SELVA

SELVA

PÁTRIA

PÁTRIA

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Embraer anuncia que irá vender Super Tucano a Força Aérea dos EUA

Segundo empresa, 20 unidades serão vendidas por US$ 427 milhões.
Contrato anterior, de US$ 355 milhões, foi cancelado há um ano.

Do G1, com informações da Agência EFE
A Embraer anunciou nesta quarta-feira (27) que venderá 20 unidades do avião A-29 Super Tucano à Força Aérea dos Estados Unidos por um valor total de US$ 427 milhões.
A brasileira foi selecionada em um novo processo de seleção da Força Aérea dos EUA para a aquisição de aviões de ataque leve, que deu maior peso para a experiência de combate e não pedia demonstração de voo. O primeiro havia sido "posto de lado" devido a supostos problemas com documentos.
Super Tucano A-29, da Embraer. (Foto: Divulgação/Embraer)Super Tucano A-29, da Embraer. (Foto: Divulgação/Embraer)
As aeronaves serão fornecidas por uma sociedade da Embraer com a empresa americana Sierra Nevada Corporation e serão incorporadas ao programa Apoio Aéreo Ligeiro (AS, na sigla em inglês), informou a companhia brasileira.
O avião foi selecionado para o programa LAS (Light Air Support) ou Apoio Aéreo Leve, diz a Embraer em nota. A aeronave será utilizada para missões de treinamento avançado em voo, reconhecimento aéreo e apoio aéreo tático.
"Após um rigoroso processo licitatório, a USAF considerou que a Embraer Defesa e Segurança e a SNC apresentaram a melhor proposta para cumprir a missão LAS", diz a Embraer. “Nosso compromisso é avançar com a estratégia de investimentos nos Estados Unidos e entregar o Super Tucano no prazo esperado e conforme o orçamento contratado”, disse Luiz Carlos Aguiar, Presidente e CEO da Embraer Defesa e Segurança.
O contrato, no valor de US$ 427 milhões, inclui 20 aeronaves de apoio aéreo tático, equipamentos para treinamento de pilotos no solo, peças de reposição e apoio logístico. A aeronave selecionada para o programa LAS será construída em Jacksonville, Flórida.
Super Tucano
O Super Tucano é um avião turboélice capaz de executar missões como ataque aéreo leve, vigilância, interceptação aérea e contra-insurgência. Segundo a Embraer, a aeronave está em operação em nove forças aéreas ao redor do mundo.
Com mais de 190 encomendas e mais de 170 unidades entregues, o Super Tucano tem mais de 180 mil horas de voo e 28 mil horas de combate.
A aeronave tem sistemas eletrônicos, eletroópticos, infravermelho e laser e sistemas de rádios seguros com enlace de dados e capacidade de armamentos.
Contrato cancelado
Há cerca de um ano, a Embraer havia sido selecionada como fornecedora de aviões de ataque leve, mas o contrato foi "posto de lado", devido a supostos problemas com documentos. A vitória da Embraer no contrato, de US$ 355 milhões, foi contestada na Justiça dos EUA pela norte-americana Hawker Beechcraft.
Em 30 de dezembro de 2011, a Força Aérea dos Estados Unidos definiu que a Embraer, junto com sua parceira norte-americana Sierra Nevada Corp, tinha obtido o contrato para venda de 20 aviões Super Tucano, assim como fornecimento de treinamento e suporte.
Entretanto, a licitação foi paralisada em janeiro, quando a Hawker Beechcraft entrou na Justiça questionando a decisão.
No ocasião, a Força Aérea disse que acreditava que a competição e a avaliação para seleção do fornecedor tinham sido justas, abertas e transparentes. O Super Tucano foi desenvolvido para missões de contra-insurgência e está em uso em seis nações, incluindo a Colômbia, o Equador e Burkina Fasso, na África.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Deputado petista 'rouba' painel sobre mensalão na Câmara

Amauri Teixeira não gostou de protesto do DEM para ironizar a omissão ao escândalo em exposição na Câmara. A placa foi parar na liderança do PT

Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília
Deputado Amauri Teixeira tratou de dar um 'sumiço' no painel do mensalão
Deputado Amauri Teixeira tratou de dar um 'sumiço' no painel do mensalão (Ed Ferreira/Estadão Conteúdo)
O que era para ser um ato de protesto da oposição se transformou em tumulto - mais um - na Câmara dos Deputados. O DEM resolveu incluir, em frente ao painel que lembra os 33 anos do PT, uma referência ao escândalo do mensalão, já que o ano de 2005 foi excluído na exposição montada nos corredores da Casa para marcar o aniversário da sigla. A imagem elaborada pelo DEM reúne capas de jornais e revistas na época do escândalo e contém uma breve descrição do episódio.
Mas a manifestação irônica não durou muito. Segundos após o pano vermelho que cobria a placa ser descerrado, enquanto os parlamentares da oposição ainda posavam ao lado ao painel, o deputado Amauri Teixeira (PT-BA) resolveu retirar o estandarte do lugar. Com a ajuda de José Márcio Ribeiro da Costa, chefe de gabinete da liderança do PT, ele removeu o painel.
O petista, que na semana passada havia tentado expulsar, aos berros, a blogueira cubana Yoani Sánches do plenário, ainda quis tirar satisfações com assessores que, em meio ao tumulto, o chamaram de "mensaleiro". Os deputados Felipe Maia (DEM-RJ) e Edson Santos (PT-RJ) quase partiram para as vias de fato em meio ao empurra-empurra. Cláudio Cajado (DEM-BA) também se desentendeu com Amauri Teixeira.
"Nós sempre respeitamos qualquer manifestação que tenha nesse corredor. Estou retirando da frente do painel do PT. Na frente, nós não aceitamos", disse Amauri, enquanto removia a placa. Mas, em vez de apenas retirar o painel do corredor, o deputado e seu assessor esconderam o objeto na liderança do PT, em outro andar.
Ao site de VEJA, após esconder a placa, José Márcio da Costa reagiu com ironia: "O painel sumiu". O líder do DEM, Ronaldo Caiado, não pretende resgatar o objeto causador da discórdia: "O painel foi dado como presente para que o PT coloque na sala do líder", ironizou.

Minutos após a confusão, o mensaleiro José Genoino (PT-SP) passou pelo local - cabisbaixo, ele se fez de desentendido quando indagado a respeito da controvérsia.
Plenário – O vergonhoso bate-boca protagonizado em frente à exposição do PT continuou no plenário na Câmara dos Deputados. Primeiro a se manifestar, o deputado Sibá Machado (PT-AC) tentou amenizar o ato do correligionário Amauri Teixeira passando a culpa adiante: afirmou que foram os democratas que criaram o tumulto ao “colocar um material apócrifo” e que foram eles que quase partiram para a agressão contra parlamentares petistas.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) interveio: “Não é apócrifo, não. Foi reprodução de capas de revistas do ano de 2005, porque a exposição esquece o inconveniente ano de 2005”, ressaltando que não houve ataques por parte dos democratas. Enquanto o democrata falava, mais uma cena de agressão. O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) deu um tapa no microfone, tirando-o de Lorenzoni.
Ignorando os episódios, o líder do PT José Guimarães preferiu não comentar as atitudes de Teixeira e Ribeiro – e ainda disse estar ofendido: “Hoje nós sofremos o assédio de uma ação que nos leva ao constrangimento, como nunca fizemos com outro partido”.

Lula dispara mais um torpedo na guerra verbal contra FHC

Em evento em São Paulo, petista respondeu declaração de tucano sobre ingratidão de Dilma de maneira autoritária: "Fique quieto"

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ele jura que apoiará reeleição de Dilma
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Petista voltou a atacar FHC (Heinrich Aikawa/Instituto Lula)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não mediu as palavras ao rebater as críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que na segunda-feira havia chamado a presidente Dilma Rousseff de "ingrata".
"Eu acho que o Fernando Henrique Cardoso deveria, no mínimo, ficar quieto", disse Lula, em São Paulo. "O que ele deveria fazer é contribuir para a Dilma continuar a governar o Brasil bem, ou seja, deixa ela trabalhar. Ela sabe o que faz. Não é todo dia que o país elege uma mulher presidente", afirmou o petista.
Sobre uma possível candidatura do senador Lindbergh Faria (PT-RJ) à sucessão do governador Sérgio Cabral (PMDB), Lula desconversou. "Gente, como é que eu vou saber? Eu não acompanho nem a política do estado de São Paulo. Eu, depois que deixei a Presidência, parei de acompanhar a política", disse.
FHC x PT - A guerra verbal entre os ex-presidentes, que envolveu ainda a presidente Dilma Rousseff, começou há uma semana, quando o PT divulgou uma cartilha que celebrava os dez anos do partido no comando da Presidência. O texto, que continha exageros e omissões, traçava um retrato totalmente favorável ao governo petista e desdenhava da administração tucana (1995-2002).
Em 19 de fevereiro, Fernando Henrique reagiu, e disse que a postura do PT era "coisa de criança" e uma "picuinha". No dia seguinte, foi a vez de Lula e Dilma atacarem novamente o ex-presidente tucano e seu partido durante o evento oficial que celebrava os dez anos do PT no poder. Lula disse que  “nós [do PT] não temos medo da comparação, inclusive no debate da corrupção”. Já Dilma afirmou que o PT não herdou nada do governo anterior. "Nós construímos”.
Na segunda-feira, foi a vez de Fernando Henrique reagir quando questionado sobre os ataques de Dilma e Lula. "O que a gente pode fazer quando a pessoa é ingrata? Nada. Cospe no prato em que comeu", disse Fernando Henrique, ao ser questionado sobre o discurso de Dilma.
(Com Estadão Conteúdo)

Novidades no IR apertam o cerco contra contribuintes

Ficha dará mais controle de cobrança aos Estados e mais informações sobre o contribuinte para a Receita

