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quinta-feira, 30 de junho de 2016

Paulo Bernardo deixa a prisão após decisão do STF

Alvo da Operação Custo Brasil, petista teve a prisão preventiva revogada pelo ministro Dias Toffoli. 'Sou inocente, isso vai ficar demonstrado', disse ao sair da sede da PF em SP

Ex-ministro Paulo Bernardo deixa sede da Polícia Federal, em São Paulo
Ex-ministro Paulo Bernardo deixa sede da Polícia Federal, em São Paulo(J.F. Diorio/VEJA)
O ex-ministro Paulo Bernardo deixou na noite desta quarta-feira a sede da Polícia Federal em São Paulo, onde estava preso desde a última quinta. Alvo da Operação Custo Brasil, que investiga um esquema de desvios de 100 milhões de reais no Ministério do Planejamento, Paulo Bernardo foi beneficiado por decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que apontou "constrangimento ilegal" e revogou sua prisão. Após a determinação do STF, o juiz federal Paulo Bueno de Azevedo, responsável pelos processos da Custo Brasil, mandou soltar outros sete alvos da operação. Dois investigados seguem presos.
"Sou inocente, isso vai ficar demonstrado", afirmou o ex-ministro ao sair da sede da PF, por volta das 22h30. Paulo Bernardo disse ainda que sua prisão "não era necessária". "Eu estava em local encontrável, me coloquei à disposição da Justiça várias vezes." Sobre as suspeitas de que teve despesas pagas com propina, ele afirmou: "Isso não procede, não tem o menor cabimento. Minhas despesas pessoais são pagas com meu salário".

Apesar da soltura, Paulo Bernardo terá de cumprir medidas cautelares determinadas pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo. O ex-ministro terá de comparecer quinzenalmente à Justiça, não pode entrar em contato com os demais investigados, está proibido de deixar o país sem autorização judicial, deve entregar o passaporte às autoridades e ainda ficará impedido de exercer cargos públicos.
Após a ordem do ministro Dias Toffoli, do Supremo, o magistrado de São Paulo soltou, além de Paulo Bernardo, outros sete alvos da Custo Brasil: o ex-secretário de Gestão municipal de São Paulo Valter Correia da Silva, os advogados Guilherme Gonçalves, Daisson Silva Portanova e Emanuel Dantas do Nascimento, e os empresários Joaquim José Maranhão da Câmara, Washington Luiz Viana e Dércio Guedes de Souza. O último também já havia obtido uma decisão favorável de Toffoli no início da noite desta quarta.
Outros dois investigados na operação, o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira e o ex-servidor do Planejamento Nelson Luiz Oliveira Freitas, devem continuar presos por terem tentado interferir em acordos de delação premiada. Além de Ferreira e Freitas, continua preso o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto que, além de ter sido alvo de mandado de prisão em São Paulo, está detido em Curitiba por causa da Lava Jato.
Custo Brasil - Deflagrada na quinta-feira passada, a Operação Custo Brasil apura o desvio de cerca de 100 milhões de reais de empréstimos consignados do Ministério do Planejamento durante a gestão de Paulo Bernardo na pasta, entre 2005 e 2011. A pilhagem dos recursos dos funcionários públicos endividados se dava por meio da empresa Consist, contratada pelo Planejamento para gerir os empréstimos, que cobrava 1 real mensal de cada servidor por um serviço que custaria normalmente 30 centavos. As investigações apontam indícios de que o ex-ministro, que teria recebido cerca de 6 milhões de reais do esquema por meio do advogado Guilherme Gonçalves, irrigou o caixa dois do PT e de campanhas petistas, como a da sua mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), com o dinheiro roubado.
(Da redação)

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Delator afirma que o PT pediu R$ 30 milhões para quitar dívida de Haddad

Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor da empreiteira Andrade Gutierrez disse que o pedido foi feito pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad durante coletiva de imprensa
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad durante coletiva de imprensa(Adriano Vizoni/Folhapress)
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu à Andrade Gutierrez o pagamento de uma dívida de 30 milhões de reais da campanha do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). O valor teria sido cobrado também de mais cinco construtoras, revelou Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor da empreiteira, em delação premiada na Operação Lava Jato. "Em 2013, o PT, por meio de João Vaccari Neto, tesoureiro do partido, solicitou à Andrade Gutierrez o pagamento de uma dívida do partido referente à campanha de Haddad à Prefeitura de São Paulo", afirmou Machado Filho, em depoimento no dia 25 de fevereiro, na Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília.
"A dívida era de 30 milhões de reais. Também houve a solicitação do pagamento a outras cinco empresas, de modo que ficariam 5 milhões de reais para pagamento pela Andrade Gutierrez." Vaccari está preso. Dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa - primeiro grande empreiteiro a fazer delação premiada - já confessara, no ano passado, que chegou a pagar uma despesa de 2,4 milhões de reais da campanha do petista.

Eleito em 2012, Haddad arrecadou 42 milhões de reais em sua campanha e gastou 67 milhões de reais - um rombo de pelo menos 25 milhões de reais, assumido pelo Diretório Nacional do PT no ano seguinte. Parte desse valor era do contrato fechado com a Polis Propaganda e Marketing, de João Santana. Responsável pela campanha de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e da primeira vitória da presidente afastada Dilma Rousseff, em 2010, o publicitário foi contratado pela campanha de Haddad por 30 milhões de reais. Em 2014, ele foi o responsável pelo marketing da campanha de reeleição de Dilma.
Pagamento - Em sua delação, o ex-executivo da Andrade Gutierrez afirmou que 5 milhões de reais que a empreiteira teria de pagar eram para Santana. "Não sabe se a dívida de 30 milhões de reais era com João Santana ou o total da campanha de Haddad, mas a parte da Andrade Gutierrez, os 5 milhões de reais, era de dívida do PT com João Santana", afirmou aos procuradores. O delator disse que foi "o próprio Vaccari" quem passou o contato da mulher do marqueteiro, Mônica Moura. Sócia do marido na Polis, ela era a responsável pelas contas do casal. Ambos estão presos em Curitiba, desde fevereiro, alvos da Operação Acarajé, quando foi descoberta conta secreta na Suíça. Santana e Mônica são acusados de corrupção e lavagem de dinheiro.
Machado Filho contou também que chegou a procurar a mulher de Santana por telefone para acertar "um café, cujo nome não se recorda, na Rua Dias Ferreira (no Leblon, Rio)". "A dívida poderia ser paga no exterior, segundo Mônica". A Lava Jato descobriu a conta usada pelo casal, na Suíça, em nome da offshore ShellBill Finance Corp. O delator disse que, em reunião com diretores, foi decidido que a Andrade Gutierrez não pagaria os valores. "Mesmo a Andrade Gutierrez não tendo pago, não houve posteriormente desdobramentos." Machado Filho disse ainda que não tratou do pedido com Haddad. "Não sabe se Haddad sabia."
Defesas - A coordenação de campanha do prefeito Fernando Haddad informou que foi deixada uma dívida da disputa, em 2012, que chegava a 29 milhões de reais. "O valor foi declarado ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e repassado ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, que faria sua liquidação", informou a equipe. Por meio de sua assessoria de imprensa, o PT disse que "refuta totalmente as ilações apresentadas". "Todas as doações que o PT recebeu foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral", disse o partido, em nota. A defesa de João Santana informou que apenas se manifestaria após conversar com seu cliente sobre o assunto.
(Com Estadão Conteúdo)

terça-feira, 28 de junho de 2016

O fim de uma Era

Retirada do Reino Unido da União Europeia acaba com a utopia de um mundo sem fronteiras, lança o continente num período de incertezas, assusta o mercado financeiro e pode suscitar uma perigosa onda separatista

