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domingo, 30 de novembro de 2014

Apple começa a vender novos iPads em duas semanas

iPad Air 2 e iPad mini 3 são os primeiros tablets com leitor de digitais.
Anatel já concluiu a liberação para venda dos aparelhos da Apple.

Do G1, em São Paulo
O CEO da Apple Tim Cook apresenta o novo iPad Air 2 durante evento na sede da empresa em Cupertino, na Califórnia. Modelo tem leitor de impressões digitais Touch ID, 6,1mm de espessura e processador A8X de 64-bit (Foto: Marcio Jose Sanchez/AP)O CEO da Apple Tim Cook apresenta o novo iPad Air 2 durante evento na sede da empresa em Cupertino, na Califórnia. Modelo tem leitor de impressões digitais Touch ID, 6,1mm de espessura e processador A8X de 64-bit (Foto: Marcio Jose Sanchez/AP)
A Apple informou que a venda dos novos iPads no Brasil começará dentro de duas semanas. Lançados em outubro deste ano, iPad Air 2 e iPad mini 3 são os primeiros tablets da empresa a ter o leitor de impressão digital Touch ID. Feito nesta quinta-feira (27), o anúncio da Apple ocorre depois de Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel) liberar os dois aparelhos para a venda em território brasileiro.
A Anatel liberou nesta terça-feira (25) a homologação, documento que permite a comercialização de aparelhos de radiofrequência no país, do modelo A 1566 do iPad Air 2, o último que faltava. As liberações da agência das outras versões começaram em 14 de novembro.
A Apple não informou, porém, a data exata em que os aparelhos chegarão às lojas ou os preços cobrados por eles. Nos Estados Unidos, a versão de 16 GB do iPad Air 2 é vendido por US$ 500, a de 64 GB sai por US$ 600, e a de 128 GB custa US$ 700. Os preços valem para os modelos com Wi-Fi. Os aparelhos que contam também com internet móvel custam US$ 630 (16 GB), US$ 730 (64 GB) e US$ 830 (128 GB). Já o iPad mini 3 custa a partir de US$ 400.
Comparativo iPad (Foto: Divulgação e G1)
Comparativo iPad Mini (Foto: G1 e Divulgação)

sábado, 29 de novembro de 2014

A face tucana do PT

Para tirar o País da recessão e disciplinar as contas públicas, a presidente Dilma adota o receituário do PSDB, que tanto criticou na campanha, e anuncia uma composição ministerial com jeito de oposição

Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
Se os símbolos dos partidos políticos retratassem as posições das legendas e dos seus principais representantes, a estrela do PT no segundo mandato de Dilma Rousseff poderia ganhar um bico tucano, símbolo maior do PSDB. Mesmo sob os protestos do seu partido e de aliados fisiológicos, Dilma dá aos primeiros contornos do seu próximo governo uma aparência semelhante ao que seus opositores defenderam durante a eleição. A explicação para a mudança de rumo é simples: a presidente precisa tirar o País do atoleiro em que se encontra. E o sucesso do próximo mandato depende diretamente da retomada do crescimento e do controle dos gastos públicos, que andam desgovernados. Para fazer isso, foi preciso assumir, mesmo que a contragosto, que ela e sua equipe econômica erraram muito nos últimos anos. Ao reconhecer que algumas das propostas defendidas pelo adversário Aécio Neves (PSDB) durante a campanha eram mesmo vitais para a correção de rota, ficou difícil para Dilma fugir de uma composição ministerial com jeito de oposição e se livrar da acusação de ter cometido estelionato eleitoral.
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CARTILHA COM PENA E BICO
Joaquim Levy, anunciado como novo ministro da Fazenda, é ligado
aos tucanos e um dos defensores do controle fiscal
e do arrocho das contas públicas
Na última quinta-feira 27, a presidente confirmou as expectativas que rondavam o mercado há algumas semanas e oficializou sua nova equipe econômica. Em uma tentativa de reconstruir suas relações com investidores e grandes empresários, escolheu o economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. O novo ministro é ligado aos tucanos e participou do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele defende, sem subterfúgios, rigor no controle fiscal e arrocho das contas públicas, propostas que Dilma demonizou durante a campanha.
As ironias que envolvem a escolha não param por aí. Levy mantém relações próximas com Aécio Neves e segue a mesma linha do amigo Armínio Fraga, o economista que montou o plano de governo da área para o PSDB na última eleição. Durante a campanha, Dilma atribuiu a Fraga uma futura culpa pela recessão ou pela falta de comida e emprego para os brasileiros de baixa renda, em um eventual governo tucano. A opção por um ministro alinhado com o grupo do seu maior adversário causou estranheza. “É uma decisão da presidente. É um quadro qualificado, com quem tenho uma relação pessoal. Mas fico com uma expressão usada hoje pelo ministro Armínio Fraga: a indicação de Joaquim Levy é comparável a um grande quadro da CIA ser convidado para comandar a KGB.”
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A inclinação de Dilma em direção às ideias da oposição, que ela combateu durante a campanha, ficou evidente também em relação aos juros. A presidente repetiu diversas vezes que as propostas econômicas do PSDB, e a promessa de perseguir o controle da inflação, iriam causar o aumento dos juros e provocar recessão e desemprego. Seus programas e seus discursos demonstravam que essas propostas estavam distantes dos planos do PT. No dia seguinte ao resultado do segundo turno da eleição, no entanto, ela anunciou o reajuste dos combustíveis. Dois dias depois, o Banco Central aumentou as taxas de juros para 11,25%, o maior patamar em três anos. A decisão pegou o mercado de surpresa e evidenciou quão pouco valiam as promessas eleitorais da presidente.
Embora a repercussão da escolha do novo ministro da Fazenda alinhado com as metas fiscais e o controle das contas desperte certo otimismo, ainda há um clima de desconfiança em relação à postura de Dilma, que sempre tentou comandar a política econômica ditando as regras pessoalmente. Agora, Levy assume com a promessa de independência e carta-branca para tomar o rumo de uma sonhada – e ainda improvável – guinada na economia. Em sua primeira aparição pública depois da confirmação de seu nome, Levy, acompanhado do escolhido para o Planejamento, Nelson Barbosa, e de Alexandre Tombini, que fica no Banco Central, deixou claro que é ortodoxo e que vai trabalhar para restabelecer o superávit primário nas contas públicas e atingir uma economia de 1,2% do PIB em 2015. “Alcançar essas metas será fundamental para um aumento da confiança e criará bases para a retomada do crescimento da economia e da evolução dos avanços sociais”, disse Levy.
Em muitos aspectos manifestados depois do resultado das urnas, a presidente reeleita parece outra pessoa. Antes, ela se armava com números – muitas vezes equivocados – sobre a economia, adotava um discurso repetitivo de que não havia descontrole de gastos e que a inflação a 6,5% estava controlada. Agora, sua nova equipe econômica vai promover cortes, trabalhar para puxar a inflação para a meta de 4,5% e adotar as medidas impopulares que a então candidata tantas vezes, em tom de ameaça de quem previa o caos, disse que seus adversários adotariam. Ao escalar seu time, Dilma mostrou que ficou impossível continuar atuando como a personagem que tem o controle de um País próspero, à imagem e semelhança do que era mostrado nos programas eleitorais elaborados pelo marqueteiro de campanha, João Santana.
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TENSÃO NO CAMPO PETISTA
Ao convidar Kátia Abreu, um símbolo do ruralismo e dos grandes latifúndios,
para comandar o Ministério da Agricultura, Dilma bate de frente com o PT
As contradições entre o discurso de Dilma e do seu partido e as primeiras medidas que ela adotou depois de eleita despertaram reações em diversos setores que a apoiaram. Um manifesto com mais de 4.500 assinaturas de petistas resume a insatisfação. O texto afirma que é preciso manter a coerência e obedecer ao projeto de governo apresentado durante a eleição. Um dos articuladores do manifesto, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e conselheiro econômico da presidente Dilma, resume o sentimento de quem assina o documento. “O problema é que o projeto de governo que ganhou não vingou. Então, Dilma terminou comprando a versão da política e da economia que os adversários diziam que era a correta. Não vejo isso como um bom sinal. A sociedade não deve ser surpreendida com mudanças nos programas depois das eleições”, opina o economista.
As recentes decisões da presidente Dilma e suas escolhas afinadas com a cartilha da oposição irritaram petistas de todas as correntes. No partido, o sentimento é de que a presidente que assume o segundo mandato segue com o antigo defeito de não dialogar antes de decidir e ignorar as posições do PT sobre diversos assuntos. A incapacidade da presidente de ouvir aliados foi um dos principais empecilhos para a consolidação de alianças em torno do projeto de reeleição. Dilma sofreu resistências dentro do próprio partido e foi obrigada a prometer uma mudança de postura. Coisa que petistas experientes reclamam que não está acontecendo.
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Mesmo diante da insatisfação generalizada, poucos militantes de peso admitem publicamente as críticas que fazem nos bastidores à presidente. Raros são os militantes históricos e influentes que levantam a cabeça para marcar posição de resistência às mudanças do segundo mandato. Ex-dirigente nacional, Valter Pomar é um bom exemplo dessa dualidade. Líder da corrente Articulação de Esquerda, ele assina o manifesto em defesa da coerência da presidente reeleita e do respeito ao programa do partido, mas concede: “Dadas a relação de forças no Congresso, as debilidades da esquerda e dos setores populares, para não falar de certas dificuldades estruturais, sabemos que não há condições de fazermos o governo dos nossos sonhos”, diz Pomar. “O que não pode acontecer é acharmos que esta situação difícil é imutável. Para evitar isso, o governo deve ajudar a democratizar a comunicação, ajudar a luta pela reforma política e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para manter e melhorar a vida material e cultural da classe trabalhadora”, acrescenta. Pomar agora tem a expectativa de que, depois da escolha da equipe econômica, Dilma nomeie ministros que sinalizem na direção de suas preocupações.
A revolta dos apoiadores de Dilma com a guinada ensaiada para os próximos meses se espalha por outros setores. Na Agricultura, por exemplo, a presidente promove uma incrível coleção de posições divergentes. Em agosto, quando estava em plena campanha, a então candidata participou de uma sabatina na Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Diante de uma plateia lotada de grandes ruralistas e representantes de peso do agronegócio, Dilma não causou entusiasmo com seu discurso. Ela prometeu trabalhar pela “classe média rural” e afirmou que a proposta pleiteada por empresários sobre regulamentação dos contratos terceirizados deveria ser amplamente debatida com trabalhadores. A frieza com que os ruralistas receberam o discurso de Dilma contrastou, dias depois, com o entusiasmo que eles demonstraram na recepção ao candidato Aécio Neves. O tucano foi ovacionado ao defender a proposta de criar um superministério na área e repetir que o agronegócio precisava ter espaço no governo proporcional ao seu tamanho e importância.
Para quem assistiu ao duelo eleitoral, parecia que o cenário era de ideologias partidárias. Dilma, do PT, defendia os ruralistas e suas reivindicações com a cautela de quem representava um partido de esquerda, historicamente ligado a movimentos sociais e às minorias. Às vésperas de anunciar seu novo ministério, o cenário mudou. Dilma se prepara para enfrentar seus aliados e apoiadores por nomear como ministra da Agricultura a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). A parlamentar é uma grande produtora rural, preside a CNA e é adversária histórica de entidades ambientalistas e dos movimentos sociais que lutam por terras. Ao convidar um símbolo do ruralismo e dos grandes latifúndios, Dilma ignora os apelos do PT e abre espaço para os pleitos da categoria, que antes ela parecia não apoiar. A indicação aumenta, além disso, o clima tenso entre PT e PMDB, que tem na pasta da Agricultura um dos seus feudos e na senadora do Tocantins – neófita no partido – uma concorrente pelo comando da pasta.
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Ao se aproximar dos ruralistas nos moldes do que prometeu fazer o PSDB, Dilma deixou em alerta entidades e instituições historicamente aliadas ao PT. Quando percebeu as resistências que se formam nos mais diferentes setores, ela recebeu um grupo de intelectuais no Planalto durante duas horas na semana passada. Ouviu as críticas sem muita paciência, mas prometeu não abandonar as diretrizes que seu partido e aliados defendem. O problema é que a governabilidade construída por ela depende diretamente das forças antagônicas que deram respaldo à sua reeleição. O preço dessas alianças começa a pesar nas costas da presidente e as pressões para manter-se coerente já não surtem efeitos. Ao estilo Dilma, a presidente deixa de lado diretrizes das propostas e das ideias que defendeu ao longo da campanha sem fornecer explicações. Reeleita, dá sinais de que simpatiza com a cartilha tucana – ou de que pelo menos se convenceu de que o receituário do PSDB, tão criticado por ela na campanha, é o melhor caminho agora – e que seu segundo mandato terá menos a cara do PT. A tucanização do PT pode ser a receita para evitar um novo fiasco. O problema é se os próprios eleitores de Dilma começarem a pensar que, se era para copiar o ideário tucano, teria sido melhor ter escolhido o original, e não a imitação. O raciocínio faz todo sentido.
Montagem sobre fotos de Adriano Machado/Agência Istoé
Fotos: Antonio Cruz/ABr, Camila Fontana/Editora Globo; FOLHAPRESS

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Comissão do Senado aprova guarda compartilhada de filhos de pais divorciados

O projeto prevê também a necessidade de uma divisão equilibrada do tempo de convivência dos filhos com cada um dos pais

Agência Brasil
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Foi aprovado nesta quarta-feira (26) pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado o projeto de lei que garante a guarda compartilhada de filhos de pais divorciados, mesmo que não haja acordo entre as partes. A matéria segue em regime de urgência para o plenário. Outro projeto aprovado pela comissão garante - a mulheres e vítimas de violência doméstica e sexual - o direito de serem atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta, que assegura tratamentos médicos e psicológicos, além de cirurgias plásticas, quando necessárias, segue agora para a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).

No caso da proposta sobre guarda compartilhada, a expectativa é mudar a atual redação do Código Civil, que tem induzido juízes a decretarem guarda compartilhada apenas nos casos em que há boas relações entre os pais após o fim do casamento. A ideia é que esse tipo de instituto seja adotado justamente quando se faz mais necessário: nas separações conflituosas. Com a nova redação, a guarda será obrigatória, a menos que a Justiça avalie que um dos pais não esteja apto para ter a guarda do filho, ou nos casos em que um deles manifeste desejo de não obter guarda.

