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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A ascensão do moscatel

A uva que produz os vinhos cujo consumo mais cresce no País é também responsável por uma inédita safra de prêmios internacionais

Crédito: Eduardo Benini
FAMÍLIA UNIDA Benildo Perini (de chapéu), entre a mulher Maria do Carmo e os filhos Pablo e Franco: oito produtos derivados de moscatos e uma coleção de prêmios (Crédito: Eduardo Benini )
A excelente fase da produção de espumantes no Brasil foi confirmada em agosto durante o concurso internacional Vinus 2017, em Mendoza, Argentina. Na avaliação, que integra o “Ranking Mundial Wine 2017”, mais de 450 amostras de 17 países foram degustadas por um grupo de 42 jurados, dos quais três brasileiros. O resultado não poderia ser melhor: o Brasil conquistou 51 medalhas, das quais doze na categoria “Ouro Duplo”, atribuída a bebidas com 92 pontos ou mais. Apenas uma das amostras brasileiras que atingiram tal pontuação correspondia a um vinho tinto — o Bueno Paralelo 31, produzido na Campanha Gaúcha pela vinícola do locutor e apresentador de TV Galvão Bueno. Os demais eram todos espumantes, seis deles produzidos com uvas moscatéis. O resultado surpreendeu a crítica especializada, mas não os produtores, que têm empreendido esforços louváveis para qualificar as bebidas que resultam das uvas da família dos moscatos — uma das mais populares em todo o mundo. Cultivada do Oregon, nos EUA, à Austrália, essa casta antes pouco valorizada no Brasil produz uma ampla variedade de bebidas icônicas, do clássico frisante Moscato D’Asti, na Itália, ao fortificado Moscatel de Setúbal, em Portugal.
Responsável por 50% da produção nacional dessa uva, a cidade de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, promove no mês setembro o Festival do Moscatel, que este ano chegou à sétima edição. O evento faz parte da estratégia adotada pela atual gestão municipal para tornar a cidade conhecida por suas uvas. “Estamos aguardando para os próximos 30 a 40 dias a outorga, pelo Governo Federal, do título de capital nacional do moscatel”, diz o prefeito Claiton Gonçalves (PDT). Investir na promoção da uva mais identificada com as tradições locais não é apenas marketing — e nem vem de hoje. Foi em 1875 que os primeiros imigrantes italianos se estabeleceram em Nova Milano, hoje pertencente a Farroupilha, e deram início ao cultivo de uvas viníferas europeias.
ALTA PRODUÇÃO A variedade rende em média três vezes mais que as outras viníferas e as garrafas estocadas em adega: bebida leve e refrescante (Crédito:Divulgação)
Indicação de procedência

A vitivinicultura impulsionou a economia da cidade, reconhecida com a Indicação de Procedência (IP) para moscatos. “A Indicação de Procedência envolve uma cultura, uma saber fazer, uma tradição”, diz Jorge Tonietto, pesquisador de Zoneamento da Embrapa Uva e Vinho. “As diferentes regiões vitivinícolas têm suas tipicidades, que expressam as características intrínsecas do produto”, afirma. A IP é o primeiro passo para a Denominação de Origem (DO), conjunto de práticas de cultivo e vinificação que garantem a excelência da bebida produzida e o reconhecimento do mercado. Em busca de qualidade, os produtores da região criaram em 2005 uma associação, a Afavin, hoje presidida pelo enólogo João Carlos Taffarel, proprietário da vinícola Cave Antiga. “Estamos qualificando nossos produtos e trabalhando com a Embrapa para melhorar as práticas de produção”, diz Taffarel. Além de ter alta produtividade por hectar plantado (quase o triplo das demais uvas viníferas), a uva moscatel resulta em bebidas leves e refrescantes. “Com pouco álcool, naturalmente adocicada e festiva, essa bebida pode funcionar como uma porta de entrada para quem está se iniciando no mundo do vinho”, afirma. Tanto quem apesar das dificuldades do setor no Brasil, o moscatel vem mostrando uma tendência linear de crescimento em termos de consumo.
“Com pouco álcool, naturalmente adocicado e festivo, o espumante moscatel serve como porta de entrada para o vinho” João Carlos Taffarel, presidente da Afavin
Divulgação
Enquanto a comercialização total de espumantes pelas vinícolas brasileiras dobrou nos últimos dez anos, saltando de 8,5 milhões de litros em 2007 para 16,8 milhões no ano passado, o consumo de espumantes moscatéis triplicou: de 1,5 milhão para 4,4 milhões de litros. Entre as vinícolas que lideram essa expansão está a Casa Perini, uma das cinco maiores do País, com produção anual em torno de 12 milhões de litros. Fundada em 1929, a empresa hoje produz a maior variedade de uvas da família moscatel, caso da moscato branco, que hoje só existe no Brasil, da moscato giallo, e dos moscateis de Alexandria e de Hamburgo. A matéria-prima gera oito diferentes derivados, desde o suco de uva até o vinho fortificado Éden, elaborado no estilo do Jerez espanhol a partir do mosto de uvas que permaneceram 20 anos em barricas. A vinícola também coleciona prêmios. Desde 2014, o rótulo Casa Perini Moscatel, vendido na faixa acessivel de R$ 30, já conquistou seis medalhas de ouro, cinco de prata e três de bronze em concursos dentro e fora do País, além de 90 pontos no prestigiado “Guia Descorchados”, do Chile. Voltado para exportação, o Macaw Tropical Frisante, campeão da Grande Prova Vinhos do Brasil em 2016, foi citado pela revista americana “Wine Enthusiast” como um dos cinco moscatéis do mundo a serem provados por quem quer conhecer o que de melhor essa uva pode produzir. “Meu pai sempre enfatizou que o real valor da terra existe quando associado ao trabalho árduo ao longo dos anos. É um legado que carrego e busco perpetuar”, afirma o proprietário Benildo Perini, que hoje divide a condução da vinícola com a mulher Maria do Carmo e os filhos Pablo e Franco.

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