Na calada da noite, deputados incluíram medidas controvérsas e retiraram propostas consideradas essenciais do projeto
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Da redação
Deputados incluíram medidas polêmicas e
retiraram propostas consideradas essenciais do pacote de medidas contra
corrupção proposto pelo Ministério Público Federal (Divulgação/Luis
Macedo/Câmara dos Deputados)
Em uma votação que varou a madrugada desta quarta-feira, o plenário da Câmara aprovou uma série de mudanças no pacote de medidas contra corrupção
proposto pelo Ministério Público Federal. Para o relator do projeto,
deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o pacote foi completamente
desconfigurado.
Apesar de terem desistido de incluir no pacote a anistia à prática do
caixa dois, os deputados incluíram medidas controvérsias e retiraram do
textos propostas consideradas essenciais do projeto. O projeto seguirá
agora para a apreciação do Senado.
“O objetivo inicial do pacote era combater a impunidade, mas isso não
vai acontecer porque as principais ferramentas foram afastadas. O
combate à corrupção vai ficar fragilizado e, com um agravante, que foi a
essa intimidação dos investigadores”, disse o relator.
Ao final da votação, o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), defendeu o resultado e disse que se tratou de uma
decisão “democrática do plenário”. “Mesmo que não tenha sido o que
alguns esperavam, isso foi o que a maioria decidiu”, disse.
Desde que o projeto foi votado na comissão especial na semana
passada, líderes partidários não esconderam o descontentamento com o
relatório elaborado por Lorenzoni. Segundo os parlamentares, o projeto
contemplava apenas os interesses do Ministério Público.
Na madrugada desta quarta, o chamado texto-base do projeto foi aprovado
praticamente por unanimidade, mas depois disso diversas modificações no
projeto foram aprovadas. A primeira delas foi a inclusão no pacote da
previsão de punir por crime de abuso de autoridade magistrados, procuradores e promotores.
A emenda, que obteve o apoio de 313 deputados, foi vista como uma
retaliação por membros da força-tarefa da Operação Lava Jato. Muitos dos
que votaram a favor da medida são investigados por conta do esquema de
corrupção da Petrobras.
Os deputados também incluíram a possibilidade de punir policiais,
magistrados e integrantes do MP de todas as instâncias que violarem o
direito ou prerrogativas de advogados. A emenda foi patrocinada pela
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Entre as medidas que foram retiradas do texto está a criação da
figura do “reportante do bem”, que era uma espécie de delator que não
havia participado do esquema de corrupção, mas que contaria tudo o que
sabia e seria premiado com até 20% dos valores que fossem recuperados.
Os deputados também retiraram do pacote a previsão de dar mais poder
ao Ministério Público em acordos de leniência com pessoas físicas e
jurídicas em atos de corrupção.
A Câmara derrubou ainda a responsabilização dos partidos políticos e
dirigentes partidário por atos cometidos por políticos filiados às
siglas. Outra medida suprimida foi a tipificação do crime de
enriquecimento ilícito e das regras que facilitavam o confisco de bens
provenientes de corrupção.
Do texto original enviado pelo Ministério Público Federal, foram
mantidos no pacote apenas a criminalização do caixa dois de campanha
eleitoral, o aumento de punição para crime de corrupção (com crime
hediondo a partir de 10.000 salários mínimos, ou seja, mais de 8 milhões
de reais), a transparência para tribunais na divulgação de dados
processuais, limitação de recursos para protelação de processos e ação
popular, este último incluído pelo relator no pacote. (Com Estadão Conteúdo)
As pressões para que testemunhas
desmintam seus depoimentos incluem ameaças de morte sob a mira de
revólveres, envolvem promessas de incendiar moradias com a família
dormindo e compõem a face obscura do mundo das delações premiadas
PRESSÃO DE CUNHA -
A advogada Beatriz Catta Preta, representante do delator Júlio Camargo,
da Toyo Setal, teve uma arma apontada para sua cabeça na frente dos
filhos; MEDO DO PT -
O ex-sócio da OAS, Léo Pinheiro, pediu para permanecer preso temendo ser
assassinado
Germano Oliveira
A advogada Beatriz Catta Preta abre a porta de casa
localizada na rua Hungria, bairro Jardim Europa, São Paulo, e se depara
com o doleiro Lúcio Bolonha Funaro no sofá da sala brincando com seus
dois filhos. Ela estremece. Funaro saca uma arma, aponta para sua cabeça
e desfia um rosário de ameaças. Para não realizá-las, impõe a Catta
Pretta uma condição: que convença seu cliente, o empresário Julio
Camargo, ex-consultor da Toyo Setal, a não sustentar denúncias contra
seu aliado, o então presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha. Em
negociação de delação premiada, no início de 2015, Camargo havia se
comprometido a dizer aos investigadores da Lava Jato que Cunha recebeu
US$ 5 milhões de propinas na venda de navios-sondas da Samsung para a
Petrobras em 2008. Funaro, que já havia sido defendido por Catta Preta
no episódio do mensalão, tinha acesso à residência da advogada, mas
àquela altura já era uma espécie de capanga de Cunha. A ameaça surtiu
efeito. Num primeiro momento, sob a orientação de Catta Preta, Camargo
livrou a cara do deputado. Só em maio deste ano, Camargo decidiu revelar
os subornos recebidos por Cunha e forneceu os detalhes mais sórdidos do
pagamento de propina em contas na Suíça. Iniciava-se ali o processo de
perda do mandato de Cunha e da conseqüente prisão pela Lava Jato.
