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quinta-feira, 31 de julho de 2014

41% dos candidatos declaram 'patrimônio zero' nestas eleições


Gráfico patrimônio
  Rosanne D'Agostino .Dos 25.063 candidatos que apresentaram registro para disputar as eleições deste ano, 10.337 (41,2% do total) declaram à Justiça Eleitoral não possuir nenhum bem em seu nome. É o caso de Rui Costa Pimenta (PCO), único que não tem patrimônio entre os 11 candidatos à Presidência. Entre os candidatos a todos os cargos, 194 candidatos declaram possuir R$ 10 em bens, e 208 dizem possuir R$ 1.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diz que, para pedir o registro, todos os candidatos apresentaram uma declaração de bens assinada, com lista do patrimônio pessoal. Não há como o candidato ter deixado de entregar o documento. Uma eventual omissão ou fraude na declaração de bens só será analisada se o Ministério Público ou algum partido contestar o fato. Se não houver questionamento, o juiz eleitoral não avaliará a declaração de bens. "Eventuais falsidades ou incongruências na declaração de bens dos candidatos podem ser objetivo de investigação do Ministério Público ou dos partidos", afirma o TSE.
A divulgação de bens está prevista na Lei das Eleições e a publicidade dos dados, que estão no site do tribunal, "atende ao princípio da transparência de informações e contribui para que o cidadão possa conhecer melhor os candidatos".

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Termina nesta quarta prazo para Argentina evitar novo calote

Credores brigam na Justiça por pagamento integral de dívida.
Veja possíveis cenários e consequências do impasse.

Do G1, em São Paulo
Cristina Kirchner recebeu na terça (29) o apoio do Mercosul no impasse com os fundos especulativos (Foto: AFP)Cristina Kirchner recebeu na terça (29) o apoio do Mercosul no impasse com os fundos especulativos (Foto: AFP)

Termina nesta quarta-feira (30) o prazo para que a Argentina encontre uma saída para evitar um novo calote, quase 13 anos depois da moratória de 2001. O país busca um acordo com os fundos especulativos ou a suspensão da decisão da Justiça dos Estados Unidos que força o país a negociar com investidores que não aceitaram participar das restruturações da dívida e exigem o pagamento integral.

Nesta terça (29) o ministro argentino da Economia, Axel Kicillof, foi até Nova York participar de uma reunião com o mediador judicial Dan Pollack e tentar pôr um fim ao impasse, mas não conseguiu chegar a um acerto. Segundo o ministro, as conversas devem prosseguir nesta quarta. Nos últimos dias, o país participou de várias reuniões com o mediador designado pela corte norte-americana.

O governo da presidente Cristina Kirchner continua tentando uma saída judicial e pede que a Justiça norte-americana conceda uma medida cautelar que permita o desbloqueio da parcela da dívida reestruturada e dê mais tempo para o país resolver os problemas com os chamados "fundos abutres".
Na véspera, a presidente argentina recebeu o apoio dos países do Mercosul, reunidos em Caracas, que manifestaram "sua solidariedade militante" na disputa com os fundos especulativos.
 