Crédito: Mary Turner/Getty Images;
RESSACA Parlamento britânico amanhece após saída do Reino Unido da UE (Crédito: Mary Turner/Getty Images; )
RESULTADOS Apoiadores do “Brexit” comemoram saída. À dir., militantes do fico desolados
RESULTADOS Apoiadores do “Brexit” comemoram saída. À dir., militantes do fico desolados
Nos últimos três anos, desde que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, convocou um plebiscito sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia (UE), as autoridades do continente estiveram ocupadas demais para dar a devida atenção ao debate. A crise da zona do euro, sobretudo a da dívida grega, consumiu inúmeras horas, assim como a anexação da Crimeia pela Rússia, a guerra civil na Síria, o enorme fluxo de refugiados rumo ao continente e os atentados terroristas que ameaçavam as principais capitais. A proposta britânica de renegociar os termos de adesão ao bloco estava no fim dessa agenda até algumas semanas atrás, quando as pesquisas de opinião mostravam que a disputa seria apertada e os líderes europeus começaram a se preocupar com o risco real de rompimento. O resultado da consulta popular divulgado na madrugada da sexta-feira 24 mostrou que o temor talvez tenha vindo tarde. Com 52% dos votos, os britânicos decidiram pela saída. A questão mobilizou tanto a sociedade que a participação dos eleitores, de 72%, foi maior do que nas últimas eleições gerais.
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O choque foi enorme. As bolsas de valores em diversas partes do mundo, que apostavam no fico, operaram em baixa recorde e a libra esterlina alcançou o menor valor em 30 anos. Os danos, contudo, são maiores que financeiros. Um bloco europeu sem o Reino Unido, o primeiro dos 28 países-membros a pedir a desvinculação, é um golpe contra a utopia representada pelo projeto mais ambicioso de integração entre nações que surgiu depois da Segunda Guerra Mundial. Um espaço que representaria a paz e a colaboração num mundo sem fronteiras. Teme-se agora que o resultado do plebiscito inspire outros países a repensar suas relações com o bloco. O fim da união que durou 43 anos deve levar mais dois anos para ser concretizado, apesar de os porta-vozes da UE terem pedido que Londres saia “o quanto antes, por mais doloroso que o processo seja”, a fim de minimizar o período de incertezas. Isso significa que o Reino Unido ficará de fora do tratado de livre-comércio entre Washington e Bruxelas, o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, e terá que refazer suas relações comerciais e diplomáticas. Antes disso, porém, terá que lidar com suas próprias fissuras. Enquanto o país de Gales e o interior da Inglaterra desequilibraram a disputa pela ruptura, Londres, Escócia e Irlanda do Norte votaram pela permanência. Os escoceses, que, em 2014, quase deixaram o Reino Unido, já falam em realizar um novo plebiscito de independência.
Acima, jovens pedem maior representação
Acima, jovens pedem maior representação
“A decisão da maioria dos britânicos está inserida num fenômeno mais amplo, que vem desde a quebra do banco Lehman Brothers e o começo da recessão em 2008: estamos numa fase de desglobalização”, afirma o diplomata Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia, em Nova York. Segundo ele, que também é autor do livro “Desglobalização: Crônica de um Mundo em Mudança”, com o fim da Guerra Fria, o mundo passou por uma globalização profunda impulsionada por uma dupla coincidência – a consolidação de valores ocidentais, como a economia de mercado e a democracia representativa, e a tendência de integração em espaços econômicos e políticos. Nesse processo de retirada de barreiras, houve muitos ganhos, como o acesso a mercados, mão-de-obra mais barata e a livre circulação de bens e serviços, mas que foram acompanhados de questões menos desejadas, como o aumento da imigração, que provocou grandes crises de identidade nacional, e a perda de competitividade em indústrias mais tradicionais.
REAÇÕES Ao fundo, presidente francês em reunião de emergência
REAÇÕES Ao fundo, presidente francês em reunião de emergência
A esse cenário soma-se o fraco desempenho da economia mundial nos últimos anos e, assim, o risco de desglobalização contamina não só a Europa. “A campanha presidencial americana é um exemplo disso, sobretudo no lado de Donald Trump”, diz Troyjo. “É sintomático que os maiores advogados da integração e do liberalismo, Estados Unidos e Grã-Bretanha, adotem um discurso mais protecionista.” Em visita à Escócia, Trump comemorou o “Brexit” (expressão em inglês que mistura as palavras Grã-Bretanha e saída), assim como líderes iranianos e russos.
As raízes da insatisfação dos britânicos com a UE são históricas – a começar pela geografia. Segundo Charles Grant, diretor do Centro para a Reforma Europeia, por viver numa ilha, os britânicos falam da Europa como se fosse outro lugar. Ao longo de sua história, Londres “esteve mais orientada a outros continentes do que ao poder continental”, escreveu num estudo publicado em 2008. “Os britânicos nunca se sentiram europeus”, diz Yann Duzert, professor de Negociação e Resolução de Conflitos da Fundação Getulio Vargas. Mais do que isso, os britânicos passaram a colher, a partir dos anos 90, resultados melhores do que países como França e Alemanha na economia, atraindo investimento estrangeiro e mantendo uma taxa de desemprego bem menor que a de seus vizinhos.
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A mídia também teve papel importante na oposição ao bloco europeu. Um levantamento da Comissão Europeia colocou os jornais Daily Mail e Daily Telegraph no topo da divulgação de mentiras e alarmismos. A lista vai de mitos como o de que as notas de euro podem causar impotência nos homens, publicado em 2002, até o de que a entidade controlaria o uso de tostadeiras e cafeteiras, informação que circulou nos jornais neste ano. Para Duzert, da FGV, o resultado do plebiscito significa uma “volta ao passado”. “O Reino Unido é uma monarquia que funciona sob um sistema clássico, ancestral, com identidade e modo de crença particular, e a saída vai reforçar esse lado”, afirma o professor.
POR CIMA Boris Johnson agora é o favorito para ser o primeiro-ministro
POR CIMA Boris Johnson agora é o favorito para ser o primeiro-ministro
A descrença na eficiência do bloco e a oposição a ele não são exclusividade dos britânicos nem da extrema-direita. Uma pesquisa realizada no início do mês pelo Pew Research Center mostrou que o chamado euroceticismo tem crescido no continente. Quase metade dos europeus (42%) concorda que alguns poderes devem ser devolvidos aos governos nacionais, em vez de mais poderes serem transferidos a Bruxelas ou manter a situação como está. Segundo o instituto, a imagem e estatura do bloco passaram por um “passeio de montanha-russa” nos últimos anos. Entre 2012 e 2013, elas foram prejudicadas pela crise econômica. Em seguida, se recuperaram, mas, desde o ano passado, têm caído. Ainda que a visão favorável da UE tenha encolhido também entre alemães, espanhóis e italianos, o apoio é menor entre gregos, franceses e britânicos. Os resultados confirmam o que a última pesquisa Eurobarometer, realizada pela Comissão Europeia no fim do ano passado, já mostrava.
POR BAIXO David Cameron e a mulher, Samantha, após renúncia
POR BAIXO David Cameron e a mulher, Samantha, após renúncia (Crédito:Alex McNaughton/Sputnik)
“Não é uma peculiaridade britânica”, disse à ISTOÉ Andrew Glencross, professor de Política Internacional da Universidade de Stirling, na Escócia. “Cidadãos de diferentes países têm queixas sobre problemas que eles sentem que a União Europeia está mal equipada para enfrentar.” Ainda de acordo com Glencross, na zona do euro, o problema maior seria o desemprego, enquanto, na Europa Oriental, a política de asilo seria a questão do momento. “O que nos deparamos aqui é com um sentimento de frustração de que o bloco não está melhorando as coisas”, afirma. “Isso contribui para uma percepção em todo o continente de que a União Europeia é uma instituição imperfeita e falida.” Para Simon Usherwood, professor da Universidade de Surrey, no sudeste da Inglaterra, tamanha frustração reflete o fracasso da UE em produzir resultados úteis. “A crise na zona do euro e a crise dos refugiados mostram que peças centrais da União Europeia não funcionam muito bem e podem ter custos substanciais”, diz.
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Durante a campanha, os militantes pró-Brexit argumentavam que as regulações impostas pela UE custavam semanalmente ao país cerca de 600 milhões de libras esterlinas, além dos 13 bilhões de libras esterlinas de contribuição anual. Contribui para essa visão a ideia de que Bruxelas ameaça a soberania nacional dos países do bloco, já que os membros da Comissão Europeia não são escolhidos diretamente pelo voto da população, que, ainda assim, precisa se sujeitar às leis criadas por eles. Muitos temas, como agricultura, políticas de competição e patentes, são de decisão exclusiva do bloco. Isso favorece que partidos nacionalistas e anti-UE, com forte discurso populista, continuem ganhando força no continente. Na semana passada, a Itália elegeu duas prefeitas, inclusive de Roma, do Movimento Cinco Estrelas, criado há sete anos por um humorista e, até então, considerado apenas um voto de protesto. Na França, a candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, notadamente xenófoba, lidera boa parte das pesquisas para a eleição presidencial de 2017 e promete fazer entre os franceses um referendo semelhante ao britânico, já apelidado de “Frexit”.
Na sexta-feira 24, David Cameron renunciou ao cargo de primeiro-ministro. Nos últimos meses, Cameron travou uma disputa dentro de seu próprio partido, o Conservador, com Boris Johnson, ex-prefeito de Londres e principal nome da campanha pelo “Brexit”. Perdeu e agora Johnson é o nome mais cotado para se tornar o próximo primeiro-ministro. Outro efeito do plebiscito recairá sobre a grande paixão dos ingleses, o futebol. Quase 400 jogadores da liga britânica são estrangeiros, que poderão perder o direito de jogar no país. Entre os seis principais clubes, 77 atletas teriam seus status revistos e o tradicional Liverpool seria o mais prejudicado pela nova regulação.
No âmbito internacional, a chanceler alemã, Angela Merkel, que liderou o processo de acolhimento dos refugiados sírios e conteve a expulsão da Grécia da zona do euro no ano passado, apareceu em público abatida. “Tomamos nota com pesar da decisão da maioria da população britânica”, disse Merkel. “É um golpe contra o processo de unificação europeia.” Para evitar que outros países sigam o mesmo caminho, a UE promete agora jogar duro. O bloco é o destino de metade das exportações britânicas e a ruptura tem potencial para provocar uma recessão no Reino Unido, situação que seria exemplar aos olhos das autoridades europeias. Martin Schulz, presidente do Parlamento europeu, alertou: “A reação em cadeia que está sendo celebrada pelos eurocéticos não vai acontecer”, disse. “A Grã-Bretanha cortou laços com o maior mercado comum e isso terá consequências.”

Por que o voto pela SAÍDA venceu?