Tensão permanente
As criminosas ameaças de Funaro a Catta Preta, até então uma jurista
responsável por defender dezenas de delatores da Lava Jato, levaram a
advogada a abandonar os clientes e a praticamente encerrar a profissão.
Mas desnudou uma faceta obscura do mundo das delações premiadas. De
2014, quando a operação Lava Jato foi deflagrada, até hoje, delatores
sofrem ameaças de terem suas vidas e a de seus parentes ceifadas.
Aterrorizados, alguns se viram obrigados a mentir em depoimentos à
Justiça. Depois, mudaram suas versões. O clima permanece pesado entre os
dispostos colaborar com os procuradores. Há duas semanas, o empresário
Léo Pinheiro, ex-sócio da OAS, foi responsável por um gesto insólito.
Pinheiro chegou a pedir para continuar preso temendo que, em liberdade,
corresse risco de morte. A solicitação foi feita por seus advogados ao
juiz Sergio Moro “tendo em vista o teor bombástico de sua nova delação”.
Os defensores de Pinheiro alimentam outro receio: o de que o
empreiteiro seja transferido para o Complexo Médico Penal de Pinhais.
Entendem que ele não teria garantia de vida no local, mais vulnerável do
que a Superintendência da PF no Paraná. “Seria recomendável a sua
manutenção na carceragem da Superintendência Regional da Polícia Federal
do Paraná, inclusive para acautelar eventual risco à sua integridade
física”, disseram. Um delator clamar para permanecer detido é algo
inédito na Lava Jato, mas Pinheiro teme terminar como Celso Daniel, o
ex-prefeito de Santo André assassinado com 13 tiros em janeiro de 2002. O
crime teve motivações políticas. Assim como Daniel estava disposto a
denunciar um sombrio esquema de desvios de recursos para financiamento
de campanhas eleitorais, o que poderia ferir o PT de morte antes mesmo
de o partido ascender ao Planalto, Pinheiro pretende apresentar à Lava
Jato seu arsenal bélico com potencial para enterrar de vez o
lulopetismo, quase 15 anos depois. A nova delação pode ser determinante
para a condenação do ex-presidente Lula, hoje réu nos casos do tríplex
no Guarujá e do armazenamento de seu acervo num balcão em São Paulo,
custeado pela OAS. SEM PAZ – Primeiro delator da Lava Jato, Hermes Magnus teve de sair do País, com medo de ser morto
O lobista Fernando Moura, que delatou o ex-ministro José Dirceu na
Lava Jato, também não quis pagar para ver até onde PT era capaz de
chegar. Num primeiro depoimento a Sérgio Moro, contrariou o que dissera
na delação premiada aos procuradores. Moura afirmou que Dirceu nunca
recomendou que ele deixasse o Brasil e desistisse de revelar as
transferências de R$ 11,8 milhões em propinas para o ex-ministro. Depois
voltou atrás. “Eu errei. Errei feio”. E se explicou: deu uma guinada de
180° graus no depoimento por se sentir ameaçado quando passeava por uma
rua de Vinhedo, interior de São Paulo, cidade onde Dirceu mantinha
residência, e foi abordado “por um homem branco, de 1,85m de altura,
aparentando ter uns 40 anos”, que perguntou como estavam seus netos. “Eu
interpretei que houve uma ameaça velada de alguém envolvido neste
processo”, disse Moura. O delator ainda relatou aos procuradores da Lava
Jato que quando estava na cadeia, apenas uma pessoa o procurou para
falar sobre as implicações de seu depoimento. Tratava-se de Roberto
Marques, ex-assessor de Dirceu, que lhe pediu, quando dividiram cela em
Curitiba, para que ele não citasse o nome do ex-secretário-geral do PT,
Silvio Pereira, no esquema do Petrolão. Pereira, que havia sobrevivido
incólume ao mensalão, mesmo depois de ser denunciado por Roberto
Jefferson, acabou virando réu na Lava Jato este mês. NA MIRA – Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa, disse temer pelos filhos em depoimento à Lava Jato
O expediente de atemorizar familiares de delatores tem se mostrado
bastante usual durante as investigações da Lava Jato. O mesmo Funaro que
foi o principal responsável pela aposentadoria forçada e precoce de
Catta Preta, ao colocar uma arma em sua cabeça na frente dos filhos,
ameaçou os rebentos de outro delator: Fábio Cleto, vice-presidente da
Caixa Econômica Federal (CEF) e apadrinhado de Eduardo Cunha. Funaro
costumava ser agressivo durante cobranças de propinas. Em delação
premiada, Cleto disse ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot,
que ele quis pôr fogo em sua casa, no momento em que seus filhos
estivessem lá. “Em razão dessas cobranças agressivas, o declarante
(Fábio Cleto) e Lúcio Bolonha Funaro acabaram brigando. Que o fator
culminante para a separação foi quando Funaro ameaçou colocar fogo na
casa do depoente com os filhos dentro”. Delator saiu do Brasil
Pioneiro nas denúncias que resultaram nas investigações da Lava Jato,
o empresário Hermes Freitas Magnus, dono da Dunel Indústria e Comércio
Ltda, ainda se sente inseguro. Magnus, que implicou José Janene (PP-PR),
morto em 2010, e o doleiro Alberto Youssef, ainda em 2008, teve de
deixar o Brasil para desfrutar de uma vida livre de sobressaltos. Teme
ser morto. “Sobretudo agora que o doleiro Youssef está em liberdade”,
contou à ISTOÉ, pedindo para que não fosse revelado o País onde vive
atualmente. TRUCULÊNCIA – Lúcio Funaro ameaçou Catta Preta e Fábio Cleto: doleiro agia a mando de Eduardo Cunha
Todo o Ceará é afetado pela estiagem, com graus que variam de grave, extremo e estágio máximo
por
Leda Gonçalves - Repórter
O cenário da estiagem é cada vez mais grave no Ceará. Tanto que o nível
seca excepcional, o grau de maior severidade, já atinge 55% do
território cearense. Os dados são do Monitor de Secas do Nordeste, mapa
atualizado relativo a outubro, elaborado pela Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). O Mapa indica que 100% do
Estado está afetado em categorias grave, extremo e máximo, sendo os dois
últimos correspondendo a 79% da área total. >Fortaleza precisa poupar água
Só para se ter ideia da magnitude do problema, em setembro, a seca já
atingia a totalidade do Ceará, no entanto, parte da região Nordeste
apresentava grau moderado. Agora, o quadro piorou e o mesmo espaço
enfrenta seca grave. A falta de chuvas, aponta o mapa, abrange inclusive
toda faixa litorânea, sendo de Fortaleza em direção às praias do
litoral leste já com grau extremo. "É uma conjuntura complicada",
reconhece o meteorologista da Funceme, Raul Fritz.