O projeto prevê também a necessidade de uma divisão equilibrada do tempo de convivência dos filhos com cada um dos pais. Além disso, estabelece multa para estabelecimentos que se negarem a dar informações sobre o filho a qualquer um dos pais. Ainda segundo o projeto, serão necessárias autorizações dos dois pais para os casos em que o filho venha a mudar de município e no caso de viagens ao exterior.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Congresso conclui análise de vetos e tentará votar projeto de meta fiscal

Com votação em cédula de papel, apuração será mais demorada.
Votação de projeto que derruba meta fiscal poderá ocorrer nesta quarta.

Fernanda Calgaro e Priscilla Mendes Do G1, em Brasília
Deputados e senadores encerraram às 21h26 desta terça-feira (25), após seis horas de sessão, a votação dos 38 vetos presidenciais que trancavam a pauta do Congresso. O resultado da votação, porém, só será conhecido na manhã desta quarta (26) porque os votos foram registrados em cédulas de papel.
Se todas as cédulas entregues forem consideradas válidas, a expectativa é que seja apreciado nesta quarta o projeto que desobriga o governo de cumprir a meta fiscal de 2014, votação considerada prioritária pelo governo.
De acordo com o secretário-geral da Mesa do Congresso, Luiz Fernando Bandeira de Mello, os votos considerados válidos serão os que indicarem as opções "sim", "não" ou "abstenção". Os votos em branco serão classificados como inválidos e não serão contabilizados para efeito de formação do quórum.
O quórum mínimo para votação de vetos presidenciais é de 257 deputados e 41 senadores. Na sessão desta terça, votaram 322 deputados e 43 senadores. Na hipótese de, por exemplo, 70 deputados terem votado em branco em relação a algum dos vetos, o quórum cairá para 252 deputados, o que invalidaria a votação desse veto. O mesmo vale para os senadores. Se isso acontecer, esse veto específico passará novamente a trancar a pauta do Congresso e exigirá outra votação.
Os votos anotados nas cédulas precisarão ser processados pelo Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado Federal (Prodasen), o que inviabilizou a divulgação do resultado durante a sessão. A previsão é que o resultado seja divulgado durante a madrugada nos sites da Câmara e do Senado e publicado na edição desta quarta (26) do "Diário Oficial do Congresso".
O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), convocou para as 12h desta quarta (26) uma nova sessão, na qual os parlamentares poderão concluir as votações – se necessário – e chegar à análise do projeto sobre a meta fiscal.
Votação
Durante a sessão, os parlamentares se ativeram mais à discussão da metodologia usada na votação do que ao conteúdo dos vetos.
A oposição criticou duramente o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), porque ele decidiu usar cédulas de papel em vez do painel eletrônico, o que foi interpretado como uma tentativa de acelerar a análise a fim de abrir caminho para o projeto que trata da meta fiscal.
Dispostos a alongar a sessão, os oposicionistas defendiam uso do painel eletrônico. Dessa forma, a reunião seria mais demorada porque teriam que ser realizadas, separadamente, 42 votações. Já a votação por cédula é mais ágil em plenário porque, enquanto ocorrem os debates, os parlamentares já podem ir anotando os seus votos.
O líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), afirmou que o governo “tratorou”, “passou por cima” dos parlamentares ao adotar a votação manual a fim de pressionar pela votação do projeto da meta de superávit.
O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), disse que a cédula de papel só era utilizada tradicionalmente pelo Congresso porque a apreciação de vetos presidenciais era secreta, o que foi derrubado com a PEC do Voto Aberto, em novembro de 2013. Os parlamentares estão se “rebaixando” à presidente Dilma.
“Infelizmente na tarde de hoje vimos, assistimos a essa cena trágica de desmoralização do Poder Legislativo, de rebaixamento pela vontade da presidente Dilma Rousseff. Essa é a única motivação que faz com que o Congresso Nacional queira votar os vetos hoje, que estavam encalhados há meses”, declarou Mendonça após anunciar obstrução de seu partido.
Renan Calheiros negou que tenha sofrido “pressão” para agilizar a votação e lembrou que esta é a décima primeira vez que o Congresso tenta votar os vetos, acumulados desde maio.
“Não há nenhuma pressa com relação a esta sessão. Para que todos entendam, esta sessão está sendo convocada pela décima primeira vez. Então, não há pressa para nós realizarmos isso”, defendeu-se.
O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), argumentou que, se a votação ocorresse da forma como desejava a oposição, o Congresso ficaria “paralisado”.
Vetos
A Constituição garante aos deputados e senadores o poder de reverter os vetos (parciais ou integrais) dos presidentes da República a leis aprovadas pelo Congresso. Se os parlamentares aprovam a derrubada de um veto, o texto volta à forma original, tal como havia sido aprovado pelo Legislativo.
O veto mais polêmico apreciado nesta terça é o que trata das normas para criação, fusão, incorporação e desmembramento de municípios. A presidente Dilma Rousseff vetou dois projetos que tratavam do tema.
O primeiro, em novembro de 2013, foi recusado sob o argumento de que as novas regras gerariam aumento de despesas para a União. A base aliada no Senado elaborou então um novo texto, em acordo com o governo federal, tornando mais rigorosos os critérios para a emancipação de municípios. O texto foi aprovado pelo Congresso, mas, quando chegou à mesa da presidente, em agosto deste ano, foi mais uma vez vetado integralmente. Os dois vetos foram analisados nesta terça.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Comissão aprova texto final de projeto que abandona a meta fiscal

Texto deverá ser analisado nesta terça pelo plenário do Congresso.
Projeto libera o Executivo de economizar para pagar juros da dívida.

Fernanda Calgaro Do G1, em Brasília
Confusão entre aposentados do Fundo Aerus e manifestantes da oposição ao governo antes da reunião da Comissão Mista de Orçamento do Congresso para votar o projeto de flexibiliza a meta de superávit, na Câmara dos Deputados, em Brasília (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)Confusão entre manifestantes antes da reunião da Comissão de Orçamento do Congresso para votar proposta que abandona meta fiscal de 2014 (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)
A Comissão Mista de Orçamento aprovou nesta segunda-feira (24) o texto final do projeto de lei que autoriza o Executivo a economizar menos para pagar os juros da dívida pública, que é o chamado superávit primário. A proposta foi votada após aprovação do texto-base da matéria, seguida da rejeição de todos os 39 destaques (trechos que alteram o teor do projeto otiginal).

A matéria segue agora para análise do plenário do Congresso Nacional, que tem a próxima sessão marcada para esta terça-feira (25). Antes de votar o projeto da meta fiscal em plenário, os deputados e senadores ainda precisam analisar 38 vetos presidenciais e quatro projetos de lei que trancam a pauta.

O projeto permite ao governo abater da meta fiscal os gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as desonerações tributárias concedidas ao longo do ano. Na prática, o governo poderá fechar o ano até com deficit nas contas públicas. Os oposicionistas acusam o governo de ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal ao mudar a meta fiscal, fixada inicialmente em R$ 116,07 bilhões, para conseguir fechar as contas em 2014.

