Retirada do Reino Unido da União
Europeia acaba com a utopia de um mundo sem fronteiras, lança o
continente num período de incertezas, assusta o mercado financeiro e
pode suscitar uma perigosa onda separatista
RESSACA Parlamento britânico amanhece após saída do Reino Unido da UE (Crédito: Mary Turner/Getty Images; )
Mariana Queiroz Barboza
RESULTADOS Apoiadores do “Brexit” comemoram saída. À dir., militantes do fico desolados
Nos últimos três anos, desde que o primeiro-ministro britânico, David
Cameron, convocou um plebiscito sobre a permanência ou não do Reino
Unido na União Europeia (UE), as autoridades do continente estiveram
ocupadas demais para dar a devida atenção ao debate. A crise da zona do
euro, sobretudo a da dívida grega, consumiu inúmeras horas, assim como a
anexação da Crimeia pela Rússia, a guerra civil na Síria, o enorme
fluxo de refugiados rumo ao continente e os atentados terroristas que
ameaçavam as principais capitais. A proposta britânica de renegociar os
termos de adesão ao bloco estava no fim dessa agenda até algumas semanas
atrás, quando as pesquisas de opinião mostravam que a disputa seria
apertada e os líderes europeus começaram a se preocupar com o risco real
de rompimento. O resultado da consulta popular divulgado na madrugada
da sexta-feira 24 mostrou que o temor talvez tenha vindo tarde. Com 52%
dos votos, os britânicos decidiram pela saída. A questão mobilizou tanto
a sociedade que a participação dos eleitores, de 72%, foi maior do que
nas últimas eleições gerais.
O choque foi enorme. As bolsas de valores em diversas partes do
mundo, que apostavam no fico, operaram em baixa recorde e a libra
esterlina alcançou o menor valor em 30 anos. Os danos, contudo, são
maiores que financeiros. Um bloco europeu sem o Reino Unido, o primeiro
dos 28 países-membros a pedir a desvinculação, é um golpe contra a
utopia representada pelo projeto mais ambicioso de integração entre
nações que surgiu depois da Segunda Guerra Mundial. Um espaço que
representaria a paz e a colaboração num mundo sem fronteiras. Teme-se
agora que o resultado do plebiscito inspire outros países a repensar
suas relações com o bloco. O fim da união que durou 43 anos deve levar
mais dois anos para ser concretizado, apesar de os porta-vozes da UE
terem pedido que Londres saia “o quanto antes, por mais doloroso que o
processo seja”, a fim de minimizar o período de incertezas. Isso
significa que o Reino Unido ficará de fora do tratado de livre-comércio
entre Washington e Bruxelas, o Acordo de Parceria Transatlântica de
Comércio e Investimento, e terá que refazer suas relações comerciais e
diplomáticas. Antes disso, porém, terá que lidar com suas próprias
fissuras. Enquanto o país de Gales e o interior da Inglaterra
desequilibraram a disputa pela ruptura, Londres, Escócia e Irlanda do
Norte votaram pela permanência. Os escoceses, que, em 2014, quase
deixaram o Reino Unido, já falam em realizar um novo plebiscito de
independência. Acima, jovens pedem maior representação
“A decisão da maioria dos britânicos está inserida num fenômeno mais
amplo, que vem desde a quebra do banco Lehman Brothers e o começo da
recessão em 2008: estamos numa fase de desglobalização”, afirma o
diplomata Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia, em
Nova York. Segundo ele, que também é autor do livro “Desglobalização:
Crônica de um Mundo em Mudança”, com o fim da Guerra Fria, o mundo
passou por uma globalização profunda impulsionada por uma dupla
coincidência – a consolidação de valores ocidentais, como a economia de
mercado e a democracia representativa, e a tendência de integração em
espaços econômicos e políticos. Nesse processo de retirada de barreiras,
houve muitos ganhos, como o acesso a mercados, mão-de-obra mais barata e
a livre circulação de bens e serviços, mas que foram acompanhados de
questões menos desejadas, como o aumento da imigração, que provocou
grandes crises de identidade nacional, e a perda de competitividade em
indústrias mais tradicionais. REAÇÕES Ao fundo, presidente francês em reunião de emergência
A esse cenário soma-se o fraco desempenho da economia mundial nos
últimos anos e, assim, o risco de desglobalização contamina não só a
Europa. “A campanha presidencial americana é um exemplo disso, sobretudo
no lado de Donald Trump”, diz Troyjo. “É sintomático que os maiores
advogados da integração e do liberalismo, Estados Unidos e Grã-Bretanha,
adotem um discurso mais protecionista.” Em visita à Escócia, Trump
comemorou o “Brexit” (expressão em inglês que mistura as palavras
Grã-Bretanha e saída), assim como líderes iranianos e russos.