Ele destaca que o avanço da seca no Nordeste já era esperado porque,
historicamente, a distribuição mensal de chuva no mês de outubro na
maior parte da região é inferior a 75mm. "Em algumas áreas, como no
norte do Maranhão, centro-norte do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e no extremo norte da Bahia, os
índices pluviométricos são inferiores a 25mm. Sendo a pior situação a de
Pernambuco, onde 90% do território registra nível excepcional".
Fritz indica que serão necessários dois meses de chuvas ininterruptas,
pelo menos dentro da média histórica de 200 mm/mês, somando no bimestre
450mm, para que o Ceará consiga alcançar o chamado nível de segurança
hídrica. Por enquanto, não existe definição de como será a quadra
chuvosa do Estado, entre fevereiro e maio.
O El Niño, garante, está descartado; entretanto, La Ninã ainda se
apresenta fraca mas, mesmo assim, se essa condição perdurasse até
fevereiro/março, ajudaria bastante. "Porém, pelo observado até agora, há
uma maior probabilidade de neutralidade no Oceano Pacífico, o que não é
de todo ruim, pois isso indica qualquer situação abaixo, na média ou
até acima de média. Nossas esperanças se voltam também para o Atlântico.
Vamos aguardar até janeiro para ter melhor avaliação". Irregularidade
Fritz acrescenta que um dos problemas observados no Ceará é que as
precipitações são irregulares, ou seja, chove bem em uma região e em
outra não. "No Castanhão, por exemplo, é pior em comparação com a
Ibiapaba. Isso sem falar que o solo está saturado. É preciso chover bem
para a água infiltrar no solo e assim poder escorrer em direção aos rios
e outros mananciais".
A corrupção e a incompetência
administrativa afundam o Rio de Janeiro num abismo sem fim. Em menos de
24 horas, dois ex-governadores são presos. Até quando o Estado irá
suportar?
Igor Costa
A combinação deletéria entre a irresponsabilidade
administrativa e a corrupção sem limites fez o Rio de Janeiro
transbordar. Mergulhou o Estado no caos absoluto, cujo ápice foi
alcançado na última semana com a prisão de dois ex-governadores em menos
de 24 horas, Anthony Garotinho (PR) e Sérgio Cabral (PMDB), flagrados
em malfeitos incontestáveis. Foi a fagulha que faltava para convulsionar
de vez as ruas – já em ebulição naquele momento na esteira da invasão e
depredação da Assembleia Legislativa (Alerj) por funcionários públicos
que protestavam contra os salários atrasados. Numa sensação de alívio,
muitos cariocas saíram de suas casas para comemorar a prisão dos
ex-governadores apanhados como saqueadores do Estado, – como o grupo que
esperou Cabral na entrada do complexo penitenciário de Bangu na
quinta-feira 17 com o espocar de rojões e fogos de artifício. A detenção
dos dois políticos também aflorou o mais genuíno sentimento de revolta
na população. Na porta da PF, no Rio, um manifestante mais exaltado
ergueu um cartaz com os dizeres: “Je suis Sérgio Cabral na cadeia Já”.
Compreensível. Com o Rio atualmente em situação falimentar, mais uma vez
quem está sendo chamado para pagar a conta é o povo – haja vista o
pacote de medidas austeras preparado pelo atual governador, Luiz
Fernando Pezão (PMDB) em um ano com previsão de déficit na casa dos R$
19 bi. No cardápio amargo de arrochos, Pezão inclui 30% de redução de
salário, taxação de aposentados e adiamento de reajustes. Tudo isso,
somado às revelações da Lava Jato de que o grupo que comandou o Estado
por quase duas décadas, liderado por Cabral, desviou pelo menos R$ 224
milhões em conluio com empreiteiras, compõe a tempestade perfeita.
O RETRATO DO RIO
As prisões dos ex-governadores Anthony Garotinho e Sérgio Cabral embalaram manifestações pelas ruas da cidade.
