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terça-feira, 29 de abril de 2014

Rio 2016: preparativos são os 'piores' já vistos, diz vice-presidente do COI

John Coates afirmou que entidade foi obrigada a tomar medidas 'sem precedentes' para garantir que competição vai acontecer no Brasil.

BBC
Segundo o australiana John Coates, situação é crítica (Foto: BBC/Reprodução)Segundo o australiana John Coates, situação é crítica (Foto: BBC/Reprodução)
O vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o australiano John Coates, afirmou nesta terça-feira que os preparativos para a Olímpíada de 2016 no Rio de Janeiro são os 'piores' que ele já viu na história recente dos jogos.
Coates afirmou que o COI foi obrigado a tomar medidas 'sem precedentes' para assegurar que a competição vai acontecer, como o envio de peritos ao comitê organizador local.
"A situação é crítica", definiu ele, durante participação em fórum olímpico em Sydney, na Austrália.
A declaração de Coates ocorre em um momento em que o Brasil corre contra o tempo para terminar as obras da Copa do Mundo, que começa daqui a 44 dias.
"Ninguém é capaz de dar respostas neste momento", acrescentou.
Coates, que acumula 40 anos de experiência em Jogos Olímpicos e foi chefe do comitê organizador local da Olimpíada de Sydney, em 2000, já fez seis viagens ao Rio como parte da comissão responsável pela supervisão dos preparativos.
Ele acrescentou que um dos peritos deslocados para o comitê local era um diretor de projetos de construção.
"O COI adotou uma postura de 'mãos na massa', o que é sem precedentes (na história da instituição), mas não há plano B. Nós estamos indo para o Rio", afirmou Coates.
"Acho que a situação é pior do que em Atenas (em 2004). Até agora, os preparativos da capital grega haviam sido os piores que eu já vi."
"Nós ficamos muito preocupados. Eles não estão prontos em muitas, muitas formas. Nós temos de fazer (esse evento) acontecer e essa é a decisão do COI. Não podemos simplesmente ignorar essa situação", acrescentou ele.
Os preparativos para a Olímpíada de Atenas, em 2004, foram marcados por seguidos atrasos, mas os locais de competição e a infraestrutura dos Jogos foram entregues dentro do prazo.
Atraso
Organizadores dos Jogos Olimpícos de Atenas foram alertados inúmeras vezes pelo COI sobre o andamento dos preparativos. Em uma determinada ocasião, o então presidente da instituição, Juan Samaranch, chegou a ameaçar de tirar a Olimpíada da cidade.
Coates afirmou que a construção nem começou em alguns locais no Rio, no que serão os primeiros Jogos Olimpícos na América do Sul, enquanto o cronograma de infraestrutura sofreu atrasos significativos e a a cidade possui "questões sociais que precisam ser resolvidas".
Ele acrescentou que o comitê organizador do Rio possui o mesmo número de funcionários - 600 - do que Londres (que sediu os Jogos de 2012), mas que, no entanto, não têm a mesma experiência.
"Quanto tempo levará entre os locais de competição?", questionou. "Eles estão sendo iludidos. Ninguém é capaz de dar respostas neste momento", disse.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Lula dá entrevista indecorosa sobre mensalão em Portugal

Na TV portuguesa, ex-presidente desqualifica o trabalho do Judiciário brasileiro e afirma que presos do mensalão 'não são gente de sua confiança’

Carlos Graieb
Lula afirma, em entrevista, que presos do PT no julgamento do mensalão 'não são gente da minha confiança'
Lula afirma, em entrevista, que presos do PT no julgamento do mensalão 'não são gente da minha confiança'  (Reprodução)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ser adepto da máxima "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Em entrevista indecorosa à TV portuguesa RTP, publicada neste domingo no site da emissora, Lula — a quem caberia  defender no exterior as instituições brasileiras, fosse ele estadista e não chefe de partido — desqualificou o trabalho do Supremo Tribunal Federal e afirmou que as condenações do julgamento do mensalão foram, em sua maioria, políticas e não jurídicas.
"O que eu acho é que não houve mensalão. Eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. Eu só acho que essa história vai ser recontada. É apenas uma questão de tempo, e essa história vai ser recontada para saber o que aconteceu na verdade", afirmou o ex-presidente. "O tempo vai se encarregar de provar que no mensalão você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica."
Àquilo que Lula "acha" se contrapõem as provas das 5 000 páginas dos autos do mensalão. São documentos, perícias e testemunhos que demonstram que em seu governo instituiu-se um grande esquema de compra de apoio parlamentar. Num tribunal formado majoritariamente por ministros indicados pelo próprio Lula e por sua sucessora, Dilma Rousseff, as evidências foram tidas como suficientes para mandar para a cadeia algumas figuras centrais de seu partido — mesmo depois de esgotadas todas as instâncias de recurso previstas pela legislação.
O ex-presidente, aliás, tratou de se dissociar, de maneira desleal, dos mensaleiros que o ajudaram a fundar o Partido dos Trabalhadores, nos anos 1980, e a conquistar o mais alto posto da República, em 2002. Ele afirmou que embora haja "companheiros do PT presos, não se trata de gente da sua confiança".
Um desses companheiros é José Dirceu, que chefiou a primeira campanha eleitoral de Lula e depois, no primeiro ano de seu mandato, exerceu o cargo de ministro-chefe da Casa Civil. Dirceu foi condenado a 7 anos e 11 meses de prisão e passa seus dias atualmente no presídio da Papuda, em Brasília.
Outro companheiro é José Genoíno, igualmente fundador do PT. Ele ocupou a presidência do partido entre 2002 e 2005 — a era do mensalão, e um momento em que Lula exercia hegemonia absoluta sobre as engrenagens do PT.

Esquema do doleiro operou nos correios

Investigação aponta elo entre Alberto Youssef e a JN Rent a Car, que embolsou R$ 77,5 mi em contratos com a estatal. Testemunha diz que a locadora era usada para lavar dinheiro

Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
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Em 2005, os Correios foram o pivô do maior escândalo de corrupção da era petista no poder, o mensalão. Agora, nove anos depois, a estatal reaparece enredada em outro caso de potencial explosivo. A Polícia Federal, dedicada nos últimos dias a apurar o envolvimento de funcionários públicos no esquema desbaratado pela Operação Lava Jato, encontrou fortes indícios de que o doleiro Alberto Youssef operou, além da Petrobras e do Ministério da Saúde, também nos Correios. O elo entre o doleiro e a estatal é a JN Rent a Car, cujo nome fantasia é Renacar. Esta empresa de aluguel de carros, sediada em Londrina (PR) e pouco conhecida no mercado, embolsou, em oito anos, mais de R$ 77,5 milhões em contratos com os Correios. No inquérito da PF, a JN aparece fazendo transações financeiras com a MO Consultoria, do doleiro Youssef. De 2005 até 2013, a locadora de veículos multiplicou seus ganhos nos Correios em até 20 vezes, com a ampliação e renovação automática de contratos que receberam nada menos que dez aditivos. O proprietário da JN Rent a Car é uma figura conhecida do meio político e policial: trata-se de Assad Jannani, irmão e um dos testas de ferro do ex-deputado José Janene (PP), réu do mensalão que morreu em 2010 de enfarte e que era um dos parlamentares mais próximos de Youssef.
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OUTRA VEZ OS CORREIOS
Pivô do mensalão, a estatal reaparece em novo escândalo. Segundo a PF,
o doleiro Alberto Youssef usou prestadora de serviços da estatal
“Eles usavam a JN Rent a Car para lavar dinheiro”, afirmou em depoimento exclusivo à ISTOÉ a testemunha-chave da Operação Lava Jato, o empresário Hermes Magnus. Foi através de Magnus que a PF soube, no fim de 2008, que o doleiro Alberto Youssef, velho conhecido dos policiais, tinha voltado a operar. Para ISTOÉ, Magnus, ex-sócio de José Janene, detalhou como funcionava o esquema:
“Lembra os euros apreendidos com o Enivaldo Quadrado, doleiro que virou réu do mensalão? Era para comprar os veículos dos contratos de locação com os Correios”, disse o empresário. “Lembro do Janene comemorando o negócio e depois lamentando a apreensão do dinheiro. Eles estão nos Correios. Na verdade, nunca saíram de lá.” Magnus se aproximou de Janene quando buscou um investidor para sua empresa, a Dunel Indústria e Comércio. Ele diz ter se surpreendido quando viu sua empresa usada como lavanderia de dinheiro no esquema de Youssef. “Para comprar os equipamentos, eles usaram diversas empresas de fachada, a maioria em Brasília. No início, queriam colocar tudo em nome da JN Rent a Car”, conta Magnus.
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O sucesso da JN Rent a Car nos Correios foi meteórico. De um faturamento de R$ 1,4 milhão, em 2005, a locadora passou a ganhar mais de R$ 20 milhões em 2009. Ela prestou serviços para a estatal em dez Estados da Federação: São Paulo (região metropolitana e interior), Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Maranhão, Bahia, Ceará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Só o contrato de São Paulo de 2006 foi aditivado dez vezes. Para fornecer 80 kombis aos Correios, a JN Rent a Car recebeu pouco mais de R$ 15 milhões. Um investimento e tanto para quem investiu apenas um terço desse valor – e com dinheiro provavelmente obtido do esquema de lavagem, limpo de impostos e de origem ilegal. Segundo os Correios, cada Kombi custou R$ 1,4 mil por mês.
No inquérito da Polícia Federal fica evidente a ligação da JN com o esquema de lavagem. A quebra de sigilo bancário do doleiro preso mostra a compensação de um cheque de R$ 204.157 emitido pela MO Consultoria, de Alberto Youssef, para a JN, em 9 de janeiro de 2009. Naquele dia não houve outras operações relevantes, embora na primeira semana do ano a movimentação bancária da MO tenha superado os R$ 2,5 milhões. Relatório da inteligência financeira do Coaf, número 4.030, enfatiza o relacionamento da MO Consultoria com a empresa JN Rent a Car Ltda. e uma outra firma, chamada Angel Serviços Terceirizados, ambas investigadas nos autos por “indícios de utilização de pessoas interpostas” para as operações de lavagem de dinheiro. A PF afirma que a empresa de Youssef estava em nome do laranja Waldomiro Tuna de Oliveira, que também aparece no comando de outras empresas de fachada. E se refere à JN como uma “empresa que foi de propriedade de José Janene”. Para os agentes que investigam o caso, só a quebra do sigilo bancário da locadora pode mostrar o verdadeiro destino dos R$ 77,5 milhões que escorreram dos cofres dos Correios nos últimos oito anos.
A quebra de sigilo bancário do doleiro preso mostra a compensação
de um cheque de R$ 204 mil emitido pela MO Consultoria,
de Alberto Youssef, para a JN Rent A Car
Em dezembro de 2012, a JN acabou penalizada pelos Correios por descumprir “cláusulas contratuais”. A questão era mais que uma firula: as 80 kombis da JN que prestavam serviços à estatal haviam sumido. Por causa de uma dívida não paga da locadora com a Volkswagen, oficiais de justiça tinham desembarcado em agências de Ribeirão Preto e começado a apreender os veículos. Os Correios ficaram sem conseguir entregar encomendas e cumprir com suas agendas de atividades.
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Na entrevista à ISTOÉ, o empresário Hermes Magnus fornece outros elos do esquema criminoso. Ele diz ter decidido pular fora da sociedade na Dunel Indústria e Comércio quando Youssef e Janene o obrigaram a assinar uma papelada para abrir offshores da empresa. A Dunel começaria a ser usada pela CSA Projetct Finance (braço financeiro de Youssef) para lavar dinheiro. Primeiro, nas Ilhas Virgens Britânicas, depois nas Bahamas e assim por diante. Segundo Magnus, o esquema obedece a uma lógica complexa que envolve a criação de offshores em até cinco níveis, uma dentro da outra, e diferentes paraísos fiscais. No plano nacional, a teia de empresas chega a até dez níveis de sociedades. “Quando o Youssef estava chegando do Exterior com os documentos para eu assinar, fugi e contei tudo para a PF”, revelou Magnus. Com base nas declarações do empresário, o juiz Sérgio Moro montou uma força-tarefa com a Polícia Federal e o Ministério Público em Londrina para detê-lo. “Para eles, prender o Youssef era uma questão de honra, pois ele enganou a todos em 2003 quando tinha acertado uma delação premiada e prometido não operar mais”, afirmou Magnus à ISTOÉ.
Em 2012, a JN Rent A Car foi penalizada pelos Correios
por descumprir cláusulas contratuais. As 80 kombis da
JN que prestavam serviços à estatal haviam sumido
Segundo o empresário, a JN, que ganhara a licitação milionária nos Correios, estava enredada nessa teia de corrupção. Em 2009, a PF obteve uma pista para prender Enivaldo Quadrado (doleiro réu no mensalão) no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP). Sócio da corretora Bônus-Banval e condenado pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470, Quadrado fora pego na ocasião com 361 mil euros, equivalentes a R$ 1,2 milhão, em maços de notas presos ao corpo, nas meias e até na cueca. Magnus conta que era para ele estar no lugar de Enivaldo Quadrado. “Mas eu não aceitei ser ‘mula’ (pessoa que carrega o dinheiro e entrega no destino combinado) do esquema”, alega. “Eu estava na Europa semanas antes. Deram para mim um celular Voip e queriam um favor. Eu desconfiei e nem liguei o telefone. Duas semanas depois, entendi o porquê”, desabafa. Magnum suspeita que parte dos euros do corretor seria usada para a compra dos veículos da JN Rent a Car.
Euros apreendidos com o doleiro Enivaldo Quadrado seriam
usados para a compra dos veículos da JN Rent A Car
Os investigadores avaliam que o esquema se beneficiou especialmente das gestões do PMDB no comando da estatal, com a anuência do PT, repetindo o enredo que deflagrou as denúncias do mensalão. Nos últimos dias, a PF e o Ministério Público Federal colheram novos e robustos indícios de que Youssef era o braço financeiro de Janene e que este não era apenas mais um deputado mensaleiro, e sim um dos principais operadores políticos do esquema, que já funcionava antes de o governo do PT chegar à Presidência e que continuou operando depois do escândalo do mensalão. “Janene e Youssef eram unha e carne, como uma pessoa só. Entraram seus herdeiros”, confirmou Magnum à ISTOÉ. Quando ele morreu, só moveram as peças do tabuleiro.
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sexta-feira, 25 de abril de 2014

PF diz em relatório que ex-ministro indicou executivo para doleiro preso

Segundo PF, deputado André Vargas disse a Youssef que Padilha indicou.
Ex-ministro da Saúde negou indicação destinada a laboratório de doleiro.

Do G1, com informações do Jornal Nacional
Documentos da Polícia Federal apontam indícios de envolvimento do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha com o doleiro Alberto Youssef, preso durante a Operação Lava Jato sob a acusação de chefiar um suposto esquema de lavagem de dinheiro que, segundo a PF, movimentou cerca de R$ 10 bilhões.
A Polícia Federal analisou o conteúdo de 270 mensagens trocadas de 19 de setembro do ano passado a 12 de março deste ano entre Youssef e o deputado André Vargas (PT-PR).
O ex-ministro Alexandre Padilha repudiou o envolvimento do nome dele e negou que tenha indicado qualquer pessoa para o laboratório Labogen.
Em uma das trocas de mensagens, em 28 de novembro do ano passado, a PF encontrou a citação ao nome de Padilha que, para os policiais, é possivelmente o ex-ministro da saúde Alexandre Padilha.
Na ocasião, segundo documentos da PF, André Vargas diz a Youssef que Padilha indicou um executivo para o Labogen, laboratório do doleiro que teria sido usado no esquema de lavagem de dinheiro.
- Vargas diz: "Achei o executivo".
- Youssef responde: "Ótimo, traga ele para nos reunirmos e contratarmos".
- Vargas responde: "Sexta ele estará aí. Dá o número do celular e fala que é Marcos, estará em São Paulo no dia seguinte ou segunda e que foi o Padilha que indicou".
Segundo o relatório da PF, "Marcos" é Marcuz Cezar Ferreira de Moura, coordenador de promoção de eventos da assessoria de comunicação do Ministério da Saúde na gestão de Padilha. Depois, Moura participou de reuniões na Labogen.
André Vargas afirmou que não recebeu de Padilha nenhuma indicação e disse que responderá a todos os questionamentos "nos foros competentes".
A PF concluiu que existem "indícios que os envolvidos tinham uma grande preocupação em colocar à frente do Labogen alguém que não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras".
No inicio da noite, a assessoria do ex-ministro Alexandre Padilha divulgou nota na qual nega ter feito a indicação do executivo.
"O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha repudia o envolvimento do seu nome e esclarece que não indicou nenhuma pessoa para a Labogen. Se como diz a Policia  Federal, os envolvidos tinham preocupação com as autoridades fiscalizadoras, eles  só poderiam se referir aos filtros e mecanismos de controle criados por Padilha dentro do Ministério da Saúde justamente para evitar ações deste tipo. A prova maior disso é que nunca existiu contrato com a Labogen e nunca houve desembolso por parte do Ministério da Saúde", diz a íntegra da nota.
André Vargas afirmou que não recebeu de Padilha nenhuma indicação e disse que responderá a todos os questionamentos "nos foros competentes". Segundo o deputado, "vazamentos seletivos e fora do contexto não podem servir a qualquer prejulgamento".
Deputados
A investigação menciona também o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP). Em uma troca de mensagens de 25 de setembro passado, Youssef diz a André Vargas: "Achei que vc estivessse aqui na casa do Vacarezza". Vargas responde: "Tô indo;"
O deputado Cândido Vaccarezza disse que conhece Pedro Paulo Leoni Ramos e Alberto Youssef, mas não tem relações de amizade com eles. O deputado também negou que tenha realizado na casa dele uma reunião com Vargas e os demais mencionados na investigação da PF.
Para a polícia, o doleiro Alberto Youssef mantinha relações com o deputado federal Cândido Vaccarezza, "inclusive indicando que houve uma reunião na casa do deputado, reunião esta entre Alberto Youssef, o deputado André Vargas e Pedro Paulo Leoni Ramos", ministro no governo Fernando Collor e diretor de uma empresa que é sócia oculta do Labogen.
Vaccarezza disse que conhece Pedro Paulo Leoni Ramos e Alberto Youssef, mas não tem relações de amizade com eles. O deputado também negou que tenha realizado na casa dele uma reunião com Vargas e os demais mencionados na investigação da PF.
O relatório sobre as mensagens trocadas entre o doleiro e o deputado André Vargas mostra que a rede de contatos deles chegou também à Caixa Econômica Federal por meio do Funcef, o fundo de pensão da Caixa, terceiro maior do país.
Por mensagem, Youssef pergunta se pode falar em nome de Vargas em uma reunião no Funcef. O deputado responde que sim. A PF relata ainda que André Vargas tem um contato no Funcef: Carlos Borges, diretor de Participações Societárias e Imobiliárias, membro do conselho da Vale. Borges não foi localizado para comentar.
No relatório, a Polícia Federal demonstra a proximidade entre o doleiro e o deputado André Vargas, que  combinam caronas e até uma visita para tomar café na casa do parlamentar.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Presidente do PT cobra renúncia de Vargas em reunião com deputados

Rui Falcão disse que tentará ‘convencer’ deputado petista a renunciar.
Dirigente defende que renúncia preservará a sigla e dará direito de defesa.

