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sexta-feira, 31 de maio de 2013

A fatura chegou

Dificuldade do governo em negociar com o Congresso fez Dilma Rousseff criar uma relação de dependência com um grupo seleto de políticos, que agora cobra a conta da vitória nas votações de interesse do Planalto

Izabelle Torres
A presidenta Dilma Rousseff nunca teve talento e disposição para discutir pedidos e picuinhas dos políticos. Avessa à troca de favores e defensora do jogo bruto quando o assunto é chantagem parlamentar, Dilma tem se tornado vítima da falta de habilidade da própria articulação política. As negociações de última hora em torno de medidas provisórias prestes a perder a validade e a dificuldade em fazer o Congresso votar projetos relevantes apenas com base no mérito estão tornando a presidenta refém de um seleto grupo de aliados capazes de socorrer o governo e mudar o desfecho das votações. Como se viu na Medida Provisória dos Portos, essa ajuda de última hora pode funcionar. A questão é que aliados desse tipo têm um custo alto. Em troca do apoio, cobram cargos, distribuição de poder, liberação de emendas – que somam R$ 7,1 bilhões – e até interferências em decisões do Executivo que ainda estão sendo discutidas nos gabinetes ministeriais.
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O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), é um dos que apresentam a fatura. Além de ter sido um fiel escudeiro nas recentes votações, hoje ele tem nas mãos pedidos de abertura de 15 CPIs contra o governo e a missão de domar uma parcela do PMDB disposta a se bandear para a oposição. Em troca da manutenção da fidelidade quase canina ao governo, Henrique Alves quer que Dilma Rousseff não leve adiante o plano de desativar o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), cabide de empregos para seus afilhados políticos. O deputado trabalha pela reestruturação do órgão e pelo aumento dos recursos destinados a ele e, claro, para manter–se à frente das indicações da diretoria. Alves também avisou ao vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), que quer ter a garantia de que, no Rio Grande do Norte, Dilma Rousseff subirá ao palanque onde ele estiver em 2014.

A campanha do próximo ano também é uma das prioridades do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que busca apoio para disputar o governo de seu Estado natal. Durante a votação da MP dos Portos no Senado, ele driblou o regimento, fez acordos e garantiu a vitória para o governo. Mas avisou que havia chegado a seu limite e, na semana passada, mostrou que falava sério. Recusou-se a debater outra medida provisória estratégica, que reduz em 26% a conta de luz, com o argumento de que a proposta não chegou aos senadores com prazo de sete dias para ser lida. A decisão levou o Planalto a anunciar um decreto para garantir que o desconto não se encontre sob ameaça.

Ciente do próprio poder, fruto de um pacto de dependência mútua entre o Planalto e o Congresso, Renan trabalha no presente para decidir o próprio futuro. Já de olho na realidade pós-eleitoral de Alagoas, empenhou-se numa causa que mistura o interesse geral e o particular. Tornou-se um dos líderes na luta pela correção do indexador das dívidas dos Estados brasileiros, em grande maioria asfixiados por regras financeiras que amarram investimentos e obras de infraestrutura. Renan batalha para trocar o IGP-DI pelo IPCA e fixar os juros em 4%, em vez de 8%, como acontece hoje, processo que fez a dívida de Alagoas crescer 120% em apenas dois anos.“É uma distorção que precisamos corrigir no diálogo com o governo”, diz ele. Caso venha a realizar a mudança, Alagoas passaria a ter uma folga de caixa estimada em R$ 300 milhões por ano. Se, por um motivo qualquer, Renan desistisse de concorrer ao governo do Estado, poderia colocar Renan Filho para encabeçar uma chapa – sempre com o crivo do Planalto.

As trombadas e os conflitos do governo Dilma também abriram espaço para líderes governistas ocasionais, cuja atuação nas negociações foi tão bem-sucedida quanto deve ser dispendiosa em sua contrapartida. Embora tenha sido destituído, de forma humilhante, por Dilma Rousseff, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) arregaçou as mangas, levantou a cabeça e, na prática, exerce as funções de líder governista de fato no Senado – função que o líder formal, Eduardo Braga (PMDB-AM), não demonstra o menor apetite para exercer, tamanhas são as demonstrações de falta de autonomia e desprestígio no Planalto. Graças a Jucá, a presidenta desistiu da ideia de atropelar o Congresso e regulamentar por decreto a PEC das Domésticas.
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Mas Jucá não quer apenas ter seu papel de legislador respeitado. Ele tem interesses bem mais ambiciosos. Sua filha é dona de empresa Boa Vista Mineração, que aguarda autorização do governo para explorar ouro em terras indígenas. Não por acaso, o senador tem pedido para participar diretamente das discussões sobre o marco regulatório da mineração, que será votado no próximo mês.

O apoio e a dedicação do líder petebista Gim Argello (DF) nas votações de interesse do Planalto também terão seu custo. Depois de fazer corpo a corpo em busca de acordos para votar projetos e medidas provisórias, Gim já avisou que quer um ministério para chamar de seu. Logo depois da votação da MP dos Portos, ele conversou com a ministra Ideli Salvatti e disse que o PTB espera a indicação do senador João Vicente Claudino (PI) para o Ministério da Ciência e Tecnologia. Avisou que pretende dizer isso pessoalmente à presidenta Dilma. “O PTB é um fiel aliado e espera por espaço”, disse ele.

A lista de parlamentares com poderes e cacife para apresentar demandas específicas é ainda mais extensa. Inclui políticos como o escanteado Danilo Forte (PMDB-CE), que vai relatar a Lei de Diretrizes Orçamentárias em plena discussão sobre orçamento impositivo, considerado uma ameaça ao governo. Forte quer retomar o poder de indicações na Funasa. As dificuldades de agradar e negociar com os próprios aliados vão aumentando a fatura que Dilma terá de pagar aos bombeiros das crises palacianas. Se continuar no descompasso atual, a conta ficará salgada demais.
Foto: CELSO JUNIOR/ESTADãO CONTEúDO/AE

A senhora dos espíritos

Como Zibia Gasparetto transformou sua mediunidade num império de comunicação, com 41 livros publicados, 16 milhões de exemplares vendidos e presença no rádio, na tevê e na internet

por João Loes

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A fila já dava voltas no auditório da livraria de um shopping da zona norte de São Paulo. Eram 20 horas de uma quinta-feira do mês de maio, dia de trânsito complicado na cidade, mas ninguém dava sinal de que arredaria os pés antes de conseguir um autógrafo e uma foto com a estrela da noite, a escritora, médium, líder espiritual e empresária Zibia Gasparetto, 86 anos. Convidada pela rede de lojas, ela havia falado durante 35 minutos para o público e agora atendia, um a um, os cerca de 150 fãs que aguardavam para conhecê-la e ganhar um exemplar assinado do livro “Só o Amor Consegue”, o 41º da carreira da autora, lançado em março e já com 80 mil cópias vendidas. “Qual o seu nome, minha filha?”, perguntava Zibia às moças, grande maioria, que chegavam com a obra na mão, para depois confirmar a grafia do sobrenome e colocar uma singela dedicatória: “Com carinhoso abraço, alegria e luz, Zibia Gasparetto”. Quando o salão esvaziou, perto das 22 horas, seis funcionárias da livraria apareceram, esbaforidas, com suas cópias do romance para garantir o autógrafo. Mesmo cansada e com dor no pulso, fruto de uma tendinite crônica, atendeu sorridente: “Claro, meu bem, pode vir”, disse.