DETIDO O ex-governador Sérgio Cabral chega ao IML para ser submetido a exame de corpo delito na quinta-feira 17
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PROTESTO Em frente à PF no Rio, manifestante com a camisa da seleção comemora prisão de Sérgio Cabral
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COMPRA DE VOTOS Depois de ser detido na quarta-feira 16, Garotinho aguarda numa sala da Polícia Federal
O ENRIQUECIMENTO PESSOAL
O dinheiro amealhado sem qualquer pudor dentro da sede do Executivo
local, segundo as investigações, em reuniões com executivos das
construtoras serviu para patrocinar o que a população mais abomina nos
políticos, independentemente de ideologia ou coloração partidária: o
enriquecimento pessoal. Bancou viagens, iates, vestidos, jóias caras da
esposa do ex-governador do PMDB e até o cachorro quente da festinha de
um de seus filhos. Só a mulher de Cabral teria recebido R$ 49 milhões no
esquema desbaratado pela PF na última semana. As empresas, por sua vez,
foram agraciadas com aditivos em contratos públicos e incentivos
fiscais, que constituem a base da atual insolvência financeira do
Estado. Useiro e vezeiro em práticas nada republicanas, Garotinho não
foi menos ousado. Na quarta-feira 16, dia anterior à detenção de Cabral,
o político do PR foi preso preventivamente acusado de comandar um
esquema de compra de votos na eleição em Campos (RJ) por meio do
programa Cheque Cidadão. Segundo o juiz Glaucenir Silva de Oliveira, da
100ª zona eleitoral, “Garotinho comanda com ‘mão de ferro’ um verdadeiro
esquema de corrupção eleitoral” na cidade em que sua mulher, Rosinha
(PR), é prefeita. Na quinta-feira 17, o político que governou o Estado
entre 1999 e 2002 protagonizou cenas teatrais ao ser transferido do
hospital municipal Souza Aguiar para a cadeia. “Vocês estão de
sacanagem. Querem me matar”, gritou o ex-governador à entrada da
ambulância, enquanto se debatia numa maca empurrada por funcionários do
hospital. Um espetáculo de horrores e vitimização (leia mais na página
42). EM EBULIÇÃO Manifestantes ateiam fogo a ônibus na Glória, no final da tarde de quarta-feira 16CENA INUSITADA Policial abandona tropa que avançava contra a população e muda de lado
O mais estupefaciente é que, há pouco mais de dois anos, o Rio tinha
um oceano de possibilidades para, enfim, dar certo. O cenário era
alvissareiro. Além do dinheiro proveniente dos royalties do petróleo, a
alimentar generosamente as arcas do Estado, e dos megaeventos esportivos
mundiais, como a Copa do Mundo e a Olimpíada, batendo à porta, havia
uma sintonia fina com os governos petistas de Lula e Dilma Rousseff, a
permitir uma série de parcerias que, ao menos na retórica, deveriam
resultar em benefícios para a população fluminense. Não foram poucas as
ocasiões em que os chefes do Executivo federal participaram de
inaugurações de obras no Rio em solenidades marcadas por discursos
inflamados, trocas mútuas de rasgados elogios e muita mas muita pompa e
circunstância. O resto da história, no entanto, todos sabem. O Estado
foi tragado pela barbeiragem administrativa e a corrupção, e afundou
numa crise econômica sem precedentes. Não há recursos para despesas mais
básicas, como segurança e saúde, por exemplo. ARROCHO, NÃO Servidores se mobilizam para novos protestos contra o “pacote de maldades” do governo
Enquanto o Rio respirava – e ainda respira – por aparelhos, para a
turma de Cabral não faltava “oxigênio”. Era dessa maneira que o
ex-secretário estadual de Obras Hudson Braga tratava o suborno exigido
das empresas nos grandes contratos de obras, de acordo com a delação
premiada das empreiteiras. Cálculos do Ministério Público Federal
demonstram que o esquema comandado pelo ex-governador provocou um rombo
em projetos executados pela Carioca Engenharia e pela Andrade Gutierrez.
De acordo com as delações das duas empresas, 7% do valor total foi
convertido em propina e dividido da seguinte forma: 5% para Cabral, 1%
para Braga e 1% para conselheiros do Tribunal de Contas do Rio (TCE),
responsável pela fiscalização dos contratos. O pagamento de propina era
efetuado em espécie. Cada empreiteira tinha um responsável pelo
pagamento e cada beneficiado, o seu cobrador. As principais obras
fraudadas foram o Arco Metropolitano, a reforma do estádio do Maracanã e
o PAC das Favelas. NOVA REALIDADE O prisioneiro Cabral é fichado ao chegar em Bangu
As investigações reuniram uma fartura de provas de que o dinheiro
pago ilegalmente foi, em parte, lavado por empresas criadas pelos
próprios favorecidos, usando nomes de amigos e parentes. O esquema
bancou uma vida de luxo para os envolvidos, que inclui viagens
internacionais, idas a restaurantes sofisticados, compras de joias e uso
de lancha e helicóptero em nome de laranjas. Uma das jóias, avaliada em
R$ 800 mil, teve como destino o dedo anelar da mulher de Cabral,
Adriana Ancelmo, levada em condução coercitiva pela PF na quinta-feira
17 acusada de embolsar R$ 49 milhões. O mimo foi um presente de Fernando
Cavendish, ex dono da Delta Construções, cuja revelação de amizade
marca o início da débâcle de Cabral. Outros integrantes do círculo
íntimo do ex-governador atuavam como operadores do peemedebista. São
eles o economista Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, o Carlinhos,
ex-marido de uma prima de Cabral, e Luiz Cláudio Bezerra. Toda a
negociação entre as empreiteiras e as autoridades era arbitrada pelo
ex-secretário de governo de Cabral, Wilson Carlos, responsável pela
distribuição da propina, segundo as próprias empreiteiras. Tanto Wilson
Carlos como Carlinhos foram detidos na última semana.