A presidente Dilma Rousseff defendeu "foros imparciais" para julgamento de ações sobre a restruturação de dívidas de nações. "O problema que atinge a Argentina é ameaça não apenas para o país irmão, mas atinge todo o sistema financeiro internacional. Não podemos deixar que a ação de poucos especuladores coloque em risco a estabildade e o bem-estar de países inteiros”, disse.
Já Cristina Kirchner reafirmou que seu governo está disposto a pagar todas as suas dívidas. "Tentam de fora e de dentro (do país) nos assustar, insinuando que, se não fizermos o que eles dizem que temos de fazer, virão as dez pragas do Egito (...) A Argentina afirma mais uma vez sua vontade, suas convicções, suas decisões e suas ações, que estarão direcionadas ao pagamento de 100% dos credores, mas de forma justa, equitativa, legal e sustentável", disse.
O governo argentino tem deixado claro que não aceita ser responsabilizado pelo eventual novo calote, uma vez que depositou o valor correspondente ao vencimento da parcela, cujo prazo de carência vence nesta quarta.
Tentam de fora e de dentro (do país) nos assustar, insinuando que, se não fizermos o que eles dizem que temos de fazer, virão as dez pragas do Egito"
Cristina Kirchner
O depósito foi feito pela Argentina no banco nova-iorquino que se encarrega dos pagamentos (Bank New York Mellon), mas a Justiça dos EUA bloqueou a transação, por ordem do juiz Thomas Griesa, que determinou que nenhum pagamento da dívida reestruturada pode ser feito a menos que a Argentina pague também aos fundos abutres.
Entenda - crise da dívida da Argentina (Foto: Editoria de Arte/G1)De onde vem o impasse
O impasse de agora ainda é um desdobramento daquele megacalote do fim de 2001. Depois de dizer que não tinha como pagar ninguém, a Argentina decidiu reestruturar seus débitos: ofereceu pagar, em parcelas de até 30 anos, menos do que os títulos da dívida valiam. A maioria dos prejudicados aceitou as condições, e é uma das parcelas para este grupo que vence nesta quarta. A Argentina fez o depósito, mas os recursos foram bloqueados pela Justiça americana.
Para destravá-los, o país teria de cumprir uma decisão judicial que ordenou o pagamento de US$ 1,33 bilhão mais juros a fundos especulativos liderados por NML e Aurelius. Eles têm em mãos papéis da dívida de uma minoria (7,6%) que não quis renegociar as dívidas e foram à Justiça exigir o pagamento integral.
O iminente calote de agora está mais relacionado a questões jurídicas complexas do que, necessariamente, à falta de dinheiro.
O governo demonstra estar convencido de que qualquer novo acordo com credores ameaça todo o processo de reestruturação da dívida feita lá atrás, porque poderia provocar uma enxurrada de processos de credores exigindo o mesmo tratamento (receber todo o valor do título), aumentando o valor da dívida em mais de US$ 120 bilhões
Cláusula faz país evitar negociação
Além das dificuldades financeiras, a Argentina tem outra barreira para negociar os débitos abertamente: uma cláusula no contrato de todos os títulos emitidos nas trocas dos anos 2005 e 2010 – ou seja, os que entraram na renegociação da dívida e estão em poder de 92,4% dos credores.
A cláusula chamada Rufo (Rights Upon Future Offers) trata de direitos sobre ofertas futuras da renegociação. Ela dá a garantia de poder exigir as mesmas condições de qualquer outra eventual oferta voluntária futura aos chamados “holdouts” – aqueles que ficaram de fora da renegociação. Assim, se a Argentina pagar 100% da dívida a algum credor, outros podem cobrar o mesmo. Esse item do contrato, no entanto, vence no dia 31 de dezembro, o que leva a muitos analistas a acreditarem que um acordo ou iniciativa de negociação não deverão acontecer antes de 2015.
Outra saída seria um acordo judicial forçado, com o juiz estabelecendo os termos de pagamento e percentuais, o que tiraria um pouco da pressão sobre o governo argentino. Ele poderia alegar que a oferta não foi voluntária e, assim, se livrar do disparo da cláusula Rufo.
A Corte americana é muito rígida. Uma possibilidade de reversão de decisão é praticamente zero. Só resta à Argentina tentar ganhar prazo. A curto e médio prazo não há outra alternativa", avalia o economista do Insper Otto Nogami.
Possíveis cenários para o impasse da dívida
Cenário 1
Argentina e fundos chegam a acordo
O que acontece
Evita-se o calote, mas abre-se brecha para uma enxurrada de ações de credores exigindo as mesmas condições (pagamento do valor total dos títulos), o que poderia elevar valor da dívida em US$ 120 bilhões
Cenário 2
Suspensão da decisão
do juiz dos EUA
O que acontece
Pagamento de parcela da dívida é desbloqueado e evita-se o calote, adiando o problema para setembro, quando vence a próxima prestação. Permanece, porém, o impasse em relação ao valor de US$ 1,5 bilhão cobrado pelos fundos especulativos
Cenário 3
Calote é confirmado
O que acontece
Piora da economia e maior escassez de dólares. País terá que voltar a negociar com os credores o pagamento dos juros da parcela atrasada e terá que buscar alternativas jurídicas para uma saída que garanta um acordo com os 'abutres' sem correr o risco de que outros investidores exijam o mesmo tratamento
Cenários possíveis
À medida se esgota o tempo para Argentina entrar formalmente em moratória, especialistas ouvidos pelo G1 traçaram possíveis cenários de desdobramento do impasse sobre a dívida (veja quadro ao lado).
Acredita-se que qualquer iniciativa de acordo com os fundos que o governo argentino chama de “abutres” só deve acontecer antes de 2015 se o país puder evitar o disparo da cláusula Rufo, ou se tiver a garantia de que não haverá questionamento por parte dos investidores que aceitaram os termos das reestruturações de 2005 e 2010.
Sam Aguirre, diretor da FTI Consulting e especialista em reestruturação de dívidas corporativas, afirma que a confirmação do calote poderá jogar no colo da Justiça a responsabilidade de determinar um acordo forçado ou de fixar uma proposta de desconto no valor dos títulos cobrados, o que tiraria um pouco da pressão sobre o governo argentino, por não se tratar de uma oferta voluntária, podendo livrar a Argentina do disparo da cláusula Rufo.
A manutenção do bloqueio da parcela que vence nesta quarta também pode provocar o questionamento de investidores de outros credores. "A questão é superdelicada. O juiz emitiu ordem para não pagar ninguém, o que pode mexer com leis de outros países. Portanto, não podemos descartar a hipótese de uma suspensão parcial, que libere o pagamento para alguns credores", diz Aguirre.
Na terça (29), detentores da dívida denominada em euro entraram com um pedido para que o juiz emita uma suspensão de último minuto de sua decisão que ameaça levar o país sul-americano ao default.
Para os especialistas, mesmo no cenário de calote, o governo argentino continuará tentando uma saída jurídica. E também poderá emitir novos bônus, referentes aos juros da parcela bloqueada, segundo Antonio Madeira, da LCA. "O próprio Brasil já fez isso na década de 80. Acredito que a Argentina não teria dificuldade para renegociar o pagamento destes juros", avalia.
Cristina Kirchner inaugurou na quarta (23) nova fábrica da Yamaha na Argentina (Foto: Divulgação/Casa Rosada)Cristina Kirchner inaugurou na quarta (23) nova fábrica da Yamaha na Argentina (Foto: Divulgação/Casa Rosada)
Impactos econômicos de um novo calote
Segundo os analistas, um novo calote agora dificilmente provocaria impactos semelhantes ao da moratória de 2001. A avaliação é de que não se trata de um problema de falta de dinheiro e que a questão tende a ser resolvida num prazo de até 6 meses, quando expira a cláusula Rufo.
A Argentina já é especialista em calote. As principais consequências já aconteceram. Só irá acentuar os problemas que já existem. Mas o novo default não será surpresa para ninguém"
Rodrigo Zeidan, Fundação Dom Cabral
É consenso, entretanto, que a combalida economia argentina seria ainda mais enfraquecida, uma vez que a fuga de dólares tenderia a crescer, a moeda a se desvalorizar, a inflação a subir e o Produto Interno Bruto (PIB) a cair.
O país está há anos afastado dos mercados de capital e as necessidades de financiamento do governo são cobertas, em grande parte, por uma política comercial que prioriza o superávit (quando as exportações são maiores que as importações). Neste sentido, um novo calote derrubaria ainda mais a nota de risco da dívida da Argentina, podendo atrasar ainda mais os planos do país de recompor sua credibilidade para voltar a emitir títulos para captação de recursos no exterior.
Otto Nogami, do Insper, lembra que o país continua sofrendo os efeitos do último calote, como a redução drástica das reservas internacionais. "Diante da dificuldade de remeter o lucro das suas operações, muitas empresas já saíram da argentina. A falta de credibilidade é tanta que boa parte das empresas ainda pagam os salários em espécie, pois o argentino tem medo de colocar o dinheiro no banco", diz.
Com um novo default, o controle de câmbio tende a ser ainda maior e é de se esperar que parceiros comerciais como o Brasil passem a ter ainda mais dificuldades nas exportações. "Diante da necessidade de gerar superávit de divisas [mais entrada de moeda norte-americana] para pagar os seus credores, a Argentina terá que depender cada vez menos de importação", avalia Antonio Madeira. Por outro lado, segundo ele, os próprios exportadores passarão a ficar mais receosos e passarão a exigir dos argentinos pagamento antecipado ou algum tipo de fiança bancária.
Exportações para a Argentina em queda
O Brasil permanece como o principal parceiro comercial da Argentina, representando 20,4% das exportações da Argentina. E em seguida estão Chile (6,3%), China (6,2%) e EUA (5,1%). Mas, somente neste ano, as vendas do Brasil para a Argentina caíram mais de 20% ou US$ 1,9 bilhão. De janeiro a junho, o país vendeu para o vizinho US$ 7,41 bilhões em mercadorias ante US$ 9,32 bilhões no 1º semestre de 2013. O embarque de carros – principal item de exportação – desabou 31,5% neste ano.
Do lado das importações, a queda foi na mesma proporção. As encomendas feitas para a Argentina somaram US$ 7,03 bilhões até junho, ante um valor de US$ 8,79 bilhões no 1º semestre do ano passado. O Brasil fechou os seis primeiros meses deste ano com um déficit comercial (importações maiores que exportações) de US$ 2,49 bilhões.
Neste ano, exportações do Brasil para a Argentina caíram mais de 20% ou US$ 1,9 bilhão
Para os analistas, o agravamento da crise argentina pode acabar enfraquecendo e desestabilizando o pouco que resta do Mercosul, além de poder afetar a definição de preços dos títulos das dívidas dos países da região.
No entanto, a avaliação geral é que o contágio internacional da crise do país vizinho seria praticamente nulo.
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse na terça-feira (29) que um possível calote da Argentina não deve gerar "consequências significativas importantes no resto do mundo".
"O resultado das decisões legais que estão sendo tomadas em Nova York neste momento tem significância muito mais ampla", disse Lagarde. "Os princípios de reestruturação e a eficácia das cláusulas de ação coletiva terão de ser revisadas", acrescentou.
Para Zeidan, da Fundação Dom Cabral, o efeito mais nocivo do calote será adiar ainda mais a recuperação da Argentina e a retorno aos mercados de financiamento. "A Argentina já é especialista em calote. As principais consequências já aconteceram. Só irá acentuar os problemas que já existem. Mas o default não será surpresa para ninguém", conclui.
Guerra verbal
Se por um lado fundos especulativos pressionam por um diálogo direto e uma negociação imediata, o governo de Cristina Kirchner faz todo um uso político do imbróglio, acusando os grupos de tentativa de “pilhagem internacional financeira” e de querer atingir a soberania do país.
Governo argentino criou um site para dizer que quer pagar a dívida, desde que nos termos que considera justos (Foto: Reprodução)Governo argentino criou um site em que diz que fundos abutres querem levar o país ao calote (Foto: Reprodução)
“A Argentina está convencida de que vai honrar suas dívidas com 100% dos credores, mas de forma justa, equitativa e legal, e conforme as condições que estabelecem os prospectos de dívida da nação Argentina”, disse a presidente, em Brasília, durante a sua participação na VI Cúpula do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
“Fundos abutres não negociam, por isso são abutres”, argumenta o Ministério da Economia argentino, que criou até uma página na internet para defender a posição do governo e na qual afirma que são os fundos abutres e o juiz Griesa que tentam levar o país ao default.
“O país está disposto a pagar a sua dívida em condições que não afetem a sua soberania econômica e as bases de seu crescimento econômico e inclusão social”, diz o ministério, que acusa os fundos de ganância, uma vez que compraram títulos da dívida não resgatados em valores baixíssimos e tentam agora obter um "lucro exorbitante", de 1.068%, segundo o governo.
Do outro lado, o grupo que reúne os fundos especulativos que entraram na Justiça contra o país lançou uma contagem regressiva na internet, marcando os dias, horas e minutos que restam para a Argentina “escolher entre negociar e liquidar as suas dívidas ou escolher o default”.
Encurralado pela Justiça, o governo argentino passou a travar até uma batalha semântica, rechaçando o termos "calote" e "default".
"Vão ter de inventar um nome novo, não sei qual será", disse Cristina na semana passada, em referência ao pagamento aos credores que não é efetivado por conta da disputa judicial com os fundos. "A Argentina não vai entrar em default por uma razão essencial: porque em default entram os que não pagam, e a Argentina pagou", acrescentou.

