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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A propina da propina

A Lava Jato descobriu que funcionários de confiança dos empreiteiros que pagavam propinas a agentes públicos desviavam dinheiro que deveria ter sido entregue aos políticos e acabaram depositando os recursos em suas próprias contas no exterior

A propina da propina
Poderia ser apenas uma história secular de Ali Babá e os 40 Ladrões, do livro “Mil e Uma Noites”. Mas a narrativa do ladrão que rouba ladrão acontece aos montes no Brasil e não é de hoje. A Operação Lava Jato trata de revelar mais um episódio no qual se escancara que a ganância dos corruptos não tem limites nem respeita regras.
Quando a Odebrecht criou o secreto Setor de Operações Estruturadas, escalou apenas executivos da mais alta confiança da família. Além de ser exigida discrição total desses profissionais, a tarefa consistia, como se sabe, em distribuir sistematicamente dinheiro de propinas a políticos no Brasil e no exterior como contrapartida a contratos com o poder público e a toda sorte de vantagens que os políticos poderiam lhes proporcionar. A ação era tão profissionalizada que contava até com um sistema de informática exclusivo para a prática, muito mais protegido contra vazamentos e invasões.
Mas se a preocupação dos donos da empresa estava em possíveis ameaças fora das paredes da companhia, eles se surpreenderam ao descobrir que estavam sendo roubados justamente por seus funcionários escolhidos a dedo, que se mostraram como raposas cuidando de um galinheiro.
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Roubo dentro de “casa”

A descoberta só foi possível depois que vieram à tona delações de operadores de propina do meio político e de ex-agentes da Petrobras ligados à arrecadação de dinheiro sujo. Os valores não batiam com os registrados nas planilhas do setor de operações estruturadas que, teoricamente, teriam sido retirados dos cofres empresariais para abastecer o sistema.
Presidente do conselho de administração da empreiteira, Emilio Odebrecht, que já presenciou as mais desavergonhadas práticas de corrupção do Brasil, conversou com um velho conhecido de seu círculo próximo. A esta fonte, ele relatou ter ficado absolutamente surpreso e decepcionado ao saber que estava sendo roubado dentro da própria “casa”, por gente de sua absoluta confiança e muito bem remunerada. O diálogo foi revelado pela coluna Brasil Confidencial, de ISTOÉ, há dois meses. Na terça-feira 3, investigadores da Lava Jato confirmaram que ao menos um dos executivos do departamento de propinas roubou a Odebrecht e depositou dinheiro em uma conta em Genebra, na Suíça. A informação surgiu com o vazamento conhecido como SwissLeaks, feito por um ex-funcionário do banco HSBC. Advogados da empreiteira discutem até ressarcimento à empresa, sob o inacreditável argumento de apropriação indébita da propina endereçada a outros corruptos.
Caça às raposas O procurador Rodrigo Janot quer saber como os executivos desviaram para suas contas as propinas que deveriam ser pagas aos políticos
CAÇA ÀS RAPOSAS O procurador Rodrigo Janot quer saber como os executivos desviaram para suas contas as propinas que deveriam ser pagas aos políticos
Essa constatação de que executivos roubaram as propinas, pode gerar um novo inquérito da Procuradoria-Geral da República, à cargo do procurador Rodrigo Janot A prática de bandido passando a perna em bandido, no entanto, não é nada nova. No Brasil, remonta aos tempos da Intendência das Minas, com superintendentes responsáveis por captar impostos sobre o ouro, como o quinto e a finta para a coroa portuguesa. A história relata que os portugueses reclamavam que seus funcionavam desviavam para os próprios bolsos parte dos tributos.
Desvios de propinas são antigos

Na história recente, o ex-deputado federal Valdemar da Costa Neto foi acusado de embolsar mais de R$ 10 milhões no esquema do mensalão. Mas parte deste dinheiro deveria ter sido repassado a membros do extinto PL (hoje PR), legenda que era presidida por ele na época. Valdemar disse que o dinheiro lhe foi repassado de caixa dois do PT, mas o STF não se comoveu e o condenou a 7 anos e dez meses de prisão. Ficou preso dois anos, mas agora está em liberdade. Obteve indulto.
Os exemplos não param por aí. O ex-ministro de Lula José Dirceu foi amplamente defendido pelos militantes petistas que acreditavam que os roubos praticados pelo ex-guerrilheiro haviam sido exclusivamente redirecionados para a causa do partido e para o projeto de manutenção do poder. Mas ao perceberem que na verdade ele afanou parte do roubo e meteu em sua própria conta, Dirceu perdeu o título de “guerreiro do povo brasileiro” e hoje está preso em Curitiba, esquecido pela esquerda.
O próprio ex-presidente Lula, segundo as investigações da Lava Jato, parece lançar mão de prática semelhante: aproveitar-se de esquema criminoso com as empreiteiras para obter benefício próprio. É acusado de receber favores de empreiteiros e, ao invés de usar o dinheiro para beneficar o partido, acabou usando os recursos para o enriquecimento próprio. Ele é réu em cinco ações criminais. O mesmo aconteceu com seu ex-ministro Antonio Palocci, que amealhou fortuna. Os investigadores da Lava Jato acreditam que ele tenha desviado mais de R$ 128 milhões no esquema do Petrolão. O ex-ministro da Fazenda de Lula também está preso em Curitiba preventivamente.
O dinheiro sumiu
Desvio no meio do caminho
No mensalão e na Lava Jato há inúmeras histórias de dinheiro que foi dado por empreiteiros a políticos, mas que não chegou ao seu destino. Em alguns casos, diretores das construtoras acabaram desviando os recursos no meio do caminho. Ao invés
de lambuzarem as mãos dos políticos, conforme estava acertado com os donos das empreiteiras, depositaram os valores no exterior em nome deles próprios
Prática antiga
No meio político, é comum que dirigentes partidários se encarreguem de arrecadar dinheiro para financiar atividades do partido que representam ou campanhas eleitorais de parlamentares e, ao final, o dinheiro apurado acaba não chegando aos cofres partidários
Cofre meio cheio, meio vazio
Tudo d epende da perspectiva. Para alguns, o cofre deveria estar cheio de dinheiro de propinas, mas o “tesoureiro” diz que está vazio. Policiais Federais contaram à IstoÉ que há casos em que o dirigente político recebeu uma fortuna da empreiteira (R$ 2 milhões, por exemplo), para distribuir aos membros de seu partido, mas o cidadão diz que só recebeu R$ 1 milhão, embolsando
R$ 1 milhão restante
Chama a polícia?
Houve situação em que o dirigente recebeu R$ 1 milhão, mas disse que o dinheiro não chegou às suas mãos e como trata-se de dinheiro “sujo”, de caixa 2, ninguém pode chamar a polícia
O dinheiro evaporou
Já houve casos em que o cidadão recebeu R$ 4 milhões, embolsou tudo e “sumiu” com o dinheiro. Por se tratar de caixa 2, também ninguém reclamou na Justiça
Os empreiteiros “enganados”

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