Descrédito diante dos alertas econômicos, xenofobia e falta de confiança no primeiro-ministro estão entre as razões que levaram os britânicos a escolher deixar a UE
A economia dos ricos
A sucessão de alertas dados por organismos como Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial sobre as conseqüências econômicas da saída da UE foi vista por muitos eleitores como um ataque da elite financeira, supostamente preocupada apenas com suas fortunas e investimentos
Mais dinheiro para a saúde?
A campanha pela saída argumentou que, ao se livrar dos compromissos com a UE, o Reino Unido conseguiria liberar 350 milhões de libras para o sistema de saúde pública do país. A alegação, questionada pela maioria dos especialistas, foi bem aceita pelos eleitores diante das enormes pressões enfrentadas pelos  hospitais e clínicas
Imigração e xenofobia
A questão da imigração, levantada principalmente pelo líder do partido UKIP, Nigel Farage, mostrou-se definitiva no referendo. A campanha argumentou que, enquanto estivesse na UE, o Reino Unido seria incapaz de controlar o fluxo de imigrantes e refugiados que entram no país
Descrédito do primeiro-ministro
Ao fazer pesada campanha pela permanência do Reino Unido na UE, David Cameron, do Partido Conservador, transformou a votação numa questão de confiança em seu governo. O problema: muitos dos eleitores não acreditaram que, se o país permanecesse no bloco, Cameron seria capaz de promover as reformas prometidas
A sonolência do Partido Trabalhista
O consenso entre os analistas da política britânica é de que o Partido Trabalhista subestimou as inclinações de seus apoiadores. Apesar de 90% de seus parlamentares apoiarem a permanência na UE, a campanha em favor do bloco foi considerada fraca e lenta
PÂNICO Investidores na bolsa de Nova York na sexta-feira 24
PÂNICO Investidores na bolsa de Nova York na sexta-feira 24 (Crédito:AP Photo/Richard Drew)

A reação nas bolsas  e o impacto no Brasil

Mercados despencam, mas saída pode ser boa para o País
A saída do Reino Unido da União Europeia provocou o que os analistas chamaram de “sexta-feira negra” para mercados mundiais, com bolsas despencando e a maior desvalorização da libra, a moeda britânica, desde 1985. No Brasil, o dia não foi muito diferente, com a Bovespa em queda de mais de 3% e o dólar em alta. Apesar de os efeitos parecerem inicialmente negativos para o País, devido ao nervosismo causado pela decisão, há quem pense em cenário positivo no médio e longo prazo. Isso porque o enfraquecimento do bloco europeu pode levar investidores a diversificar negócios, apostando em nações emergentes como o Brasil. Em nota, o Banco Central disse que está monitorando o cenário internacional e que adotará “medidas adequadas” para manter o funcionamento do mercado brasileiro.
Com reportagem de Raul Montenegro

segunda-feira, 27 de junho de 2016

O casal encrenca

Acusados de comandar esquema que desviou R$ 100 milhões dos cofres públicos, Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann entram no rol de ex-ministros petistas carimbados com o rótulo da corrupção. Na última semana, Bernardo foi preso, enquanto que o processo contra sua mulher subiu ao STF

Crédito: Adriano Machado; ROBERTO CASTRO
A ESCUDEIRA E O OPERADOR Em público, Gleisi Hoffmann empunha a bandeira da ética para proteger Dilma. Nas sombras, usaria propinas para alavancar sua candidatura ao governo do Paraná. Ex-ministro de Lula e Dilma, Paulo Bernardo montou um propinoduto no ministério do Planejamento que lhe rendeu R$ 7 milhões para uso próprio (Crédito: Adriano Machado; ROBERTO CASTRO)
Quando era criança em Curitiba, a pequena e espevitada Gleisi Hoffmann, ainda de madeixas rebeldes, ouviu de seu avô um ensinamento daqueles válidos para a vida toda e que se ajustou como uma luva à situação vivida por ela e pelo marido, o ex-ministro petista Paulo Bernardo, na última quinta-feira 23. Dizia ele, em tom professoral: se a campainha toca perto do cantar do galo, ou é vida nova ou é encrenca. Eram pouco mais de seis horas da manhã quando quatro homens bateram à porta do apartamento funcional do Senado em que o casal mora em Brasília. Se não estavam lá para anunciar o nascimento de ninguém, problemas à vista, conforme vaticinara décadas antes o avô da agora senadora Gleisi Hoffmann. Batata! Os agentes da Operação Custo Brasil desembarcaram no imóvel para comunicar a prisão preventiva do ex-ministro Paulo Bernardo. Ato contínuo, vistoriaram o apartamento em busca de mais provas que ligassem os dois a um megaesquema de corrupção: o que desviou cerca de R$ 100 milhões de reais de contratos fechados pelo ministério do Planejamento entre 2010 e 2015, nas gestões Lula e Dilma. Segundo o juiz Paulo Bueno de Azevedo, Bernardo, por ser influente e dono de força política, foi detido porque poderia agir para atrapalhar as investigações e evitar que o dinheiro desviado ficasse fora do alcance de Justiça. De acordo com os investigadores, o petista, que tinha medo de ser preso há mais de um ano, efetuou depósitos em previdência privada para blindar os valores de possíveis ordens de bloqueio. Gleisi escapou de uma encrenca maior. Não foi por falta de provas, segundo a investigação, que os agentes da PF foram embora sem conduzir a senadora para a cadeia. Documentos mostram que os recursos desviados pagaram contas, salários de empregados e até as despesas de campanha do casal. Não puderam prendê-la devido ao cargo ocupado hoje por ela. Como senadora, a petista possui privilégio de foro. As acusações contra ela correrão em segredo de Justiça no Supremo Tribunal Federal (STF). Na corte, Gleisi e Paulo Bernardo não são debutantes. Já respondem por terem recebido recursos de operadores do Petrolão.
O NOVO HOMEM CAIXA O ex-ministro Paulo Bernardo é transportado pela Polícia Federal para São Paulo após ser preso em Brasília na manhã da quinta-feira 23
O NOVO HOMEM CAIXA O ex-ministro Paulo Bernardo é transportado pela Polícia Federal para São Paulo após ser preso em Brasília na manhã da quinta-feira 23 (Crédito:AFP PHOTO/EVARISTO SÁ)
As investigações que levaram Paulo Bernardo e mais dez pessoas à prisão começaram após o ex-vereador petista Alexandre Romano, o Chambinho, aderir à delação premiada na Lava Jato. Para reduzir sua pena, ele entregou documentos e relatou como o ex-ministro fez de um problema uma oportunidade para arrecadar milhões em propina. Em 2010, contou Chambinho, acumulavam-se reclamações de bancos sobre o sistema federal que gerenciava os empréstimos bancários a servidores com desconto em folha. Havia falhas e elas permitiam que os valores emprestados superassem o teto a ser descontado, gerando fraudes e prejuízos. Para corrigir os erros, foi aberta pelo ministério do Planejamento, comandado então por Paulo Bernardo, uma concorrência para selecionar uma empresa privada para administrar o banco de dados de concessão dos empréstimos consignados.
Deu-se então, segundo os investigadores, o início da falcatrua. A contratação acabou direcionada para que a companhia Consist vencesse. Em troca, a empresa se comprometeu a repassar 70% do faturamento ao PT, políticos e para a cúpula do ministério por meio de laranjas. Só Paulo Bernardo recebeu, de acordo com os autos, entre 2010 e 2015, “valores de um escritório, com o qual ele tinha relações, de mais de R$ 7 milhões” em propina, disse o procurador Andrey Borges. “Foi ele quem indicou pessoas estratégicas para que o esquema se iniciasse, de primeiro e segundo escalão. Para que esse esquema pudesse não só ser instaurado, mas mantido pelos cinco anos”, complementou. Paulo Bernardo não parou de receber sua parte no esquema nem quando trocou a pasta do Planejamento pela das Comunicações, em 2011. Os repasses apenas foram reduzidos de 9,5% para 4,6%.
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Durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff, os petistas Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo formaram o casal mais importante da República. Ele comandava o ministério das Comunicações. Ela administrava a Casa Civil, o cérebro do governo. Eram consultados pela presidente antes da tomada das principais decisões do governo e influíam em nomeações. Faziam parte do núcleo duro da administração federal.
No auge do poder, o casal Gleisi e Paulo Bernardo ambicionava o comando do Estado do Paraná. Acreditavam que a petista tinha chances reais de se eleger nas eleições de 2014. O sucesso da dupla, segundo contou o ex-senador Delcídio do Amaral em delação premiada, viria em boa parte da capacidade de Paulo Bernardo em arrecadar recursos. Mas foi justamente uma destas operações que jogou água fria na eleição da senadora ao governo. No auge da campanha, delatores narraram que recursos do Petrolão foram usados para alimentar os caixas da petista em disputas eleitorais. O tucano Beto Richa acabou vencendo no primeiro turno. Restou a Gleisi e a Paulo Bernardo uma denúncia da Procuradoria-Geral da República contra eles.
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REPRODUÇÃO

A tropa de choque da embromação

As manobras protelatórias dos senadores que compõem a tropa de choque da presidente afastada Dilma Rousseff, na comissão do impeachment do Senado, não são boas para o País e vão na contramão do que os empresários e a sociedade clamam: estabilidade política e econômica, que passam pela conclusão urgente do processo de impedimento. A despeito disso, o que se viu até agora são reuniões intermináveis, que duram mais de 12 horas. O ritmo modorrento se deve, na maioria das vezes, pelas interrupções dos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Humberto Costa (PT-PE), Fátima Bezerra (PT/RN) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), com o objetivo de obstruir a pauta. As questões de ordem vão desde a discussão do regimento até pedido de longa pausa para horário do almoço. Outras artimanhas também tiveram a função de colocar no ponto morto os trabalhos do colegiado: excesso de requerimentos, um total de 121; quantidade de depoimento de testemunhas arroladas, 40; e o pedido de uma perícia, em que uma junta técnica terá que responder a 99 questionamentos. Com o festival de protelações, a petista adiou por, no mínimo, sete dias a votação final do impeachment. Agora, só depois das Olimpíadas. (Ary Filgueira)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Em delação, Delcídio disse que Bernardo privilegia Consist desde o governo do MS

O ex-senador petista Delcídio do Amaral (Crédito: Agência Brasil)