Ao final da sessão, o relator do projeto, senador Romero Jucá, negou que a aprovação na comissão representasse uma “vitória do governo”. Para ele, representa uma “vitória da razão”. “Temos que ajustar as contas públicas. Temos que ter a LDO sintonizada com a realidade da economia de 2014 e preparando a economia de 2015. Na verdade, aqui não é uma disputa entre oposição e governo. A minha posição é uma posição técnica”, disse.

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), criticou a condução da votação. Segundo ele, o projeto foi aprovado “rasgando o regimento interno da Casa”.
O deputado acrescentou que os partidos da oposição pretendem dificultar a votação no Congresso. “No plenário do Congresso Nacional, a coisa vai ser diferente, vai ter muito mais espaço para que a gente possa obstruir o processo de votação e mostrar ao Brasil que essa maquiagem que está sendo consagrada através da alteração da LDO, na verdade, reforça a situação econômica do Brasil”, afirmou.
Antes de analisar os destaques do texto, a comissão precisou votar duas vezes o texto-base da matéria. A primeira análise foi anulada depois de críticas da oposição. O texto foi aprovado, inicialmente, por meio de votação simbólica (sem contagem dos votos), mas parlamentares oposicionistas pediram que uma nova votação fosse feita com contagem de votos, alegando descumprimento de normas regimentais durante a análise. Nova votação foi realizada e o texto-base, mais uma vez, foi aprovado.

Bate-boca e protesto
Durante a sessão, houve bate-boca entre os parlamentares em diversos momentos. Em um deles, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) se exaltou, devido à aprovação de requerimento pelo fim dos debates sem que ele tivesse falado. Nervoso, ele foi até a mesa da comissão discutir com o presidente e pegar a lista de inscritos para provar que havia dado o seu nome para discursar.
Após vários minutos de discussão, a situação foi contornada quando Devanir autorizou que Sampaio falasse. “O governo maquiou no primeiro ano, no segundo ano e no terceiro ano. E, para não pegar mal no quarto ano, quer mudar a lei”, acusou o tucano.
Diante das críticas da oposição, o relator pediu a palavra e afirmou que o projeto de lei não representava nenhuma “novidade”. “Não estamos fazendo aqui nada demais do que foi feito em anos anteriores. De 2007 a 2014, votamos sete LDO's e, em sete LDO's, votamos cinco alterações de mérito de LDO. Então, não estamos fazendo novidade nenhuma”, afirmou Romero Jucá.
Também houve confusão do lado de fora do plenário onde ocorria a discussão. Um grupo de cerca de 30 manifestantes foi impedido de entrar no local e ficou gritou palavras de ordem contra o governo (veja vídeo). Controlado pela Polícia Legislativa, o acesso foi liberado somente para servidores e profissionais da imprensa, além dos parlamentares.


Votação cancelada
O texto do projeto de lei chegou a ser aprovado, por votação simbólica, em uma sessão tumultuada da comissão realizada na noite da última terça-feira (18). Após pressão da oposição e ameaça de entrar com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular a decisão, parlamentares da base aliada concordaram, no dia seguinte, em refazer a votação.

No entanto, o projeto não foi votado na quarta (19) por uma questão regimental. Pelo regimento interno do Congresso, é preciso esperar um intervalo de dois dias entre a leitura do relatório, feito na terça, e a sua votação. A base aliada apresentou um requerimento que permitiria a análise do texto ainda na quarta, mas não conseguiu votos suficientes para aprová-lo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Duque, o milionário

Como o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, depois de descoberto por Silvinho Pereira e chancelado por José Dirceu, ascendeu da modesta gerência de contratos para o comando de obras faraônicas na estatal e conseguiu acumular riqueza