Terra
80959579.jpg
A Receita Federal vem apertando o cerco nos últimos anos aos contribuintes e neste não será diferente. Entre as mudanças apresentadas pelo órgão, a ficha de “Rendimentos Isentos e Não Tributáveis” passou a ganhar desmembramentos que, segundo especialistas, vão dar mais controle aos Estados para cobrar impostos locais, além, de dar mais informações para a Receita.
A partir de agora, a linha que continha dados sobre transferências patrimoniais foi dividida em duas: a primeira será “Transferências patrimoniais – doações, heranças” e a segunda será “Transferências patrimoniais – meações e dissolução da sociedade conjugal e da unidade familiar”. Isso significa que doações (de bens ou de valores) ou recebimento de herança – que são isentos do Imposto de Renda – têm incidência do tributo estadual Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), que nem sempre é recolhido pelos consumidores. Com a mudança, os Estados conseguem detectar com mais facilidade os casos em que o tributo deveria ter sido recolhido e passar a cobrá-lo do contribuinte.
“Antes, o Estado tinha de notificar (o contribuinte) para saber se o valor declarado no IR era uma doação mesmo ou se fazia parte de um divórcio”, afirma Richard Domingos, diretor-executivo da Confirp Contabilidade. Domingos lembra que o ITCMD não incide em casos de separações.
Caso fique constatado que o consumidor deixou de recolher o imposto, o Estado enviará uma notificação a ele com a cobrança acrescida de multa e juros, segundo o consultor tributário Edino Garcia, da IOB Folhamatic. Ou seja, com a mudança na declaração do IR, ficou mais simples para os Estados levantarem quais contribuintes não arcaram com a sua obrigação.
A cobrança do ITCMD varia de Estado para Estado. Em São Paulo, por exemplo, para o ano-calendário 2012, há cobrança de 4% para doações ou heranças com valores acima de R$ 46.100. O valor do imposto é fixo.
Outra forma de a Receita Federal ajudar a fechar o cerco contra o contribuinte é por meio do IPVA. Segundo Domingos, é muito comum que consumidores – principalmente aqueles que detêm carros de luxo – busquem Estados “mais baratos” para emplacar seus veículos. No entanto, os Estados podem cruzar onde o contribuinte mora – por meio do IR – e o local de emplacamento do carro, por meio do Renavam. “Se pego, o contribuinte pagará multa e imposto retroativo para o Estado onde mora”, afirma Domingos. Segundo ele, enquanto o contribuinte não mudar o registro do veículo, poderá pagar multa e até responder a processo por sonegação fiscal.
Além de despesas médicas e gastos com previdência privada, por exemplo, podem ser cruzadas e monitoradas também pelo Leão compras feitas no cartão de crédito. É uma forma de a Receita verificar se a movimentação de um contribuinte está compatível com os rendimentos informados na Declaração Anual de Ajuste.  “É uma ferramenta da Receita de verificar se o contribuinte está sonegando rendimentos para não pagar mais imposto”, afirma Domingos. Assim como hospitais, clínicas e planos de saúde, as administradoras de cartões também precisam prestar contas ao Fisco, documento pelo qual as informações são cruzadas com as dos consumidores.
Confira quem deve fazer a declaração do IR em 2013:
1- recebeu rendimentos tributáveis, sujeitos ao ajuste na declaração, cuja soma foi superior a R$ 24.556,65
2- recebeu rendimentos isentos, não tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte, cuja soma foi superior a R$ 40 mil
3- obteve, em qualquer mês, ganho de capital na alienação de bens ou direitos, sujeito à incidência do imposto, ou realizou operações em bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas
4- relativamente à atividade rural:
a) obteve receita bruta em valor superior a R$ 122.783,25.
b) pretenda compensar, no ano-calendário de 2012 ou posteriores, prejuízos de anos-calendário anteriores ou do próprio anocalendário de 2012;
5 - teve, em 31 de dezembro, a posse ou a propriedade de bens ou direitos, inclusive terra nua, de valor total superior a R$ 300 mil.
6-  passou à condição de residente no Brasil em qualquer mês e nesta condição se encontrava em 31 de dezembro;
7- optou pela isenção do Imposto sobre a Renda incidente sobre o ganho de capital proveniente da venda de imóveis residenciais por ter aplicado o capital na aquisição de outro imóvel localizado no País, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados da venda do primeiro imóvel
Quem será dispensado da declaração:
1- Quem participa de sociedade conjugal ou união estável, e tenha os bens comuns declarados pelo outro cônjuge ou companheiro, não precisará fazer a declaração desde que o valor total dos seus bens privativos não exceda R$ 300 mil
2 - Caso conste como dependente em Declaração de Ajuste Anual apresentada por outra pessoa física, na qual tenham sido informados seus rendimentos, bens e direitos, caso os possua
3- Contribuintes ou dependentes que, em 31 de dezembro de 2012, tinham saldo de conta corrente bancária e demais aplicações financeiras com valor unitário de até R$ 140; tinham bens móveis - exceto veículos automotores, embarcações e aeronaves, bem como os direitos -, cujo valor unitário seja inferior a R$ 5.000; tinham um conjunto de ações e quotas de uma mesma empresa, negociadas ou não em bolsa de valores, bem como ouro ou outro ativo financeiro, em que valor seja inferior a R$ 1.000; dívidas cujo valor seja igual ou inferior a R$ 5.000

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Congresso Nacional custa R$ 23 milhões por dia ao país

Até o final deste ano, parlamentares deverão torrar 8,4 bilhões de reais - o equivalente aos gastos integrais de seis ministérios, segundo Contas Abertas

Chuva e raios atinge o edifício do Congresso Nacional em Brasília
Congressista brasileiro é o segundo mais caro do mundo (Alan Marques/Folha Imagem)
Ao longo de 2013, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal custarão juntos, por dia, 23 milhões de reais aos cofres públicos - dinheiro que, vale lembrar, sai do bolso do contribuinte brasileiro. O valor total deve chegar a 8,4 bilhões – montante semelhante aos dispêndios integrais de seis ministérios: Cultura, Pesca, Esporte, Turismo, Meio Ambiente e Relações Exteriores. Também equivale a todo o orçamento autorizado para a cidade de Belo Horizonte (MG) no ano passado.
Segundo levantamento feito pela ONG Contas Abertas, nestes gastos estão incluídos os salários dos 15.647 servidores efetivos e comissionados da Câmara e dos 6.345 do Senado, além de aposentadorias, pensões, indenizações, compra de materiais de consumo, serviços de terceiros, entre outros itens. No ano passado, o Congresso foi mais comedido e gastou 10% a menos que o previsto para o exercício atual: 7,6 bilhões de reais. Desse total, 373 milhões (5%) foram destinados ao custeio de despesas pendentes em 2011.
Os gastos com pagamento de pessoal lideram as despesas do Congresso. No ano passado, consumiram 40% do total gasto: o equivalente a 3 bilhões de reais. Além dos salários propriamente ditos, os vencimentos dos servidores incluem adicionais noturnos, incorporações, adicionais de periculosidade e insalubridade, férias, 13º salário, entre outros. Só em adicional noturno, por exemplo, Câmara e Senado pagaram 4,4 milhões de reais em 2012.
O pagamento de horas extras é outro gasto que soma uma quantia significativa nas despesas do Congresso. Foram pagos pelas duas casas 52 milhões de reais em horas adicionais aos servidores em 2012. A Câmara dos Deputados foi responsável por 44,4 milhões desse montante. O valor gasto pelo Senado só não foi maior, pois, de acordo com relatório divulgado no início do mês, a Casa economizou 35 milhões com despesas de horas extras no ano passado, após a criação do banco de horas.
Em segundo lugar na lista de despesas está o pagamento de aposentadorias. Ao todo, 1,7 bilhão de reais foi gasto com os 2.839 servidores aposentados do Senado e 2.563 da Câmara. Em seguida, estão os custos das pensões, que somaram 529 milhões. Os gastos ainda envolveram os desembolsos com sentenças judiciais, indenizações trabalhistas e restituições. As três rubricas custaram 205 milhões de reais ao Congresso – sendo 83% dos pagamentos feitos pela Câmara.
Anos anteriores – As despesas do Senado Federal em 2012 foram inferiores as dos últimos dois anos, considerando os valores corrigidos pela inflação. No ano passado, a Casa custou 3,3 bilhões aos cofres públicos. O valor também é menor que a média dos últimos sete anos – 3,4 bilhões. Já os gastos da Câmara dos Deputados foram os maiores desde 2003. A Casa pagou 4,2 bilhões de reais em 2012 – 400 milhões a mais que a média anual dos últimos dez anos, que era de 3,8 bilhões.
O congressista brasileiro é o segundo mais caro em um universo de 110 países – custo de 7,4 milhões de dólares por ano – segundo estudo realizado em 2012 pela Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com a UIP (União Interparlamentar), ficando abaixo apenas dos parlamentares americanos (custo de 9,6 milhões de dólares anuais).
O Congresso Nacional é constituído por 513 deputados e 81 senadores. Segundo o Ministério do Planejamento, em 2012 a média salarial do Legislativo era de 15 055 reais. O valor é mais que o dobro do que ganham os servidores do Executivo – 5 906 reais. No Judiciário, a média é de 10 385. O salário de um parlamentar é de 26 700 reais – valor que pode ser ainda maior se considerados os acréscimos de auxílio-moradia (3 800 reais) e a cota para exercício do mandato (34 200 reais).
Há uma semana, o presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou uma reforma administrativa na Casa e a promessa de economizar 262 milhões ao ano. A proposta já foi aprovada pela Mesa Diretora. Embora a economia seja bem-vinda, ela representa apenas 7% do orçamento da Casa previsto para este ano, de 3,5 milhões de reais.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Receita libera programa para declaração do IR 2013

Download pode ser feito no site da Receita. Entrega da declaração começa na 6ª

Ilustração: leão do imposto de renda
Ilustração: leão do imposto de renda (Thinkstock)
A Receita Federal liberou na manhã desta segunda-feira o programa de preenchimento da declaração do Imposto de Renda 2013. O download pode ser feito na página da Receita na internet. A entrega das declarações, contudo, só começa na próxima sexta-feira, dia 1º de março. O programa de envio das declarações também já pode ser baixado.

Pergunte

Envie suas dúvidas sobre o IR 2013
O site de VEJA quer ajudá-lo a esclarecer suas dúvidas sobre o preenchimento da declaração, que deve ser transmitida para a Receita Federal entre 1º de março e 30 de abril. Suas perguntas serão respondidas por uma equipe de especialistas. Escreva para  ir2013veja@gmail.com
O prazo de entrega das declarações vai até 30 de abril. A apresentação do documento pode ser feita via internet, pelo programa de transmissão, ou por disquete, a ser entregue nas agências do Banco do Brasil ou da Caixa em todo o país. A Receita espera receber este ano 26 milhões de declarações.
Fica obrigado a declarar imposto quem recebeu rendimentos tributáveis superiores de 24.556,65 reais – o valor foi corrigido em 4,5% em relação ao piso do ano passado, de 23.499,15 reais. Quem recebeu rendimentos isentos, não tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte, cuja soma foi superior a 40.000 reais, também está obrigado a prestar contas à Receita. O contribuinte que obteve, em qualquer mês, ganho de capital na alienação de bens ou direitos, sujeito à incidência do imposto, ou realizou operações em bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas, também precisa declarar.
Quanto à atividade rural, está obrigado a declarar o contribuinte que obteve receita bruta superior a 122.783,25 reais; pretenda compensar, no ano-calendário de 2012 ou posteriores, prejuízos de anos-calendário anteriores ou do próprio ano-calendário de 2012; teve, em 31 de dezembro, a posse ou a propriedade de bens ou direitos, inclusive terra nua, de valor total superior a 300.000 reais; passou à condição de residente no Brasil em qualquer mês e nesta condição se encontrava em 31 de dezembro; ou optou pela isenção do Imposto sobre a Renda incidente sobre o ganho de capital auferido na venda de imóveis residenciais, cujo produto da venda seja aplicado na aquisição de imóveis residenciais localizados no país, no prazo de 180 dias contados da celebração do contrato de venda.

A multa mínima para quem perder o prazo é de 165,74 reais e pode chegar a até 20% do valor do imposto devido. O imposto poderá ser pago em até oito vezes, com valor mensal mínimo de 50 reais. A primeira parcela ou parcela única vence no dia 30 de abril. Caso o valor de imposto devido seja inferior a 100 reais, o pagamento deve ser feito em cota única, informa a Receita Federal.

Declaração simplificada – Este deve ser o último ano em que o contribuinte que declara o Imposto de Renda pelo modelo simplificado será obrigado a preencher a declaração. A partir de 2014, a Receita Federal fará este trabalho, com base nas informações repassadas pelo empregador. Caberá ao contribuinte apenas acessar a declaração e confirmar se os dados estão corretos ou não.
(Com Estadão Conteúdo)

Dirceu pede a STF acesso a votos de ministros sobre mensalão

Defesa quer íntegra de votos escritos antes de publicação do acórdão.
Barbosa já liberou sua parte e aguarda votos dos demais ministros.