Crédito: Agência BrasilEm depoimento prestado em 11 de abril deste ano, no âmbito de sua delação premiada, senador cassado Delcídio Amaral (ex-PT-MS) afirmou que o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento e Comunicações no governo Lula), marido da senador Gleisi Hoffmann (PT-PR), privilegiava a empresa Consist Software Limitada desde o governo no Mato Grosso do Sul. Paulo Bernardo foi preso nesta quinta-feira, 23, na Operação Custo Brasil, desdobramento da Operação Lava Jato.
As investigações da Operação Custo Brasil são decorrentes da Operação Pixuleco, outra fase da Lava Jato, deflagrada em agosto de 2015, que apurou um suposto esquema de pagamento de propina – entre 2010 e 2015 – de R$ 100 milhões. Entre os envolvidos no esquema, segundo a Receita, há agentes políticos, servidores do Ministério do Planejamento, escritórios de advocacia e empresas de fachada criadas para operacionalizar o repasse dos recursos.
O acordo de cooperação técnica entre o Ministério do Planejamento para gestão da margem consignável dos servidores, alvo da Lava Jato, foi assinado na gestão do ministro Paulo Bernardo. O petista comandou o ministério de março de 2005 a janeiro de 2011 no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff foi ministro das Comunicações.
Sob o comando de Bernardo, o Ministério do Planejamento assinou acordo com o Sindicato Nacional das Entidades Abertas de Previdência Complementar (SINAPP) e a Associação Brasileira de Bancos (ABBC). Essas entidades contrataram a empresa Consist Software Limitada para desenvolver o sistema de gestão da margem consignável. Em troca, a empresa recebia um porcentual por empréstimo consignado fechado por servidores da pasta.
As investigações mostraram que após o contrato, a Consist repassou entre 2010 e 2013 a quantia de R$ 5 milhões ao escritório de advocacia Guilherme Gonçalves & Sacha Reck que respondeu pela coordenação jurídica das últimas três campanhas da mulher do ex-ministro, Gleisi Hoffmann(PT/PR), e atuou para o próprio Bernardo em outras causas não eleitorais.
O escritório de advocacia recebeu, ainda, R$ 1,2 milhão de outra empresa da Consist, a SWR Informática. O advogado Guilherme Gonçalves ainda recebeu R$ 957 mil da Consist após migrar para outra banca em Curitiba, base política do casal.
Na delação, o ex-líder do governo no Senado disse que Paulo Bernardo “sempre foi, desde a época que passou pelo Mato Grosso do Sul e até mesmo antes, considerado um ‘operador’ de Gleisi Hoffmann”. Segundo ele, “Paulo Bernardo sempre foi visto como um operador de muita competência”.
Questionado sobre o que quer dizer com a expressão “operador”, Delcídio respondeu. “Ele (Bernardo) tinha uma capacidade forte de alavancar recursos para a campanha (de Gleisi)”.
“Que diz isto porque acredita que em 2010 Paulo Bernardo já captava recursos para Gleisi Hoffmann; que não há incompatibilidade entre Paulo Bernardo ser ministro do Planejamento à época (2010) e ser operador de Gleisi; que, ao contrário, por ser Paulo Bernardo ministro, ele tinha bastante força para captação de recursos, até porque uma das responsabilidades dele, como ministro do Planejamento, era gestionar o orçamento da União e, como tal, tinha muita força”, aponta Delcídio em seu depoimento.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Ex-ministro Paulo Bernardo é preso na 31ª fase da Operação Lava Jato

Um mandado de busca e apreensão também está sendo cumprido na casa da senadora Gleisi Hoffmann, esposa do ex-ministro
A Polícia Federal afirma ter indícios suficientes contra Bernardo e sua esposa, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) ( Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil )
Estadão Conteúdo
A PF indiciou Bernardo e Gleisi ao concluir o inquérito sobre as suspeitas de que dinheiro desviado da Petrobras abasteceu em 2010 a campanha ao Senado da parlamentar ( Foto: Lucio Bernardo Jr./ Câmara dos Deputados )
Em nova operação da Polícia Federal, o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento e Comunicações no governo Lula), marido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), foi preso nesta quinta-feira 23, em Brasília. A ação decorre de fatiamento que ocorreu na investigação que estava no Supremo Tribunal Federal.
O ex-ministro, a senadora e o empresário Ernesto Kugler Rodrigues, de Curitiba foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República em maio deste ano. Paulo Bernardo e Gleisi foram denunciados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O inquérito policial concluiu que os dois receberam R$ 1 milhão de propina de contratos firmados entre empreiteiras e a Petrobras. O valor teria sido utilizado para custear as despesas da eleição dela ao Senado em 2010.
A Procuradoria sustenta que o então ministro solicitou a quantia em favor da mulher diretamente ao engenheiro Paulo Roberto Costa na época diretor de Abastecimento da Petrobras e um dos articuladores do esquema de corrupção na estatal indicado pelo PP. Preso em 2014, Costa fez delação premiada.
O doleiro Alberto Youssef, que também fez delação, operacionalizou o pagamento. Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o doleiro administrava o caixa de propinas do PP de onde saíram os valores em questão.

terça-feira, 21 de junho de 2016

PF mira empresas donas de avião em que morreu Eduardo Campos

Segundo a PF, empresas donas da aeronave eram de fachada e movimentaram R$ 600 milhões desde 2010, que podem ter servido para pagamento de propina a políticos e formação de caixa dois de empreiteiras

Eduardo Campos é velado no Recife
Eduardo Campos é velado no Recife(Ricardo Moraes/Reuters)
A Polícia Federal deu início, na manhã nesta terça-feira, a uma operação para desmantelar uma quadrilha especializada em lavagem dinheiro que teria ligações com o avião que transportava o candidato à Presidência Eduardo Campos, no dia do acidente fatal, em 13 de agosto de 2014. Segundo a PF, o grupo movimentou 600 milhões de reais em seis anos.
Foram expedidos, ao todo, sessenta mandados judiciais, sendo cinco de prisão preventiva, 33 de busca e apreensão e 22 de condução coercitiva. Também há mandados de indisponibilidade de contas e sequestro de embarcações, aeronaves e helicópteros dos principais membros da organização criminosa. A operação, batizada de Turbulência, foi deflagrada em Goiás e Pernambuco. Um dos locais alvos da ação é o Aeroporto de Guararapes, em Recife.
As investigações tiveram início a partir da análise de movimentações financeiras das contas das empresas proprietárias do avião Cessna 560XL, que transportava Campos durante a campanha eleitoral. Na ocasião, a aeronave caiu em um terreno baldio em Santos, no litoral paulista. Todas as sete pessoas a bordo morreram, inclusive o ex-governador de Pernambuco.
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A PF constatou que essas empresas eram de fachada, constituídas em nome de "laranjas", e que realizavam diversas transações entre si e com outras empresas fantasmas, inclusive com algumas companhias investigadas na Operação Lava Jato. Os investigadores suspeitam que parte dos recursos que foram movimentados nas contas examinadas serviam para pagamento de propina a políticos e formação de "caixa dois" de empreiteiras.
Os envolvidos responderão, na medida de seu grau de participação no esquema criminoso, pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
(Da redação)

segunda-feira, 20 de junho de 2016

O EI agora tem um recrutador de brasileiros: Ismail al-Brazili

Relatório da Abin revela que o grupo extremista faz esforços para obter seguidores no Brasil – e que o país está exposto a um ataque terrorista

