O relator da
Operação Lava Jato decide quais políticos com foro privilegiado viram
réus e sobre o sigilo dos depoimentos colhidos nas delações
Por
Da redação
O ministro Ricardo Lewandowski (e) ouve a
leitura do voto do colega Dias Toffoli durante o 15º dia de julgamento
do processo do mensalão (Dida Sampaio/AE/VEJA/VEJA)
A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), deve fazer um sorteio entre os integrantes da Segunda
Turma da Corte para definir quem será o relator da Operação Lava Jato,
reporta nesta terça-feira a Folha de S. Paulo. A relatoria da
Lava Jato estava sob responsabilidade do magistrado Teori Zavascki, que
faleceu em um acidente de avião em Paraty.
Os onze ministros do Supremo dividem-se em duas turmas de cinco
magistrados cada — o presidente da Casa, tradicionalmente, não participa
das turmas. Teori Zavascki era da Segunda Turma, assim como os
ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Celso de
Mello. Ainda de acordo com a Folha, Cármen Lúcia tem sondado a
possibilidade de Edson Fachin mudar da Primeira para a Segunda Turma do
STF para participar do sorteio.
O relator da Operação Lava Jato decide, entre outras coisas, quais
políticos com foro privilegiado viram réus e sobre o sigilo dos
depoimentos colhidos nas delações das empreiteiras que fizeram acordo
com a Justiça, como no caso dos 77 executivos e ex-executivos da
Odebrecht.
A possível retirada do sigilo na delação da Odebrecht é motivo de
apreensão no Governo e no Congresso, pois muitos políticos devem ser
citados e implicados na operação da Polícia Federal (PF). Homologação — A ministra Cármen Lúcia, homologou as
77 delações de executivos e ex-executivos da empreiteira Odebrecht,. Os
sigilos dos depoimentos serão mantidos e o material será encaminhado à
Procuradoria-Geral da República (PGR), que vai analisar os depoimentos
para decidir se oferece denúncia.
O fato de Cármen ter centralizado as discussões causou desconforto em
alguns ministros, que se queixaram da demora para ser ouvidos. O
principal ministro consultado por Cármen é o decano Celso de Mello. No
tribunal, o ministro Gilmar Mendes, por exemplo, é contra a
redistribuição porque considera que a Lava Jato, em linhas gerais, não
se encaixaria no critério de urgência. Temas urgentes do petrolão, na
avaliação dele, seriam apenas aqueles relativos a réus ou investigados
presos.
Sem recursos para investir na segurança
e na alegria dos foliões, cidades de todo o País cancelam o carnaval.
No Rio de Janeiro, escolas de samba perdem 40% da receita e 55 blocos
deixam de sair por falta de patrocínio. O brilho da festa vai depender
de muita criatividade — e do dinheiro dos turistas
FAXINA NO ORÇAMENTO Varrição no Sambódromo do Rio: escolas terão de se virar com pouco
Eliane Lobato
Nada de confete e serpentina. O carnaval deste ano foi
cancelado por falta de verba em pelo menos 70 cidades brasileiras. O
número equivale ao de municípios que já decretaram estado de calamidade
financeira: 73, segundo o Conselho Monetário Nacional (CMN). O corte
envolve desde grandes capitais até cidades pequenas, algumas com forte
tradição na folia. É o caso da histórica São Luiz do Paraitinga, no Vale
do Paraíba, cujo carnaval de rua, animado por marchinas, costuma atrair
milhares de jovens a cada ano. Lá, a prefeita Ana Lúcia Bilard Sicherle
(PSDB) resumiu a situação em uma frase: “Não há recurso nem orçamento.”
Em Minas Gerais, os cofres vazios também tiraram a alegria dos foliões.
Em nota, a Prefeitura de Nova Lima explicou que passa por “grave crise
econômica”, mesmo caso de Poços de Caldas, Ouro Branco e Patos de Minas.
O presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington,
recebeu a missão da prefeitura de cortar 10% dos custos totais do
carnaval da capital baiana, um dos maiores do País, “sem prejudicar a
qualidade.” O jeito foi “negociar com os fornecedores, congelar cachês,
renegociar contratos.”
As Escolas de Samba do Rio também cortaram. A Mocidade Independente
de Padre Miguel e a União da Ilha acabaram com seus ensaios-show.
“Entendo a forte crise financeira que assola o país. Não posso mais
conviver com esse tipo de situação: abrir a quadra, o que não é barato, e
não vê-la cheia”, disse o presidente da União da Ilha, Ney Filardi.
“Apesar da recessão, será um dos mais belos carnavais graças à
criatividade”, afirma Jorge Castanheiras, presidente da Liga das Escolas
de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). Segundo dados da entidade, a
captação de recursos das escolas caiu 40% na comparação com 2015. “NA RAÇA”
A crise também está impedindo muitos blocos de ir para a rua. Apenas
no Rio de Janeiro, 55 deles deixarão de sair este ano por falta de
patrocínio. “Se o apoio já era difícil para agremiações com menos
visibilidade, agora ficou impossível: a crise virou desculpa para
dizerem que não podem, não têm. Mas carnaval para nós não é negócio, é
alegria. Isso não mudará”, diz Rita Fernandes, presidente da Sebastiana,
a associação de blocos cariocas. “Não posso mais conviver com esse tipo de situação: abrir a quadra, o que não é barato, e não vê-la cheia” Nei Filardi, presidente da União da Ihha
A boa notícia vem de fora: os turistas estrangeiros não estão nem aí
para a crise e já reservaram boa parte dos cerca de 60% dos quartos da
rede hoteleira da cidade, segundo a Associação Brasileira da Indústria
de Hotéis do Rio (ABIH-RJ). Com isso, pelo menos uma parte da ocupação
do Sambódromo também está garantida. Segundo Castanheiras, da Liesa, 80%
dos camarotes cariocas já foram negociados. Há ingressos por R$ 1,8
mil, no estreante Número Um, e R$ 5,2 mil, no superespaço Rio Samba.
Animada, a holandesa Priscilla Nieuwbuurt já prepara as malas para o
Rio. “A crise no Brasil não afeta a nossa economia. Pelo contrário,
barateia a viagem”, diz ela. O finlandês Joel Jarlas, que também já
alugou um apartamento com amigos, é sincero: “Nunca cheguei nem a pensar
na crise econômica.” Eles estão dentro do cálculo da Riotur para este
ano: 1,1 milhão de turistas deverão injetar cerca de R$ 3 bilhões na
economia. Para o carnavalesco Milton Cunha, embora este seja “o carnaval
da crise”, a compensação virá “na raça.” UM MOMO MAIS MAGRO
Algumas das cerca de 70 cidades que cancelaram o Carnaval: SP: Campinas, Piracicaba,São Luiz do Paraitinga e São José dos Campos MG: Poços de Caldas,Ouro Branco, NovaLima e Patos de Minas RS: Passo Fundo RO: Ariquemes AP: Macapá Mudanças nos dois carnavais mais famosos do País: Rio de Janeiro
Cerca de 55 blocos, de 451 confirmados, não sairão às ruas por falta de
patrocínio. Entre eles, o Bloco da Segunda, que completaria 30 anos
neste ano Salvador
Os gastos públicos, em torno de R$ 50 milhões, serão cortados em 10%.
Entre os blocos que cancelaram a festa está o Cheiro de Amor, fundado em
1985. Muitos reduziram a participação, como o Cocobambu, que sairá
apenas em um dia em vez de três Alternativas de foliões e organizadores para fugir da crise este ano:
• Aceitar milhas em troca de abadás
• Parcelar ingressos para camarotes em até 10 prestações
• Arrecadar dinheiro por meio de vendas de camisetas, feijoadas, chapéus, lenços, salgados, leques e cervejas
• Promover crowdfundings
• Usar fantasias recicladas
• Cortar extras, como carro-pipa para refrescar calor dos foliões, decoração de carro de som e seguranças
Na reta final da delação da Odebrecht, a
temperatura política volta a subir e a presidente do STF, Cármen Lúcia,
se impõe. A ministra assume a condução da Lava Jato, articula com os
demais Poderes a sucessão de Teori Zavascki, ajuda a debelar a crise nos
presídios e até enquadra o juiz Sérgio Moro
VOZ ALTIVA
Durante o velório de Teori Zavascki, a presidente do STF deu uma
resposta atravessada ao juiz Sérgio Moro. As razões foram esclarecidas
ao longo da semana
Aguirre Talento
A morte em um fatídico acidente de avião do ministro Teori
Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal,
acomodou uma nuvem cinzenta sobre futuro das investigações do maior
esquema de corrupção já descoberto no País. Além de acumular em seu
gabinete mais de 50 inquéritos e ações penais da Lava Jato, o ministro
tinha em seu poder a explosiva delação premiada dos 77 executivos da
Odebrecht. E estava prestes a homologá-la. Na esteira da tragédia,
enquanto o meio político não só fazia figa para ganhar um fôlego, como
já se articulava para jogar o fim do mundo para além das festas
momescas, advogados da empreiteira manifestavam preocupação com um
adiamento indefinido dos processos. Os procuradores, por seu turno,
manifestavam dúvidas se o novo ministro relator reuniria condições
técnicas e isenção ética para levar adiante a operação. Em meio a esse
mar de incertezas, emerge como voz altiva da República a presidente do
STF, Cármen Lúcia. Na última semana, coube à ministra avocar para si a
condução da Lava Jato, acelerar a chamada “mãe de todas as delações” e
assumir as rédeas do STF nas articulações para escolha dos novos
ministro e relator. Foi como se as placas tectônicas, alvoroçadas em
Brasília, se reacomodassem naturalmente, após o tsunami. A autoridade
serena de Cármen e sua genuína firmeza, a se imporem perante o caos, ou a
proximidade dele, bastaram. Fez-se a calmaria. Durante o velório de
Teori, realizado em Porto Alegre (RS), a presidente do STF daria o
primeiro e talvez mais contundente sinal de que, sim, ela mataria a
crise que se avizinhava no peito. Em um dado momento, o juiz federal
Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância,
cumprimentou a magistrada e comentou esperar que ela decidisse com
serenidade a escolha do novo relator do caso. Ladeada por colegas, a
ministra respondeu a Moro: “Do Supremo cuido eu”.