As raízes da insatisfação dos britânicos com a UE são históricas – a
começar pela geografia. Segundo Charles Grant, diretor do Centro para a
Reforma Europeia, por viver numa ilha, os britânicos falam da Europa
como se fosse outro lugar. Ao longo de sua história, Londres “esteve
mais orientada a outros continentes do que ao poder continental”,
escreveu num estudo publicado em 2008. “Os britânicos nunca se sentiram
europeus”, diz Yann Duzert, professor de Negociação e Resolução de
Conflitos da Fundação Getulio Vargas. Mais do que isso, os britânicos
passaram a colher, a partir dos anos 90, resultados melhores do que
países como França e Alemanha na economia, atraindo investimento
estrangeiro e mantendo uma taxa de desemprego bem menor que a de seus
vizinhos. CLIQUE PARA AUMENTAR
A mídia também teve papel importante na oposição ao bloco europeu. Um
levantamento da Comissão Europeia colocou os jornais Daily Mail e Daily
Telegraph no topo da divulgação de mentiras e alarmismos. A lista vai
de mitos como o de que as notas de euro podem causar impotência nos
homens, publicado em 2002, até o de que a entidade controlaria o uso de
tostadeiras e cafeteiras, informação que circulou nos jornais neste ano.
Para Duzert, da FGV, o resultado do plebiscito significa uma “volta ao
passado”. “O Reino Unido é uma monarquia que funciona sob um sistema
clássico, ancestral, com identidade e modo de crença particular, e a
saída vai reforçar esse lado”, afirma o professor. POR CIMA Boris Johnson agora é o favorito para ser o primeiro-ministro
A descrença na eficiência do bloco e a oposição a ele não são
exclusividade dos britânicos nem da extrema-direita. Uma pesquisa
realizada no início do mês pelo Pew Research Center mostrou que o
chamado euroceticismo tem crescido no continente. Quase metade dos
europeus (42%) concorda que alguns poderes devem ser devolvidos aos
governos nacionais, em vez de mais poderes serem transferidos a Bruxelas
ou manter a situação como está. Segundo o instituto, a imagem e
estatura do bloco passaram por um “passeio de montanha-russa” nos
últimos anos. Entre 2012 e 2013, elas foram prejudicadas pela crise
econômica. Em seguida, se recuperaram, mas, desde o ano passado, têm
caído. Ainda que a visão favorável da UE tenha encolhido também entre
alemães, espanhóis e italianos, o apoio é menor entre gregos, franceses e
britânicos. Os resultados confirmam o que a última pesquisa
Eurobarometer, realizada pela Comissão Europeia no fim do ano passado,
já mostrava. POR BAIXO David Cameron e a mulher, Samantha, após renúncia (Crédito:Alex McNaughton/Sputnik)
“Não é uma peculiaridade britânica”, disse à ISTOÉ Andrew Glencross,
professor de Política Internacional da Universidade de Stirling, na
Escócia. “Cidadãos de diferentes países têm queixas sobre problemas que
eles sentem que a União Europeia está mal equipada para enfrentar.”