Por: Rodrigo Rangel
NO RADAR - Os terroristas criaram um canal de comunicação na internet que seria coordenado por um brasileiro e tem sido usado pelo Estado Islâmico para recrutar novos militantes jihadistas
NO RADAR - Os terroristas criaram um canal de comunicação na internet que seria coordenado por um brasileiro e tem sido usado pelo Estado Islâmico para recrutar novos militantes jihadistas(VEJA.com/VEJA)
A tragédia de Orlando mostra que o extremismo, aliado à tecnologia, produz terroristas que podem atacar a qualquer momento, em qualquer lugar. E o Brasil não está a salvo. Ao menos é essa a avaliação do serviço secreto brasileiro que consta de um relatório reservado distribuído às autoridades envolvidas na montagem da segurança da Olimpíada do Rio de Janeiro e obtido com exclusividade por VEJA. O terrorismo 3.0, que arregimenta militantes remotamente com as facilidades de comunicação e as garantias de sigilo oferecidas pela internet, exorta aqueles mais radicais a realizar atentados por conta própria. Por isso, é uma das principais fontes de ameaça aos Jogos. Mais que uma simples hipótese, agora há razões concretas para elevar o alerta. A principal delas é a constatação de que grupos extremistas, em especial o Estado Islâmico, têm empreendido esforços não apenas para recrutar seguidores no país como também para deixar alguns deles em condições de agir a qualquer momento.
Até recentemente, a única ameaça concreta ao Brasil conhecida era um texto de 67 caracteres escrito numa rede social por Maxime Hauchard, um dos chefões do Estado Islâmico. "Brasil, vocês são o nosso próximo alvo", dizia a mensagem, em francês, publicada dias após os atentados de novembro de 2015 em Paris. No fim do mês passado, o Estado Islâmico criou um canal de propaganda em língua portuguesa dentro de um aplicativo na internet. Inaugurado com a publicação de um discurso do porta-voz do grupo, funciona como uma agência de notícias e veicula, todos os dias, fotos, vídeos e textos com informações das frentes de combate da organização. O material, invariavelmente, faz a apologia da crueldade e alia as já conhecidas práticas do grupo à retórica religiosa radical. Os ataques à coalizão que combate os jihadistas do EI no território conflagrado entre a Síria e o Iraque são comemorados como feitos épicos: da "perfeita emboscada" contra uma patrulha egípcia ao "ataque-surpresa" que matou dezessete "apóstatas" das forças oficiais, tudo é narrado com cores fortes. A propaganda apela à conversão. É um chamamento a novos soldados.
Desde que foi criado, o canal em português vem sendo monitorado de perto pelas autoridades brasileiras, que contam com o auxílio de serviços secretos estrangeiros - alguns deles, como a americana CIA, têm agentes trabalhando no Brasil há meses com a missão de detectar ameaças à Olim­píada e às delegações de seus países.
O maior desafio é identificar os responsáveis pela estratégia de recrutamento de brasileiros. Em parceria com a revista portuguesa Sábado, VEJA descobriu que um dos alvos prioritários da vigilância, neste momento, é um militante do Estado Islâmico que se identifica nas redes de propaganda do grupo como Ismail Abdul Jabbar Al-Brazili - ou, simplesmente,
"O Brasileiro". É ele um dos responsáveis, por exemplo, por abastecer com textos em português o canal de propaganda recém-criado. Há indicações de que Al-­Brazili não tem o Brasil apenas no nome de guerra - de acordo com informações oficiais, ele seria, de fato, um combatente brasileiro do EI.
Al-Brazili é um personagem bastante ativo na web. Nos últimos meses, abriu diferentes perfis em redes sociais. Frequentemente, assim que descobertos, os perfis são fechados a pedido das autoridades. Ele, então, abre novos. Semanas atrás, coube a Al-Brazili convocar, por meio de outros canais de comunicação do EI na internet, interessados em ajudar na tradução de textos do grupo para o canal em português. O militante, que mantém ainda dois blogs, diz ter sido recrutado para o Estado Islâmico por Abu Khalid Al-­Amriki, um americano que teria caído em combate na Síria. Ele promete vingar a morte do amigo. Além de fazer propaganda do grupo extremista, Al-­Brazili se apresenta como alguém capaz de facilitar o acesso de simpatizantes às fileiras do grupo - nos posts, ele costuma informar como os interessados podem contatá-lo por meios seguros de comunicação.
As autoridades têm motivos para acreditar que o proselitismo vem funcionando - e há casos suficientes para concluir que não se trata de platitudes apenas. Há dois meses agentes da Divisão Antiterrorismo (DAT) da Polícia Federal baseados em Brasília investigam o desaparecimento da estudante paraense Karina Ailyn Raiol, de 20 anos. Recém-convertida ao islamismo, Karina saiu de casa dizendo que iria para a faculdade e nunca mais voltou. Só depois os pais descobriram que ela havia tirado passaporte às escondidas e tomado um voo internacional rumo à Turquia. O dinheiro para as passagens veio do exterior, de fonte desconhecida. A suspeita é que a estudante tenha sido recrutada pelo Estado Islâmico. Mensagens trocadas por Karina dias antes da viagem e obtidas por VEJA mostram que ela tinha simpatia pela causa. Numa delas, a estudante diz que "se juntar aos grupos terroristas é a única forma de lutar" contra o que chama de injustiças na "terra do Islã".
Hoje, ao menos trinta suspeitos de ligação com o terrorismo são vigiados de perto pelos agentes oficiais no Brasil. Em outro caso, também a cargo da divisão antiterror da PF, foi preciso recorrer a uma medida de emergência: após a descoberta de que um universitário de 23 anos de Chapecó (SC) havia ficado três meses numa cidade síria dominada pelo EI, e que na volta ele passava as madrugadas em treinos de tiro ao alvo, os policiais pediram à Justiça que autorizasse o monitoramento do suspeito em tempo real, 24 horas por dia, por meio de uma tornozeleira eletrônica.
Dono de um serviço de entrega de comida árabe e estudante de economia, Ibrahim Chaiboun Darwiche usa a tornozeleira desde o dia 27 de maio. Ele está proibido de se aproximar de escolas, aeroportos ou outros lugares com grande concentração de pessoas. A medida vale até os Jogos, mas pode ser estendida, a depender do desenrolar das investigações. Na semana passada, soube-se que o sírio Jihad Ahmad Deyab, que cumpriu pena na prisão americana de Guantánamo por seus vínculos com a organização terrorista Al Qaeda e estava asilado no Uruguai, agora está vivendo no Brasil.
Essa profusão de notícias fez acender a luz amarela. Diz o relatório da Abin: "A disseminação de ideário radical salafista entre brasileiros, aliada às limitações operacionais e legais em monitorar suspeitos e à dificuldade de neutralizar atos preparatórios de terrorismo, aponta para o aumento, sem precedentes no Brasil, da probabilidade de ocorrência de atentados ao longo de 2016, especialmente por ocasião dos Jogos Rio 2016". A partir de uma fórmula matemática que leva em conta diferentes variáveis para calcular os riscos, a Abin conclui que a ameaça de atentados no país durante os Jogos Olímpicos alcança o patamar 4 numa escala que vai de 1 a 5 - 5 representa a certeza de que haveria um ato terrorista em preparação. No mesmo relatório, as autoridades confessam suas "limitações operacionais" para prevenir o pior.
Leia os principais trechos do relatório da Abin:
Aumento 'sem precedentes' da probabilidade de atentatos no país
O relatório da Abin afirma que o Brasil nunca esteve tão exposto ao risco de um atentado terrorista. Segundo a agência, simpatizantes do Estado Islâmico no Brasil têm recorrido a estratégias de comunicação para driblar as autoridades, o que indica que pode haver um ato extremista em preparação. No documento, a Abin admite as "limitações operacionais" dos órgãos de segurança para fazer frente à ameaça terrorista no país
Trecho de relatório reservado distribuído às autoridades envolvidas na montagem da segurança da Olimpíada do Rio de Janeiro e obtido com exclusividade por VEJA
Trecho de relatório reservado distribuído às autoridades envolvidas na montagem da segurança da Olimpíada do Rio de Janeiro e obtido com exclusividade por VEJA(VEJA/VEJA)
Perigo dos "lobos solitários":
De acordo com a Abin, a possibilidade de atentados sofisticados como o de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unicos já não preocupa mais. O temor maior vem da ameaça de militantes recrutados à distância, que agem por conta própria e não dependem de muitos recursos para causar grandes estragos - como o massacre da semana passada em Orlando
Trecho de relatório reservado distribuído às autoridades envolvidas na montagem da segurança da Olimpíada do Rio de Janeiro e obtido com exclusividade por VEJA
Trecho de relatório reservado distribuído às autoridades envolvidas na montagem da segurança da Olimpíada do Rio de Janeiro e obtido com exclusividade por VEJA(VEJA/VEJA)

sábado, 18 de junho de 2016

Lula fez tráfico de influência em favor da OAS no exterior

Em acordo de delação, Léo Pinheiro disse que, em contrapartida às obras no sítio em Atibaia e no tríplex do Guarujá, Lula ajudou a empreiteira fora do País. Troca de favores começou quando o petista era presidente