terça-feira, 29 de julho de 2014

'Sou pago para falar o que penso', diz analista de consultoria cerceada pelo PT

Após episódio com o banco Santander, partido atua para neutralizar análises da consultoria Empiricus, que prevê "futuro sombrio" para a economia brasileira caso a presidente Dilma se reeleja

Ana Clara Costa
Dilma Rousseff: preocupação com a disputa entre petistas pelo poder
PT protocola representação contra consultoria que prevê economia indo mal se Dilma se reeleger (André Duzek/Estadão Conteúdo)
Na última sexta-feira, toda a artilharia petista se armou contra o banco Santander depois que um relatório enviado a clientes de alta renda previa mais dificuldades para a economia brasileira se a presidente Dilma Rousseff se reeleger. Temendo represália, o banco enviou nota ao mercado desculpando-se pelo texto da equipe de análise e assegurando que medidas haviam sido tomadas em relação aos responsáveis. No mesmo dia, o partido silenciosamente protocolou uma representação contra a consultoria de investimentos Empiricus Research no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A justificativa foi a mesma que a usada pelo presidente do PT, Rui Falcão, para recriminar o banco Santander na sexta-feira: "terrorismo eleitoral". Ou, de forma mais sofisticada, "fazer manifestações que interfiram na decisão de voto".
Segundo a representação, a Empiricus estaria vinculada ao candidato tucano Aécio Neves, à coligação Muda Brasil e ao Google numa campanha com o intuito de manchar a imagem da presidente Dilma por meio de propaganda paga. A consultoria, conhecida no mercado pela forma dinâmica e descomplicada com que produz suas análises, anunciou alguns de seus textos por meio da ferramenta Google Ads. Ao longo do último mês, permaneceram em evidência no Google os anúncios mais clicados por leitores, que eram justamente os textos intitulados: Como se proteger de Dilma e E se Aécio ganhar. O ministro Admar Gonzaga, do TSE, acatou o pedido protocolado em nome de Dilma e concedeu liminar impedindo a Empiricus de propagandear suas análises no Google. O gigante da internet também foi alvo de representação, assim como o candidato do PSDB e sua coligação. Em entrevista ao site de VEJA, o autor dos textos, Felipe Miranda, afirmou que a medida não intimidará seu trabalho. "O que já vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a condução da política econômica só piorou com esse cerceamento. Mas vamos continuar atuando da mesma forma. Não tenho rabo preso e sou pago pelos meus clientes para falar o que penso", afirma. Confira trechos da conversa.
O TSE informou a consultoria sobre a representação do PT?
Não, ainda não recebemos nenhum comunicado oficial. Ficamos sabendo pela internet. Mas a situação é absurda, pois não há campanha eleitoral da nossa parte. Podem não gostar do que escrevemos, mas nos colocar ali é absurdo.
Estão impedidos de produzir análises com foco eleitoral?
Não. Há uma liminar que nos obriga a tirar aqueles textos do ar. Mas não existe a possibilidade de alguém nos proibir de fazer nossas análises críticas, pois aí seria censura explícita. Já seria um ato institucional contra a liberdade de expressão. Além disso, o que já vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a condução da política econômica só piorou com esse cerceamento. Mas vamos continuar atuando da mesma forma. Não tenho rabo preso e sou pago pelos meus clientes para falar o que penso.
Como o Google distribuiu os anúncios dos textos produzidos pela Empiricus?
Os dois textos são muito claros: tratam de uma tese econômica que não é nova e que mostra que a bolsa cai quando a Dilma sobe nas pesquisas, e sobe quando o Aécio melhora. O objetivo é simples: nossos clientes devem se proteger desses solavancos. Os anúncios dos textos chegam de forma idêntica ao Google, mas, de acordo com a métrica de distribuição desses anúncios, ficam mais expostos os que são mais clicados. Diante disso, podemos escolher tirar do Google Ads os anúncios menos rentáveis. O que não foi o caso dos anúncios sobre as perspectivas econômicas num cenário de vitória da Dilma e do Aécio.
A consultoria sofreu algum tipo de represália fora a representação no TSE?
Tirando esse clima de caça às bruxas, de perseguição, nada foi feito. Há, claro, a militância. Desde a semana passada recebo xingamentos e ameaças de toda a natureza por email e por meio das redes sociais. Nosso site já caiu várias vezes e tentaram invadir nossos emails.
Desde a repercussão do caso Santander, o mercado está mais amedrontado?
Não posso falar pelo mercado, pois não estou a par. Mas o que é certo é que estão tentando cercear nossa liberdade e nosso dever fiduciário de prover boas dicas. Nós estamos pessimistas em relação à economia e não posso ignorar isso em minhas análises. No caso do Santander, entendo que ficou feio para o banco ter de voltar atrás na opinião de um analista. Mas não me surpreende, pois os grandes bancos não querem romper relações com o governo. Mas nós somos independentes e só temos compromisso com nossos clientes.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Abate do avião na Ucrânia pode ser considerado crime de guerra, diz ONU

Comissária de Direitos Humanos pediu investigação meticulosa e imparcial.
Segundo órgão, combates deixaram 1,1 mil mortos na região desde abril.