Como se nota, Cármen Lúcia é uma mulher de poucas palavras e posições
firmes. No início da semana, ela determinou aos juízes auxiliares do
gabinete de Teori que remarcassem as audiências preliminares com os
delatores. Pairavam dúvidas se Cármen aguardaria a indicação do novo
relator, a quem, em tese, caberia a tarefa. A ministra não se fez de
rogada. Reuniu-se com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na
segunda-feira 23 e deu o aval a uma estratégia para permitir a
aprovação dos acordos. No dia seguinte, Janot apresentou formalmente ao
Supremo um pedido para que a delação da Odebrecht fosse tratada em
caráter de urgência. Era o respaldo que ela precisava para imprimir
celeridade ao andamento do processo. Ato contínuo, os funcionários
telefonaram para os advogados da Odebrecht e marcaram dia, horário e
local para as audiências com cada um dos colaboradores – que
aconteceram, em sua maioria, nos Estados de residência deles e com o
apoio da estrutura da Justiça Federal. Previstos em lei, esses
depoimentos prévios dos delatores são apenas para confirmar que
assinaram a colaboração espontaneamente e por iniciativa própria, sem
sofrer qualquer tipo de pressão. O trabalho ocorreu com velocidade
incomum e foi aberto o caminho para a homologação, que pode sair a
qualquer momento. “Sobre esse assunto não falo nem sob tortura”,
esquivou-se Cármen na última quinta-feira 26. Não poderia mesmo. A
partir desta fase, Janot já terá condições de solicitar as primeiras
aberturas de inquérito contra políticos, dando prosseguimento a um dos
passos mais importantes da Lava Jato.
As articulações para a definição tanto do nome do novo relator da
Lava Jato no Supremo como do ministro substituto de Teori também tiveram
a participação direta da ministra. Se por medo ou respeito, ninguém
sabe. Mas, ao fim da semana, emissários do Planalto faziam circular a
versão de que nada seria feito sem o aval e a aquiescência dela.
Inicialmente, havia a possibilidade de que o ministro indicado para a
vaga de Teori pelo presidente Michel Temer (PMDB) assumisse a relatoria,
conforme reza o regimento interno do Supremo. Temer, no entanto,
recebeu a visita da prudência, aquela que diferencia os homens públicos
incautos dos previdentes. O louvável gesto jogou a responsabilidade nas
mãos da presidente Cármen Lúcia e ela agiu como manda o figurino de
magistrada. Reuniu ministros, ouviu mais do que falou e terminou a
semana inclinada a uma decisão. Qual seja: a de indicar um colega do
plenário do STF para herdar a relatoria. Dentre os nomes incluídos nessa
possibilidade largam na frente os dos ministros Luiz Edson Fachin, Luís
Roberto Barroso e Celso de Mello, nesta ordem. “CALA A BOCA JÁ MORREU”
O histórico de Cármen Lúcia é alvissareiro para a Lava Jato e sua
postura combativa contra a corrupção indica que ela não vai medir
esforços para fazer a operação continuar a todo vapor. E, sobretudo, sem
ingerência das sempre condenáveis conveniências políticas. Ela, por
exemplo, votou a favor da prisão de condenados em segunda instância e
proferiu um duro voto ao se posicionar favorável à prisão preventiva do
então senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), em novembro de 2015.
“Agora, parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não
vencerá a Justiça”. Outro voto que ganhou repercussão foi na discussão
sobre biografias não autorizadas, que foram liberadas por decisão
unânime do Supremo. Cármen Lúcia se mostrou uma defensora da liberdade
de expressão e alertou: “Cala a boca já morreu, é a Constituição do
Brasil que garante”. Ela chegou a ser relatora dos inquéritos da
Operação Zelotes que subiram para o Supremo por envolverem
parlamentares, mas que ainda estavam em fase inicial. Como assumiu a
presidência, as investigações ficaram a cargo do seu antecessor, o
ministro Ricardo Lewandowski.
Segunda mulher a assumir o comando do Supremo, aos 62 anos, natural
de Montes Claros (MG), Cármen Lúcia não se limita a uma atuação
burocrática nos autos processuais do seu gabinete e tem adquirido
protagonismo ao enfrentar questões cruciais para o País. “Justiça não é
milagre”, “Constituição não é utopia”, “cidadania não é aspiração”,
costuma dizer. Em meio à crise nos presídios, tem discutido soluções com
o presidente Temer e os dos tribunais de Justiça estaduais. Desde que
assumiu o cargo, em setembro, ela fez visitas a presídios e articula
agora a realização de um censo para a população carcerária, com o
objetivo de traçar um diagnóstico para tentar propor soluções à situação
explosiva das carceragens. A presidente do STF também tem atuado no
sentido de buscar caminhos para solucionar a profunda crise econômica
que acomete os estados brasileiros. A ministra, por exemplo, concedeu
uma liminar desbloqueando R$ 193 milhões das contas do Rio. Graças à
decisão, o governo fluminense conseguiu se programar para pagar os
salários atrasados dos servidores. Seus recentes movimentos têm atiçado
especulações das mais variadas, como as que a colocam como possível nome
para concorrer à Presidência da República em 2018. Claro, sem nenhuma
sinalização concreta por parte dela. Não é nem nunca foi de seu feitio.
Como poucos, a ministra consegue manter a distância regulamentar que
separa a magistrada da (eventualmente) política, condição que muitas
vezes precisa assumir enquanto presidente da Corte Suprema do País.
A ministra monitora com atenção, por exemplo, a investigação sobre as
causas do acidente aéreo que matou Teori na quinta-feira 19, tocadas
pela Aeronáutica, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. As
evidências colhidas até agora pelo Centro de Investigação e Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) reforçam a hipótese de que foi mesmo um
acidente, provocado pelo mau tempo que assolava a região de Paraty (RJ)
no momento do voo. O Cenipa conseguiu extrair os dados do gravador de
voz da cabine do avião e divulgou que, em uma análise preliminar, “os
dados extraídos não apontam qualquer anormalidade nos sistemas da
aeronave”. O equipamento gravou os últimos 30 minutos de áudio do voo, o
que inclui não só as informações de voz, mas também sons que podem
indicar as manobras da aeronave e ajudar a explicar os motivos da queda.
Os técnicos agora se dedicam à análise desse material, capaz de
fornecer uma resposta definitiva à tragédia que chocou o País e ameaçou
paralisar a Lava Jato. Ameaçou. Pois a atmosfera do imponderável que se
abateu sobre o futuro da operação, para o instantâneo deleite de
políticos encalacrados, não contava que no meio do caminho tinha Cármen.
No meio do caminho tinha Cármen Lúcia.
ASSIM É CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA, 62 ANOS
> Discreta, de poucas
palavras, porém firme em suas decisões e às vezes dura nos autos, a
presidente do STF preza pela simplicidade. Prefere dirigir o próprio
carro e não gosta de ter seguranças à sua cola
> Gosta de bater
longos papos com amigos, mas sente-se um pouco solitária em Brasília.
Ela é mineira, religiosa, mas vota por direitos liberais, como aborto em
caso de feto anencéfalo, união homoafetiva e a Marcha da Maconha
> Indicada ao STF em
2006 pelo então presidente Lula, assumiu a presidência do Supremo em
setembro de 2016. Ganhou notoriedade com atuação firme em casos de
corrupção e frases de efeito nos julgamentos
>Nos bastidores, é
articulada na relação com parte dos ministros do STF e mantém bom
trânsito com o Palácio do Planalto. Proferiu voto pela prisão do então
senador Delcídio do Amaral no qual afirmou que “o escárnio venceu o
cinismo”
Entre 2006 e
2012, empresário alvo da PF fez doações no valor de 12,6 milhões de
reais a treze partidos; ‘quero que a democracia flua’, disse à Lava Jato
Por
João Pedroso de Campos
O empresário Eike Batista e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) (Danilo Verpa/Folhapress)
Em 26 de maio de 2016, quando se prontificou a ir
voluntariamente até a sede da força-tarefa da Operação Lava Jato, em
Curitiba, para prestar depoimento, o empresário Eike Batista
assim explicou aos procuradores Robson Pozzobon e Júlio Carlos Motta
Noronha, do Ministério Público Federal, a razão de fazer generosas
doações a campanhas políticas: “Fazia isso constantemente como
brasileiro, essa é minha contribuição politica, quero que a democracia
flua”.