Soberana do romance mediúnico no Brasil, Zibia Gasparetto escreve livros a partir das mensagens que diz ouvir dos espíritos que a acompanham desde os anos 1950. Carinhosa com os fãs e dura nos negócios, a octogenária, que já publica há 55 anos e contabiliza 16 milhões de livros vendidos, construiu, ao lado dos filhos e netos, um verdadeiro império espírita, com ramificações no rádio, na internet, na televisão e no mercado de palestras (leia quadro na pág. 76). No ramo editorial, onde tudo começou, é ela própria quem comanda a editora e gráfica Vida e Consciência, empresa em franco processo de crescimento. Segundo sua filha e sócia, Silvana Gasparetto, 45 anos, a impressão mensal de livros da empresa, que fechou 2012 com 300 mil unidades, já chegou a 500 mil no primeiro semestre de 2013 e deve bater as 650 mil unidades até o começo de 2014. “A terceira máquina que compramos começa a rodar em breve”, diz Silvana, da espaçosa sala que ocupa no quarto e último andar da sede do grupo, no bairro do Ipiranga, zona sul de São Paulo.
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Poucas coisas dão a dimensão do poder dos Gasparetto quanto uma ida à sede da gráfica e editora Vida e Consciência. Quem vê o prédio por fora pode fazer pouco do espaço, uma construção antiga, com aspecto de fábrica. Mas uma visita ao que há do outro lado do muro, principalmente ao quarto andar, onde fica a diretoria, mostra bem o que 16 milhões de livros vendidos podem comprar. O espaço impressiona pela beleza e conforto. Com pé-direito de mais de quatro metros, piso de madeira de demolição, detalhes em pastilhas de vidro e mobiliário refinado, ele lembra uma luxuosa cobertura de prédio. Um grande jardim com fonte adornada por belos conjuntos de ladrilhos hidráulicos circunda metade do andar. Zibia e Silvana têm acesso exclusivo a ele das enormes salas que ocupam, uma vizinha à outra. E, se o tempo estiver frio para um passeio pelo espaço verde, elas podem optar por ficar em uma terceira sala de pelo menos 80 metros quadrados no mesmo quarto andar. Iluminada por janelões de vidro com impecáveis caixilhos brancos, ela tem sofás e poltronas, além de uma pequena cozinha e uma imensa mesa onde a matriarca almoça todo dia, às 12h30. “Gosto daqui, mas, para escrever, preciso estar na minha sala”, diz Zibia.
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O ritual para receber os livros de seu guia espiritual, Lucius, que nas últimas cinco décadas lhe transmitiu 26 romances, sendo “Só o Amor Consegue” o 27º, é o mesmo da década de 1950. Três vezes por semana, por volta das 15h30, a médium mais famosa do Brasil se senta agora diante do computador, diminui a luz, liga uma música suave e lê a última frase do romance em que deseja trabalhar – pelo menos três são escritos simultaneamente. Como mágica, a voz de timbre familiar surge do silêncio e a narração recomeça. “Tenho consciência absoluta do que está acontecendo, não é um transe”, afirma a pioneira no uso do computador para psicografar no Brasil. “Apenas sinto uma grande alegria, e meus pensamentos e raciocínios passam a ser ágeis e leves.”
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Nem sempre, porém, o contato com os espíritos foi agradável para a matriarca dos Gasparetto. A primeira experiência mediúnica, por exemplo, foi traumática. Católica, recém-casada e com um filho de colo, Zibia, então com 22 anos, despertou uma noite sentindo um estranho formigamento pelo corpo. Ainda que incomodada, continuou na cama, na esperança de que aquilo passasse. O desconforto, porém, foi crescendo até que, subitamente, ela começou a falar em alemão, língua que desconhecia. Assustado, seu marido, Aldo, correu até a casa de uma vizinha em busca de ajuda. A senhora foi até a casa, fez uma prece e garantiu: aquilo era “coisa de espírito”. “No dia seguinte meu marido foi até a Federação Espírita Brasileira (FEB) para comprar alguns livros sobre o assunto e, em pouco tempo, estávamos fazendo o evangelho do lar em casa”, diz a autora.
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O incômodo sumiu e um ano se passou até que, um dia, durante o Evangelho, Zibia começou a sentir dor no braço. A mão, então, passou a se mexer sozinha e o marido, mais adiantado nas leituras espíritas, pegou papel e lápis e deu à mulher, que começou a escrever. “Eram coisas desconexas no começo, mas depois passaram a fazer sentido”, afirma a médium. Com visitas ao centro espírita “Seara do Mestre”, no bairro do Ipiranga, a mediunidade foi afinando até que ela passou a ouvir uma voz masculina que parecia ditar uma narrativa. Curiosa para ver como acabava a história, sentava para colocar o que ouvia no papel sempre que podia. Já com dois filhos, porém, ela não conseguia se dedicar como gostaria. “O primeiro livro, ‘O Amor Venceu’, levou cinco anos para ficar pronto”, diz. Talvez como prêmio pela determinação e compromisso, Lúcius, que havia ditado o livro, mas ainda não havia se apresentado, finalmente se identificou, assinando a última página. “Acho que ele se sentiu satisfeito com a parceria”, afirma a autora.
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Até hoje, “O Amor Venceu” (1958) que, como não poderia deixar de ser, conta uma história de amor, só que no Egito antigo, vendeu mais de meio milhão de cópias. Foi, ao mesmo tempo, o livro que abriu o universo espírita para milhões de brasileiros, por tratar do tema de forma leve e romanceada, e colocou Zibia no mapa dos mundos mediúnico e editorial. Recheado de referências a Allan Kardec, que sistematizou a doutrina, e ao espiritismo formal, o título estabeleceu uma espécie de formato para boa parte dos romances da médium até a segunda metade dos anos 1990 – ricamente descritivos, longos, com enredos que se passam em tempos e países distantes e versando sobre temas universais, como amor e ódio, felicidade e sofrimento, justiça e injustiça e fé e incredulidade. Entre 1958 e 1993, Zibia publicou dez romances nesse estilo, entre eles um de seus maiores best-sellers, “Laços Eternos”, de 1976, que já vendeu 825 mil cópias e cuja adaptação para o teatro, em cartaz desde 1991, atraiu mais de 200 mil espectadores.
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Ainda que colhendo resultados expressivos até meados dos anos 1990 dentro do formato que criou na década de 1950, Zibia, em seus contatos com livreiros e já com experiência como dona de editora – em 1982, ela fundou a Editora Caminheiros –, começou a perceber que o perfil do leitor de obras espíritas no Brasil estava mudando. Certo dia, então, o espírito Lucius, segundo a autora, igualmente antenado, deu os primeiros sinais de que mudaria o estilo de suas narrativas. Mas foi só no romance de número 11, intitulado “Pelas Portas do Coração”, de 1995, que a mudança se concretizou. De leitura mais ágil, apoiado em diálogos e quase sem referências ao espiritismo ou a Allan Kardec e com trama contemporânea, o título marcou o início de uma segunda, e mais voraz, etapa da produção literária da autora (leia quadro abaixo). “Mudei por orientação dos espíritos”, afirma. “Lucius me disse que precisava sair do rótulo espírita.” Outra influência, essa mais terrena, também contribuiu para viabilizar a guinada da médium para o mercado. Na época, Luiz Gasparetto, seu filho, então com 46 anos, estava promovendo uma verdadeira revolução no espiritismo nacional. Seus outros dois filhos, Pedro e Irineu, também são médiuns. Pedro administra o curtume da família em Mogi das Cruzes e Irinei é músico e apresetador de rádio. Luiz, prático e despojado como poucas lideranças da sisuda religião, já era referência mundial no ramo da pintura mediúnica, tinha em seu currículo passagens por centros de referência em estudo de terapias alternativas e vinha dando disputadas palestras motivacionais com discurso que misturava as bases do espiritismo com técnicas de aprimoramento pessoal propaladas pelo movimento “Nova Era”.
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Com uma visão completamente diferente do sucesso e, principalmente, do dinheiro, Luiz eliminou a noção de que o trabalho mediúnico devia ser gratuito, como pregava a Federação Espírita. E Zibia acolheu as orientações do filho. Fechou a “Associação Cristã de Cultura Espírita Os Caminheiros”, um centro espírita clássico fundado em 1969 pela família Gasparetto e mantido com dinheiro das vendas de seus livros, e passou a se dedicar exclusivamente à nascente Vida e Consciência, editora fundada por ela com os filhos Luiz e Silvana. Nos dez anos seguintes, entre 1995 e 2005, produziu o que havia levado 37 anos para fazer quando ainda dividia seu tempo com as obrigações e compromissos espíritas. “É curioso observar as mudanças na produção literária de Zibia depois das novidades apresentadas pelo Luiz”, afirma Sandra Jacqueline Stoll, doutora em antropologia social pela Universidade de São Paulo (USP) e autora do livro “Espiritismo à Brasileira” (Edusp, 2003). Pendendo pesadamente para a auto-ajuda, mas ainda com a rubrica de Lucius, seus novos livros venderam como água. O maior best-seller da carreira, “Ninguém é de Ninguém”, por exemplo, foi lançado em 2000 e vendeu 860 mil cópias. “Ela passou a seguir um ritmo de lançamentos parecido com o dos grandes autores”, diz Sandra. Com pelo menos um livro novo por ano, sempre em outubro, para pegar carona nas compras de Natal, ela chegou a emplacar dois títulos simultaneamente na lista de mais vendidos do País, feito que só autores do quilate de Paulo Coelho haviam conseguido.