Da France Presse
 
A derrubada do avião malaio no leste da Ucrânia pode ser considerado um crime de guerra, afirmou a ONU nesta segunda-feira (28), acrescentando que os combates entre o exército ucraniano e os rebeldes pró-russos já deixaram mais de 1.100 mortos desde abril.
"Esta violação da lei internacional, dadas as circunstâncias, pode ser considerada um crime de guerra", declarou a comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, em um comunicado.
Pillay pediu uma investigação meticulosa, efetiva, independente e imparcial sobre a queda do avião provocada por um míssil em uma zona controlada pelos insurgentes no último dia 17 de julho. No avião da Malaysian Airlines, havia 298 pessoas, todas mortas.
A Cruz Vermelha indicou oficialmente na semana passada que a situação na Ucrânia se caracteriza como uma guerra civil, o que transforma as áreas em conflito passíveis de serem condenadas por crimes de guerra.
A ONU calcula que mais de 1.100 pessoas morreram nos combates na região desde meados de abril, segundo um relatório publicado nesta segunda-feira, e denuncia que os dois lados utilizaram armamento pesado em zonas residenciais.
"Ao menos 1.129 pessoas morreram e 3.422 ficaram feridas desde que Kiev lançou sua operação antiterrorista" em meados de abril, segundo dados disponibilizados em 26 de julho, indica o relatório.
Estes últimos dados supõem um aumento considerável em relação ao balanço de 18 de julho, no qual a ONU citou 256 mortos desde abril.
O texto também acusa os dois lados de usar armamento pesado em zonas residenciais.
Pillay afirmou ainda que as informações da intensificação dos combates nos redutos dos insurgentes, nas regiões de Donetsk e Lugansk, são "extremadamente alarmantes" e disse que as duas partes "empregam armamento pesado em zonas residenciais, incluindo artilharia, tanques, foguetes e mísseis".
Liderança russa
Um relatório do escritório da alta comissária divulgado nesta segunda aponta que os grupos armados separatistas pró-russos que combatem no leste da Ucrânia estão se "profissionalizando" e estão se unindo sob um comando unificado de líderes que, em muitos casos, são de nacionalidade russa.
"O que antes eram grupos armados anárquicos com diferentes lealdades e agendas estão se unindo sob um comando central", afirma o texto. "Seus líderes, muitos dos quais são nacionais da Federação Russa, são treinados e curtidos pela experiência em conflitos como os da Chechênia (Rússia) e Transnístria (Moldávia)."
Na apresentação deste documento à imprensa, o chefe da Seção para as Américas, Europa e Ásia Central do órgão, Gianni Magazzeni, detalhou que esses grupos armados "são dirigidos, tanto política como militarmente, por cidadãos russos".
Esta cada vez mais unificada força rebelde conta agora com armamento pesado, incluindo morteiros e artilharia antiaérea, tanques e veículos blindados, assim como minas, segundo corroboraram os observadores no terreno.
De acordo com o relatório, que é o quarto sobre a situação de direitos humanos no leste da Ucrânia e cobre o período de 8 de junho a 15 de julho, as milícias continuam cometendo sequestros, detenções, torturas e executando pessoas que têm como reféns.
Desta maneira buscam intimidar o resto "e exercer seu poder sobre a população de maneira brutal".

sábado, 26 de julho de 2014

FHC no centro da eleição

Em entrevista à ISTOÉ, FHC faz uma avaliação do atual momento político e diz que o mal-estar no País, os erros da política econômica e a quebra de confiança do empresariado em Dilma ampliaram as chances de vitória de Aécio Neves