Mariana Oliveira Do G1, em Brasília
A defesa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira (22) para ter acesso aos votos escritos dos ministros sobre o julgamento do mensalão, antes que seja publicado o acórdão do julgamento. O acórdão é o documento que resume as decisões do julgamento.
Apontado como mandante do esquema do mensalão, Dirceu foi condenado por formação de quadrilha e corrupção ativa a 10 anos e 10 meses de prisão, mais multa de R$ 676 mil.
Na semana passada, o relator do mensalão, presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, enviou ofício aos demais ministros informando que já terminou de elaborar a ementa do acórdão, que traz um resumos do que foi definido no julgamento, e já concluiu a revisão de seu voto por escrito. Após receber o relatório de Barbosa, os outros ministros do STF devem incluir o voto de cada um e o registro das discussões durante o julgamento.
Na petição, os advogados de Dirceu afirmam que decidiram fazer o pedido diante da notícia de que o voto do relator está pronto. Segundo a defesa do ex-ministro, a "excepcional dimensão" e a complexidade do julgamento seriam motivos para justificar o recebimento antecipado dos votos.
Para justificar os argumentos, os advogados citaram decisão do próprio ministro Joaquim Barbosa, que, em 2011, autorizou que os réus tivessem mais prazo para entregar as alegações finais no processo do mensalão.
"Conforme já reconhecido pelo Exmo. ministro relator, o presente processo 'singulariza-se, entre outras coisas, pela complexidade e excepcional dimensão', apresentando 'elevado número de réus, inúmeros fatos a eles imputados e grande volume de provas, circusntâncias que autorizaram a dilação do prazo para apresentação de alegações finais", afirmam os advogados.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

"Nós não herdamos nada" - "PT exaure herança de FHC"

A largada para 2014 começou fora do tom. Dilma diz que os anos de presidência dos tucanos foram um "desastre" e Aécio fala de "fracasso" do governo do PT. E, assim, ambos ignoram a trajetória de sucesso e estabilidade do Brasil nos últimos 18 anos

Alan Rodrigues
Chamada.jpg
DE OLHO NA REELEIÇÃO
Ao lado de Lula, durante festa em comemoração aos 10 anos
do PT no poder, Dilma Rousseff se colocou como candidata
Antecipada em mais de um ano, a campanha presidencial de 2014 foi para a rua na última quarta-feira 20 num tom enviesado. Sem apresentar propostas que os diferenciassem aos olhos do eleitor, a presidenta Dilma Rousseff, anunciada como candidata à reeleição durante a festa de comemoração dos 10 anos do PT no poder, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano ao Planalto, descreveram em seus discursos um País que vai do desastre “neoliberal” ao fracasso “petista”. Da tribuna do Senado, Aécio desfiou 13 argumentos destinados a desqualificar a gestão do PT. “Os pilares da economia estão em rápida deterioração, colocando em risco avanços que o País levou anos para implementar, como a estabilidade da moeda. A grande verdade é que, nestes dez anos, o PT exaure a herança de FHC”, disse o tucano. Horas depois, em evento do PT na capital paulista, Dilma respondeu dizendo ouvir na oposição “ecos dissonantes, com timbres de atraso”. Na mesma linha adotada pelo oponente, tentou desmontar a tese de que o governo tucano construiu as bases econômicas que permitiram os avanços sociais alcançados na gestão do PT. “Nós não herdamos nada. Nós construímos”, devolveu Dilma.
DILMA-02-IE-2258.jpg
MIRANDO A PRESIDÊNCIA
Da tribuna do Senado, Aécio Neves tentou resgatar as conquistas do governo FHC
Desde 1967, quando o intelectual francês Guy Debord (1931-1994) criou a expressão “Sociedade do Espetáculo” é recorrente entre os cientistas sociais a analogia da política com o teatro. Para Debord, em tempos dominados pela imagem, o indivíduo passa a ser e a viver alienado em um mundo no qual a ficção se mistura à realidade, e vice-versa. Sem recortes, a política é assim. Uma realidade em que os eleitores surgem como meros espectadores de cenas muitas vezes fictícias protagonizadas por políticos. Na quarta-feira 20, PT e PSDB deram corpo à teoria do filósofo francês. Nesse embate, o PT, em cartilha batizada “O decênio que mudou o Brasil” produzida pela Fundação Perseu Abramo, classificou a década em que o partido esteve à frente do governo federal, 2003 a 2013, como indutora do crescimento e geração de empregos e minimizou as realizações do governo tucano, 1995-2002. Já o PSDB afirmou que a administração FHC ergueu os pilares que possibilitaram o País desenvolver e acusou o PT de destruir o seu legado. A realidade é distinta. Nos últimos 18 anos sob a gestão de PSDB e PT, o Brasil avançou. As bem-sucedidas políticas dos dois períodos transformaram a vida de milhões de brasileiros. Fernando Henrique herdou um quadro econômico deteriorado. Inflação desenfreada, desconfiança internacional, empregos em declínio, investimentos minguados, mas consolidou no País uma moeda forte, que permitiu que os brasileiros controlassem suas despesas e planejassem o futuro. A estabilidade econômica estabeleceu os alicerces fundamentais para sustentar o crescimento e os avanços sociais da era Lula e Dilma. Sob o PT, o Brasil acumulou 18,5 milhões de novos postos formais de trabalho, a renda média dos trabalhadores aumentou em 20,8%, o salário mínimo cresceu 70,7%, acompanhado da queda da desigualdade de renda em 11,4% e a pobreza absoluta em 37,3%. Mas, alheios à realidade dos fatos, os adversários na corrida presidencial para 2014, da maneira mais conveniente para cada um deles, preferiram avocar para si a paternidade das políticas públicas e econômicas que nortearam os progressos do Brasil nas últimas décadas. Para analistas, porém, os projetos de PSDB e PT se complementam. O professor de economia da PUC-Rio, José Márcio Camargo considera “uma bobagem” contrapor um modelo de política neoliberal a um modelo desenvolvimentista. “No fim dos anos 80, o Brasil era desorganizado, com inflação de mais de 1.000% ao ano e extremamente fechado. A revolução começou em 1990 e foi até 2006. Até meados da década passada, os governos eram muito parecidos. O resto é retórica política”, diz Camargo. Ernesto Lozardo, professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, também reconhece que os feitos de PSDB e PT devem ser analisados em conjunto. “A economia mundial cresceu muito nos anos Lula e, com a economia arrumada, seu governo se beneficiou disso. Em dez anos, o PT tirou 36 milhões de pessoas da miséria e as inseriu na economia. É como tirar da miséria uma Espanha inteira”, afirma Lozardo.
1.jpg
Em meio ao debate comparativo com o PSDB, PT e partidos da base aliada deram início ao enfrentamento direto com a oposição e lançaram a campanha de reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Coube ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ditar o tom das comemorações ao criticar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidenciável tucano, senador mineiro Aécio Neves. Em uma fala repleta de ironias, o ex-presidente Lula mandou um recado à oposição ao declarar que os adversários “podem juntar quem quiser” que não irão derrotar Dilma nas eleições presidenciais de 2014. “Eu não vou responder a eles. A resposta que o PT deve dar a eles é que podem se preparar e juntar quem eles quiserem, vamos dar como resposta a reeleição da Dilma em 2014. É essa a consagração da política do Partido dos Trabalhadores”, afirmou Lula. Da próxima quinta-feira 28 até o mês de maio, Lula percorrerá uma dezena de cidades inaugurando uma série de seminários em que o PT tornará a exaltar seus dez anos à frente do governo. Algumas viagens serão realizadas ao lado de Dilma Rousseff, com o intuito de turbinar a sua pré-candidatura à reeleição. Enquanto não combina sua agenda com a de Lula, Dilma fará um périplo pelo Nordeste. Na terça-feira 26, estará ao lado do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, na inauguração de uma barragem no Ceará. Em seguida, em data ainda a ser confirmada, os dois também irão à Paraíba. Do lado tucano, Aécio participará na segunda-feira 25, em Belo Horizonte, da abertura de seminário do PSDB ao lado de Fernando Henrique Cardoso. Em março, acompanhará em uma palestra o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB). Os eventos têm o objetivo de manter o senador na mídia até a convenção nacional do PSDB marcada para 18 de maio. O giro pelo País de Aécio, no entanto, só será intensificado no início de junho, depois da exibição das inserções do PSDB na tevê.
2.jpg 
3.jpg
Enquanto PT e PSDB se digladiam, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, outro nome com pretensões eleitorais para 2014, corre por fora. Na quinta-feira 21, um dia depois da antecipação do debate eleitoral por tucanos e petistas, Campos pediu que não se “eleitorize” tanto a política brasileira e sugeriu que não se mantenham as “velhas rinhas”, numa referência ao antagonismo PT x PSDB. Disse ainda que o Brasil precisa de “um novo debate”. As declarações foram dadas durante cerimônia com 184 prefeitos pernambucanos, no seminário “Juntos por Pernambuco”, no município de Gravatá, a 80 quilômetros da capital do Estado. Apesar de seu discurso, no entanto, o evento acabou ganhando ares de pré-candidatura. Durante seu pronunciamento, Campos foi interrompido seis vezes por aplausos e aclamado aos gritos de “presidente”.
Foto: Marcos Alves/Ag. O Globo; Adriano Machado
FOTO: CELSO JUNIOR/AE; Marco Ankosqui; Adriano Machado

Porto Seguro completa 3 meses e desfecho ainda é incerto

Investigações nos órgãos federais seguem lentas e Justiça ainda estuda se aceitará a denúncia. Já o ex-presidente Lula mantém silêncio sobre Rosemary

Marcela Mattos, de Brasília
Rosemary Nóvoa de Noronha: ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo
Rosemary Nóvoa de Noronha: ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo (Jorge Araujo/Folhapress )
Responsável por derrubar funcionários graúdos do governo federal, a Operação Porto Seguro da Polícia Federal completou três meses, mas seus resultados permanecem incertos. O caso veio à tona em 23 de novembro, após a PF desmontar um minucioso esquema de fraudes em pareceres técnicos em diversos órgãos federais. A ação criminosa era articulada no coração do governo: encontrava facilidades no gabinete da Presidência da República em São Paulo. Ao todo, seis pessoas foram presas e 24 afastadas. Desde então, pouca coisa avançou: todos os envolvidos estão soltos, a Justiça ainda estuda se receberá a denúncia do Ministério Público Federal e os órgãos federais prosseguem em lenta apuração do envolvimento de servidores. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fala sobre o caso.

Atualmente, a Controladoria-Geral da União (CGU) monitora sindicâncias e procedimentos administrativos disciplinares (PADs) para investigar desde uma secretária até o comandante da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). São eles: Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo; Paulo Vieira, ex-diretor de Hidrologia da Agência Nacional das Águas (ANA); Rubens Vieira, ex-diretor da Anac. A apuração ainda envolve a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), ligada ao Ministério do Planejamento, o Ministério da Educação (MEC), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e a Secretaria de Aviação Civil. Os relatórios das auditorias sobre a ANA, a Antaq e o Ibama foram encaminhados nesta semana aos órgãos, que terão dez dias para se manifestar.
Os 24 investigados foram denunciados pelo Ministério Público Federal em São Paulo em meados de dezembro. Os crimes mais comuns são corrupção ativa e passiva e formação de quadrilha. A Justiça Federal do estado determinou a notificação aos acusados no dia 8 de janeiro, mas a etapa ainda não foi concluída. Como alguns envolvidos não estão em São Paulo, o documento tem de passar por outra comarca, o que torna o processo demorado. Após a autuação, os envolvidos terão 15 dias para apresentar defesa prévia - ninguém se manifestou até agora. Ao fim do prazo, a juíza do caso fará a apreciação sobre o recebimento ou não da denúncia do Ministério Público.
As investigações seguem também na Advocacia-Geral da União (AGU). Após enviar em 22 de janeiro à CGU um relatório formado por 256 páginas e de caráter sigiloso, o órgão abriu em 8 de fevereiro três processos administrativos contra os servidores José Weber Holanda, Glauco Moreira e Jefferson Carús Guedes. O prazo para encerrar as apurações é de 60 dias. No entanto, “de acordo com a complexidade do caso e das diligências necessárias”, o órgão afirma que pode demandar “muito mais tempo”.
Autor da acusação criminal, o Ministério Público, retomou, no início do ano, a investigação sobre o crime de improbidade administrativa. Caso seja aceita, os funcionários públicos serão demitidos e poderão ter de pagar multa.
 O caso – Sobre o ex-diretor da ANA, Paulo Vieira, recai a acusação de ser o comandante do esquema de falsificação de laudos em órgãos federais. De acordo com o Ministério Público, o “trabalho de intermediação dos interesses particulares de grandes empresários” era a principal atividade e meio de vida de Vieira. A ação dele tinha respaldo da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha. Peça central da quadrilha, a ex-secretária e amiga íntima do ex-presidente Lula teve a influência classificada pelo Ministério Público como “constante e importante nas atividades ilícitas do grupo”.
Inicialmente, Paulo Vieira chegou a anunciar que iria contar detalhes do esquema e denunciar outros envolvidos em troca da delação premiada. Agora, fala em inocência. “Ele não tem o que falar. Foi puro transtorno emocional”, afirma o advogado Leônidas Scholz, ao reforçar que não apresentará defesa prévia por falta de provas na denúncia do Ministério Público. “A denúncia não imputa um único ato de corrupção ativa, não há o recebimento de um centavo. Isso é só um começo e uma parte de uma longa defesa que vamos apresentar”, diz Scholz. Apesar de estar com a estratégia traçada, ele acredita que o processo, por envolver muitos réus, será “demorado e cumprido”.
Diferentemente de Paulo Vieira, a ex-chefe de gabinete pouco disse sobre o caso. Para isso, contou com a ajuda da base do governo no Congresso, que blindou as tentativas de convocação na Câmara e no Senado. Em nota divulgada logo após a deflagração do Porto Seguro, Rose limitou-se a dizer que “nunca fez nada ilegal, imoral ou irregular”. O advogado dela afirma que o silêncio vai continuar: “Ela não vai falar, não tem o que falar”, afirma Celso Vilardi. Apesar de não ter recebido notificação da Justiça, Rose tem obrigações a cumprir: precisa comparecer em juízo a cada 15 dia, não pode exercer atividade pública nem viajar para fora do país. As mesmas restrições servem para os irmãos Paulo, Rubens e Marcelo Vieira.