PRÁTICA CONTINUADA
As práticas ilegais extrapolaram a gestão da Cabral no Rio de
Janeiro. Alvo principal da operação denominada “Calicute”, a expedição
de Pedro Álvares Cabral às Índias que marcou a ascensão e queda do
navegador no início do século XVI, Cabral, segundo o juiz Sérgio Moro,
continuou recebendo propina mesmo depois de deixar o mandato. Nos
últimos dias, Moro determinou o bloqueio de até R$ 10 milhões das contas
do ex-governador, de sua mulher Adriana, e dos outros detidos. “As
provas são da prática reiterada de crimes contra a administração pública
e de lavagem de dinheiro”, justificou Moro em seu despacho. Ele disse
que seria uma afronta deixar que os investigados continuassem em
liberdade usufruindo “do produto milionário de seus crimes” frente a
“ruína das contas públicas do governo fluminense.” Em uma frase, o juiz
de Curitiba resumiu a corrupção que varreu o Rio: “Uma versão criminosa
de governantes ricos e governados pobres.”
Como os pagamentos eram feitos em espécie, o rastreamento é difícil.
Na lista de gastos para lavagem de dinheiro há blindagem de veículos,
compra de carro, objetos de arte e móveis, e até o pagamento de cachorro
quente para a festa de um filho de Cabral, no valor de R$1.070,00. “A
sociedade sofre e muito com os efeitos da corrupção. Por isso, essas
investigações são importantes e devem ser levadas até o fim, doa a quem
doer”, afirmou o procurador Athayde Ribeiro Costa, do MPF do Paraná.
Parte dos objetos adquiridos com dinheiro de propina foi apreendida
pelos agentes da PF. “Houve lavagem de ativos de forma profissional e
crimes seriados”, complementou Athayde Ribeiro Costa. Moro destacou
ainda que “causa certa estranheza, por exemplo, a frequência de
aquisições vultosas de bens”, sempre em espécie, como as feitas por
Adriana Anselmo”. Ele listou o pagamento, em agosto de 2015, de R$
25.000,00 por dois Mini Buggys; em março de 2012, de R$ 72.009,31 por
equipamentos gastronômicos, e em 2013, R$ 57.038,00 por vestidos de
festa, sempre em dinheiro vivo. A força-tarefa da Lava Jato concluiu,
ainda, que Cabral recebeu mesada de R$ 350 mil da Andrade Gutierrez por
pelo menos um ano, e, da Carioca Engenharia, de R$ 200 mil mensais, no
primeiro mandato, de R$ 500 mil, no segundo.
O jogo virou para o ex-governador, um dos mais influentes personagens
da história política do Rio de Janeiro. Na sexta-feira 18, depois de
passar a primeira noite numa cela de nove metros quadrados no complexo
de Gericinó, em Bangu, ao lado de outros cinco presos, Cabral era o
retrato da derrota. De camiseta branca e cabeça raspada, exibia os olhos
avermelhados e um semblante abatido. No café da manhã, aceitou o pão
com manteiga e o café com leite oferecidos pelos agentes penitenciários.
Os eleitores fluminenses que possibilitaram a Cabral seis triunfos
nas urnas – três para deputado estadual, duas para senador e governador –
não vislumbravam uma ascensão e queda numa velocidade tão rápida.
Bertolt Brecht dizia que “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”. Sobre o Rio
atual, que caminha célere para se tornar um exemplar tupiniquim da
Grécia, resta saber se sobrará algo da violência – traduzida em
administrações tão temerárias quanto corruptas – dos seus gestores
contra a população. LUXO E OSTENTAÇÃO
A vida glamourosa de Sérgio Cabral antes da prisão: mansão em Mangaratiba e festas em Paris
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VIDA BOA A PF apreendeu a lancha de Cabral avaliada em R$ 5
milhões, além de colar de pérolas e caros relógios comprados com
dinheiro de propina
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ESBANJANDO Cabral e sua mulher Adriana Ancelmo festejam em Paris
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A VIAGEM DE CABRAL A CALICUTE
CABRAL SE DEU MAL Tropas portuguesas chegam à cidade indiana
A Polícia Federal tem sido criativa ao nomear as diversas fases da
Lava Jato. Para designar a operação que culminou na prisão do
ex-governador do Rio Sérgio Cabral, a PF recorreu a uma cidade que foi
palco de trapalhadas de outro Cabral famoso. Em 1500, em um episódio
conhecido como “A Tormenta de Calicute”, Pedro Álvares Cabral, o
desbravador das terras brasileiras, tentou fazer fortuna na localidade
indiana que, à época, funcionava como um entreposto mundial. Ao
desembarcar ali com tropas portuguesas, Cabral pretendia negociar os
direitos para a venda de especiarias e construir um posto comercial. O
problema é que o comércio na região era dominado por árabes. Obviamente,
eles não aceitaram a chegada dos garbosos concorrentes. Seguiu-se daí
um embate entre árabes e portugueses, com embarcações queimadas e
centenas de homens mortos. Derrotado, Cabral partiu em retirada – para
nunca mais voltar a Calicute. Cinco séculos depois, a PF decidiu colocar
a palavra novamente no mapa brasileiro. O paralelo é justo. Afinal,
descobriu-se que o Cabral fluminense também atuava em uma espécie de
comércio, saqueando dinheiro público em forma de propina, segundo as
investigações. Na semana passada, uma piada que circulou nas redes
sociais resumiu a questão: no Brasil, rouba-se desde Cabral.