Sérgio Pardellas (sergiopardellas@istoe.com.br)
Os últimos três infortúnios eleitorais do PSDB na corrida ao Planalto, em 2002, 2006 e 2010, tiveram como característica comum a ausência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso da campanha. Sem assumir a principal herança do partido – os dois mandatos de FHC, quando o Plano Real estabilizou a economia –, o PSDB parecia se apresentar ao eleitor vazio de identidade. Nas eleições deste ano, os tucanos resolveram se reconciliar com o passado e Fernando Henrique regressou ao epicentro da campanha, tanto pelo lado da oposição como do governo, que vê neste retorno uma possível vantagem comparativa.
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INFLAÇÃO É CARESTIA
Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
o Brasil enfrenta de novo o problema da alta dos preços
O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, além de aconselhar-se com FHC, insiste nas referências ao legado do ex-presidente e tem exaltado a importância do seu governo. “Os anos FHC começaram a reescrever a história do Brasil”, tem dito Aécio em recentes entrevistas. No programa “Roda Viva”, da TV Cultura, Aécio mencionou 19 vezes o nome do ex-presidente. Elogiou as privatizações dos setores de telecomunicações, de siderurgia e de aeronáutica e prometeu resgatar programas de FHC, como o Médico da Família. Reunido no Palácio da Alvorada na última semana, o staff da campanha de Dilma também resolveu trazer FHC para o centro do ringue eleitoral. Na esteira da troca de farpas entre FHC e Lula pela imprensa, os petistas apostam suas fichas na comparação entre os oito anos do governo FHC e os 12 anos da gestão Lula-Dilma. Para obter êxito, os petistas ancoram-se em pesquisas em poder do marqueteiro João Santana que apontariam um desgaste de FHC perante a população.
Embora esteja de volta à campanha, FHC se diz afastado do cotidiano partidário. Essa condição permite que, em alguns momentos, o Fernando Henrique sociólogo se sobreponha ao empedernido tucano. Foi o que aconteceu em entrevista concedida na segunda-feira 21 à ISTOÉ na sede do instituto que carrega o seu nome. Aos 83 anos, mais de uma década depois de deixar o Planalto e sem qualquer pretensão política, o ex-presidente se comportou, durante as duas horas de entrevista, como uma figura pública capaz de fazer análises objetivas do momento do País. Fez duras críticas ao governo, mas também ao PSDB. Elogiou determinados aspectos das gestões Lula e Dilma Rousseff, enquanto relativizou alguns de seus próprios feitos. Ao discorrer sobre a economia, tratou com pouca relevância um dos alvos preferenciais da oposição, o crescimento pífio do PIB brasileiro.“O importante é a população viver melhor. Portugal não tem PIB nenhum e é mais Primeiro Mundo do que o Brasil”, disse. FHC também admitiu pela primeira vez a desunião do PSDB nas últimas disputas presidenciais, classificando de “grave problema”, algo que, segundo ele, foi superado no pleito deste ano. “O PSDB uniu todo”, afirmou. Na entrevista, o ex-presidente ainda confessou que  há dois anos não acreditava no triunfo dos tucanos nas eleições presidenciais.  Porém, o cenário, na avaliação de FHC, alterou-se substancialmente de lá para cá. Hoje ele considera provável a vitória de Aécio. A mudança de compreensão deriva, segundo ele, de um mal-estar no País, de uma fadiga em relação ao governo, da piora da economia, da falta de confiança do empresariado e da perda de credibilidade do PT, arranhado pelo mensalão. Na campanha, o presidente de honra do PSDB prevê obstáculos adicionais para Dilma pelo fato de ela, em sua visão, não falar com o País.
“As pessoas querem mais. As explosões de junho do
ano passado foram conseqüência do querer mais”
“O PT perdeu a credibilidade”
ISTOÉ – O que mudou no cenário político de 2010 para cá?
Fernando Henrique Cardoso –
O Brasil de 2010 tinha tomado medidas contra a crise de 2008 que funcionaram. Era um Brasil que tinha alguma esperança. Basicamente, o governo tentou estimular o crescimento com mais consumo graças à maior oferta de crédito. Então, houve uma expansão grande do crédito, que animou o consumo. Mas levaram muito tempo para entender que, para reativar o investimento, precisavam ter capital público e privado. E parou. Depois, por causa da Copa do Mundo, deu aquela aflição e correram para fechar parcerias público-privadas. Mas o fundamento posto lá atrás, qual seja, o crescimento via consumo e expansão do crédito, continua aí e não vem dando resultado.
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DESPERDÍCIO
FHC avalia que o momento internacional era de "vacas gordas" durante
o governo Lula e o petista não soube aproveitar
ISTOÉ – O que deu errado?
FHC –
Houve certa desatenção, não muito grave, à pressão inflacionária. Mas o endividamento é muito grande. É uma sociedade que cresceu no consumo e que chamam de “novas classes médias”, embora, sociologicamente falando, não sejam uma nova classe média de fato. Mas isso também trouxe transformações. As pessoas consumiram mais e agora é natural que queiram mais. As explosões de junho do ano passado foram consequência do querer mais. Existe uma corrida pelo crescimento do PIB. O governo está em busca disso. Mas a sociedade não quer só isso. As pessoas querem viver melhor.
ISTOÉ – Mas as manifestações de junho juntaram mais que apenas a chamada classe C.
FHC –
É verdade. Todo mundo quer essa mudança. Queremos entrar no Primeiro Mundo. O Primeiro Mundo não é um país que tem muito PIB. É um país em que se vive melhor. Em que se tem segurança, educação, respeito e dignidade. Portugal não tem PIB nenhum e é mais Primeiro Mundo do que o Brasil. Aqui falta educação, segurança, o transporte não funciona. Estourou no governo Dilma. O governo persistiu no estímulo ao consumo e não olhou para os outros lados. Além disso, tem o manejo da política. O Lula sabia manejar o Congresso. Não da maneira correta, pois o mensalão ninguém pode apoiar. Mas ele sabia manejar. A Dilma não sabe manejar o Congresso. E a situação está aí. Vou ser sincero: há dois anos eu não acreditava na possibilidade de uma derrota eleitoral do governo. Porque o governo é o governo, tem recursos enormes e tem a exposição permanente. Os meios de comunicação, sobretudo a televisão, vão para um lado só. A televisão brasileira é esporte, crime, um pouquinho de internacional e muito governo. Por tradição. Nos EUA, ouve-se o outro lado. Aqui, o outro lado não existe para a massa. A pessoa só começa a ver o outro lado durante o período eleitoral. Achava muito difícil que houvesse uma mudança. Hoje eu acho possível transformar esse mal-estar em algo que tenha consequência eleitoral.
ISTOÉ – O sr. acha que a oposição não teve espaço na televisão brasileira?
FHC –
É da nossa tradição. No meu governo também era assim, a oposição pouco aparecia na tevê. A diferença é que, no meu governo, não fazíamos tanta propaganda, até porque não tínhamos recursos. Este faz muita propaganda.
ISTOÉ – Isso não acontece hoje porque a oposição propõe pouco, não tem um projeto objetivo e claro?
FHC –
O problema da oposição é outro: existe apenas uma oposição congressual. Os partidos existem no Congresso, não na vida da sociedade. A única exceção era o PT, que sempre teve organização partidária. A oposição se faz no Congresso, mas não repercute. O Congresso ficou muito confinado a ele próprio. Quando eu era senador, meus discursos eram publicados na íntegra nos jornais. Isso não acontece mais. Foi se perdendo o elo do Congresso com a sociedade. O mesmo aconteceu com outras instituições, com os sindicatos, com a UNE. Ela era importantíssima no passado. Hoje, qual é a importância?
“O Lula sabia manejar o congresso. não da maneira correta, pois
o mensalão ninguém pode apoiar. mas ele sabia manejar. Dilma não sabe”
ISTOÉ – Isso não tem relação com o aparelhamento dessas instituições?
FHC –