Claudio Dantas Sequeira, Josie Jeronimo, Rogério Daflon
A cobertura suntuosa em endereço nobre na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, foi decorada por um badalado escritório de arquitetura. Paredes e tetos receberam revestimentos de altíssimo nível. Cômodos foram preenchidos por móveis assinados e objetos de arte – algumas telas de jovens pintores em ascensão. Quando a reforma terminou, os amigos mais próximos improvisaram um trocadilho elogioso. “Duque, agora você tem o seu palácio!”. A ostentação incomodou os vizinhos, que tentaram embargar a obra diversas vezes, acusando-o de violar as leis do condomínio e da prefeitura. Renato Duque deu de ombros. “Sou dono do prédio”, disse. E não estava mentindo. O edifício onde mora foi ele mesmo que ergueu. Associou-se a uma desconhecida construtora chamada Fercon, executou a obra e depois cobriu parte do custo com a venda de um dos apartamentos. Outros dois ele doou para as filhas. Sua cobertura duplex vale hoje R$ 4,5 milhões, mas o preço vai subir quando chegar o metrô, que acoplará esse pedaço da Barra à zona sul carioca.
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AMBICIOSO
O estilo de Renato Duque à frente da diretoria de Serviços da Petrobras
agradou a seus padrinhos políticos, para quem obras caras
eram sinônimo de gordas propinas
O crescimento patrimonial de Duque se estende à família. O filho comprou recentemente um imóvel ao lado e nem precisou vender o que havia ganho do pai no Canal de Marapendi, a uns seis quilômetros dali. O ex-diretor da Petrobras também não se desfez do apartamento em que morava na Tijuca, bairro de classe média. Adquiriu duas lojas comerciais de alto padrão e construiu uma casa de veraneio em Penedo, cidade turística de colonização finlandesa. Também investiu na compra de dólares e joias. Tudo isso, somado aos R$ 3,2 milhões bloqueados pelo Banco Central em suas contas bancárias indicaria que o patrimônio de Duque hoje superaria facilmente os R$ 15 milhões. Sem contar as somas oriundas de propinas recebidas de contratos da Petrobras que teriam sido depositadas em contas na Suíça. Os delegados da PF ensaiam um raciocínio que encontra respaldo na lógica financeira do crime: se o gerente abaixo de Duque, Pedro Barusco, se comprometeu a devolver R$ 250 milhões, imagina quanto o chefe dele conseguiu acumular. “O Duque não vai poder se calar porque vai ter que explicar a riqueza que ele amealhou”, disse o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato.
Renato de Souza Duque era um homem maduro, na casa dos 48 anos, quando o PT chegou ao governo, em 2003. Natural de Cruzeiro (SP), fez a vida no Rio de Janeiro. Formou-se engenheiro pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e entrou para os quadros da Petrobras em 1978. Foi gerente de plataformas flutuantes, depois superintendente de perfurações na Bacia de Campos, gerente de contratos de perfuração e ainda de recursos humanos da área de exploração e produção. Também gerenciou a divisão de engenharia e tecnologia de poços, retornando em seguida para a gerência de contratos.
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IMAGINA O CHEFE
Pedro Barusco, gerente subordinado a Duque,
se comprometeu a devolver R$ 250 milhões
Em 2003, já era engenheiro sênior da companhia quando foi descoberto pelo então secretário-geral do PT Silvio Pereira. “Silvinho Land Rover” fora escalado pelo então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, para encontrar um funcionário de carreira “inteligente e discreto”, e acima de tudo fiel, capaz de assumir a mais estratégica diretoria da estatal. Duque se enquandrava no perfil. Pai de família, homem de poucas palavras, metódico, ambicioso e com enorme capacidade de trabalho. Afinal, a Diretoria de Serviços era composta por seis áreas, respondendo tanto pela assistência médica dos empregados e por rodar a folha de pagamento como pelas pesquisas, toda a área de tecnologia da informação e telecomunicações, assim como pelo cadastramento de fornecedores, a compra de equipamentos e a condução de grandes empreendimentos da companhia, sejam plataformas, sejam refinarias ou gasodutos.
Os colegas da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), entidade de classe que frequentava, se surpreenderam com a ascensão de Duque. Da modesta gerência de contratos ele saltou para o comando de obras faraônicas, com o poder de fechar e pagar contratos e negociar diretamente com executivos de grandes empreiteiras. E nunca se fez tanta obra e se fechou tanto contrato bilionário. O crescimento da demanda por energia e de materiais refinados levou a Petrobras a redesenhar sua estratégia de produção, colocando em prática um amplo plano de investimentos. Duque era o cara certo, no lugar certo, na hora perfeita.
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PATRIMÔNIO
A cobertura duplex de Renato Duque na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro,
está orçada hoje em R$ 4,5 milhões
Ainda em 2003, ele tentou emplacar, a pedido da Odebrecht, obra de um gasoduto para levar a produção do Rio de Janeiro para Ilhabela (SP). O empreendimento orçado em R$ 5 bilhões foi vetado, pois a utilização de navios para transportar a produção era menos onerosa. Mas o estilo ambicioso de Duque agradou a seus padrinhos políticos, para quem obras caras eram sinônimo de gordas propinas ou “comissões”, como eles gostam de dizer. Assim, em pouco tempo, ele se tornou, nas palavras de companheiros de firma, o “arrecadador mor” do PT no esquema da Petrobras.
A atuação de Duque na companhia ganhou cores novas com a parceria de Pedro Barusco. Diferentemente do diretor, que nessa época ainda não pensava em morar na Barra e cultivava o futsal com amigos num clube de Laranjeiras, Barusco era espalhafatoso e adorava ostentar, mesmo que sua conta bancária ainda não sustentasse o estilo de vida de xeique árabe. Colegas contam que o recém-nomeado gerente de Engenharia, morador de Joatinga, um minúsculo e valorizadíssimo bairro carioca, entre São Conrado e Barra da Tijuca, levava tacos de golfe para as reuniões de trabalho na estatal. Entre uma planilha e outra, exibia-se contando quanto havia custado o novo passatempo. Mas o jeito, digamos assim, mais extrovertido de Barusco harmonizava bem com a seriedade de Duque, numa estratégia eficaz para cultivar sócios e abrir novas frentes de negócios. O gerente era o “relações-públicas” da parte que cabia ao PT no esquema e Duque o responsável por criar métodos de arrecadação sem despertar grandes suspeitas.
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Tinham contato diário, pessoalmente ou por telefone. Viajavam para o o exterior para visitar obras ou estaleiros em Cingapura, Coreia do Sul, Japão, China. Tornaram-se unha e carne. Apesar da relação estreita, Duque e Barusco mantinham a relação no estrito campo profissional. Não se frequentavam socialmente. Por outro lado, Duque tornou-se grande amigo de João Vaccari Neto, o tesoureiro do PT. “Tivemos uma empatia”, disse à PF. Passaram a jantar em restaurantes chiques de São Paulo e do Rio de Janeiro. Vaccari abriu os olhos do diretor para os prazeres efêmeros da vida.
O divisor de águas apontado por gerentes da Petrobras na estratégia de onerar obras e transformar aditivos em propina foi a modificação do método de seleção das empreiteiras. Antes, a companhia formulava os projetos básicos das obras que lançaria em editais. Assim, as empresas só poderiam apresentar propostas com preços unitários para concorrer. Duque reformulou o procedimento. Entregou às empreiteiras o direito de apresentar o projeto que melhor caberia, só após a seleção. Com isso, abriu a porta para bilhões em aditivos. A satisfação do PT com os serviços prestados por Duque era tamanha que em março de 2010 o deputado estadual Gilberto Palmares (PT-RJ) decidiu fazer uma homenagem formal ao diretor. Usou sua influência de parlamentar para encaminhar uma honraria a Duque. Concedeu ao engenheiro o título de cidadão do Rio de Janeiro, em solenidade na Assembleia Legislativa do Estado.
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O reinado durou até fevereiro de 2012, quando Graça Foster assumiu a presidência da companhia. Ele aproveitou a oportunidade para deixar a estatal. Os padrinhos de Duque ainda tentaram emplacar um sucessor, mas a nova presidente insistiu em escolher o substituto. Richard Olm foi o escolhido. Barusco saiu antes, em 2011, para integrar a direção da Sete Brasil ao lado de João Carlos Ferraz, gerente financeiro da Petrobras e homem de confiança de Almir Barbassa, diretor financeiro da Petrobras. A Sete foi a primeira empresa brasileira dona de sondas de exploração capazes de operar no pré-sal e as alugava para a Petrobras.
Duque abriu sua consultoria e entrou para a lista de investigados do esquema desbaratado pela Lava Jato após o depoimento de delação premiada de um ex-colega, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O delator afirmou que Duque recebia propinas de empreiteiras, para facilitar contratos. A versão foi detalhada pelos executivos da Toyo Julio Camargo e Augusto Mendonça, que denunciaram o pagamento de R$ 50 milhões em propina a Duque na compra de sondas, na obra da Repav, de Cabiúnas 2, da Repar, do Comperj e até do gasoduto Urucu-Manaus. Do total, R$ 12 milhões teriam sido depositados numa conta chamada Drenos, no banco Cramer, na Suíça. À PF, Duque rejeitou todas as acusações. Disse não possuir contas no exterior e negou a existência de um cartel de empreiteiras que acertavam contratos superfaturados com a Petrobras. Admitiu, porém, ter recebido R$ 1,6 milhão da UTC por serviços de consultoria prestados à empreiteira. Ele recebeu o dinheiro na conta da 3DTM Consultoria, empresa que abriu dois dias antes de pedir exoneração da Petrobras em 25 de abril de 2012.

sábado, 22 de novembro de 2014

E-mails provam que Lula e Dilma poderiam ter interrompido o propinoduto

O doleiro Alberto Youssef disse à Justiça que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrupção na Petrobras. Agora, mensagens encontradas pela PF em computadores do Planalto mostram que eles poderiam ter interrompido o propinoduto, mas, por ação ou omissão, impediram a investigação sobre os desvios