As investigações da Operação Eficiência
mostraram nesta quinta-feira, contudo, que as relações do ex-bilionário
com os poderosos, especialmente com o ex-governador do Rio de Janeiro
Sérgio Cabral (PMDB), não se baseavam no civismo de Eike, acusado de
pagar ao menos 16,5 milhões de dólares em propina ao peemedebista.
No depoimento, o empresário não fez qualquer menção a pagamento de
propinas. “Minha cultura é de fazer a coisa certa”, garantiu. Quando
voltar do exterior, entregar-se às autoridades brasileiras
e for levado à prisão, Eike pode se ver inclinado mudar o discurso e
explicar as reais motivações de alguns de seus investimentos políticos.
Além das propinas milionárias pagas no esquema descoberto pelo MPF e a
Polícia Federal, Eike doou oficialmente 12,6 milhões de reais a
campanhas políticas entre 2006 e 2012, conforme o Sistema de Prestação
de Contas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A lista de
beneficiários do dinheiro do ex-bilionário é estrelada e
suprapartidária: envolve 13 partidos, do DEM ao PCdoB, e nomes de
ex-presidentes, ex-presidenciáveis, ex-prefeitos, parlamentares e
ex-parlamentares.
Os valores doados por Eike Batista a cada um dos treze partidos (VEJA)
O ano em que o ex-bilionário debutou no financiamento de campanhas
políticas foi 2006, quando ele gastou 4,38 milhões de reais em doações,
divididas entre sete candidatos e os comitês financeiros de PMDB, PFL,
PSB, PT e PDT. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu um
milhão de reais. André Puccinelli (PMDB) e Delcídio do Amaral (então no
PT), os dois principais candidatos ao governo do Mato Grosso do Sul,
onde Eike tinha negócios, levaram 400.000 reais a cada um. O PMDB do Rio
de Janeiro, reduto de Cabral, foi agraciado com outros 400.000 reais.
Nas eleições municipais de 2008, quando distribuiu 1,7 milhão de
reais a candidatos e partidos, Eike demonstrou como interesses
econômicos – e não apenas o desejo de que “a democracia flua” – guiavam a
lógica de suas contribuições.
Receberam 50.000 reais cada os desconhecidos Breno Costa (DEM) e
Reinaldo Guimarães (PMDB), candidatos à prefeitura da pequena Conceição
do Mato Dentro (MG), onde a MMX, mineradora de Eike, produzia minério de
ferro. Além deles, as campanhas dos ex-prefeitos do Rio Eduardo Paes
(PMDB) e de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB) levaram 500.000 reais e
400.000 reais, respectivamente.
Foi nas eleições nacionais de 2010, no entanto, que o então
bilionário mais abriu a carteira, com doações oficiais de 6 milhões de
reais, divididas entre cinco candidatos e os comitês financeiros de
PSDB, PT, PR, PSB, PV, PCdoB, PDT e DEM.
Entre os presidenciáveis, o tucano José Serra e a petista Dilma
Rousseff receberam um milhão de reais cada, enquanto Marina Silva (PV)
ficou com 500.000 reais. Candidato à reeleição ao governo do Rio, Cabral
foi beneficiado com 750.000 reais por Eike, que ainda injetou 500.000
reais na campanha de Delcídio ao Senado e 100.000 reais na de Cristovam
Buarque (PDT-DF).
A única eleição em que o empresário preferiu fazer doações por meio
de uma de suas empresas, e não de sua pessoa física, foi a de 2012.
Naquele ano, a MMX doou 500.000 reais, distribuídos entre PMDB, PSD,
DEM, PP, PSDB, PTB, PTC e PSB.
Mantega e Santana
O depoimento de Eike aos procuradores da Lava Jato foi crucial para a
prisão – mesmo que por poucas horas – do ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega na 34ª fase da operação, a Arquivo X.
Em seu depoimento, Eike explicou em detalhes como Mantega pediu
doação ao PT, no valor de 5 milhões de reais, em forma de quitação de
campanha. A reunião foi no dia 1º de novembro de 2012, fora de período
eleitoral.
Segundo o empresário, a mulher do marqueteiro João Santana, Mônica
Moura, procurou o advogado Flávio Godinho, também alvo da Operação
Eficiência nesta quinta-feira, e o orientou a encaminhar o pagamento a
uma conta do casal no exterior. Eike disse aos procuradores que exigiu
de Santana a prestação de algum serviço em troca do dinheiro, o que
teria sido feito por meio de uma consultoria junto aos governos de
Venezuela e Angola.
Valor proposto no texto formatado pelo governo é de R$ 5,5 mil e foi rechaçado por Raul Jungmann, da Defesa
O projeto de lei que trata da aposentadoria de militares deve ser apresentado ainda no primeiro semestre de 2017
( Foto: Natinho Rodrigues )
Brasília. O governo federal estuda criar um teto para o
valor das aposentadorias de militares, no que seria um segundo passo da
reforma da Previdência. Essa proposta, no entanto, enfrentará forte
resistência da categoria. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, rejeita
colocar como teto para os benefícios o máximo pago pelo INSS, R$
5.531,31.
O Palácio do Planalto confirma a intenção de fixar um valor máximo para
os benefícios de militares, mas não especifica qual seria o parâmetro.
Nos bastidores, a ideia é apresentar um projeto de lei que coloque os
militares sob as mesmas regras dos demais trabalhadores, incluindo a
aplicação do teto do INSS. "Não existe nada fechado ainda. Vamos
discutir em um grupo de trabalho no início de fevereiro. As Forças
Armadas estão trabalhando em propostas", rebateu Jungmann à reportagem.
O projeto de lei que trata da aposentadoria de militares deve ser
apresentado ainda no primeiro semestre de 2017, em meio à tramitação da
proposta mais abrangente da reforma da Previdência no Congresso. Além de
submeter militares ao teto do INSS, o governo estuda aplicar à
categoria as mesmas regras gerais já incluídas no texto encaminhado no
fim do ano passado, com exceções de idade mínima e tempo de serviço para
determinadas funções exercidas pelos membros da Forças Armadas. Mesmas regras
"Em princípio, as regras gerais serão as mesmas, mas tem algumas
circunstâncias particulares que vão exigir regras especiais", disse
outro integrante do governo. Jungmann já declarou em outras ocasiões que
os militares darão sua contribuição à reforma nas aposentadorias, mas
negou que a classe seja "algoz" do déficit da área. Apesar disso, dados
da Previdência mostram que os militares são 30% dos beneficiários, mas
representam 45% do rombo, previsto em R$ 152,7 bilhões para este ano.
As mudanças que já vinham sendo negociadas preveem que o tempo de
trabalho para que eles passem para a reserva suba de 30 para 35 anos.
Outra possibilidade é que as mulheres beneficiárias da pensão dos
militares passem a pagar os 11% recolhidos durante a atividade do
militar para terem o direito à pensão. Hoje, o servidor paga o
percentual para garantir o benefício para a cônjuge, mas depois que ele
morre, a esposa passa a receber sem ter os 11% descontados.
O governo acredita que o envio do projeto enquanto os parlamentares
analisam a reforma será uma sinalização positiva. Em dezembro, o
Executivo deixou as Forças Armadas de fora da proposta de mudanças na
aposentadoria com a justificativa de que a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) não seria o instrumento mais adequado.
A expectativa mais otimista do governo é que o tempo de tramitação da
reforma da Previdência seja semelhante ao da proposta que criou o teto
de gastos. Por esse cronograma prévio, a avaliação é de que é possível
aprovar a medida no Senado ainda no mês de maio. Déficit
O governo anuncia hoje que o déficit do INSS ficou em R$ 149,7 bilhões
em 2016. O governo projetava R$ 151,9 bilhões. A previdência urbana
apresentou um déficit de R$ 46,3 bilhões, depois de sete anos com
resultado positivo. A previdência rural registrou um saldo negativo de
R$ 103,4 bilhões.
A partir de
março, cobranças iguais ou superiores a 50.000 reais poderão ser pagas
em qualquer instituição e, até o fim do ano, o valor será ilimitado
Por
Da redação
Os boletos serão registrados em uma nova
plataforma online integrada, que será consultada para validar pagamentos
em atraso (Lia Lubambo/Exame/VEJA)
Um novo sistema de liquidação e compensação de boletos
bancários irá permitir que as cobranças vencidas sejam pagas em qualquer
banco. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que desenvolveu o
mecanismo, diz que ele trará mais controle e segurança ao meio de
pagamento, que agora terá no comprovante detalhes como os juros, as
multas, os descontos e as informações do beneficiário e do pagador.
A mudança vai ser implantada de maneira gradual. A partir de março,
cobranças iguais ou superiores a 50.000 reais poderão ser pagas em
qualquer banco e até o fim do ano o sistema valerá para boletos de
qualquer valor.