Ainda de acordo com Glencross, na zona do euro, o problema maior seria o
desemprego, enquanto, na Europa Oriental, a política de asilo seria a
questão do momento. “O que nos deparamos aqui é com um sentimento de
frustração de que o bloco não está melhorando as coisas”, afirma. “Isso
contribui para uma percepção em todo o continente de que a União
Europeia é uma instituição imperfeita e falida.” Para Simon Usherwood,
professor da Universidade de Surrey, no sudeste da Inglaterra, tamanha
frustração reflete o fracasso da UE em produzir resultados úteis. “A
crise na zona do euro e a crise dos refugiados mostram que peças
centrais da União Europeia não funcionam muito bem e podem ter custos
substanciais”, diz. CLIQUE PARA AUMENTAR
Durante a campanha, os militantes pró-Brexit argumentavam que as
regulações impostas pela UE custavam semanalmente ao país cerca de 600
milhões de libras esterlinas, além dos 13 bilhões de libras esterlinas
de contribuição anual. Contribui para essa visão a ideia de que Bruxelas
ameaça a soberania nacional dos países do bloco, já que os membros da
Comissão Europeia não são escolhidos diretamente pelo voto da população,
que, ainda assim, precisa se sujeitar às leis criadas por eles. Muitos
temas, como agricultura, políticas de competição e patentes, são de
decisão exclusiva do bloco. Isso favorece que partidos nacionalistas e
anti-UE, com forte discurso populista, continuem ganhando força no
continente. Na semana passada, a Itália elegeu duas prefeitas, inclusive
de Roma, do Movimento Cinco Estrelas, criado há sete anos por um
humorista e, até então, considerado apenas um voto de protesto. Na
França, a candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, notadamente
xenófoba, lidera boa parte das pesquisas para a eleição presidencial de
2017 e promete fazer entre os franceses um referendo semelhante ao
britânico, já apelidado de “Frexit”.
Na sexta-feira 24, David Cameron renunciou ao cargo de
primeiro-ministro. Nos últimos meses, Cameron travou uma disputa dentro
de seu próprio partido, o Conservador, com Boris Johnson, ex-prefeito de
Londres e principal nome da campanha pelo “Brexit”. Perdeu e agora
Johnson é o nome mais cotado para se tornar o próximo primeiro-ministro.
Outro efeito do plebiscito recairá sobre a grande paixão dos ingleses, o
futebol. Quase 400 jogadores da liga britânica são estrangeiros, que
poderão perder o direito de jogar no país. Entre os seis principais
clubes, 77 atletas teriam seus status revistos e o tradicional Liverpool
seria o mais prejudicado pela nova regulação.
No âmbito internacional, a chanceler alemã, Angela Merkel, que
liderou o processo de acolhimento dos refugiados sírios e conteve a
expulsão da Grécia da zona do euro no ano passado, apareceu em público
abatida. “Tomamos nota com pesar da decisão da maioria da população
britânica”, disse Merkel. “É um golpe contra o processo de unificação
europeia.” Para evitar que outros países sigam o mesmo caminho, a UE
promete agora jogar duro. O bloco é o destino de metade das exportações
britânicas e a ruptura tem potencial para provocar uma recessão no Reino
Unido, situação que seria exemplar aos olhos das autoridades europeias.
Martin Schulz, presidente do Parlamento europeu, alertou: “A reação em
cadeia que está sendo celebrada pelos eurocéticos não vai acontecer”,
disse. “A Grã-Bretanha cortou laços com o maior mercado comum e isso
terá consequências.”
Por que o voto pela SAÍDA venceu?