Crédito: Adriano Machado/REUTERS
O IMPLICANTE E O IMPLICADO Léo Pinheiro, da OAS (acima), já antecipou que confirmará que tanto o sítio quanto o tríplex pertenceriam a Lula
O IMPLICANTE E O IMPLICADO Léo Pinheiro, da OAS (acima), já antecipou que confirmará que tanto o sítio quanto o tríplex pertenceriam a Lula (Crédito:Rafael Arbex/ESTADÃO)
A disposição do juiz Sérgio Moro desde a semana passada, o arsenal de provas preparado por agentes federais e investigadores contra o ex-presidente Lula será robustecido em breve pelo que os procuradores da Lava Jato classificam de a “bala de prata” capaz de aniquilar o petista. O tiro de misericórdia – a julgar pelo cardápio de revelações ofertado durante as tratativas para um acordo de delação premiada – será desferido pelo empresário Léo Pinheiro, um dos sócios do grupo OAS. Conforme apurou ISTOÉ junto a integrantes da força-tarefa da operação Lava Jato em Curitiba, ao se dispor a desfiar com profusão de detalhes a maneira como se desenvolveram as negociações para as obras e reformas no sítio em Atibaia e no tríplex do Guarujá, tocadas pela OAS, Pinheiro já forneceu antecipadamente algumas das peças restantes do quebra-cabeças montado desde o surgimento das primeiras digitais de Lula no esquema do Petrolão.
Diz respeito às contrapartidas aos favores prestados pela empreiteira ao ex-presidente. De acordo com o relato preliminar de Pinheiro, em troca das obras no sítio e no tríplex do Guarujá, o petista se ofereceu para praticar tráfico de influência em favor da OAS no exterior. A OAS acalentava o desejo de incrementar negócios com o Peru, Chile, Costa Rica, Bolívia, Uruguai e nações africanas. Desenvolto no trânsito com esses países, Lula se prontificou a ajudá-los. Negócio fechado, coube então ao petista escancarar-lhes as portas. Ou, para ser mais preciso, os canteiros de obras. Se até meados de 2008 a OAS engatinhava no mercado internacional, hoje a empresa possui 14 escritórios e toca 20 obras fora do País – boa parte delas conquistada graças às articulações do ex-presidente petista.
Tráfico de influência quando praticado por um agente público é crime. Torna-se ainda mais grave quando em troca do auxílio são ofertados favores privados provenientes de uma empresa implicada num dos maiores escândalos de corrupção da história recente do País, o Petrolão. As revelações de Pinheiro, segundo procuradores da Lava Jato, ferem Lula de morte. O empreiteiro planeja deixar claro ainda que Lula é o real proprietário tanto do sítio em Atibaia quanto do tríplex no Guarujá. Assim, o ex-presidente estará a um passo de ser formalmente acusado pelos crimes de ocultação de patrimônio, lavagem de dinheiro e tráfico de influência. Um futuro julgamento, provavelmente conduzido pelo juiz Sergio Moro, poderá resultar em condenação superior a dez anos de reclusão.
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Ainda durante as negociações para o acordo de delação premiada, Pinheiro prometeu detalhar o mal contado episódio do aluguel patrocinado pela OAS de 10 contêineres destinados a armazenar o acervo museológico do ex-presidente da República. O que se sabia até agora era que a empreiteira havia gasto R$ 1,3 milhão para guardar os objetos retirados do Palácio do Planalto, do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto durante a mudança do ex-presidente. Parte dos itens ficou acondicionada em ambiente climatizado, em um depósito da transportadora Granero em Barueri, na região metropolitana de São Paulo. O restante foi armazenado a seco, em outro balcão no Jaguaré, na capital paulista. De lá, os itens foram transportados para o sítio em Atibaia. Elaborado de forma dissimulada para escamotear o seu real beneficiário, o contrato celebrado pela OAS com a transportadora Granero ao custo R$ 21.536,84 por mês por cinco anos tratava da “armazenagem de materiais de escritório e mobiliário corporativo de propriedade da Construtora OAS Ltda”. Segundo apurou ISTOÉ, além de, obviamente, confirmar mais um préstimo a Lula, Pinheiro já disse que as negociações ocorreram quando o petista ainda ocupava a Presidência da República, em dezembro de 2010.
A se consumar o que foi esquadrinhado no acordo para a delação de Pinheiro, pela primeira vez será possível estabelecer que Lula cultivou uma relação assentada na troca de favores financeiros com a OAS quando ainda era o mandatário do País. O depoimento desmontará o principal argumento utilizado por advogados ligados ao PT sempre quando confrontados com informações sobre a venda de influência política por Lula no exterior para empresas privadas nacionais: o de que não constitui ilícito o fato de um ex-servidor público viabilizar negócios de empresas privadas nacionais com governos estrangeiros. No “toma lá, dá cá” entre o petista e a OAS, o “dá cá” ocorreu quando Lula encontrava-se no exercício de suas funções como presidente da República.
O que o ex-presidente da OAS já antecipou aos procuradores é apenas um aperitivo. O prato principal descerá ainda mais amargo para Lula e virá a partir dos depoimentos propriamente ditos. Obviamente, não basta apenas o delator falar. É necessário fornecer provas sobre os depoimentos, sem as quais o aspirante à delação premiada não se credencia para a diminuição da pena. Quanto a isso, tudo está tranqüilo e favorável para o empreiteiro. E desfavorável para Lula. Pinheiro está fornido de documentos, asseguram os investigadores. Promete entregar todos eles. Dessa forma, mais uma tese de defesa do petista será demolida. Ficará comprovado que tanto o sítio em Atibaia como o tríplex no Guarujá pertenceriam mesmo a Lula. No papel, o sítio é de propriedade dos empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar, irmão de Kalil Bittar, sócio de Lulinha. Na prática, era Lula e sua família quem usufruíam e ditavam as ordens no imóvel. O enredo envolvendo o apartamento no Guarujá é mais intrincado, mas não menos comprometedor para família Lula da Silva. Além de abundantes indicativos relacionando Lula ao tríplex, reunidos num processo pelo MP-SP, há uma imagem já tornada pública que registra um encontro do próprio Léo Pinheiro com Lula. A foto, tirada do hall de acesso aos apartamentos, registra uma vistoria padrão de entrega de chaves, segundo depoimento prestado por Wellington Carneiro da Silva, à época o assistente de engenharia da OAS, responsável por fiscalizar as obras do Edifício Solaris. No depoimento, ele disse que o imóvel estava em nome da OAS, mas sabia que a família a morar no apartamento seria a de Lula. Pinheiro confirmará à força-tarefa da Lava Jato que o imóvel foi um regalo ao petista e que a pedido do ex-presidente assumiu obras da Bancoop, pois a cooperativa estava prestes a dar calote nos compradores dos apartamentos.
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CLIQUE PARA AUMENTAR (Crédito:Reprodução)
Nos últimos dias, Lula voltou a entoar como ladainha em procissão a fábula da superioridade moral. Reiterou que “não há ninguém mais honesto” do que ele. Como se vê no desenrolar das negociações para a delação, Pinheiro, simpatizante do PT e com quem Lula viveu uma relação de amizade simbiótica desde os tempos do sindicalismo, o fará descer do pedestal ético erguido por ele próprio com a contribuição dos seus fiéis seguidores. O acordo ainda não está sacramentado, mas flui como mel. Para os investigadores não pairam dúvidas: Pinheiro provará que Lula se beneficiou pessoalmente dos esquemas que fraudaram a Petrobras. Os relatos e documentos apresentados pelo executivo, hoje um dos sócios da OAS, poderão reforçar uma das denúncias contra Lula que a Lava Jato pretende apresentar por crimes relacionados ao Petrolão. Seriam pelo menos três. Já haveria elementos comprobatórios, segundo investigadores, para implicar Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por favores recebidos não só da OAS como da Odebrecht. Resta saber o momento em que as denúncias seriam apresentadas, uma vez que podem resultar numa condenação superior a dez anos de cadeia. Há uma vertente da Lava Jato que prefere aguardar o desfecho da tramitação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado. Seria uma maneira de evitar uma possível convulsão social no País, antes do desenlace do julgamento tido como crucial para os rumos políticos nacionais. Outro grupo, por ora majoritário, não admite que o critério político prevaleça sobre o técnico. Por isso, Lula anda insone, segundo interlocutores próximos.
Mensagens apreendidas no celular de Léo Pinheiro já evidenciavam a influência de Lula em favor da OAS fora do País, conforme revelou o empreiteiro nas tratativas para a delação. Constam do relatório de cerca de 600 páginas encaminhados pela Polícia Federal à Procuradoria-Geral da República no início deste ano. Nas mensagens, Pinheiro conversava com seus funcionários para decidir viagens do ex-presidente ao exterior e já mencionava a contribuição dele em obras fora do Brasil. No capítulo “Brahma”, codinome cunhado pelo empresário para se referir a Lula, a PF listou pelo menos nove temas de interesse de Pinheiro que teriam sido abordados com o petista. Entre eles estão programas no Peru, na Bolívia, no Chile, no Uruguai e na Costa Rica. São citados numa mensagem encontrada pela PF o “Programa Peru x Apoio Empresarial Peruano e Empresas Brasileiras”, o “Apoio Mundo-África” e a “Proposta Mundo-Bolívia”. Num torpedo de Jorge Fortes, diretor da OAS, para Leo Pinheiro, dias depois de a presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, ter anunciado o cancelamento da concessão outorgada à empreiteira para a construção de uma estrada avaliada em US$ 523,7 milhões, ele diz o seguinte: “Presidente Lula está preocupado porque soube que o Ministério Público vai entrar com uma representação por causa da Costa Rica”. Num SMS para Pinheiro, em novembro de 2013, César Uzeda, executivo da OAS, diz que colocou um avião à disposição para Lula embarcar rumo ao Chile ao meio dia. “Seria bom você checar com Paulo Okamotto (presidente do Instituto Lula) se é conveniente irmos no mesmo avião”. No mesmo conjunto de mensagens, o ex-presidente da OAS diz para um funcionário da empreiteira: “Lula está procurando saber sobre obras da OAS no Chile”. Na delação, o empresário promete confirmar que as trocas de mensagens se referiam mesmo à atuação de Lula em favor da OAS no exterior.
À Lava Jato interessa perscrutar os segredos mais recônditos de Lula. E Léo Pinheiro possuía intimidade suficiente para isso. O empreiteiro foi apresentado a Lula no início da década de 1980. Quando o petista ingressou na política, o empreiteiro logo marcou presença como um dos principais doadores de campanha. A ascensão de Lula ao Palácio do Planalto foi acompanhada da projeção da OAS no mercado interno. Dono de acesso irrestrito aos gabinetes do poder, Pinheiro se referia a Lula como “chefe”. A relação se deteriorou quando o empresário foi privado de sua liberdade. O sócio da OAS apostava no prestígio de Lula para livrá-lo do radar da Lava Jato. Ameaçado de morte num diálogo cifrado com um carcereiro no Complexo Médico-Penal de Curitiba, o empresário tomou a decisão de fazer do testemunho sua principal arma de defesa e trilha para salvação. Sobrará para Lula.
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Rodolfo Buhrer/La Imagem/Fotoarena

Ex-ministros do PT também estão nas mãos de Moro

O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), também encaminhou semana passada para o juiz Sérgio Moro, de Curitiba, apurações envolvendo os ex-ministros Jaques Wagner (Chefia de Gabinete da Presidência), Ideli Salvatti (Direitos Humanos) e Edinho Silva (Comunicação Social) e o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Uma das investigações envolvendo Wagner surgiu de depoimento do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, que em delação premiada apontou recebimento de propina na Petrobras junto com Gabrielli. O material sobre Ideli Salvatti também é baseado na delação de Cerveró, que apontou que ela usou cargo no governo para renegociar uma dívida de R$ 90 milhões de uma transportadora de Santa Catarina com a BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. Na delação, ele diz que “imagina que a ministra Ideli e outros políticos” receberam propina no negócio. O caso de Edinho Silva é fundamentado na delação do ex-presidente da construtora UTC Ricardo Pessoa. Aos investigadores, ele narrou encontro em que o ex-ministro teria pressionado por doações para a campanha da presidente afastada Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Montagem mostra todas 49 vítimas do ataque em boate gay de Orlando

Entre as 49 vítimas, aparecem 42 homens e sete mulheres.
Atirador Omar Mateen, de 29 anos, feriu ainda outras 53 pessoas.