A principal diferença do novo sistema será que todas as informações
do boleto deverão estar em uma plataforma online. Dessa forma, os bancos
poderão controlar melhor os boletos que foram postados e qualquer
instituição poderá checar digitalmente os dados para realizar os
pagamentos.
Assim que o consumidor, seja ele pessoa física ou jurídica, fizer o
pagamento de um boleto vencido, será feita uma consulta para verificar
se os dados do documento coincidem com os que constam na nova
plataforma. Após a confirmação, a operação será validada.
Caso haja alguma divergência de informações, o pagamento não será
autorizado e o consumidor deverá realizá-lo no banco que emitiu a
cobrança, que terá condições de fazer as checagens necessárias.
No modelo atual, isso não acontece porque nem todos os boletos são
registrados em uma base centralizada. Por isso, os emissores deverão
registrá-los no seu banco de relacionamento, com as informações
necessárias.
A plataforma ainda também fará o cruzamento de informações para
evitar inconsistências de pagamento e identificação do CPF do pagador do
boleto para fins de controle de lavagem de dinheiro. (Com Estadão Conteúdo)
Presidente do STF iniciou conversas informais com os colegas em busca de uma solução consensual
Por
Da redação
Cármen Lúcia decidirá sobre a escolha do novo relator no STF (José Cruz/Agência Brasil)
Terminado o período de luto oficial pela morte do
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, a presidente
da corte, Cármen Lúcia, iniciou nesta segunda-feira consultas informais
aos colegas ministros sobre o futuro da Operação Lava Jato no STF. O
presidente Michel Temer já anunciou que só escolherá o nome do novo
ministro que irá compor a Corte após a definição do Supremo sobre o novo
relator da investigação sobre a Petrobras.
Em conversas reservadas, a ministra busca uma solução consensual para
encontrar um substituto para relatar os processos da operação, que
estavam sob a responsabilidade de Teori, morto na semana passada em um
acidente de avião em Paraty (RJ).
Além de procurar alguns ministros informalmente, Cármen Lúcia foi ao
gabinete de Teori conversar com servidores e os juízes auxiliares do
relator sobre o andamento do processo de homologação das delações de
executivos da empreiteira Odebrecht. Segundo os assessores, a análise
dos depoimentos está avançada. Teori estava prestes a homologar as
delações e a decisão estava prevista para fevereiro.
Cármen Lúcia também se reuniu com o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot. Oficialmente, ele foi “prestar condolências” à presidente
da corte. Nos bastidores, Janot tem revelado preocupação com o futuro
da Lava Jato e principalmente com a homologação das delações da
Odebrecht, que se encontram em compasso de espera.
Relatoria
Além de resolver a questão emergencial sobre a retomada do andamento
da Lava Jato, a presidente do STF precisa decidir sobre a redistribuição
das ações a outro integrante da corte. No entanto, ainda há dúvidas se a
distribuição será feita entre todos os integrantes do STF ou somente
entre os ministros da Segunda Turma, colegiado do qual Teori fazia
parte. O regimento interno do Supremo autoriza as duas possibilidades.
Nos bastidores, ministros do STF mostram opiniões distintas sobre o
assunto. Há parte que defende que o novo relator da Lava Jato deve ser
definido em um sorteio entre todos os integrantes da corte. Há ainda uma
corrente que entende que o sorteio deve ser restrito à Segunda Turma.
Outros ministros avaliam que o regimento da Corte indica que o revisor
do caso é que deve assumir as ações. Neste caso, o revisor da Lava Jato
na Segunda Turma é Celso de Mello. Já no plenário é o ministro Luís
Roberto Barroso. (Com Agência Brasil e Estadão Conteúdo)
Uma confusa legislação sobre uso de
entorpecentes é responsável pela superlotação nos presídios, pela
expansão do tráfico e pelo fortalecimento da guerra entre facções
criminosas que culminou na barbárie nas prisões brasileiras. Não é o
momento de mudar essa realidade?
MERCADO DA MACONHA NO BRASIL 2.744.712
pessoas usam maconha mensalmente
Caso a maconha fosse legalizada no País
R$ 5,7 bilhões
seriam movimentados
R$ 5 bilhões
em arrecadação tributária
Camila Brandalise e Fabíola Perez
Nos primeiros 20 dias do ano, o Brasil registrou 116 mortes
sangrentas em presídios do País. Cabeças decapitadas, corpos
carbonizados e membros humanos arrancados à força expuseram o colapso do
sistema prisional. Como resposta aos problemas da superlotação,
precariedade de condições e guerra entre facções criminosas, o governo
propôs a construção de novos presídios e, para conter as rebeliões,
liberou as Forças Armadas para atuar dentro das cadeias. Ações como
essas, porém, não conseguirão estancar o sangue que escorre nas celas
amontoadas de detentos. Tampouco a realidade violenta das ruas
brasileiras. Quanto mais se prende, mais violência se cria. Encarcerar
não nos garante mais segurança. Pelo contrário, nos deixa à mercê de um
estado paralelo criado pelo crime organizado. A raiz do problema é
profunda, intrincada em uma complexa estrutura social e judicial. E
começa na legislação. Enquanto a Lei de Drogas criminalizar a produção, o
comércio e o consumo de substâncias ilícitas, permitirá que mesmo
usuários com pequeno porte de droga sejam presos e, consequentemente, se
tornem mão de obra para as facções criminosas que dominam os presídios.
Além disso, a manutenção da ilegalidade possibilita que as facções
continuem controlando o comércio e financiando seu poderio. “É preciso
atingir os problemas estruturais, revisar a política de drogas,
incentivar penas alternativas e desencarcerar”, afirma Isabel Lima,
coordenadora da área de Violência Institucional e Segurança Pública da
ONG Justiça Global.
Recentemente, uma sequência de conflitos explicitou a profunda crise
penitenciária que atinge diversos estados. Na quinta-feira 19, o
Batalhão de Choque da Polícia Militar entrou no presídio de Alcaçuz, em
Natal, após seis dias de rebelião. No mesmo dia, horas antes, estragos
causados por mais um conflito no Presídio Masculino de Lages, em Santa
Catarina, exigiram a transferência de pelo menos 133 detentos da
unidade. O prédio abriga 267 homens em um espaço destinado à metade
disso. Situações como essas demonstram que, há tempos, o sistema
carcerário não cumpre com seu objetivo primordial de ressocializar o
indivíduo. Pelo contrário, uma conjuntura assim revela uma realidade
insustentável. No cerne do problema está o encarceramento em massa
provocado, sobretudo, pela Lei de Drogas. Hoje, 28% dos presos são
condenados por tráfico de entorpecentes. “A legislação falida,
irracional e danosa é um dos principais fatores da tragédia vivida no
sistema prisional brasileiro”, diz Maria Lúcia Karam, juíza e diretora
do Law Enforcement Against Prohibition Brasil. “As condições degradantes
e as superlotadas prisões acirram os conflitos, onde o equilíbrio é
precário e qualquer desentendimento pode desembocar em violência”, diz.
BOMBA RELÓGIO O tamanho da crise penitenciária no Brasil
40 lugar
entre os países com a maior população carcerária
622 mil
presos em todo o País
171 mil
pessoas estão presas por tráfico de drogas
250 mil
é o déficit de vagas no sistema prisional
575%
é o crescimento da população carcerária entre 1990 a 2014
70%
das mulheres presas respondem por tráfico de substâncias ilícitas
28%
da população carcerária responde por tráfico de drogas
A Lei de Drogas em vigor no Brasil é de 2006. Desde então, até 2014, a
população carcerária cresceu 85%, segundo a Human Rights Watch. Houve
um aumento de 18% ao ano de pessoas encarceradas por tráfico. Isso
porque a pena mínima passou de três para cinco anos de prisão. Quando
surgiu, a legislação foi considerada um avanço, porque despenalizava o
usuário com a sentença de prisão. Hoje, porém, é vista como um
retrocesso, uma vez que o juiz considera circunstâncias pessoais e
sociais, local da apreensão, quantidade e natureza da droga, entre
outros fatores, para distinguir usuário e traficante – o que gera o
chamado encarceramento seletivo. “Esse dispositivo legal abriu uma
brecha enorme para que jovens, negros, pobres e moradores de favelas
sejam rotulados como traficantes, mesmo que tenham uma pequena
quantidade de droga”, afirma a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora
do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido
Mendes (CESeC) e ex-diretora geral do sistema penitenciário do Rio de
Janeiro. “Já o menino branco de classe média dificilmente vai responder
por tráfico e, caso aconteça, poderá bancar um advogado.”
Nas prisões, o comércio de drogas não é coibido. Ao contrário, ele surge
como atividade principal de poderosas facções criminosas que lá
encontram mão de obra disponível. Apesar de o chamado “tráfico
privilegiado”, em que não existem relações com organizações criminosas,
não ser mais considerado crime hediondo, detidos continuam sendo
colocados nas mesmas celas de autores de estupros e homicídios. “Existem
muitas pessoas que trabalham no mercado das drogas, são encarregadas de
embalar e transportar a substância e nunca cometeram atos de violência.