Papéis do WikiLeaks expõem ação política do Vaticano na América Latina

Cerca de 130 telegramas mostram que pontificado de Bento XVI agiu nos bastidores para influenciar região, incluindo articulação com EUA para que avião que traria papa ao País em 2007 fizesse escala forçada em Caracas para pressionar Chá

Jamil Chade - O Estado de S. Paulo
GENEBRA - O regime cubano, a "ameaça" de Hugo Chávez, a crise em Honduras ou mesmo os acordos comerciais do Brasil. O Vaticano sob o pontificado de Bento XVI, longe de ter uma postura de mero espectador, adotou iniciativas políticas nos bastidores para influenciar a situação na América Latina nos últimos anos e defender seus interesses.
É o que revelam mais de 130 telegramas vazados pelo site WikiLeaks, e obtidos com exclusividade pelo Estado, apontando para as entranhas das relações políticas do Vaticano desde 2005 na região latino-americana, que representa mais de 40% de seus fiéis no mundo.
Tentando ter um papel político central no continente, a Santa Sé tratou de algumas das crises no hemisfério com o presidente dos EUA, Barack Obama. Documentos revelam que o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, fez propostas concretas para o governo americano sobre a situação em Honduras quando se reuniu, em 10 de julho de 2009, com o presidente Obama.
Num telegrama de 15 de julho de 2009, a embaixada americana na Santa Sé relata um encontro de diplomatas americanos com monsenhor Francisco Forjan em que o Vaticano rejeita chamar a retirada de Manuel Zelaya da presidência como um "golpe de Estado". A Igreja pedia ao governo americano que insistisse com seus parceiros para que explicassem ao público as "ações anticonstitucionais de Zelaya que precipitaram a crise". O líder da Igreja nesse assunto era o cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa e hoje considerado como um dos potenciais candidatos a papa.
Um dos temas mais constantes nas reuniões entre diplomatas americanos e cardeais do Vaticano é a situação de Cuba. Um telegrama de 19 de agosto de 2009 revela que uma viagem de cardeais e bispos americanos a Cuba naquele ano não era apenas uma visita episcopal. A meta era também a de pressionar o governo de Havana em relação aos prisioneiros políticos, um pedido de Washington.
O telegrama escrito pela representação americana em Cuba conta que o cardeal de Boston, Sean O’Malley, um dos que estarão no conclave, reuniu-se com o presidente da Assembleia Nacional de Cuba, Ricardo Alarcón. O documento revela que os cardeais e bispos relataram ponto a ponto ao governo americano como havia sido a conversa com Alarcón. "Apreciamos o fato de a delegação (de religiosos) ter levantado os problemas de prisioneiros políticos", indicou o telegrama.
No dia 15 de janeiro de 2010, o Vaticano fez uma sugestão concreta ao governo americano para enfraquecer o regime cubano: baratear os custos de ligações entre Cuba e os EUA. A proposta foi apresentada por monsenhor Nicolas Thevenin, conselheiro político de Bertone. "Isso poderia ter um impacto positivo na promoção de uma mudança política", indicou.
A Venezuela de Hugo Chávez é apresentada pela Santa Sé como a grande preocupação na região. Para Accattino, um endurecimento da posição dos EUA diante de Cuba poderia acabar ajudando Chávez, "o novo sucesso de Fidel Castro na América Latina". "A diferença é que ele tem os recursos do petróleo", alertou. O Vaticano, em diversas conversas com diplomatas americanos, deixou claro que Caracas vinha pressionando a Igreja e transformado a Santa Sé em um de seus alvos de crítica.
Pressão contra Chávez. Três anos antes, no dia 1.º de fevereiro de 2007, o embaixador americano em Caracas, William Brownfield, e o cardeal Jorge Urosa Savino se reuniram na casa do núncio apostólico na capital venezuelana para discutir a possibilidade de que o papa Bento XVI usasse sua viagem que faria naquele ano ao Brasil para pressionar Chávez. Uma viagem oficial a Caracas estaria descartada pelo Vaticano. "Chávez não o convidaria", disse o cardeal.
Os dois passaram a debater a possibilidade de que o avião que traria o papa de Roma a São Paulo, em maio, fizesse uma parada de 45 minutos em Caracas, com a justificativa de reabastecer. Nesse período, o papa receberia bispos e faria uma declaração. "O cardeal concordou que qualquer parada teria uma importância simbólica", indicou o telegrama, apontando para a reação positiva de Savino. A escala acabou não ocorrendo.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Estupidez organizada

Morte de adolescente por sinalizador disparado por torcedores na Bolívia é a prova de que não basta haver regras no futebol, é preciso cumpri-las e punir quem desobedece a elas

Rodrigo Cardoso
chamada.jpg
No meio da massa que dá o tom de espetáculo aos estádios de futebol existe um bando de pessoas – talvez vestindo as mesmas cores que você – armado. O artefato da moda, usado por esses grupos para manifestar a paixão pelo time, são os sinalizadores. O problema é que eles matam. Foi uma arma desse calibre, um cilindro plástico de 20 centímetros de comprimento por 2,5 centímetros de diâmetro utilizado geralmente pelas Forças Armadas, que matou o adolescente boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada, na quarta-feira 20. Aos 14 anos, ele assistia ao jogo válido pela Copa Libertadores da América no estádio Jesús Bermúdez, em Oruro, entre o San José e o Corinthians, atual campeão do torneio, quando foi alvejado no olho direito por um projétil, que penetrou em seu crânio, provocou perda de massa encefálica e o matou na hora.
TORCIDA-06-IE.jpg
O disparo partiu de integrantes da torcida do time brasileiro, de acordo com as autoridades locais. O Corinthians já foi punido. O Tribunal de Disciplina da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) definiu que o time jogará toda a edição 2013 da Libertadores com os portões fechados e não poderá contar com seus torcedores nem nas partidas em que atuará como visitante. Doze corintianos estão detidos na Bolívia. Com eles, foram recolhidos nove objetos semelhantes ao que matou o adolescente. Pior: o modelo dos sinalizadores apreendidos, segundo os policiais bolivianos, não é vendido naquele país, o que leva a crer que os “torcedores” atravessaram a fronteira com a arma escondida. Mas o que leva alguém a ir para um estádio armado com um sinalizador naval? E o que fazem as autoridades responsáveis que, descumprindo as regras do futebol, permitem a entrada de fogos de artifício e sinalizadores nos palcos dos jogos? “Eles chegam em grupos simulando ambiente de festa, pulando, gritando, para ultrapassar barreiras da polícia”, diz o sociólogo Maurício Murad, do mestrado da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), um estudioso do comportamento de torcidas organizadas.
TORCIDAS-2-IE.jpg
A VÍTIMA E OS ALGOZES
Doze corintianos estão presos na Bolívia e com eles foram recolhidos nove sinalizadores.
Acima, Kevin Douglas Beltrán Espada, 14 anos, morto enquanto assistia ao jogo do seu time
Regras existem. O código de disciplina da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), entidade organizadora do torneio, prevê punição, em seu artigo 11, para clubes cujos torcedores manifestem comportamentos inadequados, como invasão de campo, objetos atirados no gramado, uso de sinalizadores, fogos de artifício ou qualquer outro objeto pirotécnico. Tanto que o Corinthians já foi punido. Como, então, a revista feita pelos policiais na porta do campo não recolheu o objeto? O trabalho policial, seja no Brasil, seja em qualquer outro país, tem de ser sério para banir essas armas com potencial letal. O sinalizador é um artefato cujo projétil atinge longas distâncias. Dentro de um estádio de futebol, em meio a uma multidão, se torna ainda mais perigoso. Mesmo que o torcedor brasileiro não tivesse a intenção de atingir o boliviano, não se pode dar margem para que esse tipo de objeto seja manipulado por torcidas organizadas, que, muitas vezes, enxergam o adversário como inimigo mortal.
IEpag64e65_torcidas-1.jpg
Fonte: Maurício Murad, sociólogo do mestrado da Universidade
Salgado de Oliveira (Universo), pesquisador de torcidas organizadas
No Brasil, onde os objetos pirotécnicos passaram a ocupar as arquibancadas em meados dos anos 1990, o Estatuto do Torcedor proíbe o porte ou a utilização de fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos. Mesmo assim, é comum assistir ao “espetáculo” de luzes produzido por esses objetos nos jogos. Deve-se considerar uma particularidade desses infratores travestidos de torcedores de futebol: eles se valem do fato de estarem na multidão para delinquir e agem na invisibilidade da massa. Só que, com as dezenas de câmeras que captam as imagens dentro de um campo de futebol, é possível identificar e punir quem burla a norma. “Aqui não se faz isso. E deveria ser feito”, afirma o procurador de Justiça Fernando Capez, hoje deputado estadual paulista, que combateu a violência das torcidas organizadas.
TORCIDAS-4-IE.jpg
NO MEIO DA MASSA
A torcida em ação, na quarta-feira 20. No detalhe,
o momento em que o artefato foi disparado
No ano passado, na Argentina, onde também são proibidos sinalizadores, rojões e fogos nos estádios, três corintianos ludibriaram a segurança e entraram no estádio La Bombonera, na primeira partida da final da Libertadores entre Corinthians e Boca Juniors, com 50 pacotes de artefatos. Durante o jogo, porém, as câmeras captaram a luz suspeita e torcedores foram identificados pelos policiais. Encaminhados para a delegacia, eles se comprometeram a doar fraldas a um hospital e foram proibidos de frequentar partida de futebol em território argentino durante um ano. Por aqui, as autoridades têm insistido para que as organizadas denunciem o integrante que cometa algum ato de vandalismo, sob o risco de a torcida toda ser responsabilizada. Essa estratégia deu resultado no confronto entre Santos e São Paulo, no começo deste mês, quando um rojão foi lançado de um dos ônibus de torcedores do time da Baixada Santista e estourou ao lado de um dos policiais que faziam a escolta do veículo. De imediato, o ônibus foi parado para que, naquele momento, o autor se apresentasse. Do contrário a torcida inteira seria levada para a delegacia e correria o risco de sofrer uma eventual suspensão. É preciso tolerância zero com as torcidas organizadas nos estádios para que o futebol volte a ser um evento de diversão e não uma ameaça aos espectadores.
IEpag64e65_torcidas-2.jpg
Fotos: EFE/STRINGER; Juan Karita/ AP Photo

Gil Rugai é condenado a 33 anos e nove meses de prisão

Jurados consideraram ex-estudante de Teologia culpado da acusação de assassinato do pai e da madrasta em 2004. Ele poderá recorrer em liberdade

Luciano Bottini Filho
Gil Rugai afirma ser inocente e que “as provas não dizem nada”
Gil Rugai afirma ser inocente e que “as provas não dizem nada” - Leonardo Soares/Folhapress
Após quase nove anos, o tribunal do júri condenou nesta sexta-feira o ex-estudante de Teologia Gil Rugai, de 29 anos, a 33 anos e nove meses de prisão pelo assassinato do pai, Luís Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra Troitino, em março de 2004. De acordo com a sentença lida pelo juiz Adilson Simoni, a pena será cumprida em regime fechado, mas Gil Rugai poderá recorrer em liberdade.
O júri aceitou a tese da acusação, sustentada pelo promotor Rogério Zagallo, de que o réu cometeu duplo homicídio qualificado - por motivo torpe - após ter sido flagrado em um esquema de desvio de dinheiro da Referência Filmes, produtora do pai. Segundo o Ministério Público, Gil Rugai entrou na residência do casal, no bairro de Perdizes, na Zona Oeste de São Paulo, e disparou cinco tiros na madrasta e quatro no pai, pelas costas.