“Hoje não tenho religião, mas não me incomodo de ser chamada de espiritualista”, diz Zibia (leia quadro acima). A tolerância com a nova categorização faz sentido. Para Reginaldo Prandi, professor do departamento de sociologia da USP e autor do livro “Os Mortos e os Vivos” (Ed. Três Estrelas, 2012), é justamente no chamado espiritualismo que boa parte dos egressos do espiritismo, sedentos pela livre associação da doutrina ortodoxa da religião com novidades como a cromoterapia, a energização de cristais e a autoajuda, vai se encaixar. “É um grupo que reúne quem não tem interesse em se conformar com conjuntos de regras”, afirma.
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Mas a guinada que levou os Gasparetto a se distanciarem dos preceitos balizadores do espiritismo não veio sem críticas. Para muitos, a máxima do “dai de graça o que recebestes de graça” foi relegada em nome da vaidade e do dinheiro. Muitos exigiam, inclusive, que Zibia abrisse mão dos direitos autorais dos livros que recebia dos espíritos, como fez Chico Xavier, o maior psicógrafo brasileiro de todos os tempos. “O Chico abriu mão dos direitos dos livros dele, mas uma vez chorou para mim, arrependido do que tinha feito”, revela Zibia.

Não dá para negar que, à sua maneira, a autora mediúnica trabalha pela expansão do que ela acredita ser o caminho certo para o espiritualismo no Brasil. Além do compromisso com a produção de livros, ela hoje tem um programa semanal de rádio e, no começo do ano, lançou uma rede de televisão na internet. Batizada de Alma e Consciência TV (ACTV), ela é administrada por seu neto René Gasparetto, tem quatro horas diárias de programação e, em breve, deve começar a produzir telenovelas baseadas nos livros da matriarca. “É um projeto que começou há um ano e meio e ainda dá prejuízo, mas é uma aposta nossa”, diz Silvana. Mais uma frente que se abre para a família que, liderada por Zibia Gasparetto, construiu um império espírita que não para de crescer.
Fotos: João Castellano/ag. istoé
Fotos: João Castellano/ag. istoé; ZECA WITTNER/ESTADãO CONTEúDO/AE
Fontes: Sandra Jacqueline Stoll, Reginaldo Prandi, Revista Planeta (mar. 1991, ago. 1991, set. 1995), Revista de História da Biblioteca Nacional, Revista IstoÉ
Fotos: PAULO PINTO/ESTADãO CONTEúDO/AE
Foto: ESTADãO CONTEúDO/AE

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Governo planeja a concessão de 52 áreas de portos públicos

Edital de concessão de terminais em Santos e no Pará deve sair em setembro

Navios aguardam carregamento de soja no porto de Santos
Na cidade de Santos, dos 36 terminais incluídos no primeiro lote, 9 deles estão com cotas vencidas. As outras 17 vencem até 2017 (Manoel Marques)
O governo Dilma planeja o lançamento de um lote primário de licitações, oferecendo 52 terminais em portos públicos para a exploração pelo setor privado. Na lista, 26 deles estão no porto de Santos e os outros 26, em portos públicos do Pará. O projeto prevê que os primeiros editais sejam divulgados ainda em setembro e que, no mês seguinte, haja licitações.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o ministro Leônidas Cristino, da Secretaria Especial de Portos, disse que pretende licitar o maior número de terminais possíveis em portos públicos do primeiro lote ainda em 2013. A quantidade de leilões que vão ocorrer ao longo do ano vai depender se o governo divulgará agora somente os editais das concessões já vencidas nestes portos ou se leiloará também aquelas que estão para vencer até 2017. Nesse caso, os vencedores, caso não sejam os atuais operadores, só assumiriam no vencimento dos atuais contratos.
Na cidade de Santos, dos 26 terminais incluídos no primeiro lote, 9 deles estão com cotas vencidas. As outras 17 vencem até 2017. No Pará, 14 já estão vencidas. O governo já indica que, nessas ocasiões, não pode renovar as licitações, como defendiam os empresários. A Secretaria Especial informou que a algumas concessões podem ser renovadas, “desde que se enquadrem nos planos de modernização”.
No geral, o governo listou 161 terminais em portos públicos, que devem gerar um investimento de 54,6 bilhões de reais nos próximos anos. As licitações serão divididas em quatro lotes. Estima-se que os estudos técnicos, financeiros e de impacto ambiental em relação ao primeiro lote fiquem prontos em junho. Com eles, será possível definir, por exemplo, se o governo vai reunir em um único terminal várias áreas para futura licitação que hoje são operadas por grupos diferentes.
Leônidas destaca que a reorganização vai dar maior ganho de escala aos portos brasileiros. Isso porque hoje existem inúmeros pequenos terminais com transportes de cargas diferentes, vizinhos um do outro, fato que dificulta a operação portuária.

Fortaleza é a 13ª mais cara para viagens de lazer


Hospedagem na Capital cearense chega a superar os valores médios cobrados em Buenos Aires e Santiago

O turista que vem a fortaleza vai encontrar a 13ª hospedagem mais cara para viagens de lazer entre os principais destinos turísticos do mundo, segundo a Pesquisa Internacional de Preços da Hotelaria (PPH), realizada pelo Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur). A tarifa média praticada na Capital cearense (US$ 126,81) supera inclusive cidades com forte apelo ao viajante brasileiro, como Buenos Aires (US$ 115,77) e Santiago (US$ 100,49), capitais, respectivamente, da Argentina e do Chile.

Entre os principais destinos nacionais, Fortaleza aparece na quinta colocação entre a hospedagens a lazer mais caras, atrás do Rio de Janeiro, Florianópolis, Recife e São Paulo, ficando na segunda posição no Nordeste FOTO: BRUNO GOMES

Já entre os mais importantes destinos nacionais, Fortaleza aparece na quinta colocação, atrás do Rio de Janeiro (US$ 246,71), Florianópolis (US$ 155,55), Recife (US$ 143,45) e São Paulo (US$ 140,39).

A pesquisa levou em conta estadias de dois adultos por sete dias, marcadas com 60 dias de antecedência. Foi considerado o preço mais baixo em cada um dos 128 hotéis consultados em cada cidade (de uma a cinco estrelas)- excluídos motéis e albergues. A coleta dos preços ocorreu entre dezembro de 2012 e o mês de março deste ano.

Discrepância
Na avaliação do secretário de Turismo do Estado do Ceará, Bismarck Maia, a tarifa média encontrada por meio da pesquisa da Embratur "reflete a discrepância que se observou nos valores cobrados na Capital cearense durante a última alta estação, período em que foi realizado o estudo". "Fortaleza estava tão demandada no período em que foi realizada a pesquisa, que tivemos notícias de alguns exageros praticados pela rede hoteleira na Capital do Ceará. E não foi só em hotéis, por meio de companhias aéreas também", afirma. Conforme disse, os números, entretanto, servem de alerta. "Não dá para se conviver com valores tão altos. Mas, no geral, posso afirmar que as tarifas estão mais equilibradas agora e que não há motivos para elevações, pois nossa cidade, hoje, vive alta estação o ano inteiro", observou Maia.

Ainda de acordo com ele, o fato de o valor médio aqui encontrado ser superior ao de Buenos Aires e Santiago, merece algumas ressalvas. "No caso de Buenos Aires pode até fazer algum sentido, pois há desvalorização cambial em relação a outras moedas e eles estão sofrendo mais com a crise. Então, pode ser que as tarifas nos hotéis, para atrair turistas, tenham baixado. Porém, na comparação com Santiago não vejo sentido. Aquela é uma cidade bem mais cara", argumenta.

Metodologia é criticada
Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE), Darlan Teixeira Leite, critica a metodologia adotada na pesquisa que resultou na posição de Fortaleza entre as tarifas de viagem de lazer mais caras. "A média aqui encontrada não expressa a realidade. Considerar ao mesmo tempo hotéis de diferentes padrões e categorias para efeito de comparação não reflete a média dos preços na Capital", discorda.

Ainda de acordo com ele, "se o consumidor for cotar com as operadoras vai ver que essa média não é verdadeira. Além do que nossa cidade tem equipamentos hoteleiros superiores a o de outras capitais brasileiras pesquisadas e que aparecem com uma tarifa média mais em conta", emenda.