Elas poderiam cumprir penas alternativas, porém são destinadas a esses
lugares”, afirma Ana Paula Pellegrino, pesquisadora do Instituto
Igarapé. “Por isso é preciso rever a lei no aspecto da proporcionalidade
da pena.” Essa falta de critérios objetivos para a detenção gera um
exército de pessoas disponíveis para o recrutamento do crime organizado.
Para agravar o quadro, o tráfico também é responsável por boa parte das
prisões provisórias no Brasil. Hoje, cerca de 40% da população
carcerária corresponde a presos que aguardam julgamento. CRISE Batalhão de choque entra no presídio de Alcaçuz, em Natal (RN), após seis dias de rebelião: sistema carcerário em colapso
Uma série de atividades acessórias fazem pessoas com menor poder
aquisitivo serem punidas. “Com a descriminalização ocorreria uma grande
mudança”, diz Nara de Souza Rivitti, coordenadora da área de presos
estrangeiros da Defensoria Pública da União. As mulas – pessoas que
transportam as drogas – são a ponta mais vulnerável do sistema. E as
mulheres, a maioria delas. Na Justiça, há um entendimento de que a pena
para essas pessoas poderia ser mais branda. Porém, na prática, isso não
ocorre. “Cada juiz tem um entendimento em relação à aplicação da pena.
Com a descriminalização, esse grupo não seria tão afetado e as
investigações e punições poderiam se concentrar nos chefes do tráfico”,
afirma ela. Diferentemente do que ocorre na prática, o judiciário
brasileiro precisa assumir um papel central no que se refere à
descriminalização e à crise penitenciária. “A mentalidade dos juízes
está atrasada porque atuam sob uma cultura punitiva”, diz Isabel, da
Justiça Global. “Se uma corte constitucional declarasse que o uso de
drogas não é crime, uma massa de pessoas presas deixaria de ser alvo da
polícia”, afirma Rafael Custódio, coordenador do Programa de Justiça da
ONG Conectas. MUDANÇA NA LEI
Descriminalizar é, na verdade, um imperativo da própria democracia. “Não
se pode dizer para um indivíduo adulto o que ele pode ou não ingerir,
isso é um pressuposto básico e mostra o quão atrasados estamos”, afirma o
advogado Cristiano Maronna, presidente do Instituto Brasileiro de
Ciências Criminais (Ibccrim) e secretário executivo da Plataforma
Brasileira de Políticas de Drogas. Considerado marco zero do processo de
revisão da lei, a ação que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) e
que julga o caso de um homem punido pela posse de 3g de maconha pode
alterar sobremaneira a dinâmica das condenações. O processo existe desde
setembro de 2015 e deveria ser retomado neste ano, mas novos
encaminhamentos serão dados após a morte do ministro Teori Zavascki, que
na época da discussão pediu vista do tema para apurar sua análise. LEGAL Na Holanda, o comércio e o consumo de maconha acontecem em estabelecimentos regulamentados
A votação havia se encerrado com 3 votos a 0 a favor da
descriminalização. Está em debate a possibilidade de o País
descriminalizar todas as drogas e estabelecer quantidades máximas para
designar o que é crime de tráfico e o que é consumo próprio. A discussão
envolve não só a maconha, mas se estende a outros entorpecentes ao
discutir a inconstitucionalidade do artigo 28 da lei, que tipifica como
crime “adquirir, guardar, transportar para consumo pessoal drogas sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar e
semear, cultivar ou colher, para seu consumo pessoal, plantas destinadas
à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de
causar dependência física ou psíquica”. “Rever isso seria uma maneira de
começar a trazer para outro plano essa questão porque o tipo de
política que a gente vem seguindo não tem trazido benefícios”, afirma o
ex-ministro da Justiça José Gregori.
Descriminalizar é um primeiro passo, porém pequeno demais diante da
falência da estrutura de combate ao tráfico que existe atualmente e que
culmina na crise do sistema prisional. Especialistas acreditam que tirar
o tema da Justiça Penal é uma medida insuficiente, pois não tangeia o
mercado e o monopólio criminal da droga, a estrutura que sustenta e
financia o crime organizado. Para a juíza Maria Lucia Karam, é preciso
legalizar e, consequentemente, regular e controlar a produção, o
comércio e o consumo de todas as drogas. “Essa é a principal medida para
conter o vertiginoso crescimento do número de presos no Brasil”,
afirma.
MERCADO DA MACONHA NO BRASIL
2.744.712
pessoas usam maconha mensalmente
Caso a maconha fosse legalizada no País:
R$ 5,7 bilhões
seriam movimentados
R$ 5 bilhões
em arrecadação tributária
A drástica mudança deveria vir acompanhada de um programa sólido,
ligado principalmente à área de saúde pública, que permitisse o acesso a
informações e auxílio a usuários viciados. “É uma política complexa,
precisa de investimento e envolve uma situação de saúde”, afirma
Francisco Netto, coordenador executivo do programa Álcool, Crack e
outras Drogas da Fiocruz. “Não podemos sucumbir ao pânico moral por algo
que sempre existiu. Proibir gera um círculo vicioso de ilegalidade,
violência e aumento no número de usuários.” A Organização das Nações
Unidas (ONU) também já assinalou, no ano passado, que usuários das
drogas devem ser tratados pelo viés da saúde pública, e não da
criminalidade, como vinha se posicionando até então.
“Não
se pode dizer para um indivíduo adulto o que ele pode ou não ingerir,
isso é um pressuposto da democracia e mostra o quão atrasados estamos” Cristiano Maronna, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim)
Boa parte dos recursos aplicados à manutenção de um sistema
carcerário ineficiente poderia ser direcionada à saúde pública. Nesse
aspecto, a descriminalização, não só da maconha como também de drogas
mais pesadas, seria fundamental. Os países que seguiram essa alternativa
tiveram uma diminuição nos índices de mortes por overdose e nas taxas
de doenças transmissíveis em função do compartilhamento de seringas. “No
Brasil também teríamos um maior acesso do usuário ao sistema de saúde,
já que não estariam na esfera criminal”, afirma Luis Fernando Tófoli,
professor de psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e
coordenador do laboratório de estudos interdisciplinares sobre
psicoativos. “O sistema de atendimento precisa de uma rede plural para
quem quer abstinência, redução de danos, entre outros. Cada usuário tem
uma necessidade diferente.” ABANDONO
Cracolândia, região que reúne usuários de crack no centro de São Paulo,
mostra que o uso de drogas deveria ser tratado como problema de saúde
pública e não prisional
Na América do Sul, o atraso do Brasil em discutir o tema se compara
somente ao do Suriname e das Guianas. Os países tipificam o porte de
droga como delito penal. Se comparados a outras nações, estamos ainda
piores (leia na pág. 60). Diante da conjuntura mundial e da falência das
tentativas até hoje empreitadas para conter o avanço da criminalidade
ligada às drogas, fica evidente que chegou a hora de o País rever sua
legislação. Há uma política falida, que gera mais violência e mais
usuários. “Precisamos lutar por uma sociedade ética, onde pessoas tenham
liberdade para fazerem o que quiserem ainda que lhes faça mal, e só a
elas”, afirma a psicóloga e psicanalista Viviane Mosé. Ou buscamos
alternativas ou teremos que nos acostumar com mais presídios, mais
rebeliões e mais violência. A LEGISLAÇÃO NO MUNDO Portugal
O país descriminalizou todas as drogas em 2001. Ao contrário do que se
previa, a quantidade de usuários diminuiu nos últimos 14 anos. Em 2011, o
consumo havia caído pela metade. Cerca de 15 mil pessoas estão em
tratamento para abandonar o vício Uruguai
Único país no mundo a legalizar o cultivo, a comercialização e a
distribuição da maconha e deixar todo o ciclo sob controle do Estado.
Desde 2013, maiores de 18 anos podem comprar e cultivar a cannabis
mediante cadastro Argentina
Desde 2009, vigora uma lei que descriminalizou o uso de maconha. O
usuário, porém, não pode vender, transportar ou cultivar. É livre para
fazer uso em lugares privados Estados Unidos
Em 2012, a política de drogas mudou no país. Estados como Colorado,
Washington, Washington DC, Oregon e Alasca legalizaram o consumo
recreativo da maconha. Outras regiões autorizaram o uso da cannabis para
fins medicinais Holanda
O porte de até 5 gramas e o cultivo de até 5 pés é aceito. É reconhecida
pela política de redução de danos, com salas para usuários com seringas
descartáveis. É famosa pelas “coffee shops”, onde a venda da maconha é
permitida. Espanha
A lei descriminaliza o porte para uso pessoal desde 1982. São permitidas
até 200 gramas de maconha, 7,5 de cocaína e 3 de heroína. IMPACTO NA SAÚDE Em 2014, o Brasil gastou
R$ 798,3 milhões com internações e tratamento de transtornos mentais relacionados às drogas, sendo que
0,8% das internações estão relacionadas ao uso da maconha, o equivalente a
R$ 6,2 milhões do total de internações por droga Fonte: Impacto Econômico da Legalização da Cannabis no Brasil – Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, 2016
A mineradora Samarco e suas acionistas, Vale e BHP Billiton, assinaram termo de ajustamento com o Ministério Público Federal
Por
Da redação
As mineradoras aceitam contratar
especialistas indicados pelos procuradores federais para analisar o
andamento dos programação de reparação dos danos. (Felipe Dana/AP)
A Samarco e suas acionistas, Vale e BHP Billiton,
anunciaram nesta quinta-feira que assinaram no dia anterior um acordo
com o Ministério Público Federal (MPF) que pode levar à extinção da ação
civil pública que estima em 155 bilhões de reais os prejuízos da
tragédia de Mariana (MG). Trata-se de um Termo de Ajustamento
Preliminar, que precisa ser homologado judicialmente, no qual as
mineradoras aceitam contratar especialistas indicados pelos procuradores
federais para analisar o andamento dos programação de reparação dos
danos.