Nathalia Passarinho Do G1, em Brasília
O presidente do PT, Rui Falcão, disse não ver no
partido nenhum 'movimento de solidariedade' a
André Vargas (Foto: Andre Dusek/Agência Estado)
Presidente do PT, Falcão descarta alianças com oposição nos municípios (Foto: Andre Dusek/Agência Estado) O presidente nacional do PT, Rui Falcão, se reuniu nesta quarta-feira (23) com a bancada do partido na Câmara para tentar convencer os parlamentares de que o deputado licenciado André Vargas (PT-PR) deve renunciar ao mandato para preservar a imagem da sigla.
Diante da resistência de Vargas em renunciar ao mandato, a bancada petista rachou. Há deputados que defendem a renúncia e outros que acreditam que o colega de partido deve enfrentar até o fim o processo por quebra de decoro parlamentar que tramita no conselho de ética da Câmara.
“Expus com todas as letras a opinião que tenho já manifestado a vocês, que o André [Vargas], em benefício dele e do PT, deveria renunciar e que não faria sentido o Conselho de Ética prosseguir com um processo diante de um réu que não é mais deputado. Eu continuo achando que a melhor solução é ele renunciar”, disse Falcão.
Não vejo movimento de solidariedade coletiva a ele. Não vejo uns 30 irem ao plenário e dizer que o André está certo, voar no avião do cara estava certo. Não vejo ninguém falar isso. Isso é uma coisa para ele refletir"
Rui Falcão, presidente nacional do PT
O presidente do PT assegurou que não existe um “movimento de solidariedade” a André Vargas por parte do partido e que o parlamentar deveria “refletir” sobre isso.
"Acho que ele [Vargas] deveria sair um pouco, se reunir com a família, meditar sobre os argumentos, ver esta situação da bancada. Não vejo movimento de solidariedade coletiva a ele. Não vejo uns 30 irem ao plenário e dizer que o André está certo, voar no avião do cara estava certo. Não vejo ninguém falar isso. Isso é uma coisa para ele refletir", ironizou o dirigente petista.
Vargas é alvo de denúncias de envolvimento com o doleiro Alberto Yousseff, preso pela Polícia Federal (PF) por suspeita de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que movimentou cerca de R$ 10 bilhões. O parlamentar do PT viajou em um jatinho fretado pelo doleiro e é suspeito de fazer tráfico de influência no Ministério da Saúde.
Mesmo com a insistência de Vargas em se manter no Legislativo, o presidente do PT adiantou que pretende fazer nova ofensiva nos próximos dias para convencê-lo a renunciar.
“Essa é uma decisão personalíssima, a gente não pode votar isso, mas é um pedido que temos feito a ele e que tenho reiterado. Eu sou persistente e vou continuar insistindo para ver se o convenço”, enfatizou.
Conselho de Ética
Nesta terça (22), uma manobra do PT adiou por uma semana a votação no Conselho de Ética do relatório do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) que recomenda a continuidade do processo contra André Vargas, que pode resultar na cassação do mandato do petista.
A pedido de Vargas, o deputado Zé Geraldo (PT-PA) pediu vista (mais tempo para analisar o caso) após a leitura do parecer preliminar. Diante da reivindicação, a votação do texto foi transferida para a próxima terça (29).
“Agora, ele [Vargas] tem mais uma semana para a votação do parecer no Conselho de Ética. A situação é de que há uma utilização política de um erro que ele cometeu para tentar generalizar isso com o PT, que não coaduna com os atos que ele até se desculpou por praticar”, disse Rui Falcão.
Após a reunião com Rui Falcão, o líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), destacou que ainda “existem dúvidas” na bancada sobre se a renúncia seria o melhor caminho para André Vargas. “A bancada está unida no que diz respeito ao direito de defesa do André, está unida no sentido de que a verdade tem que ser sempre a vencedora, mas existem dúvidas no que diz respeito a se ele deve ou não renunciar.”

terça-feira, 22 de abril de 2014

Maior área militar da América Latina terá demolições para abrir BRT

Transolímpica derrubará unidade inteira e atingirá edificações em três quartéis na Zona Oeste

Christina Nascimento
Rio - Por causa do corredor de ônibus Transolímpica, a região com a maior concentração de unidades militares da América Latina vai sofrer baixas. A primeira delas já foi definida: o Quartel da Polícia do Exército (PE), em Magalhães Bastos, que tem 500 homens. O espaço, orçado em pelo menos R$ 20 milhões, vai ser demolido para dar lugar a um trecho do BRT. E não será o único.
Segundo o secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, outros três quartéis vão perder uma parte da sua área para a via expressa, e 24 casas de soldados e cabos vão abaixo e serão reconstruídas na Estrada do Camboatá, em Deodoro.

O secretário, no entanto, faz mistério sobre o valor que a prefeitura vai pagar pelo quartel da PE. A área não pode ser desapropriada, como ocorre com residências e comércio, porque é da União. “Isso (quantia a ser paga) ainda está sendo negociado”, afirmou o secretário, que garantiu que a desocupação do quartel não deverá ser de imediato. A previsão é o final do ano. Segundo ele, a decisão de comprar o espaço impediu que cerca de 300 casas de moradores de Magalhães Bastos fossem demolidas. O BRT vai ligar a Barra a Deodoro.
O quartel da Polícia do Exército, em Magalhães Bastos: espaço, que tem 500 homens e está orçado em R$ 20 milhões, vai ser demolido para dar lugar a um trecho do BRT
Foto:  José Pedro Monteiro / Agência O Dia
Na lista dos quartéis que serão cortados pelo corredor estão o 25º Batalhão Logístico, que vai ficar sem a garagem dos carros de combate e a subestação de energia; o Parque Regional de Manutenção; e a Escola de Equitação do Exército. “Nesses casos, estamos desenvolvendo projetos e reconstruindo o que for usado para o BRT. São contrapartidas da prefeitura. Isso só foi possível com muita parcimônia do Exército, que junto a seus oficiais foram conduzindo as negociações para a gente chegar a um denominador comum”, afirmou Pinto.
O corredor terá 23 quilômetros e vai passar por Barra, Recreio dos Bandeirantes, Camorim, Curicica, Taquara, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Vila Militar e Deodoro. No início do mês, O DIA mostrou que na região da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, a prefeitura vai extinguir uma área da Mata Atlântica, que equivale a aproximadamente 20 campos de futebol.

Um dos pontos de conflito do BRT é a Igreja de São José, na Rua Salustiano Silva, em Magalhães Bastos. Apesar de o secretário negar que o traçado passará pelo salão paroquial, moradores temem que a demolição acabe ocorrendo durante as obras. “Vamos aguardar para ver se a prefeitura vai cumprir o prometido. O que incomoda é que só somos avisados em cima da hora”, afirmou o presidente da Associação de Moradores de Magalhães Bastos, Rogério Silva, de 47 anos.
O prédio do 25º Batalhão do Exército vai perder a garagem de carros de combate e a subestação de energia
Foto:  José Pedro Monteiro / Agência O Dia
Cerca de 600 foram salvas de despejo
A escolha de passar o corredor de ônibus por quartéis teria poupado, desde o projeto executivo da obra, segundo a prefeitura, cerca de 600 moradias de desapropriações. Apenas nove imóveis terão que ser removidos, o que não é um alento para quem foi escolhido para deixar sua casa ou comércio. É caso de Francisco Inácio, de 68 anos, que tem uma farmácia na Rua General Canrobert da Costa, em Magalhães Bastos.

Há 35 anos com ponto no mesmo endereço, ele teve uma proposta da prefeitura no valor de R$ 190 mil. O dinheiro, no entanto, não seria suficiente para arcar com os prejuízos da mudança. “O corredor de ônibus é um benefício para muita gente. Mas sair do local onde se está há tanto tempo mexe muito com o emocional. Fora que aqui a gente tem uma clientela antiga”, afirmou Inácio. O posto do Detran, na Rua Salustiano Silva, também terá que sair em prol do Transolímpica. Segundo o secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, o terreno é do Exército, que cede o espaço para o estado..

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Caso Bernardo: como identificar o pedido de ajuda de uma criança

Retração, agressividade, choro fácil e queda no desempenho escolar estão entre os sinais de que algo vai mal

Patricia Orlando
Menino Bernardo Boldrini, de 11 anos, encontrado morto no interior do RS
Corpo do menino Bernardo foi encontrado num saco plástico enterrado próximo a um riacho na cidade de Frederico Westphalen (RS) - Reprodução Facebook
A morte do menino Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, em Três Passos, no Noroeste do Rio Grande do Sul, chocou o Estado e o país. A Polícia Civil acredita que o menino tenha sido morto depois de receber uma injeção letal. Os principais suspeitos do crime são o pai do garoto, Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Boldrini, e a amiga do casal Edelvania Wirganovicz. Eles estão presos.