Competitividade
O preço alto da hotelaria é apontado pelo presidente da Embratur, Flávio Dino, como o principal entrave para o aumento da entrada de turistas estrangeiros no País. "A agenda central do turismo brasileiro é a competitividade. A hotelaria brasileira foi bastante internacionalizada nos últimos anos e esse movimento aumentou os preços artificialmente. Não há justificativas para estes valores. O pior que pode acontecer é o Brasil consolidar essa fama de país caro", disse.

3ª em negócios
Por outro lado, a pesquisa coloca Fortaleza em melhor posição no ranking de tarifas de hospedagem a negócios. A Capital aparece como a terceira mais barata entre os principais destinos com este perfil. Com valor médio de US$ 83,40, fica atrás apenas de Salvador (US$83,17) e de Belém (US$ 76,39).

ANCHIETA DANTAS JR.REPÓRTER

terça-feira, 28 de maio de 2013

FAB tira da pista do Haiti avião que teve pane ao decolar com soldados

Acidente com aeronave que trazia soldados da ONU restringiu voos.
Técnicos avaliam condições do avião; tropa chegou nesta terça ao Brasil.

Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo
haiti avião FAB (Foto: Alban Mendès de Leon/Minustah/UN)Militares retiram da pista de Porto Príncipe avião da FAB que sofreu pane em turbina (Foto: Alban Mendès de Leon/Minustah/UN)
A Aeronáutica conseguiu retirar da pista do aeroporto internacional de Porto Príncipe, a capital do Haiti, na manhã desta terça-feira (28), o avião que sofreu uma pane ao decolar na tarde de domingo (26) com 143 militares a bordo. A tropa retornava ao Brasil após seis meses de trabalho na missão de paz da ONU no Haiti.
Umo mutirão engenheiros brasileiros, chilenos e equatorianos trabalhou durante toda a madrugada com guindastres para a retirada do aeronave da área. Técnicos avaliam agora se a aeronave poderá continuar operando.
Desde o acidente, quando uma pane em uma das turbinas provocou fogo e o piloto abortou a decolagem, a aeronave, um KC-137 (Boeing 707), ficou caída na lateral esquerda da pista, que passou a operar com restrições. Ninguém ficou ferido.
O aeródromo do Aeroporto Internacional Toussaint Louverture, em Porto Príncipe, tem cerca apenas uma pista, de asfalto, da qual operam companhias de rotas diárias com destino aos Estados Unidos e Caribe.
Um avião de menor porte, C-130 Hercules, chegou a capital haitiana por volta das 22h30 (horário de Brasília) de segunda para trazer ao Brasil os militares do Exército que deveriam retornar ao país no domingo, segundo o centro de comunicação social da FAB.
Avião da FAB nesta segunda-feira (27) no aeroporto de Porto Príncipe, no Haiti (Foto: Thony Belizaire/AFP)Avião da FAB ficou de barriga no Haiti
(Foto: Thony Belizaire/AFP)
Como C-130 é de menor porte, será necessário mais voos para trazer a tropa de volta. O avião decolou, com destino a Manaus (AM), ainda na noite de segunda cerca de 60 soldados a bordo. Em Manaus, dois aviões Amazonas C-105 dividiram a tropa: um seguiu para Fortaleza e outro para Brasília e Rio de Janeiro.

O C-130 retornou já a Porto Príncipe, de onde decola na noite desta terça com o restante dos soldados.


O acidente
Técnicos da FAB chegaram ao Haiti no C-130 para acompanhar os trabalhos de remoção do KC-137 e a investigação do acidente. Segundo a FAB, um problema técnico durante a corrida de decolagem obrigou o piloto a abortar. A aeronave derrapou, o trem de pouso dianteiro quebrou e o avião ficou de barriga na grama, na lateral da pista.
A aeronave decolava com 143 pessoas (131 passageiros e 12 tripulantes), todos militares do 17º contingente do Exército na missão de paz da ONU no Haiti (Minustah), que retornavam ao Brasil após seis meses de trabalho. Os soldados integram o 2º Batalhão do Exército na operação de paz, que encerrou as operações em abril devido à redução de contingente das Nações Unidas.

Segundo o coronel Paulo Queirós, da divisão militar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que apura o caso, o problema em uma das turbinas provocou a suspensão do voo. A turbina não chegou a explodir, informou o oficial.
O KC-137 ficou conhecido como Sucatão após servir a presidência da República e ser aposentado.
haiti avião FAB (Foto: Alban Mendès de Leon/UN/Minustah)Engenheiros trabalharam durante a madrugada para retirar avião de parte da pista (Foto: Alban Mendès de Leon/UN/Minustah)

General brasileiro coordenará missão da ONU com liberdade inédita

Santos Cruz é o novo comandante de 23.000 homens em operação no Congo

Gabriela Loureiro
O tenente-general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz
O tenente-general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz  (AFP)
A Missão de Estabilização da ONU na República Democrática do Congo (Monusco), um país que ainda sofre as consequências de uma sangrenta guerra civil, passará a ser comandada por um brasileiro, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz. O país enfrenta um conflito desde 1994, com grupos rebeldes invadindo territórios e atacando civis. Neste cenário, a operação terá uma autorização inédita para prender rebeldes e recuperar as áreas dominadas por eles. “É uma missão muito complexa, difícil e tem desafios que vão desde a dimensão do país até um histórico de violência que impressiona bastante”, disse o general Santos Cruz ao site de VEJA.
O general brasileiro chefiará a maior missão da ONU atualmente, com 23.000 soldados, em um país de dimensões continentais. A República Democrática do Congo é o segundo maior país da África em tamanho, com uma área de 2,3 milhões de quilômetros quadrados - o Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Segundo um ranking divulgado pelas Nações Unidas em 2011, o país africano tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo.

Mapa República Democrática do Congo
“A lista de desafios é muito grande, mas o primeiro é a dimensão do país - o Congo é muito grande, é impossível você se fazer presente em todos os pontos. Outro [desafio] são as origens do conflito, que já passou por vários momentos de extrema violência. Há um grande número de deslocados e refugiados, além da violência contra as mulheres, as crianças que são recrutadas como soldadas desde pequenas, enfim, o desrespeito aos direitos humanos”, explica Santos Cruz, que foi comandante da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti entre janeiro de 2007 e abril de 2009.
A situação na RDC piorou consideravelmente depois de abril de 2012, quando soldados do Exército congolês desertaram e formaram o grupo armado M23, sob a justificativa de que o governo não havia respeitado plenamente o acordo de paz de março de 2009 - segundo o qual o movimento rebelde se tornaria um partido político - e em resposta a um chamado de rebelião do general Bosco Ntaganda, que foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade e crimes de guerra. A capital da região de Kivu do Norte, Goma, ficou sob poder dos rebeldes durante 11 dias, período marcado por uma série de abusos de direitos humanos.
A Monusco, então, adotou uma série de medidas para lidar com as lacunas de segurança e aumentou sua presença em áreas abandonadas pelo Exército. No entanto, a falta de recursos impediu as forças das Nações Unidas de proteger adequadamente os civis, segundo a Anistia Internacional (o relatório de 2012 sobre direitos humanos da ONG traz uma série de preocupações relacionadas ao país; confira lista abaixo). Como um incentivo à paz na RDC, o Banco Mundial anunciou na semana passada que repassará 1 bilhão de dólares para o combate aos rebeldes. A missão da ONU, que agora será chefiada por Santos Cruz, também ganhou 3.000 capacetes azuis a mais.
Uso da força - Diante da gravidade do conflito, o Conselho de Segurança da ONU lançou um mandato com uma proposta que dá mais liberdade para a força-tarefa agir. “Este foi o primeiro mandato da ONU com uma proposta um pouco mais proativa, exatamente para a neutralização e desarmamento de grupos armados para evitar que a população continue sofrendo os efeitos do conflito”, afirma Santos Cruz. O general especifica as principais tarefas: proteger os civis, assegurar o respeito aos direitos humanos, apoiar  ações para reforçar a parte instituciona e apoiar a ação humanitária no país.
Sobre a liberdade maior do uso da força contra os rebeldes, Santos Cruz afirma que preza pelas ações de antecipação, como patrulhamentos em áreas instáveis, bloqueio de estradas e corte de suprimentos a rebeldes. “Você ter uma autorização prévia para tomar todas as ações necessárias não significa que você pode tomar qualquer ação, tem um limite de bom senso, de legislação, depende de uma avaliação muito rigorosa”.
Santos Cruz deve embarcar nos próximos dias para os Estados Unidos, onde receberá mais instruções sobre a missão, organizada em 1999. O mandato da Monusco não tem duração específica, mas é renovado anualmente, assim como o comando do brasileiro.