Descrédito diante dos alertas econômicos, xenofobia e falta de
confiança no primeiro-ministro estão entre as razões que levaram os
britânicos a escolher deixar a UE A economia dos ricos
A sucessão de alertas dados por organismos como Fundo Monetário
Internacional e Banco Mundial sobre as conseqüências econômicas da saída
da UE foi vista por muitos eleitores como um ataque da elite
financeira, supostamente preocupada apenas com suas fortunas e
investimentos Mais dinheiro para a saúde?
A campanha pela saída argumentou que, ao se livrar dos compromissos com a
UE, o Reino Unido conseguiria liberar 350 milhões de libras para o
sistema de saúde pública do país. A alegação, questionada pela maioria
dos especialistas, foi bem aceita pelos eleitores diante das enormes
pressões enfrentadas pelos hospitais e clínicas Imigração e xenofobia
A questão da imigração, levantada principalmente pelo líder do partido
UKIP, Nigel Farage, mostrou-se definitiva no referendo. A campanha
argumentou que, enquanto estivesse na UE, o Reino Unido seria incapaz de
controlar o fluxo de imigrantes e refugiados que entram no país Descrédito do primeiro-ministro
Ao fazer pesada campanha pela permanência do Reino Unido na UE, David
Cameron, do Partido Conservador, transformou a votação numa questão de
confiança em seu governo. O problema: muitos dos eleitores não
acreditaram que, se o país permanecesse no bloco, Cameron seria capaz de
promover as reformas prometidas A sonolência do Partido Trabalhista
O consenso entre os analistas da política britânica é de que o Partido
Trabalhista subestimou as inclinações de seus apoiadores. Apesar de 90%
de seus parlamentares apoiarem a permanência na UE, a campanha em favor
do bloco foi considerada fraca e lenta PÂNICO Investidores na bolsa de Nova York na sexta-feira 24 (Crédito:AP Photo/Richard Drew)
A reação nas bolsas e o impacto no Brasil
Mercados despencam, mas saída pode ser boa para o País
A saída do Reino Unido da União Europeia provocou o que os analistas
chamaram de “sexta-feira negra” para mercados mundiais, com bolsas
despencando e a maior desvalorização da libra, a moeda britânica, desde
1985. No Brasil, o dia não foi muito diferente, com a Bovespa em queda
de mais de 3% e o dólar em alta. Apesar de os efeitos parecerem
inicialmente negativos para o País, devido ao nervosismo causado pela
decisão, há quem pense em cenário positivo no médio e longo prazo. Isso
porque o enfraquecimento do bloco europeu pode levar investidores a
diversificar negócios, apostando em nações emergentes como o Brasil. Em
nota, o Banco Central disse que está monitorando o cenário internacional
e que adotará “medidas adequadas” para manter o funcionamento do
mercado brasileiro.
Com reportagem de Raul Montenegro
Aos bravos GUERREIROS DE SELVA formados e qualificados pelo Centro de Operações na Selva e Ações de Comando (COSAC) e Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) para defender a soberania da Amazônia - BRASIL, meus sinceros cumprimentos pelo dia:"03 DE JUNHO - DIA DO GUERREIRO DE SELVA" ÁRDUA É A MISSÃO DE DEFENDER E DESENVOLVER A AMAZÕNIA, MUITO MAIS DIFÍCIL PORÉM, FOI A DE NOSSOS ANTEPASSADOS EM CONQUISTÁ-LA E MANTÊ-LA"ORAÇÃO DO GUERREIRO DA SELVA Senhor,Tu que ordenaste ao guerreiro da selva: “Sobrepujai todos os vossos oponentes!” Dai-nos hoje da floresta: A sobriedade para persistir, A paciência para emboscar, A perseverança para sobreviver, A astúcia para dissimular, A fé para resistir e vencer, E dai-nos também Senhor, A esperança e a certeza do retorno. Mas, se defendendo esta brasileira Amazônia, Tivermos que perecer, ó Deus! Que o façamos com dignidade E mereçamos a vitória! SELVA!http://www.cigs.ensino.eb.br/
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