A tragédia de Mariana ocorreu no dia 5
de novembro de 2015, quando a barragem de Fundão, pertencente à
Samarco, se rompeu e liberou mais de 60 milhões de metros cúbicos de
rejeitos. Dezenove pessoas morreram. Houve devastação da vegetação
nativa, poluição da Bacia do Rio Doce e destruição dos distritos de
Bento Rodrigues e de Paracatu, além de outras comunidades. O episódio é
considerado a maior tragédia ambiental do país.
Para reparar os danos, a Samarco, a Vale e a BHP Billiton firmaram,
em março de 2015, um acordo com o Governo Federal e os governos de Minas
Gerais e do Espírito Santo. Eles estimaram um investimento de 20
bilhões de reais ao longo de aproximadamente 15 anos. Foram definidos 41
programas voltados para mitigar ou compensar os prejuízos da tragédia.
O MPF se manifestou contra esse acordo e ingressou com a ação em
maio de 2016 estimando os danos em 155 bilhões de reais. Em agosto, os
procuradores federais também conseguiram impedir que o acordo de 20
bilhões de reais fosse homologado judicialmente. A decisão, porém, não é
definitiva e a Justiça irá avaliar a homologação. Mesmo diante da
indefinição, as mineradoras e os governos estão levando adiante os 41
programas acordados.
Avaliação
Caso o Termo de Ajustamento Preliminar receba o aval da Justiça, os
procuradores federais deverão indicar especialistas que serão pagos
pelas mineradoras para avaliar esses 41 programas que vem sendo
desenvolvidos. O MPF informou que deverá solicitar a contratação de
profissionais de quatro organizações: Latec, Integratio, Ramboll e
possivelmente o Banco Mundial.
Também serão feitas onze audiências públicas para ouvir a população
afetada. Dependendo do diagnóstico que for realizado, em 30 de junho
desse ano poderá ser firmado um Termo de Ajustamento de Conduta Final
(TACF), incorporando recomendações do MPF às mineradoras. Neste caso,
segundo nota divulgada pela BHP Billiton, a ação de 155 bilhões de reais
poderá ser extinta.
O MPF também divulgou nota destacando que o Termo de Ajustamento
Preliminar não o obriga a renunciar à ação de 155 bilhões de reais. Esta
decisão poderá ser tomada apenas se as partes conseguirem negociar a
assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta Final (TACF) no dia 30 de
junho. O MPF informou também que as empresas deverão suspender, até
junho, seus pedidos para homologação judicial do acordo celebrado com o
Governo Federal e os governos de Minas Gerais e Espírito Santo.
Recursos
De acordo com o Termo de Ajustamento Preliminar, as mineradoras se
comprometem a dar garantia provisória de 2,2 bilhões de reais para
resguardar futuras ações de reparação dos danos da tragédia. Esta
garantia, composta por aplicações financeiras, seguro e bens da Samarco,
deverá substituir um depósito de 1,2 bilhão de reais determinado
judicialmente que estava pendente. No dia 13 de janeiro, a Justiça
Federal havia dado um novo prazo, que se encerra nesta quinta-feira,
para que as mineradoras realizassem tal depósito.
As empresas deverão destinar ainda 200 milhões de reais em uma
reserva para a reparação socioambiental e socioeconômica dos municípios
mineiros de Barra Longa, Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Ponte Nova.
Em nota, a Samarco destacou que “entende a mediação sempre como o
melhor caminho”.
O MPF apontou que a celebração do termo constitui um sinal importante
sobre a possibilidade de se chegar a uma composição que possa alcançar
os objetivos de sua força-tarefa. “Nossa meta é obtermos o mais rápido
possível, e da forma mais eficaz, a implementação de programas de
recuperação ambiental e de reparação às comunidades atingidas”,
acrescenta o texto enviado à imprensa. (Com Agência Brasil)
Empreiteiras
admitirem participação em cartéis investigados pela Operação Lava Jato,
em licitações da Petrobras e da Usina de Angra 3
Por
Da redação
A Andrade Gutierrez e da UTC admitiram
participar de um cartel que teve como alvo a usina nuclear Angra 3
(foto) e a Petrobras (Flickr/PAC 2/Divulgação)
A Andrade Gutierrez e a UTC assinaram nesta
quarta-feira, cada uma, dois Termos de Compromisso de Cessação (TCCs)
com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nos quais
admitem a participação em cartéis investigados pela Operação Lava Jato,
em licitações da Petrobras e da Usina de Angra 3. Os acordos preveem o
pagamento de um total de 195,160 milhões de reais pelas construtoras,
que também se comprometeram a colaborar com as investigações.
Do total em contribuições pecuniárias previstas nos acordos, a
Andrade Gutierrez pagará R$ 56,007 milhões, enquanto a UTC terá que
desembolsar 139,153 milhões de reais. O valor para a UTC referente ao
cartel de licitações da Petrobras, de 129,232 milhões de reais, é o
maior já negociado pelo Cade com uma empresa.
Os compromissos firmados pelas empresas dizem respeito à participação
delas em um suposto cartel em licitações da Petrobras no mercado de
serviços de engenharia, construção e montagem industrial “onshore”, e em
outro conluio para fraudar as licitações de obras de montagem da Usina
de Angra 3, promovidas pela Eletronuclear. Executivos e ex-funcionários
das construtoras também assinaram TCCs com o órgão antitruste.
O processo administrativo que investiga o cartel nas licitações da
Petrobras foi iniciado a partir de um acordo de leniência firmado em
dezembro de 2015 pela SOG Óleo e Gás e funcionários do grupo Setal/SOG.
Esse acordo foi negociado pelo Cade e pela Força Tarefa da Operação Lava
Jato dentro do Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR)
Novas informações
De acordo com o órgão de defesa da concorrência, no TCC desta
quarta-feira, a UTC apresentou novas informações que ampliaram o escopo
das investigações, com 30 novos documentos que evidenciam a conduta
anticompetitiva, além de dez novas licitações da Petrobras identificadas
como afetadas pelo cartel. Já a Andrade Gutierrez trouxe cerca de 20
novos documentos referentes a seis novas licitações da estatais
atingidas pelo conluio.
Em 19 de agosto de 2015, o Cade já havia homologado um TCC firmado
com a Camargo Corrêa e seus ex-funcionários no âmbito dessa mesma
investigação, com uma contribuição pecuniária de mais de 104 milhões de
reais.
Já o processo que investiga a participação do cartel nas licitações
da Eletronuclear para as obras de Angra 3 é subsidiado por um acordo de
leniência firmado pelo Cade com a Camargo Corrêa em novembro de 2015,
também no âmbito da Operação Lava Jato.
A Andrade Gutierrez apresentou por meio do TCC de hoje documentos que
apontam que as condutas teriam se iniciado em 2010, ampliando em três
anos o escopo da investigação. Já a UTC apresentou informações de que o
conluio existia pelo menos desde 2008.
Entre 2014 e 2016, o Cade celebrou 116 TCCs em processos de
investigações de cartel, com mais de 1 bilhão de reais em contribuições
pecuniárias.
Em nota, a Andrade Gutierrez disse que o acordo está em linha com a
postura de colaboração assumida desde o acordo de leniência firmado com o
Ministério Público no ano passado, e que pretende colaborar mais. “Além
disso, a empresa afirma ainda que continuará realizando auditorias
internas no intuito de esclarecer fatos do passado que possam ser do
interesse da Justiça e dos órgãos competentes.”, diz o texto. (Com Estadão Conteúdo)
Após
massacres de presos em motins nas regiões Norte e Nordeste, presidente
opta por enviar militares para ajudar estados no combate a facções
criminosas
Por
Da redação
Presos da Penitenciária Estadual de Alcaçuz,
em Nísia Floresta (RN), iniciam nova rebelião na manhã desta terça-feira
(17). Os presos dos pavilhões 1, 2, 3 e 4 tentam invadir o pavilhão 5
(Josemar Goncalves)
Em meio a uma grave crise carcerária, com ao menos 119 presos mortos em três grandes massacres nas regiões Norte e Nordeste, o presidente Michel Temer
decidiu colocar as Forças Armadas à disposição dos governadores para
atuar em presídios. A informação foi divulgada nesta terça-feira pelo
porta-voz do governo federal, Alexandre Parola.
Segundo Parola, as novas medidas de apoio surgem após a
intensificação da barbárie nos presídios brasileiros. “É fato que a
crise ganhou contornos nacionais, que exigem a ação extraordinária
atuação do governo federal”, afirmou.