UM HOMEM DADO A ESPETÁCULOS
O ex-governador Anthony Garotinho adora fazer encenações para posar de vítima ARTISTA O ex-governador Garotinho grita, esperneia e implora para não ser levado para o presídio de Bangu
Canastrão, cara de pau ou simplesmente embromador. Não importa como
se qualifique, o certo é que o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho,
tal qual um meninão mimado, adora fazer um show sempre que se vê
contrariado. Foi assim na quinta-feira 17, quando protagonizou um
esperneio ao vivo no momento de ser transferido para o complexo
penitenciário de Bangu. Com a encenação patética, o ex-governador queria
se colocar no papel de vítima. Ator de péssima qualidade, sua atuação
não recebeu aplausos. Pelo contrário, o grosso da plateia comemorou a
prisão. REALITY SHOW Em 2006, acusado de receber dinheiro ilegal na campanha, Garotinho fez greve de fome
Há dez anos, durante a disputa presidencial, o mesmo Garotinho
recorreu a outro espetáculo dantesco para tentar comover o eleitor.
Diante da acusação de haver recebido dinheiro de empresas de fachada
para sua campanha ao Palácio do Planalto, decretou uma bizarra greve de
fome com direito a soro fisiológico e acompanhamento médico. Durante 11
dias sua encenação virou uma espécie de reality show, sem o menor efeito
político, e terminou tão desmoralizada quanto sua campanha. Até hoje,
dentro do PMDB há quem garanta que durante a greve Garotinho se
alimentava escondido.
A Operação Calicute, nova fase da Lava Jato que prendeu nesta
quinta-feira, 17, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB),
apreendeu joias, relógios e até uma lancha avaliada em R$ 5 milhões,
cuja propriedade é atribuída ao peemedebista.
Um relatório da Polícia Federal aponta que o ex-governador Sérgio
Cabral é dono de uma lancha avaliada em R$ 5 milhões e de um
helicóptero, vendido em julho deste ano. De acordo com o documento, a
lancha batizada de Mahattan Rio fica guardada na marina do Condomínio
Portobello, em Mangaratiba, na Costa Verde. Ali a família Cabral tem
casa de veraneio e costuma realizar festas e receber convidados. Um dos
eventos custou R$ 81.160.
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A lancha está em nome de Paulo Fernando Magalhães, ex-assessor de
Cabral, também preso nesta quinta-feira. O peemedebista foi preso em sua
casa, no Leblon, zona sul do Rio. Contra o ex-governador foram
expedidos dois mandados de prisão: um da 7ª Vara Federal Criminal do Rio
de Janeiro e outro da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba.
A investigação da força-tarefa do Ministério Público Federal apura
pagamento de vantagens indevidas a Sérgio Cabral, em decorrência do
contrato celebrado entre a Andrade Gutierrez e a Petrobras, sobre as
obras de terraplanagem no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(Comperj). A força-tarefa da Lava Jato, no Rio, investiga corrupção na
contratação de diversas obras conduzidas no governo do peemedebista,
entre elas, a reforma do Maracanã para receber a Copa do Mundo de
futebol de 2014, o PAC Favelas e o Arco Metropolitano, financiadas ou
custeadas com recursos federais.
De acordo com a Procuradoria, apura-se, que, além das empreiteiras
Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia, outras empresas consorciadas
para a execução das obras também teriam efetuado pagamentos de valores
solicitados a título de propina, em patamar preliminarmente estimado em
R$ 224 milhões.
Segundo a investigação da Lava Jato, o ex-governador do Rio recebeu
R$ 500 mil de mesada da Carioca Engenharia em seu segundo mandato
(2010-2014). No primeiro (2007-2010), R$ 200 mil. Já a Andrade Gutierrez
desembolsou R$ 350 mil em um ano. No total, a primeira empresa pagou R$
32,5 milhões em propina e a segunda, R$ 7,7 milhões, de 2007 a 2014.
Em algumas ocasiões, para não levantar suspeitas, foram feitos, além
de repasses em espécie, depósitos fracionados em contas de Cabral, de R$
10 mil.
A investigação da força-tarefa da Operação Lava Jato, no Rio, apontou
que a propina destinada ao ex-governador do Rio pagou R$ 1.070 em
cachorros-quentes para a festa do filho do peemedebista.
A mulher de Sérgio Cabral, a advogada Adriana Ancelmo foi conduzida
coercitivamente – quando o investigado é levado a depor e liberado –
nesta quinta. A Lava Jato, no Paraná, detalhou, no pedido de prisão do
ex-governador do Rio, pagamentos em dinheiro vivo feitos por
investigados ligados ao peemedebista. O Ministério Público Federal
apontou para um gasto de R$ 57.038,00 em seis vestidos de festa feito
pela advogada Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral e
ex-primeira-dama do Estado do Rio.
Em delação premiada, Marcelo Odebrecht
diz que fez pagamentos ao ex-presidente Lula em espécie. Recursos faziam
parte do montante de aproximadamente R$ 8 milhões destinados ao petista
pela empreiteira
Nos últimos meses, o ex-presidente Lula foi emparedado pela Lava
Jato. Virou réu três vezes por práticas nada republicanas: obstrução de
Justiça, ocultação de patrimônio — ao omitir um tríplex no Guarujá —,
lavagem de dinheiro, corrupção passiva, organização criminosa e tráfico
de influência no BNDES, em razão do esquema envolvendo a contratação de
seu sobrinho Taiguara Rodrigues dos Santos. Ou seja, já há uma fartura
de provas contra o petista, ao contrário do que costuma alardear sua
defesa. Nada, no entanto, pode ser mais categórico e definitivo como
conceito de corrupção, na acepção da palavra, do que o recebimento de
pagamentos de propina em dinheiro vivo. Por isso, o que ISTOÉ revela
agora acrescenta um ingrediente potencialmente devastador para o
ex-presidente.