A UNE, por exemplo, foi aparelhada. Mas talvez tenha sido no passado também. O problema é que a UNE e os próprios sindicatos eram grandes personagens da vida brasileira. Isso tem a ver com a sociedade como ela é hoje. De massas, conectadas, mas não presenciais. O que o governo decide incide sobre as pessoas. A oposição não toma decisão. Ela fala. E isso não aparece, só aparece um lado. O outro lado só aparece na eleição. Tem outra questão ainda: as diferenças, hoje, são lidas no espectro ideológico, direita e esquerda, mas não se dão nesse espectro. Na formulação é como se fosse “uns estão para cá, e outros estão para lá”. Na realidade não é assim. A diferença entre o PT e o PSDB é principalmente a concepção que se tem da política e do governo. O PT acredita que se muda o País ocupando o Estado e através do Estado tomando as decisões, controlando mais, sobretudo a economia. O PSDB acredita mais que é preciso não ocupar o Estado e ter uma relação maior com a sociedade. Isso é tênue, claro. Os dois têm um pouco de cada um. Mas a diferença essencial é essa. Na política monetária, por exemplo, o PT pode ter errado aqui ou ali, mas não mudaram o que vinha sendo feito. O juro não baixou como devia, é verdade. Mas isso é algo técnico. Ninguém está discutindo, na essência, a função do Banco Central.
ISTOÉ – No início do seu governo ainda havia uma tensão entre os que defendiam uma política econômica ortodoxa e os que queriam algo mais parecido com o desenvolvimentismo. Mas isso se diluiu. No governo Dilma a questão voltou e escolheu-se o caminho do nacional-desenvolvimentismo. Foi o caminho errado?
FHC –
O que se entendia pelo desenvolvimentismo? O José Serra acredita muito no desenvolvimento com ativismo do governo. Acho que deve haver um ativismo mesmo. Quando eu era jovem, só se falava em desenvolvimento e subdesenvolvimento. A fórmula era assim: põe barreira para importação, dá subsídio ao juro e o governo investe. Isso foi mudando com o tempo. Como vai colocar barreira na importação com a economia globalizada?
ISTOÉ – A abertura da economia não tem volta?
FHC –
Depois que o Collor abriu a economia não houve mudança nessa direção. Não houve movimento de fechamento. Todo mundo também é a favor da redistribuição de renda. As Bolsas (Escola e Alimentação) começaram no meu governo. E os outros governos só não fizeram porque não tinham como. A grande mudança nesse sentido se deu com a Constituição de 88, que garantiu direitos democráticos e desenhou a possibilidade de um país social-democrático, para usar uma expressão abusiva. A Constituição manda que o governo providencie gratuitamente a educação, a saúde, faça reforma agrária e assegure a previdência social. A partir de então, os governos, queiram ou não, terão de ir nesse caminho. As Bolsas foram para isso. A política de sustentação do saláriomínimo começou no governo Itamar.
ISTOÉ – O sr. não vê no governo Lula uma aceleração do processo de inclusão?
FHC –
Acelerou porque ele pôde. Ele teve recursos para isso por causa do boom da China. Acabou a dívida externa na América Latina toda, não só aqui. A folga fiscal foi maior. Mas os princípios foram lançados antes. Progressivamente o Estado foi criando condições para melhorar. Condições estruturais e organizacionais, digamos. Não era possível criar as Bolsas sem internet. O Banco Mundial foi quem propôs primeiro. O PT era contra. Quem primeiro fez foi Honduras e quem melhor fez inicialmente foi o Chile. O cartão para criar o Bolsa Escola fui eu que fiz, copiando o exemplo de Goiás, com Marconi Perillo, para dar cidadania e entregando os recursos para a mulher. Foi decisão do meu governo. As Bolsas também estavam sendo unificadas no meu governo. Era uma questão técnica.
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MÃO DO ESTADO
Segundo o ex-presidente, Dilma tem uma visão
"general Geisel" por ser mais intervencionista
ISTOÉ – Mas o Lula iniciou com o Fome Zero.
FHC –
Que nunca existiu. O Fome Zero do Lula ficou um ano sem sair do papel. Depois eles perceberam que era melhor pegar o plano anterior, que era o das Bolsas. Não houve mudanças radicais quando mudou o governo.
ISTOÉ – Nenhuma mudança expressiva?
FHC –
O que houve foi maior presença do partido nas empresas. Sempre lutamos para tirar qualquer partido de dentro das empresas. A Petrobras, por exemplo. Nunca pensamos em privatização. É mentira. Nem se cogitou. Queríamos a competição e tirar a influência partidária. O mesmo com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica. Eu diminuí muito a presença de partidos aí. Com o Lula isso se inverteu. E a Dilma está sofrendo as consequências. Ela, quando colocou a Graça Foster, foi para diminuir a influência política. Mas estourou na mão dela. Hoje, o PMDB tem vice-presidente da Caixa, Banco do Brasil, no meu governo não tinha isso. Essa é a diferença. Agora, entre a Dilma e o Lula, existem outras diferenças. Para a Dilma, o Estado tem que ter um papel crucial no investimento e no controle. Ela é intervencionista. Tem uma visão mais general Geisel.
“Quem tem 47% de rejeição não pode dizer que é
somente a elite branca que está contra o governo”
ISTOÉ – E isso é prejudicial?
FHC –
É uma visão mais dos anos 60 e 70. Mas, em relação ao Lula, não houve uma mudança muito radical, como não haverá se o Aécio Neves ganhar. O Aécio não vai mexer na política do Bolsa Família. O que deverá fazer é aumentar o mercado de trabalho. Acompanhar a pessoa que é assistida até ter o emprego, como ocorreu no Chile. O ideal é que as pessoas não sejam dependentes. O Bolsa Família é uma solução de emergência, necessária, mas não para o futuro.
ISTOÉ – Uma das críticas que são feitas recorrentemente à oposição é que, além de esconder o sr. nas últimas eleições, ela não soube dizer o que poderia fazer de diferente. Chegou o momento de fazer isso?
FHC –
A população está interessada no bolso, e isso pesa muito hoje, porque a inflação para o povo é mais do que 7% – está em cerca de 10%. Hoje, o Bolsa Família é menor do que o bolso. A Bolsa não é suficiente para o bolso. Para as classes mais populares a vida está cara. Para a classe média também. Para o povo, inflação é carestia. Estamos vivendo de novo um problema de carestia. Nisso o candidato de oposição tem que ser claro. O governo atual levou a essa situação.
ISTOÉ – Como o candidato Aécio Neves pode passar a segurança de que tem condições de mudar o quadro atual?
FHC –
Eu cultivo o hábito de desligar o som da tevê toda vez que começa o programa eleitoral de algum candidato. Porque sei que as pessoas percebem muito mais é como o candidato fala. O jeitão. Se transmite firmeza, simpatia, segurança. Podem dizer: se for assim, a Dilma dificilmente seria eleita... Mas o Lula não. E quem elegeu Dilma foi o Lula. Então você tem um lado que é como a pessoa se relaciona com o conjunto da população. São 140 milhões de eleitores. Eles não vão ler programa de partido. Mal sabem o nome dos candidatos. Estão começando a aprender, salvo o do governo. E eles vão pensar: eu confio nesse cara ou não confio? Ele falou alguma coisa que tocou no meu coração? Bem, ele vai pensar que é no coração, mas é no bolso também... O candidato tem que ter uma conversa com o País. Eu ganhei duas vezes no primeiro turno. E já era o Lula. Nunca deixei de falar do jeito que eu falo, embora digam que eu falo pedantemente. Não é verdade. Eu tenho meu jeito, não adianta imitar o outro. Mas eu falava com o País. Fui pesquisador de campo e sei como é isso. O Lula fala com o País. Já a Dilma não fala com o País.
ISTOÉ – O Aécio fala com o País?
FHC –
O Aécio pode falar. Jeitão ele tem. Ele passa uma simpatia. Mas precisa dizer alguma coisa que faça ele chegar lá. Ele foi governador de Minas Gerais. Conseguiu.
ISTOÉ – Quem, entre os candidatos, pode capitalizar melhor o que aconteceu em junho de 2013, quando houve as manifestações populares?
FHC –
Por enquanto, ninguém. E quem for capitalizar agora vai perder. A população vai interpretar como oportunismo. Agora, é muito importante em qualquer eleição o bad ou o good feeling. Hoje existe um mal-estar no País. Isso favorece a oposição. Por isso, acho que temos grandes chances. Há também o cansaço de material. Fadiga. O Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, com 54% de apoio, é um dos poucos que contrariam essa tese.
ISTOÉ – Mas no caso do Geraldo Alckmin parece que há o efeito teflon. Nada cola nele, mais ou menos como acontecia antes com o Lula.
FHC –
É verdade. Nada cola.
ISTOÉ – Há uma fadiga em relação ao PT?
FHC –
Há uma fadiga em relação ao governo. Bem, também existe a fadiga da classe média em relação ao PT. Sobretudo em São Paulo. É assustadora essa rejeição de 47% no Estado e 49% na cidade.
ISTOÉ – O que todo mundo comenta, no meio político, é que a batalha de São Paulo terá um peso maior nessas eleições. O sr. concorda?
FHC –