A decisão foi tomada durante reunião com representantes de órgãos de
inteligência federal e ministros para discutir ações contra a violência
nos presídios e a atuação de facções criminosas dentro das
penitenciárias. Haverá também, segundo Parola, comunicação “ainda mais
próxima” com os setores de inteligência dos Estados para conter as
facções.
“O presidente da República coloca à disposição dos governos estaduais
o apoio das Forças Armadas. A reconhecida capacidade operacional de
nossos militares é oferecida aos governadores para ações de cooperação
específicas em penitenciárias”, afirmou Parola. Segundo ele, os
militares atuarão em inspeções para apreensão de materiais proibidos nos
presídios. Os governadores deverão aceitar a cooperação das Forças
Armados, que ficarão sob responsabilidade do Ministério da Defesa.
Até agora, o governo Temer tem disponibilizado apenas apoio da Força
Nacional de Segurança, corporação formada por policiais militares
cedidos pelos estados. Entre as unidades da federação que contam com
esse apoio estão Amazonas – palco de 60 mortes de presos em rebeliões – e
Roraima – onde 33 detentos foram mortos-, nos dois casos em episódios
com intensa participação de facções criminosas, como Primeiro Comando da
Capital (PCC) e Família do Norte (FDN).
Varredura
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que os governadores terão
de pedir a participação dos militares nos presídios em atividades como
varredura, detecção e levantamento de armas, drogas e celulares. “Enfim,
tudo aquilo que não é permitido dentro de presídios”, afirmou.
Segundo ele, os militares não terão contato com os presos durante as
vistorias. Os detentos serão encaminhados aos pátios das penitenciárias
para realização das inspeções. O governo federal vai oferecer aos
estados equipamentos como bloqueadores de celular, scanners e aparelhos
de raios X para realizar as inspeções.
“Em todos os presídios e penitenciárias que os governadores julgarem
importantes, sensíveis e necessários, as Forças Armadas, periodicamente e
de surpresa, vão fazer a revista. A responsabilidade [pelo
gerenciamento e segurança das unidades] ficará, obviamente, com os
agentes penitenciários e com as forças de segurança dos estados”, disse.
Para fazer uso das Forças Armadas, os governadores deverão pedir ao
presidente um decreto de Garantia da Lei da Ordem, que é o instrumento
legal que vai determinar o envio dos militares. Neste caso, o comando da
operação fica a cargo das Forças Armadas. “Essa é uma questão nacional.
O crime no Brasil se nacionalizou e se internacionaliza e os estados
sozinhos não têm, hoje, condições de dar conta do problema”, disse.
O ministro não informou a previsão de início da operação e nem o efetivo envolvido na iniciativa. (com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)
O presidente
eleito dos Estados Unidos defendeu a saída do Reino Unido da União
Europeia e criticou a política de refugiados alemã
Por
Da redação
Chanceler alemã, Angela Merkel, participa de
uma coletiva de imprensa em Berlim, na Alemanha - 28/07/2016 (Hannibal
Hanschke/Reuters)
Os europeus têm seu destino em suas próprias mãos, declarou nesta segunda-feira a chanceler alemã, Angela Merkel, em resposta às críticas do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Penso que nós europeus temos nosso destino em nossas próprias mãos.
Vou continuar me comprometendo para que os 27 Estados membros [da União
Europeia] trabalhem juntos olhando para o futuro”, declarou a chanceler
durante coletiva de imprensa, ao ser questionada sobre o apoio de Trump à
saída do Reino Unido do bloco e a sua especulação de que outros países
seguirão o mesmo caminho.
Em uma entrevista ao jornal alemão Bild e ao britânico The Times, publicada
no domingo, o presidente eleito classificou a política de acolhimento
migratória da Alemanha como “um erro catastrófico” e afirmou que a
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é “obsoleta” . Merkel,
cujo país recebeu mais de um milhão de solicitantes de asilo desde 2015,
respondeu ao comentário acusando Trump de misturar a abertura a
refugiados com uma estratégia fraca contra o terrorismo.
“Quero separar [o terrorismo] da questão dos refugiados no que diz
respeito à guerra na Síria”, disse Merkel, destacando que “a maioria dos
sírios” fugiram “da guerra civil, dos combates contra [o presidente
Bashar] Assad e da repressão” do governo. “Quando ele estiver no cargo, o
que ainda não é o caso, trabalharemos naturalmente com o novo governo
americano e veremos quais acordos encontraremos”, comentou a chanceler.
Na entrevista publicada na noite de domingo, Trump havia declarado
que as consequências da acolhida de refugiados na Alemanha foram
sentidas recentemente, em alusão ao atentado com um caminhão contra um
mercado de Natal em Berlim em 19 de dezembro, que deixou 12 mortos e foi
reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico (EI).
França
Em resposta às críticas de Trump sobre a UE e a OTAN, o presidente da
França, François Hollande, comentou que a Europa “não precisa de
opiniões externas para dizer o que tem que ser feito”. “A Europa sempre
estará pronta para buscar cooperação transatlântica, mas vai determinar
seu caminho com base em seus próprios interesses e valores”, disse
Hollande, durante cerimônia de despedida do embaixador americano em
Paris, Jane Hartley.
Aníbal Gomes
emendou quatro meses de faltas sob o argumento de que sofre com dores
nas costas. Longe da Câmara, viajou mais de 30 vezes com o 'cotão'
Por
Marcela Mattos
Aníbal Gomes: ausente na Câmara, assíduo no gasto das cotas
Conhecido no noticiário político-policial da Operação Lava-Jato, o deputado federal e réu no petrolão Aníbal Gomes (PMDB-CE)
é uma figura praticamente invisível na Câmara dos Deputados. De 1995
para cá (está no sexto mandato), há apenas registros de cinco discursos
de Gomes em plenário – o último aconteceu em 2004, para saudar a
nomeação do então senador e hoje deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT) ao
cargo de presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Nesta
legislatura, o peemedebista não apresentou nenhum projeto e, ao longo
de todo o ano de 2016, apenas compareceu ao Congresso a partir de
setembro.
A baixa assiduidade, no entanto, não se repete quando se trata de
desfrutar dos privilégios concedidos aos congressistas. Mesmo em meio a
uma sequência de faltas, o deputado cearense exigiu, por meio da cota
parlamentar, o reembolso de seus gastos. O “cotão”, como é informalmente
chamado, tem a finalidade exclusiva de custear despesas com o mandato. O
deputado cobrou, no ano passado, o reembolso de 182.877,78 reais.
Apenas deixou de apresentar notas enquanto afastou-se formalmente do
cargo, de maio a setembro, e seu suplente sentou na cadeira.
Até mesmo quando justificou ter dores na coluna para não comparecer à
Câmara – ele faltou a simplesmente todas as 36 sessões realizadas entre
o início de fevereiro e o final de abril com tal argumento -, o
deputado desfrutou do dinheiro que deveria cobrir exclusivamente gastos
decorrentes da atividade parlamentar.
Nesse período, Gomes fez mais de trinta viagens entre Fortaleza, sua
base eleitoral, e Brasília, onde mora com a família. Ou seja: uma média
de um voo a cada quatro dias. Todas as notas foram apresentadas à Casa
e, em seguida, reembolsadas. Ao faltar às sessões nos primeiros quatro
meses do ano, o congressista afirmou que estava em tratamento de saúde.
O site de VEJA pediu os atestados, por meio da Lei de Acesso à
Informação (LAI), com as motivações apresentadas por Gomes para
justificar as sucessivas ausências na Câmara dos Deputados. O
fornecimento dos dados, no entanto, foi negado sob o argumento de que
informações relativas a procedimentos médicos são “expressamente”
consideradas atos pessoais e, portanto, protegidas por sigilo. A Casa
ressaltou, ainda, que as informações exigem “consentimento expresso”
para serem repassadas.
Procurado, o deputado disse que apresentou atestados em “quase todas
as faltas”. “Houve algumas que não [apresentei]”, admitiu. “A gente fica
até com vergonha. É tão problemático que às vezes a gente prefere não
ir para não estar lá atormentando os médicos. Mas quase todas estão
justificadas”, completou. A ausência por questões de saúde é um dos
poucos argumentos aceitos para evitar que haja corte de salário
proporcional à quantidade de faltas.
O deputado afirmou ainda sentir fortes dores na coluna e já ter
passado por duas cirurgias. “O fato de estar doente, em crise, e,
portanto, não ir ao plenário, não quer dizer que dois ou três dias
depois eu não esteja bom o suficiente para fazer uma viagem ao meu
estado. E coluna é assim, meu amor: tem dia que eu não me levanto. Aí eu
tomo um remédio, ligo para o médico, e dois dias depois estou andando”,
disse, para justificar a rotina de faltas.
Em dezembro de 2016, o Supremo Tribunal Federal acolheu denúncia do
Ministério Público que esmiuçou um pouco mais profundamente a atuação do
parlamentar cearense. Aníbal Gomes tornou-se réu por corrupção (ativa e
passiva) e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de prometer pagamento de
propina de 800.000 reais ao então diretor de Abastecimento da Petrobras
Paulo Roberto Costa para permitir e facilitar as negociações entre a
estatal e empresas de praticagem da Baixada Santista e de São Sebastião
(SP). Gomes também é alvo de outra denúncia, ainda não analisada pelo
Supremo, em que é acusado de receber propina no petrolão em nome do
presidente do Senado, Renan Calheiros , (PMDB-AL), de quem é aliado.
