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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Ninguém no país possui habilitação específica para pilotar jato de Campos

Anac diz que não consta registro de habilitação do Cessna 560 XLS+.
Cenipa investiga se falha de treinamento interferiu na queda de avião.

Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo
Nenhum piloto brasileiro possui até hoje a habilitação específica para pilotar o Cessna 560 XLS+, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Esse é o modelo do jato que caiu em Santos (SP) em agosto de 2014, matando o então candidato presidencial Eduardo Campos e outras seis pessoas.
Atualmente, voam no país 14 jatos desse modelo.
"No momento, não consta na Anac nenhum registro de habilitação da variante XLS+ do modelo de aeronave Cessna 560. Conforme previsto na IS 61-004, somente no momento da renovação de suas habilitações é que o piloto deverá registrar a informação sobre os treinamentos realizados por ele e que hoje já estão dispostos em sua Caderneta Individual de Voo (CIV)", informou, em nota ao G1, a Anac.

Em dezembro de 2014, 160 pilotos de aviação executiva estavam habilitados a voar aeronaves da família Cessna 560 no Brasil.
Paineis do modelo para o qual os pilotos tinham habilitação (esq.) e do modelo que conduziam (dir.)  (Foto: Reprodução / Cenipa)Painéis do modelo para o qual os pilotos tinham habilitação (esq.) e do modelo que conduziam (dir.) (Foto: Reprodução / Cenipa)
O major Carlos Henrique Baldin, que participa da investigação do acidente de Campos no Cenipa, nega que a falta de treinamento específico para o Cessna 560XLS+ desqualificava os pilotos de Eduardo Campos para operar o avião.
“Para nós do Cenipa, o mais importante é saber se estavam em condições de treinamento e qualificação compatíveis com aquele equipamento e com as condições de meteorologia. A questão de estar habilitado, formalmente ou não, não é tão importante assim, é questão mais administrativa. Tem que perguntar à Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] para saber, por que [a norma sobre habilitações] estava em transição. Habilitação é questão administrativa que a Anac tem que ver”, respondeu.
Entenda como é a habilitação
Em janeiro passado, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que apura a tragédia, apontou que, de acordo com os documentos da tripulação, tanto o comandante, Marcos Martins, quanto o copiloto, Geraldo Magela Barbosa, tinham habilitação para voar em modelos anteriores (Cessna C560 Encore ou C560 Encore+ e o Cessna 560XLS), e não no modelo utilizado (um Cessna C560XLS+), mais moderno e com especificações na cabine e no painel diferentes .

O Cenipa investiga se a falta deste treinamento específico para os pilotos pode ter interferido na tragédia.
Cessna, Eduardo Campos, avião, jato (Foto: Arquivo/TV Globo)O Cessna XLS+ no qual voava o ex-candidato
Eduardo Campo (Foto: Arquivo/TV Globo)
A Anac argumenta que não há documentos que provem "que os pilotos não tinham o treinamento necessário para o Cessna 560XLS+".

Isso porque, até julho de 2014, um mês antes da tragédia, a agência expedia uma habilitação genérica que habilitava os pilotos de Cessna 560 a voarem todos os modelos de jatos executivos desta família, mesmo que o piloto fizesse a checagem de avaliação em versões mais antigas.
A partir da Instrução Suplementar 61-004, que entrou em vigor há oito meses, todos os pilotos que operam o avião teriam que fazer um treinamento para conhecer as diferenças entre os aviões da família Cessna 560 e também uma avaliação e um teste em voo comprovando a proficiência. Os treinamentos de diferenças e de adaptação passaram a ser obrigatórios para que o piloto pudesse obter uma habilitação específica para cada modelo, inclusive para o Cessna 560XLS+.
Por esta nova regra, os pilotos teriam que fazer a comprovação no momento que fizessem a renovação da habilitação.

A norma entrou em vigor em julho de 2014 e, até fevereiro de 2015, nenhum piloto tinha obtido a nova habilitação para pilotar o jato Cessna 560 XLS+, diz a Anac.

O Cenipa chegou, inclusive, a expedir em novembro de 2014 uma recomendação solicitando que a Anac "assegure" que os pilotos estivessem devidamente treinados e habilitados conforme a instrução de julho para operarem aeronaves Cessna no Brasil.
Anotação em caderneta
Segundo a Anac, a comprovação do treinamento compatível com o jato, e que ficaria registrada oficialmente, deveria ser feita pelo comandante e pelo copiloto quando eles fizessem a renovação da habilitação. Martins deveria refazer o documento em janeiro de 2015 e Cunha e maio deste ano.
A Anac alega, contudo, que os treinamentos para que o piloto pudesse transitar entre operações de diferentes modelos de aeronaves já está previsto no Regulamento Brasileiro da Aviação Civil nº 61, de 2012.

O registro deste treinamento deve ser feito na Caderneta Individual de Voo de cada piloto, e nenhum registro era feito formalmente na Anac até então, diz a agência. As cadernetas de ambos os pilotos queimaram no acidente e não foram recuperadas.

“É importante destacar que não existem evidências de que eles não teriam esse treinamento”, diz a Anac.

O G1 procurou a TAM Executiva, representante da Cessna no Brasil, que afirmou que os questionamentos deveriam ser enviados à fabricante. A Cessna diz que os treinamentos são dados por centros de instrução em simulador credenciados e não se manifestou sobre as diferenças entre os aviões e se presta orientação aos pilotos sobre modo de operação dos mesmos.

Nota da Anac
Em nota enviada ao G1 após a publicação desta reportagem, a Anac diz que "não é correto afirmar que não existem pilotos treinados para operar a variante XLS+ do modelo Cessna 560 considerando apenas a informação de que não há, até a presente data, registro da realização desse tipo de treinamento por pilotos que renovaram suas habilitações desde a publicação da IS 61-004".

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