Se for isso, nós vamos ganhar. Olha, o PSDB nunca tinha conseguido isso e estamos alcançando agora. Uma harmonização grande entre São Paulo e Minas. No Rio, nunca tivemos uma grande força e agora o Aécio Neves tem sido hábil e conseguiu desorganizar lá a base do governo. Para vencer, precisamos consolidar o peso que temos por aqui e reduzir a diferença no Norte-Nordeste. No Estado de São Paulo, o Aécio ganha no segundo turno e, na cidade, no primeiro turno. No Sul, a gente ganha. Na Bahia, estamos razoavelmente bem. Em Pernambuco, o Eduardo Campos, candidato do PSB, vai tirar votos da Dilma. No Ceará, fizemos acordo com Tasso Jereissati e Eunício Oliveira, do PMDB. E temos as prefeituras de Maceió, Teresina, Belém, Manaus, algo que nunca tivemos. Por isso, a chance de ganhar aumentou. Claro que o aumento da possibilidade de vitória do Aécio decorre de outros fatores que já elencamos, como o mal-estar no País, o cansaço, os erros de condução da política econômica e, mais recentemente, a quebra de confiança do empresariado no governo.
“O Bolsa Família não é suficiente para o bolso.
A vida está cara. O governo levou a essa situação”
ISTOÉ – Essa ruptura do governo com o empresariado aconteceu quando?
FHC –
Entre seis meses e um ano. No começo havia o sonho do “Volta, Lula”, que vinha mais do meio empresarial do que do povo. Depois que essas pessoas se convenceram de que não seria o Lula, começaram a tomar distância. Quem vai decidir mesmo é a massa, mas há uma certa fluidez entre esses segmentos. Não é isolado. Por exemplo, teve o episódio das vaias a Dilma no estádio. E falaram: “Ah, mas é elite branca”. É um exagero, não refletiu só isso. Se fosse, as pesquisas agora não iriam apontar essa queda na avaliação da presidenta. Vamos considerar que, de fato, as pessoas de maior poder aquisitivo eram as que estavam presentes no estádio. É verdade. Mas quem chamou a elite branca para lá? Foi o governo. Sobre os xingamentos, a mim me chocou. Soube, depois, que o que disseram para a Dilma se tratava de um bordão comum nos estádios de futebol. Bem, de qualquer maneira, ir ao estádio é chamar vaia. Qualquer governante. Nas atuais circunstâncias, mais ainda. Mas não é algo isolado: um candidato com 47% de rejeição não pode dizer que quem está contra é somente a elite branca.
ISTOÉ – O sr. não acha que essa definição de elite branca se destina a enfatizar que o PSDB é o partido dos ricos e o PT o partido dos pobres?
FHC –
É um estigma que o PT quer colocar. Mas o PSDB ganha em Alagoas, em Maceió, em Belém e no Piauí. Essas são algumas das regiões mais pobres do Brasil. O quadro médio do PSDB é o sujeito de classe média universitária. O do PT é o quadro sindical. Tem uma diferença, sim. Mas não é essa coisa de elite branca.
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JEITÃO
Para FHC, o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, tem um "jeitão"
para falar com o País e capacidade pessoal para acabar com divisões
ISTOÉ – Mas o sr. não acha que essa imagem pode ter força eleitoral?
FHC –
O que pega na eleição depende do que o eleitor quer ouvir. Há momentos em que o povo está disposto a ouvir certos estigmas. Há outros que não. Isso não é religião: “Eis aqui a verdade, eu sou a verdade”. Você pode dar o dado certo, mas, se o povo não estiver querendo ouvir, não vai ouvir. Eu acho que a diferença nessas eleições é que o povo está disposto a ouvir outras coisas. Eu não ganhei do Lula? E não sou de classe média e universitária, da elite branca?
ISTOÉ – Pela sua autodefinição, da elite meio branca...
FHC –
Isso, da elite meio branca... Mas a questão é que agora acho que o eleitor está disposto a ouvir o outro lado porque há uma ruptura de confiança, a economia piorou, há um cansaço e uma fadiga de material. Por isso, considero agora que é provável a vitória do PSDB e de Aécio Neves.
ISTOÉ – O escândalo do mensalão não colou no PT em 2005 e 2006. Pode afetar agora depois das prisões de ex-integrantes da cúpula do partido?
FHC –
Não pegou porque as pessoas não estavam dispostas a ouvir. Nem a classe média. Mas ali o PT perdeu a credibilidade. O Lula não perdeu popularidade naquele momento, não sei hoje, mas perdeu a credibilidade. O mensalão arranhou muito.
“O eleitor quer ouvir o outro lado (oposição)porque há um cansaço,
uma ruptura de confiança e a economia piorou”
ISTOÉ – E o mensalão mineiro, que atingiu quadros do PSDB?
FHC –
Teve pouca repercussão. E, por outro lado, o Eduardo Azeredo é um cara correto. Você acha que se fosse só o José Genoino ele iria para a cadeia?
ISTOÉ – O sr. vê uma diferença entre o José Genoino e os demais presos pelo mensalão?
FHC –
Eu falei mais pela percepção da população. Racionalmente, eu acho que o Genoino tinha que ser preso porque ele assinou aqueles papéis. Mas ele não tem a imagem de um cara maquiavélico e que vai se locupletar. O Eduardo Azeredo também é um cara assim.
ISTOÉ – O Joaquim Barbosa é visto hoje como alguém que mudou a cara da Justiça do País, mas, ao mesmo tempo, como uma pessoa autoritária. O sr. acha que ele tem futuro na política?
FHC –
Se ele fosse candidato, teria muitos votos. Porque tem esse lado da Justiça, que todo mundo quer, e porque ele é negro e teve coragem. São atributos valorizados. Mas ele teve o bom senso de não se candidatar. Iria esmaecer o que fez. Não acho que ele tenha aptidões políticas. Ele é justo. Mas política não é só isso. Impeachment, por exemplo, não é justiça. É julgamento político.
ISTOÉ – O STF é uma casa política?
FHC –
É e tem que ser. Por isso acho que deveria se restringir a discutir assuntos constitucionais. Mas o julgamento do mensalão não foi político. Ele fez um julgamento comum, em última instância, um julgamento de crime. O Joaquim, que é promotor, aplicou a lei. E o povo gostou, porque ele aplicou a lei sobre poderosos. E foi importante, de fato.
ISTOÉ – Qual é a diferença do PSDB que pode chegar ao poder em 2015 daquele de 1994, quando o sr. foi eleito?
FHC –
Em 1994, era um PSDB que começava a entender a mudança do mundo. Mas quem chegou ao poder não foi o PSDB, fui eu, por causa do sucesso do Plano Real. O povo viu que mudamos a vida dele. E ali eu ganharia sem apoio de ninguém. Não precisava de aliança. Fiz aliança com o PFL para conseguir governar. Era melhor fazer aliança antes do que depois. Mas eu ganharia sem o PFL. Como o Lula ganhou sozinho em 2002, não foi o PT. O Lula ganharia sozinho. Mas ele foi fazer aliança depois e deu no mensalão. Se tivesse feito antes, seria mais fácil. Ganhamos com o Plano Real e com o sentimento da população de que a vida melhorou. Hoje é diferente. Se o Aécio ganhar, não será ele que vai vencer só.
ISTOÉ – Por quê?
FHC –
O peso do PSDB vai ser maior desta vez. O Aécio teve que articular bem. Ele está crescendo por causa da capacidade de articulação que tem.
ISTOÉ – Um dos problemas das últimas eleições foi que o partido rachou. O PSDB está unido hoje?
FHC –
O PSDB uniu todo. O Aécio foi lá e fez. Foi, de fato, um dos problemas graves das últimas eleições. Agora, o Aécio vai enfrentar uma situação mais difícil que a minha, se ele ganhar a eleição. Os problemas se acumularam, não foram resolvidos e o PT será duro como oposição.
"Há dois anos eu não acreditava. Agora, eu acho
provável a vitória de Aécio Neves
"
ISTOÉ – É um exagero dizer que aqui caminhamos para uma situação como a da Venezuela. Mas já se percebe que a campanha será muito acirrada. Há risco de o País sair dividido das urnas?
FHC –
O Aécio tem uma grande capacidade pessoal de acabar com divisões. E a força de atração do poder é muito grande. O PT vai espernear, mas não tem capacidade de paralisar certos processos em marcha. Governar é sempre difícil. Você depende de sorte também. Como fazer o PIB crescer quando você tem crise no mundo? O governo Lula teve vacas gordas e não usou.
ISTOÉ – O que o sr. achou da denúncia sobre a construção, pelo governo de Minas Gerais, de um aeroporto dentro de uma área que pertenceu a um tio-avô do candidato do PSDB, Aécio Neves, e qual o impacto eleitoral disso?
FHC –
O Aécio explicou que a construção se fez em área já desapropriada e pertencente ao Estado de Minas e que seu tio-avô contesta o valor da desapropriação. Se é isso, qual a acusação? Se há denúncia, que haja apuração, mas não creio que isso arranhe a candidatura.
Fotos: Frederic Jean/Agência Istoé, ITAMAR AGUIAR/FUTURA PRESS, Fábio Guinalz/Fotoarena