Do G1, em São Paulo
A partir da esquerda e de cima para baixo, Amanda Alvear, Angel L. Candelario-Padro, Anthony Luis Laureano Disla, Antonio Davon Brown, Christopher Leinonen, Christopher Joseph Sanfeliz, Darryl Roman Burt II, Edward Sotomayor Jr., Enrique L. Rios Jr., Eric Ivan Ortiz-Rivera, Frank Hernandez, Franky Jimmy De Jesus Velazquez, Gilberto Ramon Silva Menendez, Jason Benjamin Josaphat,  Javier Jorge-Reyes, Jean Carlos Mendez Perez, Joel Rayon Paniagua, Jonathan Antonio Camuy Vega, Juan P. Rivera Velazquez, Juan Ramon Guerrero, Kimberly Morris, Leroy Valentin Fernandez, Luis D. Conde, Luis Daniel Wilson-Leon, Luis Omar Ocasio-Capo, Luis S. Vielma, Martin Benitez Torres, Mercedez Marisol Flores, Miguel Angel Honorato, Oscar A Aracena-Montero, Paul Terrell Henry, Peter O. Gonzalez-Cruz, Rodolfo Ayala-Ayala, Shane Evan Tomlinson, Simon Adrian Carrillo Fernandez,  Stanley Almodovar III, Tevin Eugene Crosby, Xavier Emmanuel Serrano Rosado, Yilmary Rodriguez Solivan, Eddie Jamoldroy Justice, Brenda Lee Marquez McCool, Geraldo Ortiz-Jimenez, Juan Chavez Martinez, Jerald Arthur Wright, Jean Carlos Nieves Rodriguez, Akyra Murray, Deonka Deidra Drayton, Cory James Connell e Alejandro Barrios Martinez (Foto: AP)A partir da esquerda e de cima para baixo, Amanda Alvear, Angel L. Candelario-Padro, Anthony Luis Laureano Disla, Antonio Davon Brown, Christopher Leinonen, Christopher Joseph Sanfeliz, Darryl Roman Burt II, Edward Sotomayor Jr., Enrique L. Rios Jr., Eric Ivan Ortiz-Rivera, Frank Hernandez, Franky Jimmy De Jesus Velazquez, Gilberto Ramon Silva Menendez, Jason Benjamin Josaphat, Javier Jorge-Reyes, Jean Carlos Mendez Perez, Joel Rayon Paniagua, Jonathan Antonio Camuy Vega, Juan P. Rivera Velazquez, Juan Ramon Guerrero, Kimberly Morris, Leroy Valentin Fernandez, Luis D. Conde, Luis Daniel Wilson-Leon, Luis Omar Ocasio-Capo, Luis S. Vielma, Martin Benitez Torres, Mercedez Marisol Flores, Miguel Angel Honorato, Oscar A Aracena-Montero, Paul Terrell Henry, Peter O. Gonzalez-Cruz, Rodolfo Ayala-Ayala, Shane Evan Tomlinson, Simon Adrian Carrillo Fernandez, Stanley Almodovar III, Tevin Eugene Crosby, Xavier Emmanuel Serrano Rosado, Yilmary Rodriguez Solivan, Eddie Jamoldroy Justice, Brenda Lee Marquez McCool, Geraldo Ortiz-Jimenez, Juan Chavez Martinez, Jerald Arthur Wright, Jean Carlos Nieves Rodriguez, Akyra Murray, Deonka Deidra Drayton, Cory James Connell e Alejandro Barrios Martinez (Foto: AP)
A agência "Associated Press" divulgou na quinta-feira (16) uma montagem que mostra todas as 49 vítimas do ataque contra a boate gay Pulse de Orlando, no estado da Flórida (EUA), no último domingo (12). Outras 53 pessoas ficaram feridas.
Segundo a imprensa americana, 42 das vítimas do ataque são homens, além de sete mulheres. As mulheres mortas são Mercedez Marisol Flores, Amanda Alvear, Deonka Deidra Drayton, Brenda Lee Marquez McCool, Kimberly Morris, Akyra Murray e Yilmary Rodriguez Solivan.
O atirador Omar Mateen, de 29 anos, invadiu a casa noturna durante um evento de música latina no clube, onde estavam mais de 300 pessoas. Muitas das 49 pessoas mortas eram latinas, mais da metade era de origem portorriquenha.
Mateen acabou morto por policiais que invadiram a boate Pulse na madrugada de domingo, pondo fim a um cerco de três horas iniciado quando o atirador entrou no local e abriu fogo com uma pistola e um rifle semi-automático AR-15.
Segundo as autoridades americanas, o ataque contra a boate Pulse foi o pior ataque a tiros da história moderna dos Estados Unidos e o mais violento ocorrido no país desde os atentados de 11 de setembro de 2001.
Frequentador
Após o ataque, surgiram relatos de testemunhas de que Omar Mateen, americano de origem afegã, era um frequentador regular do estabelecimento. A afirmação foi feita por clientes aos jornais "Orlando Sentinel" e "Los Angeles Times".
O americano Ty Smith afirmou, em entrevista ao jornal, que viu Omar Mateen, de 29 anos, na boate Pulse diversas vezes.
Omar Mateen matou 49 pessoas em boate gay da Flórida. Depois, acabou morto pela polícia (Foto: AP)Omar Mateen matou 49 pessoas em boate gay da Flórida. Depois, acabou morto pela polícia (Foto: AP)
"Às vezes, ele sentava em um canto para beber sozinho. Outras vezes ficava tão bêbado que era barulhento e ofensivo", disse Smith.
Ele contou ainda que Mateen era fechado. "Não falávamos muito com ele, mas lembro de ter ouvido, às vezes, dizer coisas sobre seu pai. Ele disse que tinha esposa e um filho", completou.
Kevin West, outro frequentador regular da Pulse, disse ao jornal "Los Angeles Times" que trocou mensagens com Mateen em um aplicativo voltado para o público gay por pelo menos um ano.
Outros clientes da casa noturna afirmaram à imprensa que Mateen havia utilizado aplicativos como o Grindr, que é voltado para gays, bissexuais e curiosos. No Grindr, o usuário pode combinar encontros ou fazer amigos.
Mulher de atirador
A polícia americana passou a investigar se a mulher do atirador tem alguma ligação. Noor Salman teria dito à polícia que tentou impedir que o marido realizasse o ataque. Mas ela pode ser indiciada como cúmplice e ainda por não ter alertado sobre a iminência do ataque.
Segundo uma fonte da rede de TV Fox, Mateen pode ter ligado para a mulher de dentro da boate durante o tiroteio.
Na última terça-feira, a mídia americana divulgou ainda que Noor Salman estava com Omar Mateen quando o marido comprou munição e que o levara de carro para a Pulse em outra ocasião, porque ele queria investigar o local.
Noor Salman, mulher de Omar Mateen, teria dito à polícia que tentou impedir que o marido realizasse o ataque (Foto: Reprodução Facebook)Noor Salman, mulher de Omar Mateen, teria dito à polícia que tentou impedir que o marido realizasse o ataque (Foto: Reprodução Facebook)

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Delator diz que Renan, Jucá e Sarney receberam R$ 71,7 milhões em propina de contratos na Transpetro

Por: Laryssa Borges, de Brasília
O presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) durante sessão que decide pelo afastamento de Dilma Rousseff - 11/05/2016
O presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) durante sessão que decide pelo afastamento de Dilma Rousseff - 11/05/2016(Ueslei Marcelino/VEJA)
O executivo Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, maior processadora brasileira de gás natural, disse em acordo de delação premiada que o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) recebeu 32,2 milhões de reais em propinas e subornos recolhidos a partir de contratos com a subsidiária da Petrobras. O presidente em exercício do PMDB e senador Romero Jucá, apeado às pressas do primeiro escalão do governo Michel Temer diante das revelações de Machado, embolsou 21 milhões de reais, enquanto o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) amealhou 18,5 milhões de reais em dinheiro sujo desviado de contratos da Transpetro.
Conforme relato do procurador-geral da República, nos dias 23 e 24 de fevereiro e nos dias 10 e 11 de março, Sergio Machado, que guardou por anos detalhes da contabilidade que irrigava os cofres peemedebistas, manteve conversas confidenciais com caciques políticos em Brasília. Queria alertar Renan, Sarney e Jucá que não pretendia ser submetido ao rigor do juiz Sergio Moro, que conduz com mão de ferro a Operação Lava Jato em Curitiba. Desde que foi alvo de busca e apreensão no dia 15 de dezembro, durante a Operação Catilinárias, braço da Lava Jato voltada a autoridades com foro privilegiado, Sergio Machado começou a discutir com o filho Expedito, conhecido como Did e também agora delator da Lava Jato, como gravar conversas com políticos.

Além de se livrar das mãos de Moro, Sergio Machado temia que novas delações premiadas e acordos de leniência de empreiteiras revelassem como empresas investigadas na Lava Jato pagavam propina de forma contínua, inclusive por meio de doações oficiais para campanhas políticas. O executivo contou às autoridades que a Queiroz Galvão, que não fechou acordo, e a Camargo Corrêa, cuja leniência ainda estaria em aberto, seriam as principais prejudicadas. E mais: ele considerava que o recente entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) de que execuções de pena poderiam ser viabilizadas já na segunda instância, sem necessidade de trânsito em julgado, aumentava a probabilidade de delações.
"Para além do teor das conversas, José Sérgio de Oliveira Machado foi muito claro, em seus depoimentos, sobre a obtenção desses subornos, pormenorizando anos e valores respectivos tanto na forma de doações oficiais quanto em dinheiro em espécie", resumiu o procurador-geral Rodrigo Janot ao defender no STF que Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá fossem presos.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Por que o ataque em boate gay de Orlando foi tão letal

Tiroteio deixou 50 mortos na madrugada de domingo e foi o pior em solo americano, onde foram testemunhados centenas de ataques parecidos em 2015, em locais como universidades, escolas e cinemas.

Da BBC
No momento em que Omar Mateen parou de atirar dentro da boate Pulse em Orlando, na Flórida, na madrugada de domingo (12), uma em cada três pessoas que estavam ali havia sido alvejada.
Horas depois, os números chegavam a níveis históricos: o ataque deixou, até agora 50 mortos (incluindo o atirador) e 53 feridos, no que é considerado o tiroteio mais letal na história recente dos Estados Unidos.
Omar Mateen é suspeito do atirar dentro de boate gay em Orlando (Foto: MySpace/AP)Omar Mateen é suspeito do atirar dentro de boate gay em Orlando (Foto: MySpace/AP)
As autoridades explicaram que Mateen ligou para o telefone da polícia para declarar sua lealdade ao grupo extremista autodenominado Estado Islâmico e que, neste momento, o jovem de 29 anos mostrou estar "tranquilo e calmo".
 