"Saiu a condenação justa e adequada", afirmou Zagallo, acompanhado de Rodolfo Chiarelli, delegado que conduziu as investigações do caso.

Na sentença, o juiz afirmou que Gil Rugai manteve socialmente a "aparência de bom moço" e demonstra "personalidade intensamente dissimulada". Por isso, concluiu: é uma pessoa "extremamente perigosa".
Nos cinco dias de julgamento, foram ouvidas quinze testemunhas – cinco pela acusação, sete pela defesa e três pelo próprio magistrado. Duas testemunhas foram dispensadas pela defesa.

Rugai alegou inocência e disse estar em outro local na noite do crime. O julgamento foi marcado por declarações da defesa de que haveria outras linhas de investigação para o homicídio, como o envolvimento do casal com o tráfico de drogas e um ex-funcionário da Referência que, como Rugai, também tinha a chave da porta dos fundos da casa. Porém, os advogados não conseguiram comprovar as teses diante dos jurados.
Durante as investigações, a polícia reuniu provas que poderiam induzir os jurados de que Rugai tinha um comportamento estranho – suásticas, seringas com sangue e um depoimento sobre uma suposta “mala de fuga” com uma pistola, roupas, canivete, facas, dinheiro e LSD. O promotor o acusou, diante dos jurados, de ter uma personalidade "borderline" (limítrofe) entre a de um psicopata e a de uma pessoa normal.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Revelações, escândalos e denúncias de chantagem ofuscam o Conclave

Imprensa italiana diz que Papa renunciou após receber relatório sobre lutas internas por poder e dinheiro

AFP
conclave1.jpg
Uma série de revelações sobre uma trama de corrupção, sexo e tráfico de influência no Vaticano, lançadas nesta semana pela imprensa italiana, ofuscam o Conclave para a eleição de um novo Papa após a histórica renúncia de Bento XVI.

As escandalosas denúncias, publicadas por dois importantes meios de comunicação da Itália, o jornal La Repubblica e a revista Panorama, afirmam que o Papa decidiu renunciar ao cargo depois de receber um relatório ultrassecreto de 300 páginas, produzido por três cardeais idosos de confiança.

No relatório são descritas as lutas internas pelo poder e pelo dinheiro, assim como o sistema de chantagens internas baseadas em fraquezas sexuais, o chamado "lobby gay" do Vaticano.

"Fantasias, invenções, opiniões", afirmou na quinta-feira o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, depois de advertir que não comentará os artigos e que os cardeais envolvidos não aceitarão conceder entrevistas.

Sob o título "Não fornicarás, nem roubarás, os mandamentos violados no relatório que sacudiu o Papa", o jornal romano sustenta que o cardeal espanhol Julián Herranz, do Opus Dei, que presidiu a investigação cardinalícia, relatou no dia 9 de outubro ao Papa os "assuntos mais escabrosos" do relatório, em particular a existência de uma "rede transversal unida pela orientação sexual".

"Pela primeira vez, a palavra homossexualidade foi pronunciada no apartamento papal", afirma o jornal.

O La Repubblica afirma que durante oito meses os cardeais interrogaram diversos cardeais, bispos e laicos, dividindo-os por congregação e nacionalidade, e estabeleceram que existem vários grupos de pressão dentro do Vaticano, entre eles um sujeito a chantagem, a "impropriam influenciam" por sua homossexualidade.

Outro grupo se especializa em montar e desmontar carreiras dentro da hierarquia vaticana e outro aproveita para utilizar recursos multimilionários para seus próprios interesses à sombra da cúpula de São Pedro através do banco do Vaticano, de acordo com a publicação, que descreve nesta sexta-feira "a guerra pelo dinheiro no Banco de Deus".

Em seu relatório especial, a revista Panorama, em um artigo assinado por Ignazio Ingrado, sustenta que o documento cardinalício será determinante para a eleição do sucessor de Bento XVI.

Para as duas publicações, o Papa, que foi informado em várias ocasiões sobre o resultado da investigação dos três cardeais, se convenceu de que um sucessor mais jovem, forte e enérgico era o melhor indicado para fazer a limpeza na milenar instituição, e por isso decidiu deixar o Trono de Pedro no dia 28 de fevereiro.

"Este assunto cresceu enormemente. Asseguro como presidente desta comissão que foi criada uma bolha na Cúria que explodiu sozinha", afirmou o cardeal Herranz ao jornal espanhol El País.

Na entrevista, publicada em 18 de fevereiro, o cardeal afirma que "querer ver ninhos de cobras, máfias que lutam entre si, ódios internos, tudo isso é absolutamente falso".

Embora reconheça que existem "ovelhas negras", como em todas as famílias, o governo da Igreja é "o menos corrupto e o mais transparente que existe", disse.

Faltando pouco menos de uma semana para que Bento XVI formalize sua renúncia ao pontificado "por falta de forças", uma decisão inédita, vêm à tona todos os escândalos e anomalias que atingiram seus quase oito anos de pontificado.

"Que se coloque fim a uma gestão do poder baseada em cartas anônimas e vícios infames", pediu o jornalista católico Dino Boffo, vítima há dois anos de uma série de rumores sobre sua sexualidade que lhe custaram a direção da revista católica Avvenire.

Antes do Conclave, que será realizado em meados de março, uma associação católica americana, Catholics United, lançou uma petição para impedir que o cardeal americano Roger Mahony viaje a Roma para participar da eleição do futuro Papa.

Acusado de ter acobertado casos de pedofilia supostamente cometidos por uma centena de religiosos, o caso do cardeal americano se soma aos demais escândalos que Joseph Ratzinger deixa como herança ao seu sucessor.

Oscar Pistorius ganha direito de ficar livre até o julgamento

Pedido de fiança foi aceito por juiz - que não acredita na possibilidade de fuga

Reeva Steenkamp e Oscar Pistorius
Oscar Pistorius e Reeva Steenkamp em cerimônia em Johannesburgo, na África do Sul, em 2012 - AFP
O advogado de defesa usou a deficiência física de seu cliente, que tem as duas pernas amputadas e corre com duas prótese de carbono, para reforçar a tese de que Pistorius não tentaria escapar
O juiz responsável pelo caso do atleta paralímpico sul-africano Oscar Pistorius, acusado de assassinar a namorada, a modelo Reeva Steenkamp, na semana passada, autorizou nesta sexta-feira que ele aguarde o julgamento em liberdade. O pedido de fiança tinha sido pedido pela defesa de Pistorius com base no fato de que o corredor é muito conhecido e, portanto, não seria capaz de fugir do país. O magistrado, Desmond Nair, aceitou os argumentos do advogado do atleta, Barry Roux, e rejeitou a tese da promotoria, que teme que Pistorius escape antes de responder pela morte da namorada. O promotor Gerrie Nel afirmava que a fama de Pistorius, ao invés de atrapalhar, pode até ajudar numa possível fuga, já que ele tem muitos contatos em diferentes partes do mundo - o atleta costuma passar alguns meses do ano numa casa na Itália, por exemplo.
"Ele pode ficar hospedado em qualquer lugar", reclamou o chefe da acusação. O advogado de defesa usou a deficiência física de seu cliente, que tem as duas pernas amputadas e corre com duas prótese de carbono, para reforçar a tese de que Pistorius não tentaria escapar. "As próteses das pernas exigem atenção constante e Pistorius precisa de ajuda médica também por causa de um problema no estômago". "Se ele vive bem na África do Sul com as próteses, pode viver bem com elas em qualquer lugar", rebateu Nel. A Promotoria insiste em sua versão de que Pistorius é culpado de "assassinato premeditado", enquanto a defesa sustenta que o velocista atirou na namorada através da porta fechada do banheiro pensando que fosse um ladrão. A audiência para decidir se ele teria direito a liberdade mediante pagamento de fiança se estendeu por cinco dias. Não há previsão sobre a data do julgamento.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Tomada de Monte Castelo – 21 de Fevereiro de 1945

Na manhã, ensolarada da Vila Militar, o Regimento Sampaio comemorou
67 anos da conquista de Monte Castelo, em 21 fev 1945, reunindo alguns dos últimos veteranos da Força Expedicionária Brasileira que seguiram para a Itália incorporados à unidade.
O cume da montanha foi atingido após 4 ataques repelidos pelos nazistas, entre os quais veteranos de Stalingrado. Os alemães detinham a vantagem da altura, entricheirados no alto da montanha coberta de neve.
Presentes ex-combatentes daquela época, entre eles o mais antigo, General Ruy Leal Campello, 94 anos, que recordou os seus antigos companheiros, os irmãos Tenentes Moyses e José Alberto Chahon, já falecidos e que com ele participaram das lutas em Monte Castelo, integrando as fileiras do Regimento, que leva o nome do Patrono da Arma de Infantaria, Brigadeiro Sampaio.
O Gen Campello é o atual detentor do Bastão de Comando da FEB, sucedendo o saudoso Marechal Levy Cardoso, falecido em 13 Maio 2009, aos 108 anos.
A solenidade aconteceu no Campo de Parada do Regimento Sampaio, sendo presidida pelo Cmt da 1ª. DE, Gen ABREU, ladeado pelo Ten Israel Rosenthal, Vice Presidente do Conselho Deliberatvo da ANVFEB, Gen Div Marcio Rosendo de Melo, Presidente da ANVFEB, Gen Ruy Leal Campello, e Cel Fernando Montenegro, Cmt do Regimento Sampaio.
Presentes ainda sete Oficiais Generais da Ativa, oficiais e convidados. Foi executada uma salva de 17 tiros por uma Bateria de Obuses 105 mm do 31 GAC – Grupo-Escola FEBiano, seguindo-se aposição de flores ao busto do Cmt da FEB, Marechal Mascarenhas de Moraes e o desfile de representações das Unidades FEBianas da Guarnição da Vila Militar.
Foi uma cerimonia singela e altamente significativa, pelo capital simbólico desta conquista, que representou um grande feito dos soldados de um pais sul-americano ainda rural, que soube fazer frente a agressão de uma das maiores potencias militares da época, enfrentando em inferioridade tecnológica dos então ultra-modernos U-Boats, e ainda realizando posteriormente um fantástico deslocamento de 25 mil homens através do oceano para lutar pela democracia na Itália, o que ainda hoje seria uma empreitada de vulto.
Na verdade, em 21 de fevereiro comemoramos algo mais que uma grande batalha vencida. A memória dos feitos das armas nacionais na 2ª. GM é uma das glórias da Cidadania Brasileira. Passado histórico de lutas a ser lembrado pelos  professores de escolas de todos os graus, escritores, jornalistas, formadores de opinião. Manifestação da garra e coragem do brasileiro, servindo de paradigma para a sociedade.      O BRASIL NA 2ª GUERRA MUNDIAL

