Depois da tragédia com armas químicas,
Trump e Putin inauguram uma nova e belicosa era no cenário político
internacional. Agora o mundo teme o pior
TRAGÉDIACrianças vítimas de arma química: imagens chocantes de uma guerra que não tem fim
Camila Brandalise
Na manhã da sexta-feira 7, poucas horas depois do ataque
americano contra uma base militar síria, o primeiro-ministro da Rússia,
Dmitri Medvedev, publicou um post em seu Facebook que denuncia os tempos
sombrios que o mundo está prestes a viver. “Os Estados Unidos chegaram a
um passo de um confronto com a Rússia”, escreveu Medvedev. Vladimir
Putin, presidente do país e líder de fato da nação, afirmou que “os
ataques causam um dano considerável nas relações entre os dois países,
que já se encontram em um estado lamentável.” Por mais que pareça
improvável e de certa forma surreal, em pleno século 21, falar em um
conflito armado entre duas das maiores potências do planeta, os eventos
trágicos dos últimos dias e as reações insidiosas dos envolvidos na
questão levam a supor que a paz está, sim, ameaçada. Os agravantes
trazem ainda mais indícios de que o planeta está exposto a uma nova era
de violência. Trump e Putin são tão imprevisíveis quanto irascíveis, tão
beligerantes quanto irresponsáveis. Como ensina a história, os países
que eles comandam têm o infeliz hábito de subjugar alguém que consideram
diferente e se tornaram temidos exatamente por essa vocação. Míssil norte-americano ilumina bandeira dos EUA. Era o início do ataque contra o ditador sírio Bashar al-Assad.
A foto que aparece na primeira página desta reportagem escancara o
que a insanidade é capaz de perpetrar. Crianças mortas por asfixia e com
os corpos retesados, como se tivessem partido no instante exato em que
dispararam um grito de horror, jamais poderão ser esquecidas – e nunca
mais toleradas. Se o ditador sírio Bashar al-Assad se permite cometer
atrocidades como disparar gás venenoso contra jovens inocentes, o que
resta ao mundo a não ser reagir para que o mal não se perpetue? Foi o
que fez Donald Trump ao atacar as bases sírias na quinta-feira 6, e é
difícil não se sensibilizar com suas palavras. “Mesmo lindos bebês foram
assassinados com este ataque bárbaro. Nenhum filho do Senhor jamais
deveria sofrer esse horror.” Mas será o louco, preconceituoso e radical
Trump o homem que colocará fim à barbárie? Não é preciso ser um
especialista em questões geopolíticas para responder a essa pergunta:
“Não, não e não.”
Abu Ivanka al-Amriki, ou “Pai de Ivanka, o Americano”. Este é o
apelido que o presidente Donald Trump ganhou entre os árabes nas redes
sociais depois que o governo dos Estados Unidos lançou os 59 mísseis
sobre a Síria, em represália ao ataque com armas químicas dois dias
antes. Resume bem o novo capítulo da crise que desaba sobre o Oriente
Médio: Trump entrou na guerra. Está contra o ditador sírio Bashar
al-Assad. Mais do que isso. Ao lançar os mísseis, atingiu o coração da
Rússia, até então sua aliada, que ajuda Assad a oprimir a oposição que
quer derrubá-lo a qualquer custo. Com os desdobramentos da semana
passada, a Síria se torna agora palco da batalha direta entre Rússia e
EUA, as duas maiores potências bélicas mundiais. Militares se preparam para a ofensiva
A situação é mais complexa do que aparenta ser. A Síria vive uma
crise política e humanitária há seis anos, com disputas dilacerantes que
envolvem protagonistas dispostos a morrer por uma causa, além de estar
no centro de uma série de ataques, bombardeios e atentados, e de abrigar
um tipo de fundamentalismo que não se incomoda em destruir o outro com
requintes de crueldade. Resultado: nos últimos anos, um mundo
anestesiado acostumou-se com as imagens mórbidas de casas e bairros
inteiros destruídos – e milhares de vidas perdidas. Estima-se em 400 mil
pessoas assassinadas desde que a guerra civil começou e mais de 5
milhões de refugiadas pedindo asilo ao redor do mundo. A Síria é também o
berço do Estado Islâmico, o maior e mais ativo grupo terrorista da
atualidade. É na Síria que são disparadas as armas químicas,
consideradas crime de guerra, como no reincidente ataque na terça-feira 4
– em 2013, outro atentado ordenado pelo governo matou 350 pessoas e
deixou mais de 1.000 feridas. A Síria está no epicentro do maior
confronto desde a Segunda Guerra Mundial. É, acima de tudo, um país
dizimado e humilhado por bárbaras lideranças locais e atores globais com
sede de guerra. TERCEIRA GUERRA
Se o mundo teme as consequências de uma Terceira Guerra Mundial, os
sírios têm a certeza de que o drama só vai piorar. Na opinião do
professor de Relações Internacionais e pesquisador do Instituto Alemão
de Estudos Globais, Kai Michael Kenkel, o ditador Assad vai tomar
medidas mais drásticas a partir de agora, e a Rússia irá protegê-lo.