Bernardo chegou a procurar o Fórum de Três Passos para reclamar de insultos recebidos da madrasta e da falta de interesse do pai. Na ocasião, não houve relato de violência física. A primeira notícia sobre o abandono afetivo do qual Bernardo seria vítima chegou à Promotoria da Infância e da Juventude em novembro passado, quando foi aberto expediente para apurar a situação familiar. O menino era alvo de comentários na cidade e frequentemente se hospedava na casa de amigos da escola.
Depois de conversar com Bernardo e confirmar as queixas sobre o pai e a implicância da madrasta, a promotora responsável pela apuração, Dinamárcia de Oliveira, preparou a ação judicial pedindo que a guarda do menino fosse dada para a avó materna. O juiz Fernando Vieira dos Santos optou por uma conciliação entre o pai e o garoto. Em uma audiência em 11 de fevereiro, Boldrini pediu uma chance para melhorar a relação com o filho. Em 13 de maio, pai e filho seriam novamente ouvidos.
Pedido de ajuda — "O caso de Bernardo foi excepcional. É raro uma criança procurar a Justiça para pedir a ajuda, mesmo em episódios graves de abuso", diz a psiquiatra Maria Conceição do Rosário, professora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (Upia) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Afinal, um dos principais sinais comportamentais de que a criança está sofrendo alguma privação emocional ou abuso sexual é a retração. "A criança se cala, não quer brincar e fica no canto dela." Outras evidências são episódios de agressividade (como bater em colegas), choro fácil e queda no desempenho escolar.
Os sintomas físicos também são claros: distúrbios do sono, como pesadelo e insônia, acompanhados de mudanças dos hábitos alimentares — a criança perde o apetite ou passa a comer mais do que o usual. Por fim, são indícios de que algo vai mal: fazer xixi na cama e reportar queixas físicas sem motivo aparente, a exemplo de febre, tremores, constipação e dor muscular. "Acordar com indisposição um dia ou outro é normal. Mas, se a mudança de comportamento se estende por mais de uma semana, é preciso ter uma conversa com a criança ou, se for o caso, procurar ajuda médica", diz Maria Conceição.
A partir dos seis anos, a criança tem discernimento para se comparar com as demais e entender se ela está sendo bem tratada ou não. Mas, como normalmente ela não se queixa, é preciso ficar atento aos sinais. "Se um professor ou pediatra notar uma mudança de comportamento em uma criança, é dever dele falar com os pais ou até mesmo procurar o Conselho Tutelar", diz Maria Conceição.
Carência perigosa — Quando uma criança se sente afetivamente abandona pelos pais, ela costuma se apegar a qualquer pessoa que lhe dê atenção — e isso pode ser perigoso. "Ela fica vulnerável à ação de pedófilos em redes sociais, por exemplo", afirma a psicóloga Rita Calegari, da Rede de Hospitais São Camilo, em São Paulo. De acordo com ela, as redes sociais são, hoje, a principal ferramenta de crianças e adolescentes para expor os seus sentimentos. Músicas, imagens e frases tristes podem ser um reflexo do que ela está vivendo. "Por isso, os pais e parentes precisam monitorar as atividades da criança ou do adolescente na internet."
Uma pessoa que sofreu abuso quando pequena pode carregar o trauma pelo resto da vida. "A maioria dos transtornos psiquiátricos tem como pano de fundo uma carência emocional na infância", afirma Ivete Gattas, psiquiatra da infância e adolescência e coordenadora da Upia. Quando adultas, essas crianças terão mais tendência à depressão e à ansiedade. "Claro que nem todos adultos depressivos ou ansiosos sofreram privação emocional na infância, mas essa relação é muito alta."

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Herança da hiperinflação, indexação ainda afeta grande parte dos preços

Segundo economistas, 30% dos preços do IPCA são indexados.
Indexação faz com que preços subam por 'inércia' e dificulta controle.

Alexandro Martello Do G1, em Brasília
Indexação; entenda (Foto: Editoria de Arte/G1)
Quase 20 anos após o Plano Real, em 1994, uma das “pragas” da hiperinflação, a indexação, ainda infesta boa parte da economia brasileira, e dificulta o controle dos preços no país.
Segundo economistas ouvidos pelo G1, os preços indexados no Brasil têm peso de cerca de 30% no índice oficial de inflação, e sofrem a influência da alta de preços passada – ou seja, são reajustados porque subiram no período anterior, “carregando” a inflação para a frente.
Funciona assim: a alta de alguns preços faz a inflação subir. Essa inflação, em seguida, é usada para calcular o reajuste dos produtos e serviços que têm preço indexado. Como consequência, esses preços sobem – e, ao subirem, geram uma "nova inflação", e isso vira um ciclo que se repete.
Quem foi assalariado na década de 1980, período em que a indexação teve seu “auge” no Brasil, se lembra bem dela: os salários, que também eram indexados, eram corrigidos pela inflação do mês anterior, e subiam sempre. O poder de compra, no entanto, só caía, com os preços subindo – pelo menos – na mesma medida.
Do aluguel às tarifas de ônibus, do salário mínimo à mensalidade escolar, o brasileiro ainda convive com a indexação em boa parte da economia. Do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a chamada “inflação oficial”, itens que representam até um terço de seu peso podem ser influenciados pelo “carregamento” dos preços do passado.
De onde vem?
Patrícia Pereira, Gestora de Renda Fixa da Mongeral Aegon Investimentos, relaciona a hiperinflação de pouco mais de 20 anos atrás como o principal motivo para a indexação na economia brasileira. Herança daquela época, os preços são indexados para que empresas, governos e pessoas se protejam da inflação – e acabam gerando mais da mesma.
Além da indexação à inflação, também há a indexação de preços com outros ativos, como o dólar. Considerando também a moeda norte-americana, a indexação teria um peso maior ainda na economia brasileira.
Em termos gerais, há três “grupos” de preços, segundo explica o professor Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios: os preços influenciados pela variação do dólar (produtos comercializáveis), os preços livres (dependem da oferta, da demanda e da concorrência) e os preços administrados (cujos reajustes dependem da inflação passada e da autorização do governo).
"Podemos dizer que os preços livres respondem por algo em torno de 40% do peso [do IPCA], preços administrados em torno de 30% e comercializáveis (dólar) em torno de 30%. Desta forma vemos que a economia brasileira é ainda bastante indexada. Pelo menos 60% dos preços variam com o dólar e com a inflação passada", avaliou Alcides Leite.
A contribuição na inflação
Segundo o Banco Central, a chamada "inércia inflacionária" – em boa parte causada pelos processos de indexação da economia brasileira – respondeu por 0,79 ponto percentual do IPCA de 5,91% registrado em 2013 (13,4% de todo o índice).
Em seu relatório de inflação, divulgado no final de março, o BC avaliou que a elevada variação dos índices de preços ao consumidor, em doze meses, contribui para que a inflação ainda mostrasse resistência.
Responsabilidade do governo
De acordo com Claudio Shikida, coordenador do Nepom (Núcleo de Estudos de Política Monetária) do Ibmec, parte da indexação existente na economia brasileira é de responsabilidade do próprio governo. "Podemos falar de uma responsabilidade direta do governo, no caso dos preços administrados (que representavam, segundo o BC, aproximadamente 23% do IPCA em março de 2013), mas também há a responsabilidade quando [o governo] promove intervenções no funcionamento dos mercados, causando aumentos de preços", declarou.
Ainda segundo Shikida, é o caso das tarifas de energia elétrica. "Não é preciso ser economista para saber que ela será reajustada no futuro. (...) O aumento da demanda de energia elétrica mostrou-se incompatível com a oferta e, agora a inflação que virá pode até ser maior do que a que ocorreria se o governo não tivesse promovido a diminuição artificial (dos preços)", afirmou ele.
O que fazer para desindexar a economia?
De acordo com Patrícia Pereira, da Mongeral Aegon Investimentos, o primeiro passo para desindexar a economia "envolveria um comprometimento maior com a inflação, trazendo-a para o centro da meta, de 4,5%. Além disso, o empenho para uma redução gradual da meta de inflação passaria credibilidade ao projeto".
Em relação à indexação dos preços administrados, acrescentou a economista, os contratos de concessões de serviços públicos deveriam ser corrigidos de acordo com os custos e rentabilidade de cada setor, eliminando o "automatismo" da reposição dos índices de preços.
"Merece destaque, ainda, a regra de indexação do salário mínimo, criada em 2011 e com vigência até 2015 [inflação mais variação do PIB]. A medida garante aumentos reais que acabam por indexar e pressionar ainda mais a inflação, mas o custo político de acabar com tal medida é considerável", avaliou ela.
Claudio Shikida, do Ibmec, avalia que "não existe mágica" para desindexar a economia. "Você tem que diminuir a inflação para que as expectativas se ajustem. Então, deve-se estimular a competição para que os preços não ganhem inércia, o governo deve ser consistente em suas ações e discursos no que diz respeito à independência do Banco Central em buscar a meta da inflação com uma política fiscal que use métodos contábeis que não gerem dúvidas e deve-se evitar o uso de medidas populistas, por mais que a tentação seja grande (como no caso da redução de tarifas de energia elétrica)".