Lula chama boatos sobre Bolsa Família de 'brincadeira estúpida'

EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou nesta segunda-feira os boatos que levaram milhares de beneficiários do Bolsa Família, programa do governo federal de distribuição de renda, a caixas eletrônicos.
Os boatos, entre eles sobre o fim do programa, levou milhares de pessoas a caixas eletrônicos no fim de semana dos dias 18 e 19 de maio, causando confusões e filas em 13 Estados.
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Netinho, Lula, MC Soffia e Haddad em evento na prefeitura
Netinho, Lula, MC Soffia e Haddad em evento na prefeitura
Lula afirmou ser "uma ofensa" o que chamou de "brincadeira estúpida" e disse esperar que a investigação aberta pela Polícia Federal descubra a origem dos boatos.
"Só espero que se descubra quem fez isso, porque brincar com as pessoas mais pobres deste país é uma ofensa. O Bolsa Família não só continua como vai ser fortalecido, porque essa é a visão da nossa presidente, é um compromisso dela. Não sei quem teria condições de fazer uma brincadeira estúpida dessas", disse após participar de evento sobre o Dia da África promovido pela Prefeitura de São Paulo.
O ex-presidente, que fez do programa uma de suas principais bandeiras de governo, ressaltou também a melhora na condição de vida da população beneficiada.
"O Bolsa Família e outros programas são os responsáveis por parte do crescimento econômico do país nos últimos dez anos. Quando você afirma que 36 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza, foram gerados 20 milhões de empregos e 40 milhões ascenderam à classe média, esse número por si só mostra, não apenas o Bolsa Família, mas mostra a força do Bolsa Família", afirmou.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Transnordestina vai atrasar, com sorte, pelo menos 5 anos. E custar o dobro

Orçamento começou com 4,5 bilhões de reais, sofreu ajustes e acaba de ser revisto para 7,5 bilhões de reais. Pessoas próximas ao projeto dizem que esse valor já estaria em mais de 8 bilhões de reais

Obras da ferrovia Transnordestina, em 2009: desde então, pouco mudou e os trabalhos foram transferidos à CSN
Obras da ferrovia Transnordestina, em 2009: desde então, pouco mudou e os trabalhos foram transferidos à CSN (Oscar Cabral)
Com dois anos e meio de atraso, as obras da Ferrovia Transnordestina, uma das grandes promessas do governo Lula, ainda não estão nem na metade, mas o orçamento não para de crescer. Começou com 4,5 bilhões de reais, em 2007; foi reajustado para 5,4 bilhões de reais, em 2010; e acaba de ser revisto para 7,5 bilhões de reais. O detalhe é que o aumento do custo será ainda maior: por contrato, o valor é corrigido pela inflação e, segundo pessoas envolvidas no projeto, já estaria em mais de 8 bilhões de reais.
Embora seja uma obra privada, a Transnordestina nasceu como um projeto para ser executado pelo governo federal. Sem verbas e enrolada na burocracia, a obra nunca saiu do papel e foi repassada à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch.
A estrada de ferro começa no sertão do Piauí e seus 1.728 km de trilhos passarão por cerca de 80 cidades em três estados, até chegar aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE). Foi desenhada para escoar a produção de novas fronteiras agrícolas da região e incentivar investimentos no semiárido, como exploração de ferro e gesso.
Ao transferir o projeto para a CSN, a administração federal prometeu financiamentos de bancos e órgãos públicos, como o (BNDES) e o Banco do Nordeste.
O acordo fechado com a CSN vai além do preço da obra e inclui ainda a prorrogação do contrato de concessão da Transnordestina por mais três décadas, novo prazo para entrega das obras, renegociação de dívidas e a criação de uma nova estrutura empresarial. O Ministério dos Transportes confirmou o acordo, por meio de nota. A CSN não quis se manifestar.
No início, as obras atrasaram por dificuldades nas desapropriações - que eram responsabilidade dos estados - e porque as liberações de verbas do governo foram feitas de forma inconstante, ditando o ritmo da construção. O custo do empreendimento estourou porque o orçamento foi feito com base em avaliações irrealistas desde o começo. Os primeiros estudos já apontavam que o valor mais razoável da obra girava em torno de 8 bilhões de reais. Só que o governo pediu mudanças no projeto e reduziu o valor para 4,5 bilhões de reais. É uma repetição do que tem ocorrido com a usina hidrelétrica de Belo Monte, cujo investimento começou com 16 bilhões de reais e já está em 30 bilhões de reais.
O acerto entre o governo e a CSN prevê ainda um novo cronograma para entrega da obra: dezembro de 2015, segundo o Ministério dos Transportes, que liderou a negociação. Outra reivindicação da CSN foi a extensão do tempo de concessão da Transnordestina por mais 30 anos, a partir de 2027, quando vence o prazo original. O contrato está valendo desde 1997 e, por causa dos atrasos, a empresa já perdeu 16 anos de concessão sem explorar a nova ferrovia.
Para destravar de uma vez o acordo, a ANTT assinou com a CSN um aditivo ao contrato de que permitiu a renegociação de 6 milhões de reais em multas pelo descumprimento de obrigações contratuais. Os débitos foram parcelados e os compromissos pendentes ganharam novos prazos. Outra mudança para melhorar a operação foi a cisão das concessões, com a criação de duas empresas. Uma ficará com a malha existente e a outra com os 1.728 km da Nova Transnordestina. As dívidas serão separadas e os acionistas, como Valec e BNDES, terão as participações elevadas.
Com as mudanças, a ferrovia ganha uma nova chance para se tornar realidade. Ainda assim, se tudo der certo, ela será entregue com cinco anos de atraso e pelo dobro do preço.
(com Estadão Conteúdo)

domingo, 26 de maio de 2013

Em Manaus, zoológico urbano reúne quase 200 animais da Amazônia

Local conta com 56 espécies diferentes de mamíferos, répteis e aves.
Recintos reproduzem o habitat natural dos animais neles alocados.

Tiago Melo Do G1 AM
Cunhã é a onça mascote mais nova do zoológico (Foto: Tiago Melo/G1 AM)Cunhã é a onça mascote mais nova do zoológico (Foto: Tiago Melo/G1 AM)
Criado no ano 1967 a partir da necessidade de apresentar aos alunos do Curso de Operações na Selva, elementos da fauna e flora amazônicas importantes na formação de guerreiro de selva, o zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs) conta atualmente com quase 200 animais, de 56 espécies diferentes, divididos entre mamíferos, répteis e aves, como as onças-pintadas, preta e parda, os macacos-pregos e aranhas, as araras Canindé e Canga, o gavião real, o jacaré Açu, entre outros.
Considerado como um ponto turístico de Manaus, localizado na Avenida São Jorge, no bairro de mesmo nome, Zona Oeste da cidade, o local atrai turistas do Brasil e do mundo. “Nossa procura maior sempre foi por parte de estudantes dos ensinos fundamental e médio da rede pública de Manaus, que nos visitam em passeios escolares”, explicou o médico da Divisão Veterinária, capitão Carlos Palhari.
Apesar da cara 'fofinha', quati é agressivo e territorialista (Foto: Tiago Melo/G1 AM)Apesar da cara 'calma', quati é agressivo e territorialista, segundo veterinário (Foto: Tiago Melo/G1 AM)
O Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) conta atualmente com quase 200 animais (Foto: Tiago Melo/G1 AM)O Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) conta atualmente com quase 200 animais (Foto: Marcos Melo)
Com as portas abertas para o público somente em 1969, o Zoológico do Cigs, a princípio, recebia doações dos moradores do entorno do Centro. “No início os instrutores e monitores também coletavam os animais na selva e os traziam para um depósito a céu aberto, que era localizado aqui onde hoje se encontra o zoológico. Contudo, hoje em dia, os animais aqui encontrados ou nasceram aqui ou foram repassados pelo IBAMA, não os capturamos mais na selva”, explicou o capitão.
Para Carlos Palhari e para os demais ‘guerreiros de selva’, lugar de animal silvestre é na selva, para isso o zoológico do Cigs ambientou os seus recintos objetivando a reprodução do habitat natural desses animais, o que faz com que o visitante passe mais tempo observando cada área à procura dos animais alojados.
“Uma das mais importantes e gratificantes missões do Zôo do CIGS é zelar pela preservação e manutenção da biologia das espécies", disse capitão Palhari (Foto: Tiago Melo/G1 AM)“Uma das mais importantes e gratificantes missões do Zoológico do Cigs é zelar pela preservação e manutenção da biologia das espécies", disse capitão Palhari (Foto: Marcos Melo)
De acordo com o veterinário, com a expansão lateral da cidade de Manaus, aumentaram também as ocorrências de casos de animais acidentados. “O Zoológico do Cigs tem recebido esses animais em caráter excepcional a fim de tratá-los e encaminhá-los aos órgãos responsáveis por tal procedimento, que após sua completa recuperação, entram em um processo de reintrodução em seu habitat natural”, disse ele.
Unir, somar, cuidar e preservar 200 animais em um zoológico não é tarefa fácil, para tanto são designados quatro veterinários, um biólogo e quinze homens responsáveis somente pela limpeza, alimentação e tratamento dos espécimes. “Uma das mais importantes e gratificantes missões do Zoológico do Cigs é zelar pela preservação e manutenção da biologia das espécies, tanto é que o visitante que chegar aqui vai poder encontrar animais da Amazônia Brasileira que vivem em habitats com características muito próximas dos naturais”, afirmou o capitão.