Robson Bonin e Hugo Marques
Paulo Roberto Costa e Dilma Rousseff
(Dida Sampaio/Estadão Conteúdo e Cristiano Mariz/VEJA)
Antes de se revelar o pivô do petrolão, o maior escândalo de corrupção da história contemporânea brasileira, o engenheiro Paulo Roberto Costa era conhecido por uma característica marcante. Ele era controlador e centralizador compulsivo. À frente da diretoria de Abastecimento e Refino da Petrobras, nenhum negócio prosperava sem seu aval e supervisão direta. Como diz o ditado popular, ele parecia ser o dono dos bois, tamanha a dedicação. De certa forma, era o dono — ou, mais exatamente, um dos donos —, pois já se comprometeu a devolver aos cofres públicos 23 milhões de dólares dos não se sabe quantos milhões que enfiou no próprio bolso como o operador da rede de crimes que está sendo desvendada pela Operação Lava-Jato. Foi com a atenção aguçada de quem cuida dos próprios interesses e dos seus sócios que, em 29 de setembro de 2009, Paulo Roberto Costa decidiu agir para impedir que secassem as principais fontes de dinheiro do esquema que ele comandava na Petrobras. Costa sentou-se diante de seu computador no 19º andar da sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, abriu o programa de e-mail e pôs-se a compor uma mensagem que começava assim:
“Senhora ministra Dilma Vana Rousseff...”.
O que se segue não teria nenhum significado mais profundo caso fosse rotina um diretor da Petrobras se reportar à ministra-chefe da Casa Civil sobre assuntos da empresa. Não é rotina. Foi uma atitude inusitada. Uma ousadia. Paulo Roberto Costa tomou a liberdade de passar por cima de toda a hierarquia da Petrobras para advertir o Palácio do Planalto que, por ter encontrado irregularidades pelo terceiro ano consecutivo, o Tribunal de Contas da União (TCU) havia recomendado ao Congresso a imediata paralisação de três grandes obras da estatal — a construção e a modernização das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Getúlio Vargas, no Paraná, e do terminal do Porto de Barra do Riacho, no Espírito Santo. Assim, como quem não quer nada, mas querendo, Paulo Roberto Costa, na mensagem à senhora ministra Dilma Vana Rousseff, lembra que no ano de 2007 houve solução política para contornar as decisões do TCU e da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.
Também não haveria por que levantar suspeitas se o ousado diretor da Petrobras que mandou mensagem para a então ministra Dilma Rousseff fosse um daqueles barnabés convictos, um “caxias”, como se dizia antes nas escolas e no Exército de alguém disposto a arriscar a própria pele em benefício da pátria. Em absoluto, não foi o caso. Paulo Roberto Costa, conforme ele mesmo confessou à Justiça, foi colocado na Petrobras em 2004, portanto cinco anos antes de mandar a mensagem para Dilma, com o objetivo de montar um esquema de desvio de dinheiro para políticos dos partidos de sustentação do governo do PT. Ele estava ansioso e preo­cupado com a possibilidade de o dinheiro sujo parar de jorrar. É crível imaginar que em 29 de setembro de 2009 Paulo Roberto Costa, em uma transformação kafkiana às avessas, acordou um servidor impecável disposto a impedir a paralisação de obras cruciais para o progresso da nação brasileira? É verdade que às vezes a vida imita a arte, mas também não estamos diante de um caso de conversão de um corrupto em um homem honesto da noite para o dia.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Obama revela plano para legalizar 5 milhões de imigrantes

Serão oferecidas permissões de trabalho de 3 anos a quem more no país há ao menos cinco anos e tenha um filho americano ou com residência autorizada

O presidente Barack Obama discursa na Casa Branca
O presidente Barack Obama discursa na Casa Branca (Jim Bourg/AFP)
O presidente americano, Barack Obama, anunciou nesta quinta-feira em pronunciamento na TV detalhes de sua aguardada reforma da imigração. O plano de Obama, que entrará em vigor por meio de decreto presidencial, é oferecer permissões temporárias de trabalho para imigrantes em situação irregular residentes nos Estados Unidos há pelo menos cinco anos, que tenham ao menos um filho cidadão americano ou com residência autorizada (green card) e não possuam ficha criminal. A autorização vale por três anos, é renovável, e evita a deportação. Mas não implica na conquista da cidadania, que continua dependendo de processo à parte.
"Sei que alguns dos críticos desta medida a chamam anistia. Bom, não é. Anistia é o sistema migratório que temos atualmente, no qual milhões de pessoas vivem aqui sem pagar seus impostos, sem se submeter às nossas regras, em que os políticos usam este assunto para assustar os cidadãos e buscar votos", disse Obama em um discurso na Casa Branca.
A expectativa é de que quase cinco milhões de imigrantes em situação ilegal possam ser beneficiados. Isso significa quase metade dos 11,2 milhões de não cidadãos em situação irregular no país. Os interessados deverão preencher um requerimento disponível no primeiro semestre do próximo ano. Quase a metade do total dos imigrantes ilegais é de origem mexicana e a metade vive nos Estados Unidos há mais de 13 anos. Cerca de 60% deles em seis Estados: Califórnia, Flórida, Illinois, Nova Jersey, Nova York e Texas.
Durante seu discurso, Obama citou o ex-presidente George W. Bush, do Partido Rebublicano – cujos integrantes são fortes críticos das medidas. "Como uma vez meu antecessor, o presidente Bush, disse: 'São parte da vida americana''', afirmou Obama sobre os imigrantes. "Esperamos que as pessoas que vivem neste país sigam as regras. Esperamos que os que atravessam a linha não sejam recompensados injustamente".
Rivais – O anúncio representa um novo capítulo na batalha entre o governo e a oposição envolvendo a questão dos imigrantes nos EUA. Obama vinha afirmando que decidiu apelar para os decretos diante da incapacidade da Câmara dos Deputados de discutir e votar um projeto de reforma migratória que foi aprovado em 2013 pelo Senado.
A adoção de uma ampla reforma de todo o sistema migratório foi uma promessa central na campanha de Obama para a sua reeleição, em 2012. "Todo mundo está de acordo em que nosso sistema migratório falhou, infelizmente Washington permitiu que o problema se prolongasse por tempo demais", afirmou Obama em texto publicado pela Casa Branca em sua página no site de relacionamentos Facebook na noite de quarta-feira.
Horas antes do anúncio, o líder do Partido Republicano no Senado, Mitch McConnell, fez um alerta a Obama: "O presidente deve entender algo. Se (...) impõe sua vontade ao país, o Congresso agirá. Estamos considerando várias opções. Que ninguém se confunda". Ted Cruz, outro senador republicano, disse que ao assinar os decretos, Obama "não estará agindo como um presidente, mas como um monarca".
Durante o pronunciamento na TV, Obama, pediu que os republicanos não respondam suas medidas com uma nova paralisação administrativa do governo federal, nem com o bloqueio de outras iniciativas no Congresso. "Não deixem que a falta de acordo sobre um único assunto impossibilite qualquer acordo em outra questão (...) o Congresso não deveria voltar a provocar uma paralisação do governo só porque não existe acordo neste tema. Os americanos estão cansados do bloqueio", advertiu Obama.
(Com agências EFE e France-Presse)

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Conheça a 'versão personalizada' do caça sueco que o Brasil comprou

Segundo Saab, adaptações fizeram Gripen ficar quase US$ 1 bi mais caro.
FAB adquiriu 36 caças com tela panorâmica que suecos 'não confiam'.