Mas o que diferencia o ataque em relação aos outros 372 do tipo que ocorreram em solo americano em 2015 e àqueles de anos anteriores com as mesmas características?
"A principal diferença é que ocorreu em um local fechado e barulhento, o que impediu que muitas pessoas se dessem conta do que estava acontecendo. E, quando perceberam, não havia por onde escapar", diz à BBC Mundo o especialista em segurança antiterrorista Anthony C. Roman.
Mas esta não é a única razão. A duração do ataque de mais de três horas e a arma usada por Mateen, um fuzil AR-15, também contribuíram para o alto número de vítimas, segundo Roman e outros analistas consultados para esta reportagem.
"Ainda que a polícia tenha reagido imediatamente, o atirador só foi neutralizado três horas depois de ter disparado pela primeira vez, o que permitiu que recarregasse sua arma e tivesse tempo de ir atrás de mais vítimas, que foram mortas em etapas", explica Roman.
A seguir, analisamos melhor os três aspectos que ajudaram a fazer deste o pior tiroteio já registrado no país.
1. Um lugar fechado e barulhento
Em 13 de novembro de 2015, três atiradores entraram da casa noturna Bataclan, no sul de Paris, na França, e abriram fogo contra a plateia de um show, deixando 83 mortos, a maioria deles espectadores que não conseguiram escapar do local.
Ao comparar este caso com o que se sabe até agora de Orlando, a investida de Mateen parece bem similar: ele entrou pela porta principal e começou a disparar contra quem estava dentro do estabelecimento, em uma festa.
Muitas das testemunhas que sobreviveram ao ataque afirmaram ter confundido por algum tempo os disparos com a batida da música.
"Pensei que era uma canção dos Ying Yang Twins", disse Christopher Hansen, um dos presentes no clube, à rádio NPR, fazendo uma referência a uma dupla de hip-hop americana.
Essa confusão permitiu que Mateen disparasse por quase um minuto sem que a música parasse.
"Quase comecei a dançar junto com o ritmo", disse Hansen. Mas, quando a música se silenciou e os disparos continuaram, a diversão se transformou em terror.
"A maioria dos tiroteios nos Estados Unidos ocorrem em espaços abertos, e aqueles em lugares fechados sempre são colégios e universidades, onde há rotas de fuga mais acessíveis", diz à BBC Mundo Natasha Esrow, especialista em terrorismo e professora da Universidade de Essex, no Reino Unido.
No caso da Pulse, as únicas formas de sair eram pela porta de acesso ao pátio e uma porta traseira. A saída principal estava bloqueada pelo atirador.
"As pessoas ficaram dentro do clube sem proteção e se tornaram alvos fáceis", destaca Ezrow.
2. A potência da arma
Tanto Ezrow quanto Roman dizem que o principal fator por trás da quantidade de mortos em Orlando é o poder de ataque do fuzil AR-15 usado por Mateen.
"É uma versão do M-16 usado pelas Forças Armadas dos Estados Unidos. É uma arma semiautomática, que permite deixar apertado o gatilho para aumentar a potência do ataque sem precisar recarregar", explica Ezrow.
O AR-15 é considerado pela Associação Nacional do Rifle dos EUA como o fuzil 'favorito' no país  (Foto: Joe Raedle)O AR-15 é considerado pela Associação Nacional do Rifle dos EUA como o fuzil 'favorito' no país (Foto: Joe Raedle)
De acordo com a polícia e o FBI, fuzis de assalto como o AR-15 foram usados nos massacres nos cinemas de Aurora, no Colorado (20 de julho de 2012), na escola Sandy Hook em Newton, Connecticut (14 de dezembro de 2012) e, mais recentemente, em San Bernardino, na Califórnia, onde morreram 12 pessoas em 2 de dezembro passado.
A potência da arma permitiu a Mateen não só ser mais eficaz em seu ataque como também gerar caos e pânico, o que ele usou como proteção.
"É uma arma que funciona com grande velocidade, e o atacante aproveitou isso para criar confusão, de forma que nenhuma das pessoas dentro da boate se atreveu a neutralizá-lo", explica Roman.
A polícia disse que um dos seguranças do local reagiu, mas Mateen repeliu seu ataque.
Além disso, de acordo com a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), o AR-15 é o "fuzil mais popular" do país.
"Com todos esses antecedentes, o acesso a uma arma deste calibre deveria ter restrições, mas sua venda é permitida no Estado da Flórida. Mateen a comprou legalmente com sua licença de porte de arma", explica Ezrow.
3. Três longas horas de operação policial
Segundo a polícia de Orlando, o ataque começou em plena madrugada, por volta das 2h de domingo. Nesta hora, Marteen disparou contra o segurança da entrada e começou sua violenta incursão dentro da Pulse.
Agentes do FBI investigam o local do ataque para compreender como tudo aconteceu  (Foto: Joe Raedle)Agentes do FBI investigam o local do ataque para compreender como tudo aconteceu (Foto: Joe Raedle)
Tudo acabou só às 5h, três horas depois, com a morte do atirador, abatido pela polícia. "Não há dúvidas que esse tempo foi suficiente para causar o maior dano possível, mas não foi por causa de uma falta de reação da polícia. Foi necessário para lidar com uma situação difícil", explica Roman.
Dois minutos depois de o ataque começar, Mateen foi interceptado por um policial, que, após uma troca de tiros, se viu obrigado a sair da boate.
O chefe da polícia local, John Mina, relatou que logo quando suas equipes chegaram e entraram no estabelecimento, Mateen se fechou em dois banheiros e fez as pessoas que estavam ali de reféns.
A polícia aproveitou para retirar os feridos e os sobreviventes do salão principal.
"Foi um momento difícil: Mateen ameaçou não só detonar uma bomba que dizia levar consigo, mas também disse que o lugar estava cheio de explosivos. Passaram-se alguns minutos até ser determinado não haver risco de explosão dentro do bar", diz Roman.
A polícia tentou negociar com o atirador. Às 5h, decidiu usar uma equipe da unidade especial Swat para invadir a boate e acabar com o ataque.
"Quando foram feitos reféns, a situação se complicou muito. Não creio que pudesse ter acabado antes. A polícia tem como princípio tentar salvar a maior quantidade de pessoas. E assim o fez", esclarece Roman.
Ao final, muitos dos clientes da boate escaparam por buracos que as forças policiais abriram com um veículo blindado em uma das paredes do local. Foi por ali que também saiu o atirador, que foi morto pela polícia.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O incendiário

Primeiro na linha sucessória de Renan, Jorge Viana tramou para implodir a Lava Jato. Caso ascenda ao comando do Senado, o petista fará de tudo para salvar Dilma

Crédito: fotos: Jefferson Rudy/Agência Senado; Ailton de Freitas/Agência O Globo
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Caso Renan Calheiros (PMDB-AL) venha a ser afastado da Presidência do Senado, o responsável pela condução do processo de impeachment na Casa será o senador Jorge Viana, do Acre. Trata-se de um dos petistas mais empenhados na defesa da presidente afastada, Dilma Rousseff, e um dos maiores entusiastas em barrar a Lava Jato. Em março deste ano, após a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para prestar depoimento à Polícia Federal, o senador acriano telefonou para o advogado Roberto Teixeira e sugeriu uma ação criminosa como estratégia para desmoralizar o juiz Sérgio Moro e tumultuar as investigações. O que o senador não sabia é que a conversa estava sendo gravada, com autorização judicial. A gravação foi entregue à Procuradoria-Geral da República, que até agora não se pronunciou.
Na conversa de aproximadamente três minutos, Jorge Viana diz que é preciso tirar a Lava Jato do campo jurídico e transformar a investigação conduzida por Moro em um confronto político. Assim, segundo o senador, o PT teria como “virar o País de cabeça de baixo”. “O presidente Lula precisa transformar esse confronto numa ação política”, disse Viana ao advogado Roberto Teixeira. Para tanto, o senador propõe que Lula convoque uma entrevista coletiva e desafie o juiz. “Na entrevista o Lula precisa se rebelar, dizer que não aceita mais o Moro, que agora se ele mandar um ofício ele não vai”, afirmou o senador. Durante o diálogo, o advogado Teixeira pouco falou. Praticamente de forma monossilábica, se resumia a dizer: “perfeito”. O senador, no entanto, mostrava-se quase um incendiário. Depois de sugerir que Lula desafiasse Moro, recomendou que o ex-presidente passasse a ofender o juiz, provocando sua prisão por desacato à autoridade. “(o Lula) precisa dizer que ele (Moro) está agindo fora da lei, chamar de bandido. E diga: venha me prender, agora eu que estou desafiando, venha me prender”, propunha o senador. “Se prenderem ele, aí vão prender e tornar um preso político, aí nós fazemos esse país virar de cabeça pra baixo”, disse ainda Viana.
Jorge já foi governador do Acre e prefeito da capital Rio Branco. Ironicamente, seu irmão Tião Viana (PT-AC) que também já foi senador, ocupou a presidência do Senado com o afastamento do próprio Renan em 2007. Hoje, Tião é governador do Acre. A família não ostenta uma ficha limpa. Em 2010, o Ministério Público Eleitoral do Estado pediu a cassação dos irmãos por suspeitas de irregularidades em suas campanhas. Na época, após uma denúncia anônima, a Polícia Federal apreendeu computadores com listas de nomes, números de títulos eleitorais e respectivos locais de votação. Cinco anos depois, em abril de 2015, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu arquivar os inquéritos por falta de provas. No mesmo ano, em março de 2015, entretanto, Tião Viana voltou a ser alvo de investigações. Ele é citado na delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa por ter recebido R$ 300 mil da empresa Iesa Óleo e Gás, investigada na Lava Jato. Segundo o governador, “a doação foi devidamente registrada no TRE do Acre”. Em fevereiro deste ano, a PGR contrariou a Polícia Federal e pediu o arquivamento do inquérito. A decisão cabe ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que ainda não se pronunciou.
A possibilidade de um petista como Viana substituir Renan no comando do Senado, justamente nos meses que antecedem ao julgamento final do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, é preocupante. Embora haja pouco espaço para manobras regimentais durante os trabalhos da comissão especial, dominada por senadores favoráveis ao impedimento, a postura do presidente da Casa já foi determinante em outras ocasiões. Um exemplo levantado como sinal de alerta por senadores contrários a Dilma foi a decisão do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), de tentar anular a votação de impeachment. Na época, Renan optou por desconsiderar a decisão e seguir com o processo dentro da normalidade. Caso estivesse em seu lugar um senador com o perfil de Jorge Viana o desenlace poderia ter sido outro.