Patrulha governista atinge publicidade infantil

Resolução de conselho ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República acaba com a publicidade infantil no Brasil

Mariana Zylberkan
Resolução do Conanda proíbe publicidade infantil no país
Resolução do Conanda proíbe publicidade infantil no país (Thinkstock)
“A preocupação não é apenas com o prejuízo financeiro que a resolução causa, mas principalmente com a censura que ela representa. O exercício da comunicação brasileira não pode ficar à mercê de pequenos grupos”, Rafael Teixeira, vice-presidente da Associação Brasileira de Anunciantes
Desde o dia 4 deste mês, o Brasil integra ao lado de Suécia, Noruega e da província de Quebec, no Canadá, uma restrita lista de países que proíbem a publicidade direcionada ao público infantil. Nesse caso, a comparação com nações ricas é mais motivo de preocupação do que de notoriedade. A imposição contra o livre exercício da propaganda é de autoria do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), subordinado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. O órgão determinou nove critérios considerados abusivos na comunicação mercadológica dirigida à criança. O texto, aprovado em assembleia realizada em março e publicado no Diário Oficial da União, proíbe, por exemplo, a veiculação de campanhas com músicas cantadas por crianças, uso de bonecos e excesso de cores, desenho animado, entre outros detalhes que inviabilizam qualquer produção – deixando espaço apenas para campanhas institucionais de utilidade pública. O mercado reagiu estarrecido à resolução: nove entidades representativas assinaram um documento no qual declaram não reconhecer a legitimidade da resolução. “O Poder Legislativo, exercido pelo Congresso Nacional, é o único foro com legitimidade constitucional para legislar sobre publicidade comercial”, diz a nota.
A resolução se sobrepõe a um já estruturado arcabouço autorregulatório que estabelece os limites do exercício da publicidade no Brasil. O sistema de fiscalização capitaneado pelo Conar e auxiliado por artigos do Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que versam sobre abusos da comunicação publicitária direcionada a menores de 12 anos, é considerado um dos mais sólidos do mundo. Além disso, em 2009, as principais empresas do ramo alimentício que atuam no país assinaram acordo nos mesmos moldes de um pacto internacional, o EU-Pledge, para restringir a publicidade de alimentos com alto teor de sódio, gordura e açúcar direcionada às crianças.
Diante disso, causou espanto uma determinação radical, elaborada por um conselho composto por entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Fundação Abrinq, Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag), entre outras. Faz parte também do quadro de eleitos para integrar o Conanda o Instituto Alana, a principal defensora do fim da publicidade infantil no país. A ONG é mantida pela pedagoga Ana Lúcia Villela, maior herdeira individual do Itau-Unibanco, que tem fortuna estimada em 1,1 bilhão de dólares, segundo a revista Forbes. A preocupação com a relação entre criança e consumo foi objeto de sua tese de mestrado e embasa, desde 2006, um projeto que visa minimizar o impacto do consumismo na infância.
Reprodução/Instagram
Maurício de Sousa publica e tira do ar horas depois foto da menina Verônica em protesto contra a resolução
A intenção dos defensores da proibição é que a resolução ajude a balizar a fiscalização em torno dos abusos, previstos, segundo eles, de forma pouco específica na legislação. “A criança por estar em uma fase peculiar de desenvolvimento psíquico e mental não tem condição de responder igual aos adultos às propagandas e por isso ficam expostas a subterfúgios que a convencem a consumir”, diz a diretora do Instituto Alana, Isabella Henriques.
O mercado publicitário aguarda as primeiras movimentações restritivas para se posicionar juridicamente diante do que classificam como resolução inconstitucional. De acordo com a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), o público infantil abocanha cerca de 0,5% do mercado publicitário e as inserções que falam diretamente com as crianças representam 0,1% do total de anúncios na TV aberta na faixa em que os menores de 12 anos são 50% da audiência. 
“A preocupação não é apenas com o prejuízo financeiro que a resolução causa, mas principalmente com a censura que ela representa. O exercício da comunicação brasileira não pode ficar à mercê de pequenos grupos”, diz o vice-presidente da Associação Brasileira de Anunciantes, Rafael Teixeira.
Reclamações - É insignificante o volume de reclamações que chegam ao Conar a respeito de abusos cometidos em campanhas voltadas ao público infantil. Em 2013, do total de 340 denúncias recebidas pelo órgão, apenas 22 se referiam a exageros cometidos contra menores de 12 anos, das quais dez foram aceitas pelo conselho – que recomendou o cancelamento das peças publicitárias ou, em casos mais brandos, alterações pontuais.
O volume investido em publicidade direcionada a esse público também é ínfimo quando comparado ao mercado como um todo. O setor de brinquedos, um dos maiores anunciantes, é o 19º no ranking de segmentos da economia que mais anunciam. De acordo com levantamento do Ibope Media, de janeiro a dezembro do ano passado, os fabricantes e importadores de brinquedos investiram 910 milhões de reais em publicidade – 1% do aporte em mídia feito no país no ano que é de 112,6 bilhões de reais.
Mesmo na TV paga, que concentra a maior parte de investimentos em publicidade infantil, por concentrar a maior audiência desse público, as crianças representaram o último target na lista de intenções de investimentos por parte dos anunciantes em 2013, com 23% do planejamento de receitas, segundo o Mídia Dados, levantamento anual do setor de TV paga elaborado pela Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA).
Redoma - Restringir a publicidade infantil não assegura que as crianças fiquem imunes aos apelos consumistas da sociedade em que vivem. Segundo pesquisa realizada pela Pós-Gradução em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o programa de televisão mais visto por crianças entre 8 e 10 anos da classe C é a novela das nove da TV Globo, seguido pelos jogos de futebol exibidos pela emissora nas noites de quarta-feira. Em terceiro e quarto lugar, respectivamente, estão os filmes e o reality show Big Brother Brasil. Atrações, portanto, voltadas ao público adulto e permeadas por propagandas dos mais diferentes produtos e com apelo inadequado a pouca idade. “A influência da publicidade é menor do que as muitas outras que circundam as crianças, como a família e dos amigos. A chave para protegê-las está na educação e no diálogo com os pais, que devem mostrar o que é melhor para elas através de exemplos”, diz a pesquisadora Fernanda Cintra de Paula, da ESPM.
Para a diretora da Alana, a luta é que a publicidade de produtos e serviços infantis seja direcionada aos pais que, por sua vez, teriam o discernimento de escolher o melhor para seus filhos. O argumento é que marcas têm feito parte de ações educacionais dentro das escolas. A resolução do Conanda proíbe qualquer divulgação de produtos ou serviços no ambiente escolar. Um dos casos emblemáticos é um vídeo do sucesso estrondoso do YouTube Galinha Pintadinha, que inclui patrocínio de uma marca de sabonetes em clipe de música que ensina as crianças a lavar as mãos.
O cartunista Maurício de Sousa foi às redes sociais nesta sexta-feira protestar contra a resolução. Em sua página no Instagram, ele publicou a foto de uma menina chamada Verônica segurando um cartaz com a seguinte mensagem: "Eu tenho direito de assistir publicidade infantil. A televisão não é só para os adultos. Alguém sabe quais produtos infantis lançaram por esses dias?". Maurício foi achincalhado e, horas depois, tirou a publicação da rede social. A foto de Verônica com o cartaz foi substituída por uma dele seguida de uma legenda em que explicou a atitude. "Há mais de 40 anos, minha empresa faz, sim, publicidade de produtos que levam a marca dos meus personagens. Sempre de maneira responsável e criteriosa, porque nossa preocupação constante é o respeito à criança. Penso que é justamente por isso que meus personagens são tão queridos há mais de quatro gerações. Assim, a fim de evitar mal-entendidos, optei por deletar a imagem que postei mais cedo."
Câmara - A discussão sobre a proibição da publicidade infantil é antiga no Brasil. Uma série de projetos de lei tramitaram no Congresso nos últimos anos, o mais recente de autoria do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). O texto apresentado em 2001 foi aprovado na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara em setembro do ano passado. A matéria deverá ser apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa e, se aprovada, ir à plenário para votação.
O deputado Milton Monti (PR-SP), que lidera uma frente na Câmara contra a proibição da publicidade infantil, afirmou que irá protocolar um decreto legislativo para anular a resolução do Conanda. “O Estado não pode ser o tutor da sociedade, isso é um grande equívoco. No fundo, medidas como essa são uma tentativa de atingir os veículos de comunicação e especialmente a liberdade editorial”.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Tribunal de Justiça decreta ilegalidade da greve da PM na Bahia

Pedido do Ministério Público foi julgado na manhã desta quarta-feira (16).
Paralisação alterou rotina em várias cidades; aulas foram suspensas.

Do G1 BA
O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) declarou a ilegalidade da greve da Polícia Militar (PM) na manhã desta quarta-feira (16). De acordo com a decisão do desembargador Roberto Frank, os policiais militares devem retornar ao trabalho imediatamente. Para o Supremo Tribunal Federal (STF), os militares e equiparados são proibidos de fazer greve.
A paralisação da PM desde a noite de terça-feira (15) alterou a rotina em Salvador e cidades como Feira de Santana e Vitória da Conquista, na Região Sudoeste, e em Juazeiro, no Norte do estado. Ruas ficaram desertas, ônibus foram recolhidos, aulas foram suspensas, supermercados sofreram saques e bancos, arrombamentos.
A decisão da greve ocorreu após representantes de associações que representam os policiais militares terem analisado e rejeitado uma proposta de modernização da PM feita pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).
Segundo o TJ-BA, oficiais de Justiça vão entregar a decisão da ilegalidade ao comando grevista da PM e ao governo do estado. Caso os policiais não retornem ao trabalho, será aplicada multa diária de R$ 50 mil. Até por volta das 13h30, os representantes das associações não confirmaram o recebimento da decisão.
A ação cautelar foi ajuizada pelo procurador-geral de Justiça, Márcio José Cordeiro Fahel, contra o governador da Bahia, Jaques Wagner, e seis associações representativas da PM: a Associação de Policiais e Bombeiros e de Seus Familiares (Aspra), a Associação de Praças da Polícia Militar da Bahia (APPM-BA), a Associação dos Oficiais da Polícia Militar da Bahia (AOPM-BA Força Invicta), a Associação dos Oficiais Auxiliares da Polícia Militar (AOAPM-BA), a Associação dos Subtenentes, Sargentos e Oficiais da Polícia Militar da Bahia (ABSSO-BA) e a Associação dos Bombeiros Militares da Bahia – Associação Dois de Julho.
Segundo o Ministério Público, o governador Jaques Wagner deve realizar, de imediato, um plano de emergência para a segurança pública em todo o estado, a fim de preservar os interesses públicos de segurança social e jurídica. Ainda segundo o MP, o movimento coloca em risco a integridade da população.