Um segundo tempo de delações é
esperado. A perspectiva de depoimentos de Leo Pinheiro (OAS), Antonio
Palocci (ex-ministro) e Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara),
assombram o ex-presidente Lula
EDUARDO CUNHA
NAVIOS SONDA O ex-deputado Eduardo Cunha pode detalhar o que fez com os
US$ 5 milhões que ganhou na compra de navios-sonda pela Petrobras; LÉO PINHEIRO
TRÍPLEX NO GUARUJÁ Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, pode contar como
foi o negócio que fez com Lula no caso do triplex do Guarujá; OTÁVIO MARQUES DE AZEVEDO
O RECALL DA ANDRADE O ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio
Marques de Azevedo, pode explicar como foram as propinas de obras no
Rodoanel; ANTONIO PALOCCI O CAIXA O ex-ministro Antonio
Palocci pode falar sobre a contabilidade do dinheiro que recebia da
Odebrecht e repassava para o PT e especialmente para Lula
Aguirre Talento
O Supremo Tribunal Federal (STF) já está se preparando para
receber uma nova leva de delações premiadas. O ex-presidente da OAS, Léo
Pinheiro, o ex-ministro Antonio Palocci, e o ex-deputado Eduardo Cunha
devem fazer delações e apavoram o ex-presidente Lula, que já é réu em
cinco ações penais. Léo Pinheiro deve dar mais detalhes de como
financiou bens privados de Lula, como o triplex do Guarujá. Já o
ex-ministro Palocci deve contar sobre como ajudou a transferir para o
ex-presidente dinheiro de propina que lhe foi repassado pela Odebrecht.
O ex-deputado Eduardo Cunha também assusta Lula, porque foi durante o
governo petista que ele atuou em negócios com a Petrobras que lhe
renderam milhões de reais em propinas, como na compra na Coréia de
navios-sondas da Samsung. Nesses negócios, em 2008, Cunha ganhou mais de
US$ 5 milhões em propinas, que acabaram depositadas na Suíça. Mas Cunha
pode encrencar também seus amigos do PMDB, sobretudo ministros do
governo Michel Temer, como o Moreira Franco (da secretaria de
privatizações) e Eliseu Padilha (Casa Civil).
Além dessas explosivas delações, há também o recall que a delação dos
77 executivos da Odebrecht deve provocar. Juízes da equipe do ministro
do STF, Teori Zawascki, que analisam os depoimentos de executivos da
Odebrecht, constataram que será necessário que alguns delatores de
outras empreiteiras, como da Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, voltem a
prestar novos depoimentos, para esclarecer fatos que vieram à público
agora. Houve executivo que mentiu ou omitiu coisas agora reveladas pela
Odebrecht. OMISSÕES
Com a assinatura do acordo de delação premiada da Odebrecht e sua
provável homologação pelo STF após a volta do recesso do Judiciário, os
investigadores da Lava Jato vão se deparar com uma demanda reprimida de
antigas e novas delações. No primeiro caso, delatores que não revelaram
tudo que sabiam vão ter que prestar novos esclarecimentos sobre fatos
omitidos em seus depoimentos e que podem lhe render problemas perante a
Justiça. Em tese, essa omissão poderia significar o rompimento da
delação, provocando a perda dos benefícios do acordo. Além desses, novos
colaboradores em negociação com o Ministério Público Federal devem
ajudar a desvendar as peças do quebra-cabeças de corrupção sistêmica que
se apossou da Petrobras e outros órgãos públicos durante a gestão
petista.
A expectativa dentro da Lava Jato é que executivos de duas
empreiteiras, a Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, façam os chamados
“recall” em suas delações, porque os investigadores descobriram indícios
de crimes que seus executivos não haviam contado anteriormente. Isso
aconteceu principalmente por meio de novas delações premiadas. No caso
da Andrade, o ex-presidente da empresa, Otávio Marques de Azevedo, deve
prestar novo depoimento. Os procuradores querem saber detalhes de
irregularidades em obras da gestão tucana de Minas Gerais, enquanto a
Camargo deve contar fatos relacionados à construção do Rodoanel em São
Paulo. Esses depoimentos ainda estão sob negociação com os procuradores,
que querem uma justificativa factível para a omissão desses fatos, para
definir se romperão os acordos ou se podem mantê-los. SEGUNDA ONDA O ministro do STF, Teori Zawascki, comanda em fevereiro nova fase de delações que assombram os políticos
Também o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que foi preso pela
Lava Jato em novembro de 2015 e pouco tempo depois assinou uma delação,
deve ser colocado contra a parede para esclarecer fatos que não
revelou. Isso porque a delação da Odebrecht trouxe a público relatos de
pagamentos de propina a Delcídio em troca da obtenção de sua ajuda na
aprovação de medidas no Congresso Nacional que eram de interesse da
empreiteira. Nada disso havia sido contado por Delcídio em sua delação, o
que pode complicar a sua situação, já que o ex-senador só deixou a
prisão depois de ter assinado o acordo. Hoje, ele vive uma espécie de
retiro em sua fazenda, no interior do Mato Grosso do Sul.
AS OMISSÕES DOS DELATORES
O que os procuradores querem saber no recall das delações Otávio Marques de Azevedo
O que já contou
– Pagou propina ao PT e PMDB por meio de doações oficiais por causa de obras do governo
O que falta contar
– Irregularidades em obras do governo de Minas Gerais, como a cidade administrativa Gustavo da Costa Marques
O que já contou
– Ex-diretor da Camargo Corrêia admitiu participação em cartel na Petrobras e pagamento de propina para obter contratos
O que falta contar
– Irregularidades em obras do governo de São Paulo Delcídio do Amaral
O que já contou
– Participou de trama para tentar obstruir a Lava Jato
O que falta contar
– Pagamentos de propina da Odebrecht para obter benefícios em medidas discutidas no Congresso
Cerca de
trinta policiais cumprem sete mandados de busca e apreensão e cinco de
prisão preventiva em Rondônia, Santa Catarina e Minas Gerais
Por
Da redação
Polícia Federal deflagra operação contra imigração ilegal em Rondônia, Santa Catarina e Minas Gerais (Vagner Rosário/VEJA.com)
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira a
Operação Piratas do Caribe que tem como principal alvo a ramificação
brasileira de uma organização criminosa de “coiotes” responsável por
levar brasileiros ilegalmente para os Estados Unidos. Os investigadores
também buscam por elementos que indiquem onde se encontram os doze
brasileiros desaparecidos, em novembro de 2016, na região das Bahamas.
Cerca de trinta policiais federais cumprem sete mandados de busca e
apreensão e cinco de prisão preventiva em Rondônia, Santa Catarina e
Minas Gerais. As investigações começaram a partir do desaparecimento de
um brasileiro que teria tentado entrar ilegalmente nos Estados Unidos,
com auxílio de “coiotes”, que são agentes que ajudam na travessia ilegal
de áreas de fronteira. Eles cobravam quantias de até 60 mil reais para
intermediar o transporte ilegal via Bahamas.
Antes de sair do Brasil, os imigrantes ficavam em alguma cidade com
aeroporto internacional de fácil acesso, aguardando a ordem de embarque
para as Bahamas, que ocorria quando um determinado agente de imigração
daquele país facilitava a entrada dos brasileiros.
Já nas Bahamas, os imigrantes aguardavam durante vários dias para
embarcar para os Estados Unidos de barco. Além dos riscos que envolvem a
imigração ilegal para outros países, os “coiotes” escondiam os reais
perigos envolvidos na travessia, como a passagem pela região do
Triângulo da Bermudas, famosa pelo alto índice de tempestades,
naufrágios e desaparecimento de embarcações e aeronaves.
Aos bravos GUERREIROS DE SELVA formados e qualificados pelo Centro de Operações na Selva e Ações de Comando (COSAC) e Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) para defender a soberania da Amazônia - BRASIL, meus sinceros cumprimentos pelo dia:"03 DE JUNHO - DIA DO GUERREIRO DE SELVA" ÁRDUA É A MISSÃO DE DEFENDER E DESENVOLVER A AMAZÕNIA, MUITO MAIS DIFÍCIL PORÉM, FOI A DE NOSSOS ANTEPASSADOS EM CONQUISTÁ-LA E MANTÊ-LA"ORAÇÃO DO GUERREIRO DA SELVA Senhor,Tu que ordenaste ao guerreiro da selva: “Sobrepujai todos os vossos oponentes!” Dai-nos hoje da floresta: A sobriedade para persistir, A paciência para emboscar, A perseverança para sobreviver, A astúcia para dissimular, A fé para resistir e vencer, E dai-nos também Senhor, A esperança e a certeza do retorno. Mas, se defendendo esta brasileira Amazônia, Tivermos que perecer, ó Deus! Que o façamos com dignidade E mereçamos a vitória! SELVA!http://www.cigs.ensino.eb.br/