A Campanha da FEB

    A campanha da FEB [Força Expedicionária Brasileira] durou sete meses e dezenove dias: de 16 de setembro de 1944, quando um batalhão do 6º Regimento de Infantaria iniciou a marcha na frente do rio Serchio (entre Pietrassanta e Luca), com a conseqüente conquista de Camaiore, até 2 de maio de 1945, dia em que a ordem de cessar fogo, vinda do comando do 4º Corpo do Exército norte-americano, deteve a marcha do 3º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria, na localidade de Verselli, no vale do Pó, nas proximidades de Novara.
    Nesses quase oito meses de guerra, a 1ª Divisão Expedicionária (FEB) lutou em duas frentes. A primeira, a do rio Serchio, durante o outono de 1944; a Segunda, muito mais ingrata, a do rio Reno (não confundir com o Reno alemão), ao norte de Pistóia, em plena cordilheira apenina. Aí, por mais de dois meses, os combatentes brasileiros atravessariam a fase mais cruel do inverno da montanha, com temperatura que, às vezes, chegava a 15ºC abaixo de zero, e sob a constante hostilidade do fogo inimigo.
    E daí, tendo como ponto de partida o Quartel-General avançado de Porreta-Terme, avançaria para a conquista dos seus maiores feitos: a vitória de Monte Castelo, a 21 de fevereiro de 1945; a de Montese, a 14 de abril de 1945; até o aprisionamento de toda a 148ª Divisão Alemã e remanescentes de uma Divisão de Infantaria italiana, bem como de forças blindadas do antigo "Afrika Korps", sucesso que teve lugar a 28 de abril de 1945, ou seja, no mesmo dia em que, quilômetros adiante, na região do lago de Como, Benedito Mussolini caia nas mãos dos "partigiani".
Os heróis brasileiros
    Nessa Guerra, a FEB perdeu 443 homens, entre soldados e oficiais; mais 8 aviadores do 1º Grupo de Caça da FAB, comandado pelo então coronel-aviador Nero Moura, que foram abatidos em combate no Norte da Itália e no Sul da Áustria; e mandou para os hospitais da retaguarda perto de 3.000 feridos. Por outro lado, fez 20.573 prisioneiros, inclusive dois generais: o general Otto Fretter Pico, comandante da 148ª Divisão de Infantaria alemã, e o general Mário Carloni, comandante do que restava da desbaratada Divisão de Bersaglieri Itália.
    Da conquista de Camaiori, na frente do rio Serchio, à rendição da 148ª Divisão de Infantaria alemã, em Collechio-Fornovo, a divisão brasileira não deixou de cumprir uma só das missões que lhe foram atribuídas pelo general Willys Dale Crittemberger, comandante do 4º Corpo de Exército norte-americano, ao qual a FEB estava incorporada. Mas nem sempre foi fácil, ou teve êxito imediato, a execução das missões recebidas do 4º Corpo do Exército norte-americano, ao qual a FEB estava incorporada, como foi o caso da conquista de Monte Castelo, só alcançada depois de quatro tentativas rechaçadas pelos alemães.
    Durante a maior parte do inverno apenino, os alemães dominaram as posições da FEB no cume do Monte Castelo, do monte de la Torraccia e de Soprassato, obrigando a tropa brasileira, que hibernava no vale do Reno, a encobrir seus movimentos sob a proteção do nevoeiro artificial produzido pela queima de óleo diesel.
    Entre 2 de julho de 1944, data da partida do 1º Escalão, e 8 de fevereiro de 1945, quando seguiu o 5º e último contingente, os navios-transporte norte-americanos "General Mann" e "General Meigs" desembarcaram na Itália, no porto de Nápoles, um total de 25.334 expedicionários brasileiros, entre oficiais e soldados. Era o efetivo de uma Divisão.
Dados estatísticos
    Dos oficiais superiores de nosso Corpo expedicionário, 98% pertenciam à ativa do Exército, como da ativa eram 97% de seus capitães. Em compensação, 49% dos subalternos da tropa pertenciam à reserva, isto é, eram civis convocados nas mais diferentes partes do Brasil para completar os quadros da Força Expedicionária Brasileira.
    No seu conjunto, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária compunha-se do 1º Regimento de Infantaria (Regimento Sampaio), sediado no Rio de Janeiro; do 6º Regimento de Infantaria, de Caçapava; do 11º Regimento de Infantaria, com sede em São João del Rei; de quatro Grupos de Artilharia; do 9º Batalhão de Engenharia de Aquidauana (Mato Grosso); de um Esquadrão de Reconhecimento (Cavalaria); do 1º Batalhão de Saúde, organizado em Valença, além das chamadas "tropas especiais" e de "corpos auxiliares", inclusive 67 enfermeiras.
    Na relação dos soldados tombados na Itália, o 1º Regimento de Infantaria (Sampaio) vem em primeiro lugar, com 152 mortos. O 11º Regimento de Infantaria (São João del Rei) perdeu 134 homens e o 6º Regimento de Infantaria (Caçapava) teve mortos 109 soldados.
As mortes, por Estado
    Todos os Estados brasileiros se achavam representados na FEB e, entre todos, São Paulo foi o que teve maior número de mortos: 92. Minas Gerais perdeu 80 homens; o Estado do Rio, 63.
    O então Distrito Federal chorou a morte de 50 cariocas; 29 paranaenses e 28 catarinenses ficaram no cemitério de Pistóia, ao lado de 21 gaúchos, 17 goianos, 13 pernambucanos, 12 capixabas. 11 baianos, 6 cearenses, 6 paraibanos, 6 riograndenses do norte, 6 sergipanos, 5 alagoanos, 4 paraenses, 2 piauienses, 1 acreano e 1 amazonense.
    Apenas um Estado, o Maranhão, foi mais feliz: não teve um só morto na campanha da Força Expedicionária Brasileira.
O campo de batalha
    No dispositivo militar aliado, atuando na frente italiana, onde operavam o 5º Exército norte-americano e o 8º Exército Britânico, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, ou Força Expedicionária Brasileira, estava incorporada ao 4º Corpo de Exército americano, o qual, por sua vez, além da Divisão brasileira, compunha-se de uma Divisão Blindada norte-americana, uma Divisão sul-africana e outra inglesa, e ainda da 10ª Divisão de Montanha norte-americana, que lutou junto aos brasileiros, em 1945, quando da tomada de Monte Castelo.
    A ação do 4º Corpo cobria uma frente de 80 quilômetros e, nessa frente, a FEB ficou responsável, a partir de novembro de 1944, quando se deslocou para o "front" apenino, por um setor de extensão de mais ou menos 10 quilômetros.
    Algumas vezes, no entanto, como quando da ofensiva de abril de 1945, a frente guarnecida pelos soldados brasileiros chegou a estender-se por 20 quilômetros, bastante ampla para a ação de uma Divisão. Na frente apenina, a FEB instalou o seu Quartel General avançado em Porreta-Terme, 30 quilômetros a norte de Pistoia.
    Porreta Terme, onde os brasileiros passaram a longa e, por vezes, asfixiante noite, que se estendeu de dezembro de 1944 a 22 de fevereiro de 1945, fica no vale do pequeno rio Reno italiano, emparedada entre as montanhas. Em seu tempo de paz, é uma agradável e requintada estação termal, cujas fontes sulfurosas são famosas em toda a Itália.
O inferno astral dos "pracinhas"
    Como acontece com toda unidade combatente, a história da FEB, na campanha da Itália, está repleta de datas, não apenas gloriosas, mas também amargas. Se alguém tivesse perguntado ao general Mascarenhas de Morais, comandante da Força Expedicionária Brasileira, qual foi, no seu entender, o dia mais negro da campanha na Itália, a sua resposta, certamente, teria sido esta: "12 de dezembro de 1944."
    Foi um momento profundamente triste para os soldados brasileiros, que naquele dia viram frustrada, pela terceira vez, a esperança de conquistar Monte Castelo antes do inverno.
    O general Mascarenhas, naquela mesma noite, no Quartel General do 4º Corpo do Exército, explicou ao general Crittemberg os motivos do insucesso dessa operação. E ainda, na madrugada daquele dia, no seu pequeno quarto do Quartel General, em Porreta-Terme, escreveria longa carta ao comandante do 4º Corpo, detalhando os motivos, já expostos verbalmente na noite anterior, pelos quais a FEB não vinha conseguindo desalojar do cume de Castelo a poderosa guarnição que lá se mantinha.
    Dizia ele, num trecho de sua carta, hoje arrolada entre os documentos capitais da história da FEB:
    "Antes de tudo, eu desejo apresentar a minha resposta na seguinte compreensão: a capacidade ofensiva de uma tropa repousa no aparelhamento dos meios, na sua instrução, num poderoso esforço adequado à frente de combate e na experiência de guerra. Os meios materiais da divisão estão, hoje, em situação normal. A sua instrução foi simplificada mediante a condição de que poderia completá-la em situações apropriadas de combate.
    "Recebeu, no vale do Reno, um grande setor defensivo, onde cerrou ativamente o contato com o inimigo. Logo em seguida, atacou por duas vezes, nas condições seguintes: posições organizadas; - terreno exclusivamente favorável ao inimigo (grandes alturas, em qualquer parte, na mão do inimigo); - em virtude da grande frente, não pôde, nas duas vezes, fazer uma concentração de esforços para uma ação ofensiva correspondente à missão recebida."
    E rematava, o comandante dos "pracinhas":
    "Não posso, portanto, dizer a V. Exa. Que a minha divisão não tem capacidade ofensiva."
Não basta ter, é preciso mostrar
    Mas era preciso eu a Divisão brasileira mostrasse a sua capacidade ofensiva, e aquele 12 de dezembro de 1944, arraigou ainda mais no marechal general Mascarenhas a convicção de que a conquista de Monte Castelo era uma questão de honra para os soldados do seu comando. Os alemães de Monte Castelo tinham de ser derrotados, de qualquer maneira, pelos "pracinhas", e somente por eles.
    Do alto de seus cumes, mais de uma divisão alemã tinha os olhos vigiando, dia e noite, os "pracinhas" acuados lá embaixo. Entre os altos montes dominadas pelos alemães, um se destacava pela sua posição estratégica: Monte Castelo. Não fosse ele tomado, e seria impossível às forças do 4º Corpo de Exército prosseguir a marcha sobre Bolonha, objetivo que o general Mark Clark, pretendia atingir, antes que começassem a cair as primeiras neves do inverno próximo.
    Vejamos, desde o princípio, a odisséia do Monte Castelo.
24.11.1944 – O primeiro assalto
    O general Mascarenhas instalou o seu Quartel General em Porreta-Terme no dia 6 de novembro de 1944. Três dias depois, os soldados brasileiros substituíam a 1ª Divisão Blindada norte-americana que, após meses de luta, retirava-se para o descanso da retaguarda.
    No dia 24, o Esquadrão de Reconhecimento e o 3º Batalhão do Regimento de Infantaria da FEB juntavam-se à Task Force 45, norte-americana, para a primeira ofensiva contra Monte Castelo.
    A princípio, a operação foi bem sucedida, chegando, mesmo, alguns elementos da Task Force, a alcançar o cume do Monte Castelo, depois de se apoderarem do Monte Belvedere, ao lado. Mas a contra-ofensiva da 232ª Divisão de Infantaria alemã, que defendia Castelo e o monte della Torracia, foi violenta, obrigando os soldados americanos e brasileiros a abandonar suas posições já conquistadas. Somente o monte Belvedere não foi devolvido.
    Os dias 24 e 25 de novembro de 1944, data da primeira tentativa de conquista do Castelo, assinalam o início da segunda fase da luta da FEB na Itália.
A perda do Belvedere
    Mas o segundo ataque a Monte Castelo, planejado para o dia 29, apenas quatro dias após o primeiro, não iria, também, ter êxito.
    Para esse segundo ataque, o comando da Divisão brasileira formou um grupamento constituído do 1º Batalhão do 1º Regimento de Infantaria; do 3º Batalhão do 6º Regimento, já provado na primeira investida; e do 3º Batalhão do 11º Regimento.
     O grupamento foi colocado sob o comando do general Zenóbio da Costa, comandante da Infantaria Divisionária, que contaria com a cobertura de dois grupos de artilharia brasileiros e, possivelmente, com um grupo de artilharia do 4º Corpo.
    Um lamentável imprevisto, entretanto, se verificaria, naquela noite do dia 28 de novembro, véspera do segundo ataque a Monte Castelo: em inesperado e fulminante contra-ataque, as tropas da 232ª Divisão de Infantaria alemã expulsaram os norte-americanos do Belvedere, tomado quatro dias antes, deixando, assim, descoberto o flanco esquerdo das forças brasileiras.