“Isso vai acontecer mesmo havendo violações de direitos humanos”,
afirma. A intenção do líder russo, diz o especialista, é não acabar com o
conflito. Para Kenkel, a Síria é usada como um jogo de xadrez entre os
presidentes e, neste caso, o russo está ganhando. “Putin é racional e
sabe o que está fazendo. Tem um entendimento muito maior de política
internacional do que Trump.” A questão é que as duas nações expressam
política e culturalmente o que em termos filosóficos se chama de “ethos
guerreiro”, a necessidade de vencer e destruir o adversário. Ressalte-se
que os dois países estiveram envolvidos nos maiores conflitos armados
da história. Detêm os maiores orçamentos militares e discutem o tema da
guerra e dos ataques de maneira recorrente.
Do ponto de vista estratégico, um ataque imediato da Rússia contra os
Estados Unidos não seria viável. Para os especialistas, o que poderia
ocorrer seria um bombardeio russo nos países que pertenceram à União
Soviética e hoje integram a União Europeia. “Seria uma medida
intermediária”, diz Héctor Luis Saint-Pierre, diretor do Instituto de
Políticas Públicas e Relações Internacionais da Universidade Estadual
Paulista (Unesp) e líder do Grupo de Estudo de Defesa e Segurança
Internacional. Para ele, o objetivo maior do ataque foi reafirmar o
poderio bélico diante da China, que vem fortalecendo sua atuação como
potência militar. “Trump quis chamar a atenção da opinião pública
internacional, mostrando que pode ir até as últimas consequências. Isso
daria mais credibilidade aos Estados Unidos nas relações bilaterais com o
gigante asiático”. “Até
mesmo lindos bebês foram cruelmente assassinados neste ataque
bárbaro. Nenhum filho de Deus deveria jamais sofrer horror tão
terrível” Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
Também está em jogo o controle geopolítico dessa parte do Oriente
Médio, que é estratégica por conter zonas de passagem de gasodutos e
oleodutos e ficar próxima a regiões petrolíferas, segundo a professora
de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), Cristina Soreanu Pecequilo. “Quanto mais se prolonga um
processo de instabilidade, pior é para a população”, diz ela. “Nesse
vácuo de poder que propõe os Estados Unidos ao tentarem derrubar Assad,
quem se fortalece é o Estado Islâmico”. Para o mundo, os perigos que o
conflito trás é o prolongamento da violência, a ausência de negociação
política e a possibilidade de que a Rússia também passe a agir
unilateralmente. “A Síria pode se tornar um palco para a guerra entre
esses países, uma espécie de mini Guerra Fria, só que cada vez mais
quente”, completa a professora. “Esta ação de Washington causa um dano considerável nas relações russo-americanas, que já se encontram em um estado lamentável” Vladimir Putin, presidente da Rússia
A ofensiva bélica escancarou a impotência da Organização das Nações
Unidas (ONU) como organismo responsável pela diplomacia mundial. “Foi um
gesto semelhante ao de George W. Bush quando declarou guerra sem o
consentimento da entidade, usando como justificativa a questão da
segurança nacional”, diz o professor Saint-Pierre, da Unesp. Aqui o
problema ganha novas dimensões. Se cada país decidir adotar a medida que
julgar adequada, como fizeram os Estados Unidos no ataque à Síria,
muitas ameaçam estão por vir. “A confiança mínima entre as potências que
vinha se construindo acabou de ruir”, diz Saint-Pierre. Agora, a ONU
tenta mitigar os danos. Antonio Guterres, secretário-geral do órgão,
pediu moderação para evitar que o sofrimento do povo sírio aumente e
disse que não existe outro caminho para por fim ao conflito a não ser o