Recursos repassados a Lula teriam vindo do setor de Operações
Estruturadas da Odebrecht, o chamado departamento da propina
Num dos 300 anexos da delação da Odebrecht, considerada a mais
robusta colaboração premiada do mundo, o herdeiro e ex-presidente da
empresa, Marcelo Odebrecht, diz ter entregue a Lula dinheiro em espécie.
Nunca uma figura pública que chegou a ocupar a presidência da República
demonstrou tanta intimidade com a corrupção. Os repasses foram
efetuados, em sua maioria, quando Lula não mais ocupava o Palácio do
Planalto. O maior fluxo ocorreu entre 2012 e 2013. Foram milhões de
reais originários do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht – o já
conhecido departamento da propina da empresa. Segundo já revelado pela
Polícia Federal, aproximadamente R$ 8 milhões foram transferidos ao
petista. Conforme apurou ISTOÉ junto a fontes que tiveram acesso à
delação, o dinheiro repassado a Lula em espécie derivou desse montante.
Os pagamentos em dinheiro vivo fazem parte do que investigadores
costumam classificar de “método clássico” da prática corrupta. Em geral,
é uma maneira de evitar registros de entrada, para quem recebe, e de
saída, para quem paga, de dinheiro ilegal. E Lula, como se nota, nunca
se recusou a participar dessas operações nada ortodoxas. O depoimento
agora revelado por ISTOÉ é a prova de que, sim, o petista não só esteve
presente durante as negociatas envolvendo dinheiro sujo como aceitou
receber em espécie, talvez acreditando piamente na impunidade. Se os
repasses representavam meras contrapartidas a “palestras”, como a defesa
do ex-presidente costuma repetir como ladainha em procissão, e se havia
lastro e sustentação legal, por que os pagamentos em dinheiro vivo?
Na Odebrecht, as entregas de recursos a Lula sempre foram tratadas
sob o mais absoluto sigilo. Não por acaso, segundo apurou ISTOÉ, logo
que Marcelo Odebrecht foi preso, em junho de 2015, a empreiteira
presidida por ele, naquele momento vulnerável a buscas e apreensões da
Polícia Federal, acionou um esquema interno de emergência chamado de
Operação Panamá. Consistia em promover uma varredura nos computadores,
identificar os arquivos mais sensíveis e enviá-los para a filial da
empresa no país caribenho. O objetivo não era outro, senão desaparecer
com digitais e quaisquer informações capazes de comprovar transferências
de recursos financeiros da Odebrecht ao ex-presidente Lula. Àquela
altura, a empreiteira ainda resistia a entregar o petista, topo da
hierarquia do esquema do Petrolão. Mudou de planos premida pelo instinto
de sobrevivência.
Investigadores da Lava Jato vão querer saber, num próximo momento da
investigação, se os repasses em dinheiro vivo ao ex-presidente guardam
conexão com a operação desencadeada na última semana pela PF, sob o
epíteto de Dragão. Na quinta-feira 10, foram presos os operadores Adir
Assad e Rodrigo Tacla Duran, cujo papel era justamente oferecer dinheiro
em espécie para o sistema de corrupção. Pelo esquema, as empreiteiras
contratavam serviços jamais prestados, efetuavam o pagamento a Duran e,
ato contínuo, recebiam o dinheiro para pagar agentes públicos. A trama
só foi desbaratado graças à colaboração de um delator da Odebrecht:
Vinícius Veiga Borin. Ele contou à PF e procuradores como funcionava a
engrenagem da lavagem de dinheiro criada pelas empreiteiras: as contas
no exterior sob a batuta de Marcos Grillo, outro executivo da Odebrecht,
alimentavam o Departamento de Propina da empreiteira. Quando havia
necessidade de entregar valores em espécie no Brasil, eles recorriam a
offshores, controladas por Duran. A Lava Jato suspeita que o dinheiro
repassado a Lula possa ter integrado esse esquema.
Além de Marcelo Odebrecht, no corpo da delação da empreiteira Lula é
citado por Emílio Odebrecht, Alexandrino Alencar, ex-executivo da
empresa, e o diretor de América Latina e Angola, Luiz Antônio Mameri.
Faz parte do pacote de depoimentos relatos sobre uma troca de mensagens
eletrônicas entre Mameri e Marcelo Odebrecht. Nessas conversas fica
clara a participação de Lula para a aprovação de projetos da empreiteira
no BNDES. Em seu depoimento, o diretor confirmou as mensagens e disse
que as influências de Lula e do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci,
hoje preso, foram decisivas para a aprovação de projetos definidos
exatamente como foram concebidos nas salas da Odebrecht, sem que fossem
submetidos a nenhum tipo de checagem. Mameri citou obras em Angola e
Cuba.
Nos últimos dias, a Procuradoria-Geral da República iniciou o estágio
da validação dos depoimentos, em que os 50 delatores e 32 colaboradores
lenientes da Odebrecht passaram a ler e confirmar o que já escreveram.