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Atiradores expulsam investigadores do local da queda do avião da Malásia

Ocidente pediu uma investigação meticulosa sobre a queda do voo MH17.
Holanda assumiu formalmente a condução do inquérito sobre a queda.

Da Reuters
 
Atiradores expulsaram os investigadores do local da queda do avião da Malaysia Airlines e “lunáticos” ainda tornam a vida difícil para aqueles que querem descobrir o que derrubou o voo MH17, disseram autoridades nesta quinta-feira (24).
Enquanto os ministros das Relações Exteriores da Austrália e da Holanda se reuniam com autoridades ucranianas para coordenar a investigação, o chefe do Serviço de Situações de Emergência da Ucrânia e o líder de uma missão da polícia holandesa afirmaram que seu trabalho no local está sendo dificultado.
A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), entretanto, disse não ter havido incidentes e que receberam especialistas da Malásia e da Austrália, que perdeu 28 cidadãos no acidente.
O Ocidente pediu uma investigação meticulosa sobre a queda do voo MH17 no leste da Ucrânia para fazer justiça às 298 pessoas mortas, mas expressou o temor de que os rebeldes estejam impedindo que os investigadores façam seu trabalho.
“Eles levaram as barracas que estavam na nossa base”, declarou Serhiy Bochkovsky, que chefia o serviço de emergências, em uma coletiva de imprensa na cidade de Kharkiv, no leste ucraniano, de onde os restos mortais das vítimas estão sendo enviados para casa.
“Só nos permitiram ficar com nosso equipamento e maquináreis, e fomos expulsos sob a mira das armas”. Bochkovsky não informou quando isso aconteceu.
O chefe da missão da polícia holandesa na Ucrânia, Jane Tuinder, também disse estar difícil ter acesso ao local para buscar mais restos das vítimas, a maioria holandesa.
“Mas o processo não terminou, ainda há restos no seu país e é muito duro chegar lá, porque há alguns, e não é politicamente correto dizê-lo, mas ainda há alguns lunáticos lá”, declarou Tuinder.
A Holanda assumiu formalmente a condução do inquérito sobre a queda nesta quinta-feira, depois que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou por unanimidade uma resolução criticando a derrubada do avião e exigindo que os grupos armados permitam “acesso seguro, completo e irrestrito” ao cenário da tragédia.
Colocar os holandeses a cargo da investigação criminal foi uma maneira de contornar a oposição da Rússia à resolução da ONU caso Kiev liderasse os trabalhos, disse a ministra das Relações Exteriores da Austrália, Julie Bishop.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Como fica a geopolítica depois da tragédia com o voo MH17

Saiba quais os interesses em jogo e as implicações imediatas para os principais atores envolvidos no desastre: Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e Europa

Diego Braga Norte
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Comboio que transportava os corpos recuperados do vôo abatido da Malaysia Airlines chega à cidade de Kharkiv, na Ucrânia
Comboio que transportava os corpos recuperados do vôo abatido da Malaysia Airlines chega à cidade de Kharkiv, na Ucrânia - Sergey Bobok/AFP
A queda do avião da Malaysia Airlines com 298 pessoas a bordo depois de ser atingido por um míssil no leste da Ucrânia não é uma tragédia aérea comum – muitas guerras já foram iniciadas por muito menos. O ataque a uma aeronave civil que sobrevoava uma área de conflito tem implicações imediatas para os principais atores geopolíticos envolvidos: Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e Europa. Segundo especialistas consultados pelo site de VEJA, um ponto está claro: se, por um lado, o episódio representa a mais grave ameaça à paz mundial neste século, por outro, todos os envolvidos querem e vão se movimentar para evitar ao máximo uma guerra de proporções imprevisíveis.

"É altamente improvável que a Europa leve adiante uma ação militar caso as circunstâncias exijam isso. Além disso, os EUA estão indo na direção de apontar que o abate do avião foi um acidente, que os rebeldes apoiados pela Rússia erraram e não tinham a intenção de derrubar um avião civil, neutralizando as tensões", afirma Bert Patenaude, professor de Relações Internacionais da Universidade de Stanford.

Por enquanto, o que se sabe, segundo o governo dos Estados Unidos, é que o míssil que derrubou o voo MH17 partiu da zona controlada por separatistas pró-Rússia no leste ucraniano. Os separatistas negam e acusam o governo de Kiev de ser o responsável pelo ato abominável. Os EUA comunicaram que não vão poupar esforços para descobrir o autor do disparo. A Rússia nega a autoria e ainda distorce o discurso ao afirmar que o governo de Kiev criou um 'cenário' para a tragédia. Confira os interesses envolvidos e as consequências imediatas da derrubada do Boeing 777 no leste da Ucrânia.