político. Na contramão, diversos países expressaram apoio à ofensiva
americana. Entre eles, Alemanha, França, Reino Unido e Turquia. Os dois
primeiros divulgaram um comunicado conjunto afirmando que Assad tem
plena responsabilidade pela represália. Theresa May, primeira-ministra
britânica, declarou que a ação foi uma resposta apropriada à agressão
selvagem da arma química. A Turquia, inimiga de Assad, considerou uma
“resposta positiva” e defendeu a saída imediata do ditador sírio. A
União Europeia também se manifestou institucionalmente, ressaltando que
trabalhará ao lado dos Estados Unidos.
Seria ingênuo acreditar que Trump atacou a Síria apenas para evitar
novas atrocidades. Ele tem interesses particulares no assunto. As
últimas semanas foram especialmente difíceis para o presidente
americano, que enfrentou um Congresso reativo aos seus projetos e que
até insinuou a possibilidade de um processo de impeachment. Na política,
em se tratando de uma pessoa como Trump, é preciso analisar todas as
dimensões do fato em questão. Ao atacar um país disposto a lançar armas
químicas, o que é indefensável sob todos os aspectos, Trump se fortalece
no ambiente doméstico. DESTRUIÇÃO Mohammed Mohiedin Anis em seu quarto após um bombardeio na cidade síria de AleppoPopularidade em alta
Durante a campanha presidencial, ele foi criticado pela aproximação com a
Rússia. Chegou a ser chamado de “fantoche de Putin” pela rival
democrata Hillary Clinton. Depois dos ataques, especialistas acreditam
que sua popularidade tende a subir. “É óbvio que há uma questão de ganho
de imagem”, diz Carlos Gustavo Poggio Teixeira, coordenador do curso de
Relações Internacionais da Pontifícia Universidade de São Paulo. “A
preocupação humanitária com as crianças não apareceu na retórica dele
antes. É uma cortina de fumaça para abafar outras questões.” Trump
também usou o ataque para marcar uma posição oposta ao do antecessor
Barack Obama. O ex-presidente disse que armas químicas romperiam uma
linha vermelha, mas ele nada fez quando, em 2013, Assad lançou ataques
idênticos aos da semana passada.
Ainda que nunca tenha agido diretamente dentro do conflito, Obama
contribuiu significativamente para a crise na Síria, armando os
fundamentalistas islâmicos violentos, os jihadistas, em aliança com a
Arábia Saudita e outras nações petrolíferas árabes contra a ditadura de
Assad. “A guerra civil tem sido patrocinada pelos Estados Unidos e
forneceu um contexto essencial e fértil para a ascensão, inclusive, do
Estado Islâmico. Centenas de milhares de sírios morreram devido à
determinação de Washington de enfraquecer e, finalmente, derrubar o
regime de Assad”, afirma o escritor americano Paul Street, autor de sete
livros sobre a política americana. “Os jihadistas estão sendo
derrotados agora principalmente graças à intervenção da Rússia e do Irã.
A Síria é uma grande marca negra no registro de Obama.” HORROR
Integrantes do Estado Islâmico, grupo envolvido em conflitos no Oriente
Médio e responsável por ataques terroristas em todo o territórioAtaques covardes
Usado como argumento por Trump para atacar Assad, os atentados com
substâncias tóxicas são condenados internacionalmente por causa de seu
caráter destrutivo e covarde, diferentemente de um confronto
convencional, em que tropas, soldados e ofensivas estão delimitados. “Os
compostos usados não tem cheiro nem cor, somem no ar, é um ataque que
não se pode ver”, afirma Camilla Colasso, bioquímica especialista em
armas químicas e autora do livro “Armas Químicas: o Mau Uso da
Toxicologia”. “Ao se dar conta do que aconteceu a pessoa já está
passando mal, sem chance de sobreviver.”