Tahiane Stochero Do G1, na Suécia - A repórter viajou a convite da Saab
"Secreto". Esta é a palavra que mais se ouve dos executivos da indústria sueca Saab quando o assunto são os detalhes do contrato assinado pela Força Aérea Brasileira (FAB) para a compra de 36 caças Gripen NG (New Generation), por US$ 5,4 bilhões (R$ 13,9 bilhões). Mesmo assim, muitos detalhes sobre o jato que só serão entregues a partir de 2019 começam a ser revelados.
Segundo o CEO e presidente da Saab, Hakan Buskne, "basicamente [o preço subiu] devido aos pedidos do cliente. Nós oferecemos algo e eles fizeram novos pedidos, como o Wide Area Display [WAD, um display panorâmico]", disse ele a jornalistas brasileiros na capital sueca na última semana. O display não existe em nenhuma das versões do jato que a companhia desenvolve desde 1980. (veja detalhes no vídeo acima).
As mudanças são a justificativa para a elevação em US$ 900 milhões do valor da compra, em relação à proposta final apresentada em 2009 durante a concorrência da qual participaram também o F-16, da norte-americana Boeing, e o Rafale, da francesa Dassault.
No display estarão reunidos todos os dados captados pelos sensores em uma única tela grande e central na cabine, permitindo que o piloto tome a decisão de forma mais rápida ao obter diretamente todas as informações. O modelo atual do Gripen possui três visores, que fornecem informações diferenciadas.
Arte Gripen VALE ESTA 2 (Foto: Editoria de Arte/G1)
Para ter uma ideia do que o display panorâmico representa, apenas um avião de combate no mundo, o norte-americano F-35 Lightning II, possui uma tela como a exigida pelo Brasil, e que será desenvolvida pela empresa AEL, do Rio Grande do Sul.
Segundo Bjorn Johansson, engenheiro-chefe do novo caça, outros diferenciais da versão brasileira do Gripen serão:
- um novo sistema de comunicação com encriptação e rádios duplos
- especificações na pressão interna do cockpit, buscando permitir à aeronave operar em altitudes elevadas por muito tempo sem causar mal estar ao piloto pela descompressão.
- rede avançada de guerra eletrônica: ações e sensores que podem identificar, interceptar ou destruir mensagens de interferência
- sensores de infravermelho de busca e salvamento
- sistema resistente a interferências, além da ligação por datalink (transmite informações de dados e voz) que fará a comunicação entre caças e também com torres de controle em terra e outros tipos de aviões militares brasileiros.
- a capacidade de integrar armas produzidas nacionalmente
- o Helmet Mounted (HMD), um óculos acoplado ao capacete que serve também como monitor e a partir do qual o piloto pode atacar e reconhecer alvos
- e uma saída para minimizar a "assinatura radar" do avião, que impeça a identificação pelos inimigos.
O cockpit exclusivo do Gripen do Brasil, com um display panorâmico e mudanças internas pedidas pela FAB (Foto: Saab)Projeto do cockpit exclusivo do Gripen a pedido do Brasil, com um display panorâmico (Foto: Saab)
"Introduzir o display panorâmico pedido pela FAB irá requerer mudanças na fuselagem e adaptações no sistema aviônico do avião e na interface entre o homem e a máquina. Nós não achamos que isso será difícil de resolver, mas irá solicitar mais trabalho do que se tívessemos o mesmo modelo de display nas versões do Gripen suecas e brasileiras", afirma o engenheiro da Saab em entrevista exclusiva ao G1.
A decisão de incluir o display panorâmico no novo avião ocorreu com o objetivo de promover o desenvolvimento da indústria nacional de defesa, "favorecendo a manutenção do ciclo de vida" do avião, informou a FAB, acrescentando que a Saab não relutou em aceitar a mudança com medo de atrasar o projeto. Segundo a Força Aérea Brasileira, o aumento do valor do contrato também se deve, além dos novos requisitos, à atualização de valores da proposta após cinco anos de tramitação.
Simulador do Gripen na Suécia (Foto: Saab/divulgação)Simulador do Gripen na Suécia (Foto: Saab/divulgação)
O trabalho geral de produção dos caças no Brasil será coordenado pela Embraer, e a montagem dos aviões, realizada na fábrica da empresa em Gavião Peixoto (SP). A Saab comprou 15% da empresa de engenharia Akaer, que receberá parte da transferência da tecnologia exigida pela FAB e investiu outros US$ 150 milhões em uma fábrica em parceria com o Grupo Inbra, em São Bernardo do Campo, onde serão produzidas pequenas peças metálicas e aeroestruturas.
Em uma conferência em Londres nesta semana, o brigadeiro José Augusto Crepaldi Affonso, presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (Copac), afirmou que a FAB estuda adquirir um total de 108 caças para substituir a frota atual de aviões de combate.
A Suécia é o maior operador do Gripen no mundo, possuindo atualmente 100 unidades do modelo C (um posto) e D (dois postos, para treinamento), que serão trocadas por 60 aeronaves do modelo E, nenhum com o display panorâmico, afirma Bydén. Pilotos suecos ouvidos pelo G1 dizem que não confiam em um display único para voar e que, por isso, a decisão é manter o projeto antigo.
"Estamos acostumados com três visores. Se eu perder um, tenho os demais de backup. Eu não confiaria em um só", diz o coronel Lundquist, que realizou missões com o Gripen no Mali e na Líbia.
"É um costume, vemos com mais naturalidade comandar o avião em três displays. Historicamente, pilotamos o Gripen assim e os pilotos, em geral, são resistentes a mudanças", acredita o chefe dos pilotos de teste do Gripen, Richard Ljunberg.
Jonas Jakobsson, outro piloto de teste da Saab, tem a mesma visão. "Acredito que seja questão de tradição. A Força Aérea sueca voa em Gripen com três displays desde 1997", acrescenta.
Gripen decola em teste na fábrica da Saab em Linkoping, na Suécia (Foto: Saab/divulgação)Gripen decola em teste na fábrica da Saab em Linkoping, na Suécia (Foto: Saab/divulgação)
No Gripen atual e na versão do Gipen E da Suécia, o piloto tem na tela principal, ao meio, o mapa da região que sobrevoa, explica Ljunberg. Nela estão dados do GPS, altitude e também a localização de aeronaves amigas e inimigas. No monitor à esquerda, estão as informações dos sistemas de combate, eletrônicos e de auto-defesa. No da direita, são visíveis os dados recebidos pelos radares e sensores, como localização de aviões inimigos e aviões, dentre outros. Se o piloto perde um dos visores, ele pode pedir ao software que apresente os dados nos demais, afirma.
O engenheiro da Saab Bjorn Johansson, que já atuou como piloto de teste do Gripen, afirma, contudo, que os brasileiros não precisam ter medo de perder as informações. Segundo ele, o próprio painel WAD terá uma divisão interna que, caso metade dele se apague, a outra será mantida. "Eu acredito que, quando o wide display estiver pronto, os suecos também vão querer para seus caças. É como um brinquedo novo", brinca.
Linha de montagem do Gripen na fábrica da Saab em Linkoping (Foto: Saab/divulgação)Linha de montagem do Gripen na fábrica da Saab em Linkoping (Foto: Saab/divulgação)
A escolha da gaúcha AEL para a produção do WAD ocorreu após uma concorrência da qual participou também uma companhia norte-americana, diz o diretor da Saab no Brasil, Bengt Jáner. "A Saab recomendou a escolha da AEL, por trazer junto outras capacidades desejadas, mas a escolha final foi da FAB”, afirma.
Contrato
O contrato da FAB com a Saab prevê a compra de 28 Gripens do modelo E (com um assento) e 8 Gripen F (com dois assentos), que ainda são projetos e serão construídos de forma conjunta entre os dois países. A versão biposto será desenvolvida em parceria com a Embraer, pois o contrato exige transferência de tecnologia para que o Brasil possa aprender a fazer um avião. O primeiro avião só deve chegar ao Brasil em 2019, e o último, em 2024.
A Saab também atualizou o custo da hora de voo do Gripen do Brasil, antes estimado em US$ 4,7 mil e agora corrigido para "cerca de US$ 5 mil", segundo Bengt Jáner, diretor da Saab no Brasil. Na Suécia, a hora de voo da versão C, sem armamento, para a aula dos pilotos, é de cerca de 3,5 mil euros (US$ 4,4 mil), segundo o coronel Michael Lundquist, comandante da escola sueca de formação dos pilotos de caça.
Já no operacional, o valor da hora de voo de um Gripen hoje chega a 50 mil coroas suecas (US$ 6.745), afirma o comandante da Força Aérea sueca, o major-general Micael Bydén.  Cada unidade do Gripen, conforme o vice-presidente de Parcerias Industriais da Saab Aeronáutica, Jan Germundsson, custa cerca de US$ 100 milhões.
CEO da Saab, Hakan Buskne, diz que o preço do Gripen encareceu devido aos pedidos da FAB (Foto: Tahiane Stochero/G1)CEO da Saab, Hakan Buskne (Foto: Tahiane
Stochero/G1)
Desde 1970, voavam nos céus brasileiros os caças franceses Mirage, cujo projeto é da década de 60 e podia atingir até 2.2 vezes a velocidade do som. As últimas unidades foram aposentadas em dezembro de 2013 e substituídas por F-5, que foram modernizados pela Embraer, mas possuem menor capacidade de reação que o antigo Mirage.
O novo Gripen terá ainda uma capacidade de armazenar combustível 50% superior à versão atual do jato com a mudança da posição do trem de pouso principal, o que permitirá alcançar distâncias de até 1.300 km, além de sistemas de alerta de aproximação de mísseis e um radar com antena de varredura eletrônica ativa (com procura automática em todos os ângulos).
Outro fator que interferiu na escolha do sueco em comparação com os demais concorrentes no processo FX-2, segundo a Aeronáutica, foi a facilidade de manutenção.
O contrato logístico assinado com a Saab terá duração de 5 anos, a partir do início da entrega da primeira aeronave operacional, e prevê suporte em todos os sistemas. O Brasil, de acordo com a FAB, também comprou "todas as peças necessárias para operação por 5 anos", além de dois simuladores completos, que serão instalados na base de Anápolis (Goiás), que formará um esquadrão para receber o avião.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Justiça mantém presos afilhado de Dirceu e 5 executivos