Mascotes
O Cigs possui ainda quatro onças mascotes, sendo três pintadas e uma preta, usadas para desfiles e fotos oficiais do Cigs. “A mais velha delas é a Chitara, que tem 22 anos; temos o Simba, a filhote Cunhã, e o Garoto, nossa onça preta”, explicou o capitão.
Onçário abriga cerca de seis onças de três espécies: pintada, parda e preta (Foto: Tiago Melo/G1 AM)Onçário abriga cerca de seis onças de três espécies: pintada, parda e preta (Foto: Tiago Melo/G1 AM)
Ilha dos quelônios aquáticos do zoo do CIGS (Foto: Tiago Melo/G1 AM)Ilha dos quelônios aquáticos do zoo do Cigs (Foto: Marcos Melo)
Pesquisa
Na Divisão Veterinária do Cigs, são realizados estudos sobre a fauna e a flora da região, em apoio a órgãos de pesquisa nacionais, dentro de um plano de gestão ambiental que inclui ainda o Campo de Instrução do Cigs. A educação ambiental se faz presente, tanto na instrução militar envolvendo recrutas e profissionais, quanto no trabalho educativo junto às escolas de ensino médio e fundamental da região metropolitana de Manaus.
Cuidados médicos
O trabalho junto aos animais é desenvolvido no Hospital Veterinário, dotado em sua infraestrutura de salas de cirurgia e anestesia, radiologia, medicina interna e ambulatorial. A partir de janeiro de 2009, o zoológico passou a contar ainda com o Núcleo Avançado de Pesquisas do Instituto de Biologia do Exército (NAPIBEx), a ser estruturado em área cedida pelo Cigs para o desenvolvimento de pesquisas com agentes biológicos de interesse da Força Terrestre na Amazônia.
Ilha dos macacos no Zoológico do CIGS (Foto: Tiago Melo/G1 AM)Ilha dos macacos no Zoológico do Cigs (Foto: Tiago Melo/G1 AM)

Em carta a Lula, Suplicy dá sutil lição de moral

Em uma carta encaminhada ao ex-presidente, o senador reclama do isolamento político e mostra as contradições enfrentadas pelo PT quando o assunto é ética

Hugo Marques
Lição de moral - Ao tomar conhecimento de que sua candidatura seria sacrificada pelo partido, o senador Eduardo Suplicy tentou falar com Lula. Como não conseguiu, decidiu escrever uma carta
Lição de moral - Ao tomar conhecimento de que sua candidatura seria sacrificada pelo partido, o senador Eduardo Suplicy tentou falar com Lula. Como não conseguiu, decidiu escrever uma carta  (Renivaldo Luz/Ag. Bapress)
Nos planos da cúpula do PT, o senador Eduardo Suplicy foi escolhido para o sacrifício eleitoral. Para viabilizarem uma coligação ampla que permita ao partido disputar o governo de São Paulo em 2014, os petistas planejam entregar a vaga do senador a outra agremiação. Pode ser ao PMDB, ao PSD ou até mesmo ao PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto. Feito isso, a menos que mude de partido, Suplicy não poderia disputar sua recondução ao Senado. A estratégia petista prevê, no máximo, a possibilidade de ele concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados. “Ele seria o nosso Tiririca”, conta uma liderança petista. Suplicy identificou a origem do plano e, durante os últimos meses, tentou uma audiência com o ex-presidente Lula para tratar do assunto. Ligou para a secretária, pediu a ajuda de companheiros, enviou recados. Nada. No último dia 6, sem receber nenhuma resposta, o senador foi ao Instituto Lula e entregou uma carta ao ex-presidente. Uma carta cheia de ponderações e desabafos - uma sutil lição de moral.

sábado, 25 de maio de 2013

As revelações dos sócios de Marcos Valério

Após 8 anos em silêncio, os ex-sócios de Valério na agência SMP&B Cristiano Paz e Ramon Hollerbach abrem o jogo e contam como foi montada a estratégia para ganhar dinheiro com o PT e revelam os bastidores da aproximação e briga com o operador do mensalão