Segundo o MP, o movimento deflagrado na terça-feira fere "frontal e diretamente o direito constitucionalmente garantido à segurança pública".
Serviços afetados
Em Salvador, lojas e bancos foram fechados e o movimento de pessoas foi reduzido nas ruas. Na Avenida Sete de Setembro, uma das mais movimentadas da capital baiana, comerciantes reclamaram do número baixo de consumidores que passaram pelo local nesta quarta-feira. Por causa da greve, o Sindicato dos Rodoviários decidiu recolher os ônibus durante a manhã, alegando falta de segurança para circular.
A Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e o Colégio Salesiano suspenderam as aulas. O mesmo ocorreu com a Academia Alpha Fitness, que chegou a emitir nota informando que "nem segurança privada aceitou trabalhar diante da situação".
Secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia, Maurício Barbosa (Foto: Maiana Belo/G1)Secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia,
Maurício Barbosa (Foto: Maiana Belo/G1)
Greve da PM
Na noite de terça-feira, o secretário de Segurança Pública do estado, Maurício Barbosa, disse que assinou um documento em que o governo se compromete a cumprir todas as medidas discutidas com o vereador Marco Prisco (PSDB), presidente da Aspra, e outras associações de policiais militares, em reunião antes da assembleia.
"Todo o esforço foi e está sendo feito. A intenção é conversar. Em primeiro lugar, estamos preocupados com a segurança da população", afirmou Barbosa em entrevista coletiva na terça-feira.
Comando grevista da PM apresenta propostas para
coronel Alfredo Castro (Foto: Henrique Mendes/G1)
Comando grevista da PM baiana apresenta propostas para o coronel Alfredo Castro (Foto: Henrique Mendes/G1) Durante a manhã desta quarta, foi realizada uma reunião entre o comandante geral da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro, e outros representantes do Comando da PM, no Departamento de Apoio Logístico (DAL), no Centro Administrativo da Bahia (CAB). O encontro ocorreu a portas fechadas.
Após a reunião, o comando grevista foi recebido pelos oficiais da PM para apresentar as propostas dos policiais militares.
Por meio de nota oficial enviada nesta quarta-feira, a Polícia Militar da Bahia disse que "mantém seu expediente administrativo funcionando normalmente e, através do Comando de Operações Policiais Militares (COPPM), informa que nas ruas da capital baiana 85 viaturas realizam o patrulhamento, contando com o trabalho de 202 policiais".
Força Nacional (Foto: Reprodução/TV Bahia)Força Nacional chega a Salvador nesta quarta-feira
(Foto: Reprodução/TV Bahia)
Força Nacional
Em comunicado divulgado na manhã desta quarta-feira, o governo da Bahia informou que a presidente Dilma Rousseff assinou o decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) autorizando o emprego das Forças Armadas na segurança pública do estado.
O governo baiano disse ainda que o comandante da 6ª Região Militar, general Racine Bezerra Lima, assumiu o comando das operações e que a Polícia do Exército já está patrulhando as ruas de Salvador.
Segundo previsão do governo estadual, o primeiro grupo de efetivos federais, com 5 mil homens, deve chegar à cidade ainda nesta quarta-feira.
Última greve
Marco Prisco foi o líder do movimento grevista de 2012, que durou 12 dias. Ele foi preso depois de um cerco do prédio da Assembleia Legislativa, onde os policiais acamparam, pelas tropas federais. No total, foram 12 mandados de prisão expedidos, motivados por conversas gravadas, reveladas pelo Jornal Nacional, que mostraram acertos para realização de ações de vandalismo em Salvador. No período, o aumento no número de homicídios foi de mais de 100%. Na ocasião, eles pediam o pagamento da Gratificação da Atividade Militar (GAP) 4 e a 5, além da não punição administrativa. Em outubro, Prisco foi o quarto vereador mais votado na capital baiana, eleito pelo PSDB.
Loja de calçados foi saqueada no bairro da Liberdade, em Salvador, após greve da PM (Foto: Imagens/TV Bahia)Loja de calçados foi saqueada no bairro da Liberdade, em Salvador, após greve da PM (Foto: Imagens/TV Bahia)

Agência do Banco Itaú é arrombada em Salvador (Foto: Imagens/TV Bahia)Agência do Banco Itaú foi revirada em Salvador (Foto: Imagens/TV Bahia)

Conta de luz vai subir até 17,02%; maior desde 2005

Considerando todas as classes consumidoras, o reajuste médio será de 16,77% e vale a partir da próxima terça, 22

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pegou o consumidor cearense de surpresa ao autorizar, na manhã de ontem, reajuste de até 17,02% nas tarifas de energia praticadas pela Companhia Energética do Ceará (Coelce). O índice supera em mais de três pontos percentuais os 13,83% pleiteados pela concessionária ao órgão regulador, conforme o Diário do Nordeste divulgou com exclusividade na edição do último dia 8 de abril.
Com o aumento, os consumidores residenciais - cerca de 79% dos usuários da empresa, ou 2,53 milhões - vão pagar, por exemplo, 16,55% a mais nas contas de luz; enquanto que o setor industrial desembolsará, em média, 16,16% acima do que vinha pagando pela energia elétrica.
Já o comércio será impactado em 17,02%. Considerando todas as classes de consumidores, o cearense desembolsará, em média, 16,77% a mais pelo serviço. O reajuste autorizado é o maior desde 2005, quando as tarifas praticadas pela Coelce foram elevadas, em média, em 23,59%. Os novos valores entram em vigor a partir da próxima terça-feira, dia 22.
Maior do Nordeste
O aumento autorizado para o Ceará foi o maior homologado até então, pela Aneel, para as concessionárias que operam nos estados nordestinos. Entretanto, levando-se em conta todas as regiões brasileiras, o índice da Coelce só perde, até agora, para a CPFL Santa Cruz, uma das distribuidoras do Estado de São Paulo, que teve reajuste de 30,64% para a classe residencial, por exemplo. Vale ressaltar, também, que a maior parte dos acréscimos autorizados contradiz a afirmação da Aneel de que não há tendência de alta na energia na casa dos dois dígitos no ano em curso.
Quase três vezes a inflação
Além de superar o pleito da Coelce à Aneel, o índice de até 17,02% autorizado pela Agência também chama a atenção por representar quase três vezes a inflação acumulada nos 12 meses anteriores ao reajuste - 5,97% -, medida pelo Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M), indicador utilizado pelo setor para corrigir preços, conforme a proposta de reajuste tarifário apresentada pela distribuidora.
Acima da expectativa do BC
O aumento aprovado também ficou bem acima - cerca de 7,5 pontos percentuais - da expectativa do governo federal de reajuste médio de 9,5% nas tarifas de energia, em 2014, no País, conforme o último relatório de inflação, divulgado no dia 27 de abril deste ano pelo Banco Central.
Aneel justifica diferença
Segundo a Aneel, foram autorizados apenas 8,09% como índice de reajuste tarifário para Coelce, em 2014, contra os 13,83% solicitados pela companhia. A diferença para cima entre reajuste médio aprovado (16,77%) e o que de fato foi homologado pela Agência, justifica o relator do processo, o diretor Reive Barros dos Santos, se deve à atualização do IGP-M acumulado em 12 meses considerado para o reajuste (7,3%), à previsão dos encargos setoriais, principalmente o ESS (Encargos de Serviço do Sistema), a valores de compra de energia, à previsão de sobrecontratação de energia e a pleitos financeiros não reconhecidos. Em conjunto, esses itens resultaram em um acréscimo de 8,69% sobre o índice de reajuste considerado (8,09%), totalizando, assim, um aumento médio de 16,77% na conta de luz.
Em relação aos pleitos financeiros não reconhecidos, destacam-se o recálculo dos preços de repasse para Termofortaleza desde 2009, o reconhecimento da parcela definitiva de Combustível (Comb), referente ao valor normativo do contrato entre a empresa CGTF Fortaleza e a Coelce, e aquele devido ao retroativo da liminar judicial da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Nota da Coelce
Por meio de nota divulgada à imprensa, o diretor de Regulação e Meio Ambiente da Coelce, José Alves, o índice médio de 16,77% é resultado da diferença entre o reajuste autorizado pela Aneel para este ano e a retirada de itens financeiros que durante o ano de 2013 reduziam o valor da tarifa. "O que impactou o resultado da tarifa este ano foi a retirada do efeito redutor que incidiu em 2013, correspondente a itens financeiros de devolução de valores aos consumidores, além do reajuste de 8,09% autorizado este ano pela Aneel".
Ainda de acordo com a Coelce, nos últimos cinco anos, a tarifa residencial da empresa , sem impostos, apresentou, em média, queda de 5,4%, enquanto o IGP-M acumulado em igual período foi de 35,4%.
"Realizado anualmente, o reajuste tarifário visa preservar o equilíbrio econômico-financeiro da concessão", afirma. No reajuste deste ano, a distribuidora de energia destaca que, considerando apenas a parcela destinada ao serviço de distribuição, a alta foi somente de 1,38%, "bem abaixo da inflação registrada para o período (7,3%)". Entretanto, o principal impacto deste reajuste, avalia a distribuidora, se deve à majoração dos custos com a compra de energia, que estão em patamares elevados desde de 2013, e que se agravaram neste inicio de ano. "Conforme definido pela Aneel, este reajuste já contempla a devolução da ultima parcela, devidamente atualizada, referente ao congelamento das tarifas no ano da revisão tarifária em 2011".
'Falta de transparência'
Mesmo diante das explicações tanto da agência reguladora como da concessionária, o presidente do Conselho de Consumidores da Coelce, Erildo Pontes, afirma que há falta de transparência no processo de correção das tarifas de energia no Estado.
"Antes da reunião para a aprovação do aumento, fomos à Aneel pedir para ver os números e a Agência nos negou essa solicitação, afirmando que só no dia 7 deste mês teríamos acesso. Além disso, no último dia 10, na reunião do Conselho de Consumidores, convidamos um representante da Coelce para participar a fim de explicar o índice solicitado, e o número considerado mais uma vez foi os 13,83% pleiteados. E ele nos chegou a dizer ainda que esse percentual poderia cair para em torno de 8% a 9%, mediante o decreto 8.221 da União, do dia 2 de abril deste ano, que trata da mitigação dos elevados valores de compra de energia no mercado spot. Então é de estranhar que a Aneel venha, agora, com um aumento que pode chegar a 17%", critica.
"Minha preocupação é que no ano que vem, quando dizem que virá o aumento maior (do socorro às distribuidoras), o que nos aguarda", argumenta.
Anchieta Dantas Jr.
Repórter
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domingo, 13 de abril de 2014

Genoino faz avaliação que será usada para STF definir regime de prisão

Supremo decidirá se Genoino volta para cadeia ou se permanece em casa.
Câmara negou pedido de aposentadoria por invalidez a ex-deputado.