    O comando da FEB pensou em adiar o assalto para os dias seguintes, na esperança de que o Belvedere fosse reconquistado, mas isso seria desaconselhável, visto que as tropas já se achavam nas posições das quais iniciariam o ataque.
29.11.1944 – O segundo assalto
    Às 7 horas da manhã do dia 29 de novembro, tinha início a Segunda ofensiva brasileira contra o Monte Castelo. As condições de tempo não podiam ser piores: chuva, céu encoberto, o que dificultou e chegou a impedir a atuação da força aérea; havia também muita lama, o que praticamente anulava ou, pelo menos, reduzia ao mínimo a participação dos tanques e viaturas pesadas.
    Cerca de uma hora depois de Ter iniciado o ataque, as tropas brasileiras foram contidas pelos soldados alemães dos 1.043º, 1.044º e 1.045º Regimentos de Infantaria inimigos.
    Assim, no fim da tarde, os dois batalhões brasileiros voltaram às duas posições anteriores, sem que, durante toda a luta, devido às condições de tempo, tivessem podido intervir eficazmente os tanques e os aviões.
12.12.1944 – O terceiro assalto
    No dia 5 de dezembro de 1944, chegava ao Quartel General avançado da Divisão brasileira, em Porreta-Terme, a ordem do 4º Corpo americano, ao qual estávamos subordinados:
    "Cabe à Divisão de Infantaria Expedicionária capturar e manter a crista do monte della Torracia: Monte Belvedere." Significava dizer que Monte Castelo, situado no centro da linha Belvedere-Torracia, seria, mais uma vez, objetivo principal da próxima ofensiva brasileira, que teria início no dia 12.
    Às 6h30 do dia 12 de dezembro de 1944, tinha início o terceiro assalto dos expedicionários brasileiros a Monte Castelo. A luta não demorou mais de cinco horas.
    Contra a ofensiva dos brasileiros, voltaram a se conjurar os mesmos fatores negativos que haviam frustrado as tentativas anteriores: o céu fechado aos aviões, o frio intenso, a chuva persistente, o lamaçal escorregadio em que se transformara a terra-de-ninguém, entre Gaggio Montano e Castelo, impedindo a progressão dos tanques.
    Mesmo assim, as vanguardas brasileiras conseguiram chegar além da metade do caminho que levava a Monte Castelo. À esquerda, os "pracinhas" comquistaram Zolfo, a apenas 200 metros do cume e, ao centro, chegaram a Abetaia, onde foram detidos por cerrado fogo da artilharia alemã.
Uma vez mais, a derrota
    Ali, em Abetaia, antessala do Castelo, mais de 20 brasileiros tombariam, mortos, naquele 12 de dezembro, e seus cadáveres, enrijecidos e enegrecidos pelo frio, só seriam retirados no dia 22 de fevereiro, depois da conquista de Monte Castelo.
    Esse terceiro ataque a Castelo, mais uma vez rechaçado, provou que os planos táticos para a conquista da posição teriam de ser inteiramente modificados. Era evidente que Monte Castelo não poderia ser arrebatado aos alemães apenas com o concurso de algumas unidades da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE), mas sim com o empenho de toda a divisão brasileira na ofensiva.
    Isso se fazia mais presente agora, quando os alemães, alertados pela insistência do comando na conquista de Monte Castelo, perceberam que aquela era uma posição que não deveriam entregar. A prova disso é que, após o segundo ataque a Castelo, o inimigo tratou de reforçar suas tropas no cume e no lado norte do morro, substituindo os regimentos que o defendiam por unidades novas e descansadas, trazidas da retaguarda.
    Estabeleceu-se, então, entre brasileiros e alemães, uma determinação paralela: por parte dos brasileiros, a de que Castelo teria de ser conquistado de qualquer maneira; por parte dos alemães, a de que o monte não deveria ser abandonado em hipótese alguma.
    Tinham sido difíceis e cruentos os três primeiros ataques a Monte Castelo e, somente no dia 12 de dezembro, havia desfalcado os batalhões brasileiros em mais de 150 homens. O quarto ataque, e que seria o último, prometia ainda ser mais difícil e mais sangrento.
Pausa para a neve
    Enquanto isso, o inverno, que se apresentou como um dos mais rigorosos registrados nos últimos cinqüenta anos ma região apenina, começou a estender o seu lençol branco por toda a frente italiana.
    Na cordilheira, os termômetros baixaram subitamente dez, quinze, e até dezenove graus abaixo de zero. E a neve, que começara a cair antes de 24 de dezembro, já cobria todo o setor onde operavam os nossos soldados.
    Viram-se, assim, os combatentes brasileiros, diante de um outro inimigo igualmente impiedoso e, para eles, até então desconhecido. Como seria possível aos expedicionários brasileiros, gente dos trópicos, enfrentar o mar branco e gelado que os cercava e os fazia tiritar ?
    Foi, portanto, com alívio, e até mesmo com alegria, que a vanguarda da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE), estendida por quinze quilômetros, recebeu a notícia de que o comando do 5º Exército norte-americano havia voltado atrás na sua decisão de "chegar a Bolonha antes do Natal"; e que, por conseguinte, ficava suspensa a ofensiva geral planejada para os próximos dias.
    A frente italiana entrava em recesso, numa longa trégua branca. Até fevereiro, na frente apascentada pela neve, os transidos homens que a defendiam, limitaram sua guerra dos dois lados, a operações de patrulha e a uma modorrenta vigilância nas trincheiras, nos postos de observação e nos "fox-holes" avançados.
    Durante dois meses e dez dias, o compasso de espera impôs, na frente italiana, o ritmo de guerra, num intervalo que só seria interrompido no dia 19 de fevereiro de 1945, data estabelecida pelo comando do 5º Exército norte-americano para o começo da nova e derradeira ofensiva que levaria as tropas aliadas, e entre elas a FEB, para além do vale do Panaro, além do vale do Pó, até as fronteiras com a França.
O Plano Encore
    O plano chamava-se "Encore" [bis, repetição]. Nele seriam empregadas todas as forças do 4º Corpo do Exército e seu objetivo seria o de expulsar o inimigo do setor do Reno italiano, e persegui-lo, depois, através do vale do rio Panaro.
    No Plano Encore, a tarefa dos brasileiros seria, mais uma vez, a de desalojar os alemães de Monte Castelo. Agora, no entanto, a tática seria outra, exatamente aquela que o general Mascarenhas de Morais sempre defendera, ou seja, a que partia da premissa de que a poderosa posição alemã, situada no setor mais agressivo e mais íngreme do espinhaço apenino, só poderia ser comquistada se, no seu assalto, fosse empenhada toda a Divisão brasileira.
    E foi exatamente esse ponto de vista do comandante da FEB que se impôs na reunião prévia dos comandantes do 4º Corpo do Exército.
Chegou a hora de a onça beber água
No dia 20 de fevereiro de 1945, as tropas brasileiras se colocaram em posição de combate, com os três regimentos da Divisão prontos para convergir na direção de Monte Castelo.
    À esquerda dessas forças, a 10ª Divisão de Montanha norte-americana, experimentada tropa de elite. Devia apoderar-se do monte della Torracia, garantindo, assim, o flanco mais vulnerável do setor defendido pelos soldados brasileiros.
    A FEB, na sua totalidade, seria convocada para o último assalto a Castelo, mas coube aos três batalhões do 1º Regimento de Infantaria a missão de avançar sobre Castelo, dominá-lo, e, de lá, expulsar os integrantes da 232ª Divisão de Infantaria alemã.
    O ataque teve início na hora prevista: seis horas da manhã. E, às 17h50 da tarde daquele 21 de fevereiro de 1945, eu me encontrava no Posto de Comando do general Cordeiro de Faria, comandante da Artilharia Divisionária, quando escutei a voz do tenente-coronel, pelo rádio de campanha:
    "Estou no cume do Castelo."
Os "pracinhas" tomam posição
    Na véspera do dia 21 de fevereiro de 1945, eu havia pedido um jipe ao major Sousa Junior, encarregado dos correspondentes de guerra, para ir a Nápoles, esperar o 4º Escalão das Tropas brasileiras, que chegaria a 23. O major, então, me perguntou:
    "Você prefere esperar o Escalão ou uma coisa melhor?
    A "coisa melhor" era a ofensiva brasileira do dia 21 sobre o Monte Castelo. Manhã cedo, no Quartel General recuado, em Pistóia, fomos avisados de que nossa artilharia abriria cerrado fogo, naquela noite, conta posições inimigas nas montanhas que, há três meses, nos barravam o caminho.
    Tomamos um café apressado, enchemos os bolsos de chocolate e chicletes, e dirigimos nossos jipes, sob uma temperatura de 5ºC abaixo de zero, para o Quartel General avançado em Porreta-Terme, já nos Apeninos.
    Minutos depois, eu já tomava de assalto o Posto de Observação Avançado do general Cordeiro de Faria, que comandava a nossa Artilharia, e lá me instalei por todo o dia.
    Eram 8 horas da manhã quando o general me cedeu seu lugar diante da luneta binocular e me disse:
   "Começamos a atacar às 6 horas da manhã. As tropas em ofensiva constituem o 1º Regimento de Infantaria, o Sampaio. Os seus batalhões avançam na seguinte ordem: o 1º Batalhão, comandado pelo major Olívio Gondim de Uzeda, segue pela esquerda; o 2º Batalhão, comandado pelo major Siseno Sarmento, vai pelo centro; e o 3º Batalhão, comandado pelo tenente-coronel Emílio Rodrigues Franklin, partirá da direita.
    "Nossa intenção" prosseguiu "é envolver todo o morro e, em coordenação com a ofensiva americana que já conquistou Belvedere, e arrancá-lo das mãos nazistas até o fim da tarde de hoje."
Como num filme
    Vejo, com a ajuda da luneta, os nossos "pracinhas" agachados lá na frente, grupos aqui e ali rastejando em direção ao cume, de onde as terríveis metralhadoras alemãs (as "lurdinhas") atiram, imitando curtas e sinistras gargalhadas.
    Agora mesmo, um de nossos soldados encostou-se num pedaço de muro destruído e aponta sua Thompson para qualquer lugar, lá em cima. Os morteiros alemães rebentam nas faldas do sul, mas nossa artilharia reinicia seu canhoneio sistemático e certeiro, como fizera toda a noite. Escuto o silvo das granadas passando sobre nós, vejo-as explodirem lá adiante, numa coroa de fumaça que vai envolvendo o Castelo numa aura cinzenta.
    Uma de nossas baterias parece que perdeu a mira, e seus tiros caem muito aquém, quase num dos setores brasileiros. O general Cordeiro dá ordens secas e rápidas e, durante alguns minutos, seus ajudantes-de-ordens procuram. Servindo-se dos cinco telefones de campanha e dos dois rádios, localizar o canhão de má pontaria.
     Finalmente, o capitão Durval de Alvarenga Souto Maior, comandante da 1ª Bateria do 1º Grupo de Artilharia descobre que o canhão pertence à sua unidade. Dá uma ordem rápida pelo rádio e os tiros, agora, estão perfeitamente ajustados no eficiente conjunto de toda a artilharia.
    À esquerda, sobre posições americanas além do Belvedere, cinco ou seis aviões Thunderbolt descem em picada, rápido, e metralham impiedosamente, os nazistas, lá embaixo.
Ataque conjugado
    Quando cheguei ao Posto de Observação do general Cordeiro, pouco depois de iniciada a ofensiva, a situação era mais ou menos esta: os batalhões já haviam avançado, com exceção do 2º Batalhão, comandado pelo major Siseno, que partiria de Gaggio Montano às 11h35.
    Os alemães tentavam impedir a progressão dos brasileiros, insistindo num fogo concentrado de seus morteiros. Eu sabia que a conquista de Monte Castelo só seria consumada depois que os americanos, que haviam partido de Belvedere, tivessem se apoderado de Torraccia, um pico que, mais atrás, dominava todo o morro sobre o qual avançavam nossos homens.
    O ataque americano, que começara na noite anterior, estava sendo efetuado por uma Divisão especializada, a 10ª Divisão de Montanha, recentemente chegada àquele setor. Às 10 horas da manhã, os americanos se encontravam além de Menzacona, meio caminho entre Belvedere e Toraccia.
    Menzacona havia ficado em poder de um dos batalhões brasileiros, com o qual os americanos haviam feito ligação nos primeiros instantes da ofensiva. Então, o avanço combinado, no lado direito, tomou o seguinte aspecto: os brasileiros deixaram alguns homens em Menzacona e seguiram em direção a Castelo, pela esquerda, comandados pelo major Uzeda; os americanos deslocaram-se pela frente, avançando em direção a Toraccia.