por Paulo Moreira Leite

Sentados numa sala de reuniões no primeiro andar de um edifício discreto no bairro de Santa Lúcia, em Belo Horizonte, os publicitários Ramon Hollerbach Cardoso, 65 anos, e Cristiano Paz, 61, aguardam pelo debate de recursos no Supremo Tribunal Federal para saber qual será seu futuro – o próximo e o distante. No final de 2012, quando o Supremo Tribunal Federal anunciou as 25 condenações do mensalão, Hollerbach recebeu a pena de 29 anos, 7 meses e 20 dias de prisão. Cristiano pegou 25 anos, 11 meses e dez dias. Apenas Marcos Valério, sócio de ambos em duas agências de publicidade, recebeu pena maior que a deles: 40 anos.
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Se não conseguirem obter nenhuma revisão da sentença nos próximos meses, Paz e Hollerbach passarão pelo menos quatro anos e dez meses na cadeia. São projeções otimistas, na verdade. Além do mensalão no STF, os dois enfrentam outros inquéritos em instâncias inferiores da Justiça que podem produzir novas penas – e novos períodos de restrição de liberdade, como diz a linguagem jurídica. Em qualquer caso, Hollerbach terá completado 95 anos quando a sentença que recebeu no final de 2012 chegar ao fim. Pelo menos até os 86 anos Paz estará submetido à condição de apenado, mesmo que fora do cárcere. “Somos vítimas de uma história que começou errada, continuou errada, mas não pode terminar errada,” afirma Hollerbach. O ex-sócio, como Paz, na semana passada, quebrou um silêncio de oito anos sobre o caso. Em entrevista à ISTOÉ, ambos contaram como e por que se aproximaram e, depois, brigaram com Marcos Valério e em que situação foram apresentados a Delúbio Soares, ex-tesoureiro petista. Revelaram ainda os bastidores da reunião em que acertaram o empréstimo de R$ 10 milhões ao PT com um dirigente do Banco Rural.
Toda pessoa que já conversou com um condenado a caminho da cela sabe que ouvirá juras permanentes de inocência e queixas veementes contra a Justiça. É compreensível e mesmo humanitário. A dúvida é saber quando essas manifestações expressam o interesse individual de quem tenta recuperar a liberdade a qualquer custo, e quando expressam fatos verdadeiros, que merecem um novo exame da Justiça. Qualquer que seja o juízo que se faça sobre o destino de Hollerbach e Paz, é preciso reconhecer que se trata de uma situação que não pode ser resolvida em ambiente de Fla-Flu. Envolve denúncias e provas aceitas pela mais alta corte de Justiça do País, mas também inspira um debate sempre bem vindo sobre direitos e garantias individuais, que será feito nos próximos meses, quando o STF examinar os recursos dos condenados.
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Sócios e parceiros na SMP&B, a mais bem-sucedida agência de publicidade do País fora do eixo Rio-São Paulo, os dois não são personagens secundários da sociedade mineira. Paz é um publicitário respeitado pelo arrojo criativo que lhe permitiu colecionar prêmios internacionais e uma grande carteira de clientes. Em 2002, Hollerbach fez parte da coordenação da campanha que levou Aécio Neves ao governo de Minas Gerais. No fim daquele ano, Marcos Valério, sócio mais recente, que tivera a capacidade de retirar a SMP&B do fundo de um poço financeiro, apareceu acompanhado de um personagem que mudou a vida dos três: Delúbio Soares, tesoureiro da campanha petista.
A motivação que levou dois profissionais bem-sucedidos a se aproximar do esquema de finanças do Partido dos Trabalhadores em 2002 envolve a ambição de ganhar muito dinheiro e conquistar posições no mercado – em troca de favores prestados aos aliados do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Assegurando que os dois apenas seguiram a estratégia de crescimento de outras grandes agências do País, Paz afirma: “Com a ajuda do governo federal nós poderíamos ganhar uma estatura que jamais seria obtida no mercado. O governo abre portas, ajuda a obter contratos e clientes.” Para Hollerbach, a aproximação representava a chance de participar de campanhas eleitorais. “O que se ganha em quatro meses de campanha pode ser mais do que quatro anos de atividade no mercado,” afirma. “Numa campanha você começa a discussão sobre seu ganho líquido, que está garantido. Coloca dinheiro no bolso e, depois, cobra os custos.”
Nem a vontade de enriquecer nem a troca de favores, mesmo enunciada com franqueza tão rara e explícita, explicam as condenações de 25 ou 29 anos. Os dois foram condenados por crimes graves: corrupção ativa, peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Ao pedir a condenação de Paz, Joaquim Barbosa denunciou “toda uma parafernália, um mecanismo bem azeitado de desvio de recursos públicos.” Ressalvando que os antecedentes de Paz são “absolutamente impecáveis, recomendáveis”, o revisor Ricardo Lewandovski, que se opôs a Joaquim Barbosa em vários momentos do julgamento, considerou que o réu “cometeu crimes gravíssimos” e decidiu condená-lo, mesmo aplicando penas mais leves.
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FIM DA GÊNESE DO ESQUEMA
Filial de Brasília da SMP&B Comunicações foi fechada
em 2005 no rastro do escândalo do mensalão
Parece difícil negar que havia fundamento para condenar Hollerbach e Paz por lavagem de dinheiro, responsável por cinco anos de prisão e dez meses para cada um. Os dois emprestaram ao PT um dinheiro que não era deles nem de suas agências, mas do Banco Rural, um dos potentados financeiros de Minas na época. Interessado, ele também, em aproximar-se do PT, José Antonio Drummond, executivo da instituição que iria morrer num desatre de automóvel, chamou Paz e Rollerbach para uma conversa onde sugeriu uma triangulação. Os publicitários pediriam o empréstimo de R$ 10 milhões para repassar o dinheiro para o PT, enquanto o banco ficaria nos bastidores, pronto para prestar socorro em qualquer eventualidade. Quando foi necessário, o Rural renovou o empréstimo.
Mesmo sem ter um papel executivo na DNA, matriz do esquema de distribuição de dinheiro clandestino para os deputados do PT, Hollerbach e Paz tinham participação acionária naquela agência. Mas faziam aquilo que era fundamental para alimentar o esquema: assinavam cheques ao portador. Além da SMP&B, possuíam partipação numa holding, a Grafitte, que era dona de metade da DNA, onde ingressaram por indicação de Valério. No dia a dia, a agência era comandada por Marcos Valério e dois publicitários, presidente e vice, que nem sequer foram chamados a prestar depoimento. Quando, por uma razão ou outra, os diretores estavam ausentes, Paz e Hollerbach faziam o serviço. Talvez tenham sido duas dezenas, num universo que pode chegar a milhares.
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Se é sempre difícil fingir que nada há de muito esquisito em universos de operações pouco claras, no dia em que lhe pediram para assinar um cheque ao portador no valor de R$ 500 mil, Paz resolveu cair fora. Já lhe coubera, um pouco antes, assinar um cheque igualmente volumoso, de R$ 326 mil. Deixando evidente que havia um submundo naquele negócio que não conhecia – nem pretendia conhecer –, Paz alega: “Eu não sabia o que estava acontecendo, não sabia para onde aquilo estava me levando e resolvi parar”.
Quando informou a Marcos Valério que não iria mais assinar cheques, ouviu uma resposta imediata. Se era assim, teria de se desligar da agência. Concordou, vendendo sua parte para Romilda, a mulher de Valério. Foi o início de uma ruptura, consolidada pelo escândalo. A última vez em que os dois conversaram foi em 2007, o ano em que foram aceitos como réus pelo Supremo. A primeira conversa tinha sido uma década e meia antes, quando Valério apresentou-se à sede da SMP&B com uma proposta para reestruturar uma agência que acumulava prêmios e dívidas na mesma velocidade. “O Marcos tem um talento que precisa ser reconhecido,” diz Paz. Tem visão de negócio, sabe identificar um problema e encontrar uma solução.”
Algumas condenações que atingiram Hollerbach e Paz dizem respeito a um ponto anterior a tudo. Consiste em saber a natureza daquele esquema financeiro que Delúbio e Valério colocaram em movimento, com a participação de Paz e Hollerbach. Na verdade, é a mais delicada discussão em torno do mensalão.
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DEPOIS DA BONANÇA, A BRIGA
Sócios romperam com Marcos Valério por causa de cheque mal explicado
Para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e para a maioria dos ministros do Supremo, trata-se de um sistema de corrupção de parlamentares e compra de votos na Câmara dos Deputados. Desse ponto de vista, aquele dinheiro que os parlamentares recebiam era propina – ainda que muitos o usassem para pagar compromissos eleitorais. Por causa dessa visão, majoritória no STF, os cheques da DNA que os dois assinaram em crime de corrupção ativa de parlamentares (quatro anos e dez meses de prisão), além de corrupção ativa e peculato na Câmara (cinco anos e seis meses de prisão). Conforme este raciocínio, um cheque de R$ 326 mil – assinado por Paz – sacado a pedido de Henrique Pizzolato, diretor de marketing do Banco do Brasil, foi visto como prova num caso de corrupção ativa e peculato na instituição (penas somadas de seis anos e seis meses). Os condenados, naturalmente, defendem outro ponto de vista. Para eles, os recursos manipulados pela agência faziam parte da distribuição de verbas de campanha, segundo as regras de caixa 2 do sistema eleitoral brasileiro. O tesoureiro Delúbio Soares chegou a defender esse ponto de vista, no início do escândalo, mas a versão logo perdeu força.
Com base no testemunho de uma publicitária que atuava na área de marketing do Banco do Brasil, os ministros respaldaram a denúncia de que o esquema desviou R$ 73 milhões da instituição para garantir a festa petista. O esquema do mensalão, em síntese, seria isso. O Supremo chegou a esse montante durante o próprio julgamento, que teve início a partir de estimativas ainda mais altas.
Num esforço para demonstrar a inocência dos clientes, seus advogados realizam, desde o julgamento, um exercício de engenharia reversa para demonstrar que o dinheiro desviado foi gasto, efetivamente. Percorrem escritórios de fornecedores e parceiros – e mesmo repartições policiais onde o material foi apreendido – à procura de notas fiscais e material que possa demonstrar os gastos. Numa estimativa preliminar, transmitida à ISTOÉ na sexta-feira 24, eles se diziam capazes de demonstrar 90% dos gastos realizados, ou R$ 69.384.146,19. Dada a importância dessa revelação, que poderia representar uma mudança espetacular na visão de muitas pessoas sobre o julgamento, ela necessita de exames independentes para merecer o crédito devido.
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Num dado que chamou pouca atenção durante o julgamento, os autos da ação penal 470 incluem um trabalho de investigação realizado por 24 auditores do Banco do Brasil, em que se concluiu que os recursos que a empresa Visanet enviou à DNA não podem ser definidos como “dinheiro público.” Segundo a página 21 do documento, intitulado “Síntese de trabalho de auditoria”, a Visanet, criada pela empresa multinacional que é proprietária do cartão Visa, com gestão e direção autônomas, aplicava recursos próprios na DNA, “não pertencendo os mesmos ao Banco do Brasil”.
Uma informação surgida no acórdão de Joaquim Barbosa, o ministro que liderou a votação no Supremo, pode trazer conforto direto a Hollerbach. Numa denúncia que contribuiu para reforçar a pena dele, Barbosa afirmou que uma perícia criminal havia encontrado um depósito de R$ 400 mil na conta de uma empresa da qual seria proprietário encoberto. O problema é que, sabe-se hoje, tratava-se de uma acusação com base falsa. O laudo em que o presidente do STF se baseou para fazer a acusação não estabelece nenhuma ligação direta entre Hollerbach e aquele depósito. O nome do publicitário nem sequer é mencionado naquele trecho e a empresa, que seria propriedade do publicitário, é uma tradicional produtora de marketing do Rio de Janeiro, a RSC, abreviatura de Rio, Samba e Carnaval, com anos de atuação na cidade, e recebeu o dinheiro por um serviço prestado. No acórdão, em que trouxe por escrito o voto que havia lido no tribunal, Joaquim Barbosa deixou claro que reconhecia o erro: suprimiu as linhas em que se referia ao episódio.