Juiz determinou expedição de alvarás para a prisão preventiva de dirigentes da Camargo Correa, da OAS e da UTC, e do ex-diretor da Petrobras Renato Duque

Laryssa Borges, de Brasília, e Bela Megale
Presos na operação Lava-Jato deixam a sede da Policia Federal com destino ao IML da cidade de Curitiba para fazer o exame de corpo de delito
Presos na operação Lava-Jato deixam a sede da Policia Federal com destino ao IML da cidade de Curitiba para fazer o exame de corpo de delito - Avener Prado/Folhapress
O juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, prorrogou a prisão do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e de cinco executivos de três empreiteiras detidos na sétima etapa da Operação Lava Jato. São eles: Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa; João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da construtora; José Aldemário Pinheiro Filho, presidente da OAS; Mateus Coutinho de Sá Oliveira, diretor financeiro da empresa; e Ricardo Pessoa, presidente da UTC. Todos são suspeitos de participar do megaesquema de corrupção na Petrobras e tiveram a prisão temporária convertida em preventiva.

A decisão do magistrado tem como principal argumento a farta quantidade de provas contra cada um dos presos. A maior parte dos indícios de participação no esquema foi levantada em depoimentos nos acordos de delação premiada, como o do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef.
Todos os seis envolvidos na decisão estavam presos de forma temporária – detenção, em regra de cinco dias, utilizada durante apurações quando a Justiça considera que a prisão de um suspeito é imprescindível para as investigações. A prisão preventiva, agora aplicada a todos os altos executivos, é justificada para impedir que o suspeito continue praticando crimes, que atrapalhe o andamento do processo ou para evitar a fuga do investigado.
No mesmo despacho, o juiz autorizou a liberdade de onze detidos que não tiveram prisão temporária convertida em preventiva, com a ressalva de que não podem deixar o país nem mudar de endereço sem autorização prévia: Othon Zanóide (diretor da Queiroz Galvão), Ildefonso Colares Filho (ex-diretor-presidente da Queiroz Galvão), Jayme de Oliveira Filho (ligado ao doleiro Alberto Youssef), Valdir Lima Carreiro (diretor-presidente da Iesa), Otto Sparenberg (diretor da Iesa), Alexandre Barbosa (OAS), Carlos Alberto da Costa e Silva (advogado), Newton Prado Junior (diretor da Engevix), Carlos Eduardo Strauch (diretor da Engevix), Walmir Pinheiro Santana (UTC) e Ednaldo Alves da Silva (UTC). Eles também são obrigados a entregar o passaporte no prazo de cinco dias e a comparecer a todos os atos do processo.
O juiz não decidiu o destino do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, operador do PMDB no esquema criminoso. Baiano se entregou apenas no final da tarde desta terça-feira depois de ser considerado foragido desde a semana passada.
Justificativas — A prisão preventiva de Renato Duque, relata o juiz Sergio Moro, é justificada pelo fato de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef terem declarado que o esquema criminoso de desvio de recursos e lavagem de dinheiro atingia a Diretoria de Serviços, que já foi ocupada pelo apadrinhado de José Dirceu. Em acordo de delação premiada, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e Júlio Gerin de Almeida Camargo, da empresa Toyo Setal, deram detalhes sobre o pagamento de propina a Duque por contratos da Petrobras.
Na semana passada, Moro havia decretado prisões preventivas de seis acusados (Eduardo Hermelino Leite, da Construtora Camargo Correa; José Ricardo Nogueira Breghirolli, da OAS; Agenor Franklin Magalhães Medeiros, da OAS; Sergio Cunha Mendes, da Mendes Júnior; Gerson de Mello Almada, da Engevix; e Erton Medeiros Fonseca, da Galvão Engenharia) e a detenção temporária de outros dezenove acusados.
Em seu despacho, o juiz responsável pelo processo da Operação Lava Jato afirma que as prisões preventivas não devem ser utilizadas como regra, mas são justificáveis no caso do petrolão por conta da “empreitada delituosa formada para sangrar os cofres da Petrobras e superfaturar contratos de obras da maior empresa do país". Segundo as investigações da Lava Jato, há indícios de formação do cartel das empreiteiras, fraude em licitações, lavagem de dinheiro, pagamento de propina e falsificação de documentos. Em acordos de delação premiada, parlamentares também foram citados como integrantes do esquema, mas os nomes deles não foram revelados porque o caso precisa tramitar necessariamente no Supremo Tribunal Federal (STF).