Diário de Campanha
    Daí por diante, os acontecimentos se sucederam nesta ordem, conforme me diziam os quase indecifráveis apontamentos que fui tomando naquele momento, e que, vinte e cinco anos depois, volto a consultar:
    Ao meio-dia, o general Mark Clark, comandante-chefe aliado na frente italiana; o general Truscott, comandante do 5º Exército americano; o general Clittenberg, comandante do 4º Corpo do Exército americano, ao qual estava incorporada a FEB; e o comandante-chefe das Forças Aéreas do Mediterrâneo, estiveram em visita ao general Mascarenhas de Morais, no seu Posto de Observação, localizado a três quilômetros à direita do Posto de Observação do general Cordeiro.
    Às 12h30, o major Uzeda, que avançava pela esquerda, pedia proteção da Artilharia para alcançar um ponto à sua frente, e o general Cordeiro ordenou às baterias: "Cinco rajadas de morteiro sobre a cota 813."
    Às 23:55, um dos batalhões avisava que haviam sido avistados reforços alemães que começavam a chegar a Castelo. Do lado direito, o coronel Franklin fora detido com seu 3º Batalhão. O major Uzeda prevenia pelo rádio que iria tentar envolver Castelo pela esquerda.
     Às 14h20, o major Uzeda avisou que ia atacar a cota 920, penúltimo ponto antes da crista de Castelo. Pediu mais um tiro ao general Cordeiro, que logo transmitia novas ordens às baterias.
    O major Uzeda se encontrava precisamente a cinco quilômetros do Posto de Observação, tendo realizado, já, uma progressão de mais de dois quilômetros.
    O diálogo entre Alma 1, Alma 2 e Alma 3 (nome de código dos observadores junto aos batalhões) e Lata 1, Lata 2 e Lata 3 (oficiais de ligação nos batalhões), repete-se, de minuto a minuto.
    Às 15 horas, o major Uzeda já se encontrava firme em 930, mas seu avanço foi detido pelas metralhadoras alemãs. Seu objetivo final será a cota 977, ou seja, o cume do Castelo, onde tencionava chegar às 16h30.
    Então, ficou combinado que, às 16h20, quando seu batalhão iniciasse o definitivo arranco sobre a crista do Castelo, toda a artilharia divisionária concentraria seus fogos sobre as encostas e o cume do monte. Estávamos disparando com canhões 105, 155, e com morteiros.
     Às 15h05, o general Cordeiro virou-se para mim e me disse que, até aquele momento, calculava já  haver gasto "uns 8 milhões de cruzeiros de munição com seus disparos de artilharia." (Feita a correção monetária, quanto seria hoje?)
    Às 15h30, o major Uzeda informava pelo rádio: "Meus homens estão prontos para atacar." Olhei pelo binóculo que o coronel Miranda me emprestou por alguns minutos e vi, lá em cima, na cota 930, os soldados, em formação de ataque, esparsos pelos pequenos vales e depressões, ou deitados no resto da neve que o sol ainda não havia limpado.
    Entre 13h30 e 13h50, estabeleceu-se uma relativa calma: somente os morteiros alemães, os aviões de bombardeio que metralhavam as costas de Toraccia e um teco-teco brasileiro (que observava tranqüilo e solitário, como um pássaro sem pressa, as posições da artilharia inimiga) continuavam em ação.
O Posto de Observação
    O Posto de Observação do general Cordeiro situava-se numa elevação do terreno, e lá embaixo eu via todo o vale e, a menos de um quilômetro distante de nós, um dos grupos de nossa artilharia. Quando suas peças disparavam, toda a casa estremecia, e xícaras e copos tremiam na mesa, com um barulho cristalino.
    As pessoas que moravam ali, no velho chalé de paredes amarelas, haviam sido expulsas pela guerra e, ao que parece, não tiveram nem tempo para levar suas coisas. Os móveis estavam intactos, viam-se litografias nas paredes, um Cristo muito pálido, e fotografias de homens fardados e mulheres em trajes de inverno.
    Num dos cantos da sala, onde o general havia postado a sua luneta de grande alcance, descobri um "ricoordo nuziale" [certificado de casamento] numa moldura dourada, e nele lembrava-se que, no dia 11 de novembro de 1927, numa igreja de Bolonha, casaram-se Dino Bettochi e Caterina Cioni.
    Às 16h05, o coronel Franklin informou pelo rádio que seus homens ocuparam Fornelo, à direita de Castelo e próximo do seu cume. Tratava-se de um ponto de resistência do inimigo, ninho de metralhadoras, que acabava de ser dominado pelos nossos soldados. Fornelo foi um dos pontos em que foram barradas, em novembro e dezembro de 1944, os anteriores ataques brasileiros a Castelo.
Já se vão mais de dez horas de luta
    Não resta dúvida de que o ponto mais empolgante de toda a luta do dia 21 teve lugar às 16h20, quando toda a Artilharia Divisionária concentrou seus fogos sobre Castelo.
    Começava a anoitecer. Noite de inverno europeu chega cedo. Os obuses explodiam em chamas altas, e eu as via muito próximas, com o auxílio do binóculo.
    Negros buracos começaram a aparecer na encosta do Castelo, e logo o cume ficava transformado numa espécie de cratera de vulcão em atividade. O major Uzeda avançava, protegido pela fumaça intencional, e nossas metralhadoras também trabalhavam ativamente.
    No Posto de Observação, um silêncio pesado: ninguém dizia nada. O general Cordeiro havia grudado os olhos em sua luneta e seus dedos (até disso tomei nota) alisavam mecanicamente um pedaço da mesa.
    Às 17:45,o general Cordeiro de Faria deixou, por um instante, suas lunetas, e disse, voltando-se para mim: "Castelo está praticamente conquistado."
    Chegaram, também, naquele momento, informações sobre a situação dos americanos, que não haviam conseguido, ainda, tomar Toraccia, o que significava dizer que o avanço brasileiro sobre Castelo teria de ser consumado com Toraccia, ponto tão estratégico, ainda nas mãos dos alemães.
Chegando ao topo do monte
    Às 17h50, a voz do coronel Franklin chegava forte pelo rádio: "Estou no cume do Castelo." E pedia mais fogos de artilharia sobre pontos em poder do inimigo, além do monte. "Castelo é nosso," disse-me o general Cordeiro.
    Mais três minutos, e as baterias estavam canhoneando Caselina, Serra e Bela Vista. Os alemães responderam com morteiros, mas essa reação de nada iria adiantar, porque, como me dizia, no dia seguinte, o coronel Franklin, "estamos em Castelo e ninguém nos tira mais daqui."
    Eram mais de sete e meia da noite, noite hibernal, fechada, quando voltei a subir no meu jipe, que deixara ao lado do Posto de Observação. Nossa artilharia continuava a castigar, incansável. E Monte Castelo estava bem à minha frente, já domado.
Abetaia estava deserta
    No dia seguinte, 22 de fevereiro de 1945, o jipe me deixou, logo cedo, em Abetaia, um ajuntamento de meia dúzia de casas destroçadas pelo canhoneio dos últimos quatro meses.
    Abetaia é um nome que iria ficar, definitivamente, na lembrança de todos os soldados da Força Expedicionária Brasileira. Ali, a partir de novembro do ano anterior, a FEB sofreu alguns dos seus piores instantes. E ali ficaram, para sempre, vinte e dois soldados brasileiros, atingidos mortalmente pelos alemães que atiravam em cima de Castelo.
    Durante muito tempo, Abetaia foi "terra de ninguém". Sua pequena população camponesa foi expulsa de suas casas, das quais só restam, agora, ruínas. Noite e dia, durante meses seguidos, patrulhas brasileiras e alemãs ali se defrontavam em combates violentos.
    Na noite do dia 20 de fevereiro, véspera do definitivo ataque a Monte Castelo, o segundo-tenente Cleber Gomes Ferreira, da 6ª Companhia do 1º Regimento de Infantaria, recebeu ordem de executar uma tarefa difícil e penosa: com os trinta e oito homens da sua companhia, ele teria que ocupar Abetaia, tão próxima da vanguarda alemã. Seria, aquela, uma operação diversionista, uma manobra visando fazer com que os alemães acreditassem que o ataque brasileiro partiria dali, de Abetaia.
    À meia-noite do dia 20, o tenente Cleber começou a deslocar-se com seus homens e, logo depois, chegavam a Abetaia. "Esperamos um choque com os nazistas, sempre atentos. Mas Abetaia estava deserta".
    Ainda assim, os homens tinham que caminhar com muita cautela, devido às minas. Uma pisada em falso na grama dos lados, ou a imprudência de recolher alguma coisa que os alemães haviam deixado, muitas vezes, de propósito, poderia significar a morte.
E deram sua vida pela pátria
    Depois que o ataque a Monte Castelo chegou ao fim, às 17h30 do dia 21, o tenente Cleber pôde executar a tarefa específica para a qual fora designado: recolher os cadáveres dos soldados brasileiros, exatamente vinte e seis deles, que haviam tombado em Abetaia, quando do ataque frustrado a Monte Castelo, em 12 de dezembro de 1944.
    "Passamos toda a manhã recolhendo os cadáveres. Também encontramos alguns alemães mortos, mas seus cadáveres escondiam armadilhas fatais. É que os nazistas defendiam a tese de que um deles, morto, ainda pode matar alguém."
Fechando o cerco
    No dia 21, como já foi dito, os brasileiros fincaram pé no cume do Castelo; passaram a noite lá em cima, intensamente hostilizados pela artilharia alemã e, pela manhã, começaram a estender suas linhas de comunicação.
    A 23 de fevereiro, dois dias após a tomada de Monte Castelo, o Regimento Sampaio, e o 2º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria, receberam a missão de se apoderar da região de La Serra, para desafogar as tropas norte-americanas detidas em La Possione e adjacências.
    A vitória brasileira de La Serra possibilitou à FEB apoderar-se da linha Roncovecchio-Seneveglio e, com isso, terminava a primeira fase do Plano Encore.
Castelnuovo
    A 5 de março de 1945 teve lugar o combate para a captura de Castelnuovo. Tomaram parte, nesse assalto, o 1º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria; o 1º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria; e o 2º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria. Naquele mesmo dia, Castelnuovo era tomado.
    A 10 de março, a Divisão brasileira recebia nova tarefa, transferindo-se para a bacia do Panaro, numa extensão de quase quinze quilômetros.
Em Montese, trinta e quatro mortos
    A ação ofensiva desencadeada contra o maciço de Montese se realizou a 14 de abril de 1945, tendo sido dirigida do alto do Observatório de Sassomolare. A operação estava integrada pelas seguintes divisões: 1ª Divisão de Montanha, comandada pelo major-general George P. Hays; 1ª Divisão blindada, sob o comando do major-general Vernon Pritchard; 34ª Divisão de Infantaria, comandada pelo major-general John Coulter; e 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (Força Expedicionária Brasileira), sob o comando do general Mascarenhas de Morais.
    A primeira tropa brasileira que chegou a penetrar em Montese, ainda no dia 1º de abril [portanto, 14 dias antes], foi um pelotão pertencente ao 1º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria. Mas os combates para a conquista da importante posição se desenrolaram até o dia 18 de abril de 1945, quando finalmente Montese foi conquistada, conquista que custou aos brasileiros 34 mortos, 382 feridos e 10 extraviados.
A FEB faz vinte mil prisioneiros
    A 22 de abril, estava em poder das tropas brasileiras toda a parte oriental do médio Panaro, após a conquista de Zocca.
    E, finalmente, no dia 28, teria lugar um dos mais importantes feitos de toda a campanha da FEB na Itália: a rendição da 148ª Divisão alemã, o restante da 90ª Divisão Blindada alemã e da Divisão Bersaglieri Itália, que integravam o 14º Exército alemão, num total de cerca de 20 mil prisioneiros, entre soldados e oficiais. (Durante toda a campanha da Itália, a FEB fez 20.753 prisioneiros.)
    A 148ª Divisão Panzer, comandada pelo general Fretter Pico, rendeu-se aos brasileiros em Collechio-Fornovo, entre Milão e Alessandria, após demoradas tratativas entre o comando alemão e o então tenente-coronel Nelson de Melo, comandante do 6º Regimento de Infantaria, negociações essas que tiveram início na madrugada do dia 28 de abril, e que só terminaram com a conseqüente rendição, às 11 horas do mesmo dia.Joel Silveira, correspondente de Guerra, em trabalho realizado para a Revista "Enciclopédia Block" no ano de 1970