudava Sistemas de Informação na Unifra, em Santa Maria
Mariane Wallau Vielmo tinha 25 anos e estudava Sistemas de Informação na Unifra, em Santa Maria - Reprodução
Assistência às famílias – A entidade que ajudou o sobrevivente foi criada uma semana após o incêndio pelo pai de uma vítima da Kiss, a estudante de Psicologia Jennifer, então com 22 anos. Adherbal Ferreira, 49, conta que deu início à Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) para que servisse de apoio aos outros pais que estavam passando pela mesma dor que ele. Hoje, a associação conta com a ajuda de advogados voluntários e acompanha de perto os processos judiciais e as alterações nas leis contra incêndio, além de organizar manifestações. “Queremos que a justiça seja plena, que todos paguem. Cada um tem seu grau de culpabilidade, sejam os donos, os bombeiros, a prefeitura, os músicos. Eu perdi a minha princesa. Isso foi um assassinato em massa. Só queremos respostas e justiça”, desabafa Ferreira, com dificuldade, enxugando as lágrimas.
“Tem gente chamando de fatalidade. Não é. Teve ação do homem, foi um massacre o que aconteceu na Kiss. Tiraram a vida de 242 jovens, eles não queriam morrer. O fogo foi consequência de falha no procedimento administrativo. Os órgãos públicos têm responsabilidade, eles são pagos para isso”, critica um dos advogados da AVTSM, Luiz Fernando Smaniotto.
A Praça Saldanha Marinho, no centro de Santa Maria, é um ponto permanente de apoio às vítimas da tragédia. Diariamente, das 8h às 18h, parentes dos 242 jovens mortos revezam-se para manter o local em atividade, com fotografias das vítimas, flores e o mais importante: disponibilidade para ouvir quem quiser se apresentar e falar de sua dor. As vigílias foram pensadas para funcionar como uma grande sessão de terapia: quem dá amparo hoje pode precisar de ajuda amanhã, e assim têm sido os dias de quem perdeu alguém no incêndio.
Para quem está ligado diretamente com a tragédia, 27 de janeiro de 2013 ainda é o tempo presente. “É como se tivesse sido ontem”, tenta explicar Sergio da Silva, militar da reserva e pai de Augusto Sérgio, estudante de direito morto aos 20 anos. A AVTSM lidera a busca por justiça. Mas na cidade há, de tempos em tempos, decepções com a dificuldade de condenar os responsáveis pelo incêndio. “O sistema se protege”, critica Silva. “O fato de perder alguém é uma dor com a qual temos que nos acostumar. O que não conseguimos aceitar é o fato de que quem causou tudo isso continua levando a vida normalmente, graças à indiferença do pode público”, diz.
O médico Mario do Canto, pai de Mariana Comassetto do Canto, morta aos 18 anos, compara a morte dos jovens com a crueldade dos campos de concentração nazistas. “Duzentos e quarenta e dois mortos por pura ganância, por corrupção. Mataram esses jovens. É o Auschwitz santa-mariense. Isso não pode cair no esquecimento, tem de servir para chamar a atenção do país”, afirma.