Tudo será gravado. A checagem de informações pode durar até o final
deste mês, uma vez que nem todos os executivos foram informados sobre a
data do encontro com os procuradores. O ALCANCE DA DELAÇÃO OPERAÇÃO DRAGÃO: Esquema de lavagem de dinheiro foi desbaratado graças à delação de executivo da Odebrecht
No total, a empreiteira vai reconhecer que pagou algo em torno de R$ 7
bilhões em propinas no Brasil e no exterior. Marcelo Odebrecht,
presidente da maior construtora do País, com 200 mil funcionários e um
faturamento anual de R$ 135 bilhões, só decidiu fazer delação premiada
depois de março desde ano, após ter sido condenado pelo juiz Sergio Moro
a 19 anos e 4 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e
associação criminosa. Aos 48 anos, Marcelo se deu conta de que poderia
envelhecer na cadeia. Como o empreiteiro ainda é réu em várias outras
ações, seus advogados calcularam que ele poderia ser condenado a no
mínimo 50 anos. Com o acordo, suas penas reduzirão a dez anos de
reclusão. Como já cumpriu 1 ano e cinco meses, ficará detido até
dezembro do ano que vem. Depois, passará mais dois anos e meio em prisão
domiciliar e outros cinco anos em regime semi-aberto. As outras
condenações que vierem estarão englobadas no acerto.
As negociações se arrastaram por seis longos meses. A
Procuradoria-Geral da República só concordou com a delação para efeito
de abatimento de pena com a condição de que ele e os 80 executivos da
empresa relatassem crimes os quais a Justiça ainda não tinha comprovado.
Além da resistência inicial em implicar Lula, os executivos impuseram
outro dificultador: não admitiam que os repasses eram pagamentos de
propina. Queriam limitar tudo a caixa dois, mesmo diante de provas
inquívocas. A questão, no entanto, foi vencida depois que procuradores e
agentes federais endureceram o jogo. Sem as confissões de propina o
acordo voltaria à estaca zero, advertiram. Foi o suficiente para
imprimir velocidade às tratativas.
Todas as pessoas envolvidas no acordo ouvidas por ISTOÉ são unânimes
em afirmar que Lula é a estrela principal da delação. Recentemente, a
Polícia Federal associou os codinomes “amigo”, “amigo de meu pai” e
“amigo de EO” (Emílio Odebrecht) – que aparecem em planilhas de
pagamentos ilícitos apreendidas durante a Operação Lava Jato – ao
ex-presidente. Foi assim que a PF conseguiu rastrear o repasse de
aproximadamente R$ 8 milhões a Lula. Os pagamentos foram coordenados por
Marcelo Odebrecht e por Antonio Palocci. De acordo com o delegado
Filipe Pace, o dinheiro saía de uma conta corrente mantida pela
Odebrecht para pagamento de vantagens indevidas. O que Pace não sabia, e
a delação de Odebrecht conseguiu elucidar, era sobre os pagamentos em
espécie ao petista.
Evidentemente que os depoimentos dos executivos da empreiteira não
vão abarcar apenas os crimes praticados pelo ex-presidente Lula.
Envolverá também Dilma Rousseff (leia mais na pág. 36), integrantes do
governo do presidente Michel Temer, mais de 100 parlamentares e 20
governadores e ex-governadores. Os principais partidos atingidos pelas
delações da Odebrecht serão o PT e PMDB. É certo, no entanto, que
integrantes do PSDB também serão implicados pelos executivos da
empreiteira.
Dinheiro era remetido às empreiteiras pelos operadores
para, em seguida, ser distribuído para os agentes públicos
Para viabilizar os depoimentos, a Odebrecht utilizou serviços de 50
escritórios de advocacia de Brasília, São Paulo, Rio e Salvador, onde
depôs o empreiteiro Emílio Odebrecht, pai de Marcelo. Ao todo 400
advogados acompanharam os depoimentos. Como envolve políticos com foro
privilegiado, o acordo será assinado pelo ministro do STF, Teori
Zavascki. A expectativa é de que a homologação saia até o dia 21.
Paralelamente às delações premiadas, a Odebrecht fará um acordo de
leniência com a Controladoria-Geral da União (CGU), que deverá ser o
maior do mundo. O campeão até aqui era o da Siemens, celebrado com
autoridades dos Estados Unidos e vários países europeus em 2008. A
empresa alemã pagou US$ 1,6 bilhão em multas. Já no acordo de leniência
da Odebrecht com o governo brasileiro, a empreiteira poderá pagar uma
multa de R$ 6 bilhões. Com isso, a empreiteira poderá voltar a realizar
obras para o governo federal, hoje proibidas.
Aos bravos GUERREIROS DE SELVA formados e qualificados pelo Centro de Operações na Selva e Ações de Comando (COSAC) e Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) para defender a soberania da Amazônia - BRASIL, meus sinceros cumprimentos pelo dia:"03 DE JUNHO - DIA DO GUERREIRO DE SELVA" ÁRDUA É A MISSÃO DE DEFENDER E DESENVOLVER A AMAZÕNIA, MUITO MAIS DIFÍCIL PORÉM, FOI A DE NOSSOS ANTEPASSADOS EM CONQUISTÁ-LA E MANTÊ-LA"ORAÇÃO DO GUERREIRO DA SELVA Senhor,Tu que ordenaste ao guerreiro da selva: “Sobrepujai todos os vossos oponentes!” Dai-nos hoje da floresta: A sobriedade para persistir, A paciência para emboscar, A perseverança para sobreviver, A astúcia para dissimular, A fé para resistir e vencer, E dai-nos também Senhor, A esperança e a certeza do retorno. Mas, se defendendo esta brasileira Amazônia, Tivermos que perecer, ó Deus! Que o façamos com dignidade E mereçamos a vitória! SELVA!http://www.cigs.ensino.eb.br/