Felipe Néri Do G1, em Brasília
O ex-presidente do PT José Genoino ao chegar para avaliação no Instituto de Cardiologia neste sábado (Foto: Dida Sampaio / Agência Estado)O ex-presidente do PT José Genoino ao chegar
para avaliação no Instituto de Cardiologia neste
sábado (Foto: Dida Sampaio / Agência Estado)
O ex-deputado José Genoino (PT-SP), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão, passou por avaliação médica neste sábado (12) no Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF). O resultado da avaliação será usado para que o Supremo decida se ele deverá permanecer em regime de prisão domiciliar ou se volta para a prisão.
A expectativa é de que o resultado seja enviado ao Supremo nesta segunda-feira (14). Depois disso, o presidente do tribunal, Joaquim Barbosa, deverá encaminhar o laudo médico para que a Procuradoria Geral da República opine. Só então será tomada uma decisão.
Ex-presidente do PT, Genoino foi preso em novembro do ano passado, e passou a cumprir pena provisória em casa depois de passar mal na prisão, no Complexo da Papuda. Ele sofre de problemas cardiológicos e cumpre pena de 4 anos e 8 meses por corrupção ativa.
A avaliação deste sábado foi feita por uma junta médica da Universidade de Brasília (UnB), instituída por ordem de Barbosa. Genoino permaneceu no hospital cerca de uma hora e meia, mas não há detalhes sobre quanto tempo durou a avaliação.

A ex-assessora de imprensa e amiga de Genoino, Débora Cruz, acompanhou o ex-parlamentar na ida ao hospital e afirmou que o resultado do laudo da junta médica, formada por cinco profissionais, não foi informado para a família dele. Segundo Débora, foram feitos vários exames clínicos, incluindo um eletrocardiograma. O advogado e um cardiologosta particular também estiveram no hospital no momento dos exames.

O STF analisa pedido do ex-parlamentar para cumprir definitivamente a pena em casa. No pedido, a defesa de Genoino alegou ao Supremo que ele correrá "risco de morte" caso retorne à prisão. O documento encaminhado à Justiça também aponta síndrome depressiva enfrentada pelo petista.
Esse é o segundo laudo médico feito pela junta da UnB. Em novembro de 2013, também por determinação de Barbosa, os especialistas afirmaram que a cardiopatia de Genoino "não se caracteriza como grave" e que não havia necessidade de tratamento domiciliar permanente.
No entanto, parecer da Procuradoria Geral da República apontou "graves problemas" e  "delicada condição de saúde". O PGR sugeriu a prisão domiciliar provisória e realização de novos exames em 90 dias. Por conta disso, Barbosa determinou a nova avaliação.
Com base no parecer da PGR, Barbosa havia determinado que ele passe por nova avaliação.
José Genoino ao chegar para avaliação no Instituto de Cardiologia neste sábado (Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil)José Genoino ao chegar para avaliação no Instituto de Cardiologia neste sábado (Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil)
Ex-deputado José Genoino ao deixar hospital de Brasília após avaliação (Foto: Felipe Néri / G1)Ex-deputado José Genoino ao deixar hospital de Brasília após avaliação (Foto: Felipe Néri / G1)
Aposentadoria negada
No último dia 4, uma junta médica da Câmara negou a solicitação de aposentadoria integral do ex-parlamentar. De acordo com o laudo conclusivo dos médicos da Câmara, o ex-deputado "não apresenta, no momento, a entidade médico-pericial 'Cardiopatia Grave' que resulte em incapacidade laborativa definitiva (invalidez)".
O resultado da avaliação feita pela Câmara não tem relação direta com o regime de prisão de Genoino, mas Joaquim Barbosa também se baseará nos resultados para decidir sobre se o ex-deputado pode ou não permanecer em casa.
Depois da rejeição da aposentadoria, o advogado de Genoino Luiz Fernando Pacheco informou estar mais preocupado com a decisão do STF sobre a prisão domiciliar do que com a aposentadoria definitiva.
"Nós, na verdade, não estamos muito preocupados com a situação dele perante a Câmara dos Deputados. A nossa grande preocupação é garantir a prisão domiciliar definitiva, por questão humanitária. A cardiopatia é de risco, e diante do sistema penitenciário fica complicado", declarou Pacheco.
Se tivesse a aposentadoria concedida, Genoino receberia salário integral de deputado, que atualmente é de R$ 26,7 mil. Apesar de ter renunciado ao mandato, ele recebe hoje remuneração de R$ 20 mil porque já possui uma aposentadoria proporcional por tempo de serviço pelo Legislativo.

Um esquema montado para esquentar dinheiro

Obtido com exclusividade por ISTOÉ, inquérito no STF pode levar André Vargas à cadeia por falsidade ideológica. Para o MP e a PF, deputado petista montou uma "lavanderia" para justificar recursos de origem duvidosa que irrigaram suas campanhas eleitorais

Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) e Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
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O deputado André Vargas (PT-PR) é um político em estado terminal. Num último esforço para tentar preservar o mandato, o petista renunciou ao posto de vice-presidente da Câmara e tirou uma licença de 60 dias. Não foi o suficiente para impedir que seus pares instaurassem um processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara por quebra de decoro parlamentar, nem que o seu partido, o PT, o ameaçasse de expulsão. Sua situação se deteriorou depois que ele foi acusado de manter uma relação promíscua com o doleiro preso na Operação Lava Jato, Alberto Youssef. Vargas é o deputado que ergueu os punhos cerrados, repetindo o gesto dos mensaleiros presos, para debochar do presidente do STF, Joaquim Barbosa, em sessão de abertura do ano legislativo no Congresso. Agora, por ironia da política, quem pode selar o destino político de Vargas é justamente o Supremo, instituição à qual o petista ousou desafiar e fazer troça. Na última semana, ISTOÉ teve acesso com exclusividade às mais de 500 páginas do inquérito 3596, instaurado pelo STF a pedido do Ministério Público Federal, que pode levar Vargas para a cadeia pelo crime de falsidade ideológica para fins eleitorais. A pena prevista, caso o petista seja condenado, varia entre um e cinco anos de reclusão. No robusto processo, o Ministério Público Federal afirma que há fortes indícios de que o parlamentar montou uma lavanderia de dinheiro para justificar doações eleitorais. Nem a Justiça Eleitoral consegue dizer se os recursos apresentados nas prestações de campanha algum dia chegaram mesmo a circular na conta bancária.
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ORIGEM SUSPEITA
A Justiça Eleitoral não identificou na conta bancária os recursos apresentados
nas prestações de contas de André Vargas
Constam do processo depoimentos de mais de 80 testemunhas que afirmam nunca terem doado dinheiro para a campanha de Vargas. Mas esses são apenas parte dos 200 “laranjas” utilizados pelo petista para justificar a origem dos recursos suspeitos em suas campanhas eleitorais. A prática ilícita teria começado nas eleições de Vargas para deputado federal em 2006 e se reproduzido na campanha de 2010. Na documentação que embasa o inquérito em curso no STF há relatos dos auditores do Tribunal Eleitoral do Paraná sobre a dificuldade de fazer uma apuração detalhada das contas apresentadas devido à complexidade do esquema. Os procuradores, porém, acreditam que as notas de gastos apresentadas pelo deputado licenciado são frias. Uma lista completa com os dados bancários do parlamentar e dos doadores fictícios, com observações sobre o desencontro dos dados e valores, fundamenta a suspeita dos procuradores.
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No STF, o inquérito contra André Vargas é relatado pelo ministro Teori Zavascki.
O ministro delegou ao juiz Marcio Fontes a missão de coordenar as
investigações. Diligências já foram pedidas à Polícia Federal
O esquema de lavagem de dinheiro de Vargas não se limitaria às operações de fraude nas prestações de contas de campanha. Teria ramificações. Em outra ponta da investigação, a Polícia Federal segue o rastro de empresas em nome dos familiares de Vargas. Nos grampos telefônicos divulgados até agora, o deputado aparece em conversas com o doleiro Alberto Yousseff cobrando pagamento de comissões a determinados consultores, um deles chamado “Milton”. Trata-se de seu irmão Milton Vargas Ilário e a PF suspeita que outros familiares do petista também tenham sido usados como laranjas. Nessa vertente do amplo esquema montado por Youssef, a lavagem de dinheiro se daria a partir do uso de empresas de fachada abertas por seus familiares. Entre as empresas investigadas pela Polícia Federal, que teriam sido usadas na lavanderia Vargas, encontra-se a LSI Solução em Serviços Empresariais. Foi constituída em agosto de 2011 pelo irmão Leon Denis Vargas Ilário e a mulher, Simone Imamura Vargas Ilário, com capital social de apenas R$ 15 mil. Em 18 de setembro de 2013, os sócios trocam de lugar. Simone sai e entra Milton. É justamente a véspera da intensa troca de mensagens em que parlamentar e doleiro comemoram as gestões da parceria entre os laboratórios Labogen, LFM e EMS para abocanhar contrato de até R$ 150 milhões com o Ministério da Saúde. Em apenas um ano, a LSI mudou três vezes de ramo, ampliando seu leque de atuação de pesquisa e consultoria a atividades de cobrança, publicidade, organização de eventos, gestão empresarial e até tecnologia da informação. Curiosamente, a empresa foi aberta no número 58 da alameda Sarutaia, no bairro do Jardim Paulista (SP), onde já funcionava há anos outra empresa, a agropecuária Adram S/A, que acaba de ser selecionada para uma linha especial de crédito do BNDES. Existe a desconfiança na PF de que Vargas e seus parentes também estejam por trás da Adram S/A. Com a entrada de Milton, irmão do petista, a sede da LSI foi transferida para um apartamento residencial da Vila Mariana, bairro da capital paulista. A PF não identificou qualquer indício de atividade comercial no endereço. Da mesma forma não foi encontrada atividade empresarial no endereço da L Vargas & CIA Ltda., localizada em São José dos Pinhais. A empresa está em nome de outro irmão do deputado chamado Loester Vargas Ilário e sua mulher, Luzia Salete Ribeiro Ilário, e tem como objeto social a prestação de “serviços auxiliares do mercado de capitais”.
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No STF, o inquérito que pode levar Vargas à cadeia pelo crime de falsidade ideológica para fins eleitorais é relatado pelo ministro Teori Zavascki. O ministro delegou ao juiz instrutor Marcio Fontes a missão de coordenar as investigações. O juiz pediu dezenas de diligências à Polícia Federal, que trabalha há meses na tomada de depoimentos de testemunhas. Nos próximos dias, o juiz vai analisar as notas fiscais apresentadas nas últimas campanhas por Vargas. Com base nos depoimentos já registrados de pessoas que constam da lista de doadores, e que garantem não saber como seus nomes foram parar lá, a Polícia Federal vai intensificar a apuração sobre a origem dos recursos que abasteceram a campanha do petista. O uso de laranjas para justificar parte das doações seria uma manobra contábil para esquentar recursos de origem duvidosa. No último dia 18 de março, um ofício assinado pelo ministro Zavascki foi enviado à PF. No ofício, o ministro pede o encerramento da fase de oitivas de testemunhas. Para a PF, os depoimentos não deixam dúvidas de que as doações eram mesmo fictícias.
Os documentos reunidos até agora no inquérito em tramitação no STF complicam de vez a situação política de Vargas. No processo, o Ministério Público identifica uma série de operações estranhas a prestações de contas de um candidato a deputado federal. Por exemplo, extratos bancários da conta aberta em 2006 pelo então candidato do PT mostram movimentações muito abaixo dos custos de uma campanha, com saldos que não passam de R$ 2 mil. Além disso, o ritmo de arrecadação oficial era lento, com a realização de jantares de adesão que arrecadavam pouco mais de R$ 3 mil a cada evento. Mas foi a lista provavelmente fictícia de doações recebidas em 2006 pelo parlamentar que encorpou o processo que pode levar Vargas à cadeia. Dos pouco mais de R$ 300 mil declarados à Justiça Eleitoral naquele ano, quase R$ 100 mil aparecem como sendo de pequenas doações – entre R$ 20 e R$ 600 – de pessoas físicas. O problema é que cerca de 200 pessoas listadas como “doadoras” por Vargas afirmam nunca terem contribuído com qualquer campanha, especialmente a do petista.
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RELAÇÕES PROMÍSCUAS
A Polícia Federal suspeita de que o deputado André Vargas
e seus irmãos frequentavam o escritório do doleiro Alberto Youssef, preso
na Operação Lava Jato, no número 155, da rua Dr. Elias César em Londrina
Nesse grupo estão 81 vigilantes da Universidade Estadual de Maringá. Eles chegaram a entrar com processos por danos morais na Justiça Estadual contra Vargas e quase a metade já recebeu indenizações. ISTOÉ localizou alguns desses doadores fictícios, que nos últimos dias vêm sendo chamados a depor na Polícia Federal. “Levamos um susto quando avisaram que nosso CPF estava na lista de campanha. Muita gente da universidade correu para ver o que tinha acontecido. Nunca nos explicaram direito como fomos parar lá. Agora, esperamos a resposta do processo”, diz Wilson Novo, que, segundo a prestação de contas do deputado Vargas, teria doado R$ 90 para a campanha petista. “Não doamos nada a ninguém. Por isso, buscamos reparações”, completa João Lozada, outra vítima de Vargas.
Na campanha de 2010, o deputado licenciado André Vargas repetiu a fórmula de elencar muitos doadores de pequenas quantias. Não bastasse essa prática suspeita, o petista ainda transformou a sua conta oficial em um duto para que doações ocultas fossem distribuídas a outros candidatos. Empresas doaram dinheiro para o diretório do PT, que, por sua vez, repassou as quantias para a conta de Vargas, a quem cabia fazer uma nova distribuição. Pelo menos R$ 800 mil de origem desconhecida foram repassados por ele a outros candidatos. Na leitura técnica de quem investiga o caso no STF, descobrir a origem dos recursos que passaram pelas contas eleitorais de Vargas pode ser o caminho para desvendar as dúvidas que ainda precisam ser dirimidas no inquérito no Supremo.
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Relator do processo contra André Vargas na Câmara, o deputado
Júlio Delgado (PSB-MG) promete dar celeridade ao caso
A PF pretende ainda pedir a quebra de sigilo bancário e telefônico de Vargas e de seus familiares para identificar a movimentação financeira das empresas e eventuais contatos dos familiares com o doleiro Alberto Youssef. Suspeita-se que o parlamentar e seus irmãos frequentavam o escritório do doleiro no número 155, da rua Dr. Elias César em Londrina. Há mais de R$ 60 mil em notas de abastecimento de veículos usados por Vargas num posto de gasolina (Posto Centro Cívico) a apenas 550 metros do apartamento de Youssef. Ao constituírem a LSI, o casal Leon Vargas e Simone deram como endereço o número 480 da avenida Inglaterra, a apenas 1,7 km dali. Além da família, a Polícia Federal também está de olho nos assessores políticos de Vargas. Seu chefe de gabinete, Wagner Pinheiro, também serviu ao falecido deputado José Janene e outros caciques do PP desde a época da eclosão do escândalo do mensalão. Acuado pelas denúncias que o cercam, Vargas recebeu na semana passada apelos do PT para que renunciasse ao mandato. Seria, na visão desses petistas, uma tentativa de não contaminar a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff. O petista se negou a atender aos pedidos. Reclamou de abandono e desabafou com colegas mais próximos que sua resistência em abrir mão do mandato se deve ao temor de que seu inquérito no STF, aquele que pode colocá-lo atrás das grades, seja enviado à Justiça de primeira instância do Paraná. A essa altura, porém, são poucas as alternativas políticas para André Vargas, o petista que ousou desafiar a Suprema Corte do País e que pode ter seu destino selado por ela.
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“Não imaginava que estava sendo gravado”
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“Deveria ter dito: “Vai à PQP!... mas fiquei quieto”
ISTOÉ – Num despacho de 7 de abril, o juiz Sergio Moro, responsável pela operação Lava Jato, diz que a polícia segue examinando o material apreendido e complementando as investigações, mas que ainda seria prematuro afirmar que a relação do senhor com o doleiro Alberto Youssef tem “natureza criminosa”. Por quê?
ANDRÉ VARGAS –
O despacho do juiz Sergio Moro é esclarecedor. Para mim, Alberto Youssef sempre foi um grande empresário,  dono do maior hotel de Londrina. Ele me disse que tinha sido doleiro no passado e até que fizera delação premiada no Ministério Público. Mas dizia que não atuava mais como doleiro.
ISTOÉ – Num diálogo gravado, o doleiro fala que vocês dois poderiam conquistar a independência financeira em negócios com o governo.
VARGAS –
Meu erro foi ficar em silêncio quando ouvi isso. Não imaginava que estava sendo gravado. Deveria ter dito: “Vai à PQP!...” Mas fiquei quieto e o silêncio foi gravado.
ISTOÉ – Estava deslumbrado?
VARGAS –
Não. Deveria ter reagido e não reagi. Mesmo assim, logo depois a transcrição mostra um “kkkkk”. Ele estava fazendo graça.
ISTOÉ – O sr. também pergunta pelo dinheiro para o “Milton.” Era seu irmão?
VARGAS –
Era. Quando estava montando o laboratório Labogen, o Youssef me pediu uma indicação para a área de informática. Indiquei o Milton, que é consultor sênior de grandes empresas. Ele trabalhou para o Youssef e não recebeu. Por isso perguntei.
ISTOÉ – O sr. ajudou o Labogen esperando dinheiro para campanha?
VARGAS –
Isso não aconteceu. Dei orientações. Não marquei uma reunião em Brasília. Se era o Labogen uma empresa para lavar dinheiro, como dizem hoje, é preciso uma auditoria para demonstrar.
ISTOÉ – O sr. responde a processo no STF em que é acusado de falsidade ideológica, por ter apresentado falsos doadores nas contas de campanha.
VARGAS – 
Na campanha de 2006 reuni um grupo de vigilantes para pedir apoio para minha eleição. Eles me trouxeram 199 votos. A acusação de lavagem de dinheiro não faz sentido. Deram contribuições de R$ 20. Alguém vai fazer alguma coisa para lavar R$ 20?
Fotos: Sérgio Lima/Folhapress, Adriano Machado/Istoé; ANIELE NASCIMENTO/GAZETA DO POVO/AE