Capital terá comunicação de improviso na Copa-Ce

Às vésperas do início dos eventos esportivos, os diálogos precários com visitantes de outros países é um problema

Mímicas, desenhos, números escritos e, por fim, as famosas fusões do português com outros idiomas. Sem ter conhecimento ou domínio de línguas estrangeiras, é assim que funcionários de muitos estabelecimentos em Fortaleza se viram para garantir o atendimento a turistas de outros países. Mas, às vésperas do início da maratona de eventos esportivos que terão a Capital como sede, a comunicação precária ou inexistente com visitantes do exterior, realidade em grande parte dos pontos de comércio e mobilidade urbana, é problema que pode dificultar a vida de quem chega às terras cearenses.

Placas bilíngues de sinalização e orientação são instaladas em Fortaleza. No entanto, ainda existem problemas em polos gastronômicos, onde a falta de tradução nos menus representam barreiras na comunicação Foto: Kid Júnior

Muitos profissionais atuantes em serviços que certamente serão utilizados, como hotéis, polos de comércio, barracas de praias, restaurantes e transportes coletivos, desconhecem ou não possuem prática de outros idiomas além do português. Em paralelo, lugares turísticos carecem de placas com informações em inglês ou espanhol, prejudicando a orientação e o deslocamento daqueles que não têm qualquer familiaridade com a língua portuguesa.

Nas barracas de produtos artesanais da Beira-Mar, apenas 5% dos vendedores, aproximadamente, têm algum conhecimento do idioma inglês, afirma Theodomiro Ferreira, presidente da Associação da Feira de Artesanato da Beira-Mar. Durante as Copas das Confederações e do Mundo, o único material de apoio com o qual os turistas poderão contar é um folheto bilíngue que está sendo produzido pelo grupo com dados sobre a Cidade.

Ferreira aponta que os funcionários tentam improvisar formas de interagir com os estrangeiros, mas as falhas na comunicação verbal serão empecilhos ao trabalho no período.

O número de profissionais preparados para o diálogo com turistas de outros países também é muito baixo no Mercado Central. Conforme Jacildo Luiz, vice-presidente da associação de lojistas do local, tanto os próprios permissionários quanto os funcionários do centro têm deficiências no domínio de línguas estrangeiras.

Também não há placas de sinalização e orientação em outros idiomas para ajudar os visitantes do exterior a encontrarem o que desejam. O atendimento fica restrito à Casa do Turista situada no andar térreo do Mercado, onde somente duas pessoas, capacitadas em inglês e espanhol, ficam responsáveis por tirar dúvidas de todos os frequentadores.

Cardápios

Em polos gastronômicos, as dificuldades podem ser ainda maiores, uma vez que, além do pobre domínio de outros idiomas, a falta de traduções nos cardápios também são grandes barreiras na comunicação com os visitantes de fora.

Segundo Ivan Assunção, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Ceará (Abrasel-CE) e vice-presidente da Associação dos Empresários da Praia do Futuro (AEPF), por mais que as equipes sejam treinadas, o atendimento ainda depende das informações contidas nos menus. Ele destaca que poucos restaurantes e barracas na Capital apresentam textos bilíngues.

Falta oferta de incentivos por parte do poder público
Em todos os locais, as deficiências na capacitação dos profissionais são atribuídas à falta de investimentos e ofertas de cursos fornecidos pelo poder público. Na Beira-Mar, a Associação da Feira de Artesanato afirma ter solicitado à Prefeitura formações em outras línguas para os comerciantes há cerca de quatro meses, mas não obteve resposta.

O mesmo aconteceu no Mercado Central, segundo Jacildo Luiz. Os permissionários buscaram cursos de qualificação, porém nenhum incentivo foi oferecido. Já no caso de alguns restaurantes e barracas, os proprietários aguardam recursos para a formações por meio do Pronatec Copa, que está atrasado.

A Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor), através de sua assessoria de imprensa, informa que não recebeu ofícios com solicitações de cursos por parte dos estabelecimentos, mas garantiu que, dependendo da demanda, poderá trabalhar junto ao Ministério do Turismo.

O órgão informa que está selecionando profissionais bilíngues para atuar nas três Casas do Turista e facilitar a comunicação. Outro projeto é a criação de postos de atendimento itinerantes, que deverão ficar localizados em pontos estratégicos da Capital.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

24 DE MAIO-DIA DA RAINHA DAS ARMAS-INFANTARIA




Forças Armadas vistoriam 42,2 mil veículos e 2,2 mil embarcações na região de fronteira

O balanço dos cinco primeiros dias da Operação Ágata 7 indicou que as forças armadas vistoriaram 42,2 mil veículos e 2.778 embarcações na faixa de fronteira de 16.886 quilômetros. Com o emprego de 31.263 militares e civis – o maior efetivo utilizado em operações pelo governo federal -, a Ágata também teve a apreensão de 70 quilos de maconha, 18 quilos de cocaína e três quilos de pasta base da droga. Quatro aeronaves foram interceptadas, mas nenhuma irregularidade foi constada e, em seguida, os aviões foram liberados. O resultado parcial das operações foi divulgado pelo Ministério da Defesa na última quarta-feira (22).
A Operação também realizou ações Cívico-sociais na região norte. foram atendidas 25.955 pessoas e distribuídos 4.608 medicamentos. até o fim da operação estão previstos atendimentos médico, odontológico e hospitalar em Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, e em Tabatinga, no Amazonas, além de outras localidades que estão sendo definidas pelos comandantes militares da amazônia, do oeste e do sul
Instituída como uma das ações do Plano estratégico de fronteiras, a Operação Ágata é mantida sob o comando do Ministério da Defesa e coordenada pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA). A execução cabe à Marinha, ao Exército e à Força Aérea Brasileira (FAB), com o apoio de 12 ministérios, cerca de 20 agências governamentais, forças policiais e agentes de dez estados e 710 municípios.


A Ágata começou no último sábado (18) entre o Iapoque, no Amapá, e Chuí, no Rio Grande do Sul. A previsão inicial era do emprego de 25 mil militares, mas até o momento, os números indicam mobilização de 31,2 mil civis e militares na faixa de fronteira do Brasil com os países sul-americanos. A operação acontece às vésperas da Copa das Confederações e da visita do Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude.
Os agentes governamentais, como as Polícias federal e rodoviária federal, receita federal, bem como a agência nacional de telecomunicações (Anatel); a agência nacional de energia elétrica (Aneel); a agência nacional do Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis; a Comissão nacional de energia nuclear; o departamento nacional de Produção Mineral, o instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a fundação nacional do Índio (Funai) e o instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos recursos naturais renováveis (Ibama) atuarão em conjunto em suas respectivas áreas.
Ágata -em quase dois anos, o Ministério da defesa, por meio do eMCfa, já realizou seis edições da operação Ágata. afaixa de fronteira situa-se 150 quilômetros a partir da divisa e compreende 27% do território nacional.
A fronteira tem 16.886 quilômetros de extensão, sendo 7.363 quilômetros de linha seca e 9.523 quilômetros de rios, lagos e canais. são 23.415 quilômetros de rodovias federais. os estados de fronteira são Amapá, Pará, Roraima, Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. os países vizinhos são Guiana Francesa, Guiana, Suriname, Venezuela, Colômbia, Bolívia, Peru, Paraguai, Argentina e Uruguai.
A Ágata contempla também ações Cívico-sociais. As seis edições resultaram em 59.717 procedimentos, 18.304 atendimentos médicos e 29.482 odontológicos. Cerca de 9 mil pessoas foram vacinadas e 195.241 medicamentos foram distribuídos.