Para o especialista em questões de segurança no Oriente Médio, Rodger
Shanahan, do Instituto Lowy de Política Internacional, a grande questão é
por que esse tipo de ataque continua a acontecer. A Síria assinou
acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) em 2013, logo após o
primeiro grande ataque com arma química, se comprometendo a destruir
todo o estoque de sarin. Foi o 189º a fazer parte da convenção sobre o
tema, da qual apenas Coreia do Norte, Sudão do Sul e Egito não são
signatários. “Seria preciso descobrir quem realmente autorizou o ataque.
Uma arma química teria que ter sido deliberadamente movida para uma
base aérea e carregada para uma aeronave. Isso foi ordenado pelo
governo? Foi uma mensagem aos rebeldes ou a intenção foi constranger
Assad? Há muitas possibilidades e poucas respostas”, diz Shanahan, que
acredita que, para evitar futuros ataques, seria preciso provar quem
foram os responsáveis e puni-los. Foi o que fizeram os Estados Unidos
mesmo sem aval da votação do Conselho de Segurança. Nas últimas horas,
as tensões ganharam intensidade. Os russos disseram que o plano
americano de lançar mísseis foi elaborado antes dos ataques químicos.
Logo depois, a embaixadora americana Nikki Haley afirmou que seu país
está “preparado para ir mais longe.” O mundo espera que não seja longe
demais. POR QUE A GUERRA SÍRIA TEM IMPACTO MUNDIAL
> O país está no coração de uma área de conflitos historicamente influenciada pelas potências mundiais
> O ataque americano coloca duas mais importantes – Rússia e Estados Unidos – em confronto direto.
O governo de Vladimir Putin é aliado do ditador Bashar Al-Assad
> Também torna incerta a reação do Irã, outro país aliado de
Al-Assad, inimigo de Israel e com forte presença no Golfo Pérsico
> Deixa em discussão o combate ao grupo extremista Estado
Islâmico, que hoje controla boa parte do território sírio, na região
mais próxima da Turquia. Uma coalisão internacional integrada também
pela Síria, Estados Unidos e Rússia luta contra
os extremistas
> Deve agravar a crise de refugiados, a pior desde a Segunda
Guerra Mundial. Grande parte das pessoas que procuram abrigo na Europa
são sírios fugindo da guerra, que já dura 6 anos e é uma das mais cruéis
dos tempos modernos
Colaboraram Fabíola Perez, Elaine Ortiz e Thais Skodowski
Aos bravos GUERREIROS DE SELVA formados e qualificados pelo Centro de Operações na Selva e Ações de Comando (COSAC) e Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) para defender a soberania da Amazônia - BRASIL, meus sinceros cumprimentos pelo dia:"03 DE JUNHO - DIA DO GUERREIRO DE SELVA" ÁRDUA É A MISSÃO DE DEFENDER E DESENVOLVER A AMAZÕNIA, MUITO MAIS DIFÍCIL PORÉM, FOI A DE NOSSOS ANTEPASSADOS EM CONQUISTÁ-LA E MANTÊ-LA"ORAÇÃO DO GUERREIRO DA SELVA Senhor,Tu que ordenaste ao guerreiro da selva: “Sobrepujai todos os vossos oponentes!” Dai-nos hoje da floresta: A sobriedade para persistir, A paciência para emboscar, A perseverança para sobreviver, A astúcia para dissimular, A fé para resistir e vencer, E dai-nos também Senhor, A esperança e a certeza do retorno. Mas, se defendendo esta brasileira Amazônia, Tivermos que perecer, ó Deus! Que o façamos com dignidade E mereçamos a vitória! SELVA!http://www.cigs.ensino.eb.br/
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