Ribeirinhos de comunidades da Amazônia antes isoladas do resto do mundo por quilômetros de rios e pela ausência de sinal de telefone e internet são os mais novos (e ávidos) usuários da rede digital no Brasil. O passo mais importante dessa revolução foi dado em abril de 2008, com a licitação da banda larga de terceira geração (3G) no País.Um dos lotes mais disputados para a população, que dava a concessão para a exploração do serviço na Grande São Paulo, incluía também a cobertura de cidades do Amazonas, Amapá, Pará, Maranhão e Roraima de forma obrigatória. Pequenos municípios que poderiam ser encarados como ônus para as operadoras surpreenderam e mostraram-se lucrativos. Agora, o sinal digital espalha-se pela floresta com qualidade comparável à dos maiores centros urbanos .Assim que uma antena é instalada, milhares de elefones imediatamente se conectam. “O que nós percebemos é que muitas pessoas nesses lugares já tinham celular, mas só o usavam quando e estavam em uma cidade com cobertura”, disse à ISTOÉ o presidente da Vivo, Roberto Lima. Há duas semanas, a empresa inaugurou na cidade de Belterra, no Pará, uma antena que tira a cidade de 12 mil habitantes do isolamento tanto em relação ao sinal de celular quanto na questão da banda larga 3G. “Quando havia alguma emergência, o jeito mais rápido de conseguir ajuda era pegando um moto-táxi até Santarém. Demorava meia hora e custava R$ 30”, explicava o funcionário público Gelcileudson Souza, enquanto assistia à inauguração da torre na Praça Brasil, ao lado da mulher e da filha.
Apesar das dificuldades, os moradores de Belterra viviam uma situação bem melhor do que os residentes em outros pontos da Amazônia. A cidade fundada por Henry Ford maior produtora individual de borracha de seringueira do mundo entre 1938 e 1940 tem ligação errestre com outra, vantagem que pelo menos 20 mil pessoas da Reserva Extrativista Arapiuns, às margens do rio Tapajós, não podem desfrutar. Uma dessas comunidades é a de Suruacá, onde vivem cerca de 500 pessoas. Mas, graças ao trabalho comunitário, o local, distante quatro horas de barco de Santarém, conseguiu feitos impressionantes mesmo para localidades mais povoadas.Um exemplo é o seu telecentro. Por causa da ajuda do Projeto Saúde e Alegria, ONG presente há 21 anos na região, a população tem uma pequena rede com quatro computadores ligados à internet via satélite, com uso ilimitado para todos. Se no restante de Suruacá a energia que chega às casas vem de um gerador a óleo diesel, no telecentro ela é totalmente limpa, captada por painéis solares. É devido a ela que a estudante Lilian Alves, 17 anos, pode fazer pesquisas para diversas disciplinas do terceiro ano do ensino médio, que cursa numa das duas escolas locais. “Com a internet ficou muito mais fácil estudar”, diz Lilian, que utiliza o telecentro desde a sua fundação, há dois anos. A banda larga 3G ainda não está disponível em Suruacá, mas já é possível falar ao celular.
Em outubro, um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu mais um incentivo à criação de pontes digitais capazes de ligar a Amazônia ao resto do mundo. O Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades Telecentros.BR, coordenado pelos ministérios do Planejamento, das Comunicações e da Ciência e Tecnologia, incentiva a criação de espaços em todo o Brasil onde o uso da internet seja livre e gratuito. Nos Estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) já são 437 telecentros cadastrados no Observatório Nacional de Inclusão Digital, órgão subordinado ao Ministério do Planejamento.
Qualquer observador externo é capaz de deduzir que conectar a Amazônia via satélite é essencial para dar condições de vida dignas para os municípios espalhados pelo seu território. “Temos aqui cidades do tamanho da Bélgica, com populações espalhadas e separadas por rios. Ligar todas elas por cabos teria um custo altíssimo”, diz Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde e Alegria. “A tecnologia sem fio é essencial para trazer saúde e educação a essas pessoas.”
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