Tecnologia de "invisibilidade" e recursos para superar águas revoltas fazem do Ghost um candidato à próxima arma de guerra dos EUA
Lucas Bessel (lucasbessel@istoe.com.br)
Entenda como funciona esse barco militar
A era das batalhas entre grandes navios
militares, como couraçados e destróieres, acabou junto com a Primeira
Guerra Mundial (1914-1918). Desde então, as maiores embarcações têm
servido mais para transportar aviões e tropas ou disparar mísseis contra
alvos a grandes distâncias do que para entrar em confronto em mar
aberto. Engana-se, no entanto, quem pensa que os barcos de guerra são
ferramentas obsoletas. Hoje, forças navais do mundo inteiro – com
Estados Unidos e China na frente – buscam embarcações menores, mais
rápidas, estáveis e difíceis de detectar. É com essas qualidades que o
Ghost (“fantasma” em inglês), um veículo aquático revolucionário
desenvolvido por uma pequena empresa americana, quer conquistar a
Marinha de Barack Obama.
O desenho inusitado do Ghost, que se parece
mais com uma nave espacial de “Star Wars” do que com um barco
tradicional, é também responsável pelos seus maiores trunfos: a
furtividade – capacidade de passar despercebido por sistemas de detecção
por sonar e radar – e a estabilidade em mares revoltos. Seus
propulsores, duas turbinas que ficam em tubos sob a água e geram 4.000
cv de potência, movimentam hélices na parte da frente, que puxam o barco
em vez de empurrá-lo. Em altas velocidades, esse arranjo diminui a
pressão da água a ponto de fazê-la evaporar, criando uma bolha de gás ao
redor da estrutura. Esse fenômeno, conhecido como supercavitação,
diminui o arrasto, melhora o consumo de combustível e deixa o “passeio”
muito mais suave. O Ghost também é feito, em grande parte, de materiais
leves, como alumínio, e tem um formato anguloso que o torna difícil de
ser detectado por sonares e radares (confira quadro).
CRIADOR
Sancoff, que fez fortuna no setor de tecnologia médica,
gastou US$ 15 milhões no desenvolvimento do Ghost
PROTEÇÃO
A cabine, cheia de instrumentos digitais para orientação
e comunicação, também é à prova de balas
“Ele poderia ser como um helicóptero de
ataque dos mares”, disse à revista “Bloomberg Businessweek” o empresário
Gregory Sancoff, que fez fortuna no setor de tecnologia médica antes de
fundar a Juliet Marine, pequena startup que, desde 2009, já investiu
US$ 15 milhões no desenvolvimento do Ghost. O propósito do barco, diz
Sancoff, é fazer a defesa da costa ou a escolta de navios maiores para
prevenir ataques de lanchas rápidas. O cenário é plausível. Em 2000,
terroristas pilotaram uma pequena embarcação cheia de explosivos e a
arremessaram contra um navio de batalha dos EUA ancorado no Iêmen.
Dezessete americanos morreram e a bilionária arma de guerra foi
seriamente danificada. Pouco tempo depois, a Marinha americana fez uma
simulação em que suas embarcações eram atacadas por grupos bem armados
em barcos pequenos. No fim do segundo dia de exercícios, mais de 20 mil
militares teriam sido mortos.
CRIADOR
Sancoff, que fez fortuna no setor de tecnologia médica,
gastou US$ 15 milhões no desenvolvimento do Ghost
Outra aplicação do Ghost, segundo seus
desenvolvedores, estaria em missões secretas comandadas por grupos de
elite como os Navy Seals, responsáveis por matar o terrorista Osama Bin
Laden em 2011. Recentemente, um comando dos EUA tentou resgatar reféns
americanos na Síria, mas foi incapaz de encontrá-los. “Poderíamos
acessar áreas restritas do oceano e ficar lá, sem ser detectados, por
até 30 dias apenas com o combustível a bordo”, diz Sancoff. Com a
tecnologia de comunicação disponível, também seria possível interceptar
ligações e receber imagens de satélite ou vídeos enviados por aviões não
tripulados, diz o empresário. O Departamento de Defesa americano não se
pronuncia oficialmente sobre suas intenções em relação ao barco, mas
representantes militares já o avaliaram e até proibiram, durante dois
anos, que a Juliet Marine registrasse as patentes fora dos EUA. Eles
também testam outras embarcações com tecnologia “invisível”, como o M80
Stiletto, um grande navio de transporte e desembarque para fuzileiros
navais. Num momento em que cortes de gastos são praxe nas forças
armadas, deixar o desenvolvimento de um equipamento desse tipo ao cargo
de uma pequena startup parece ser uma boa ideia, até mesmo para a
gigantesca máquina de guerra americana.
Fotos: Divulgação; Bournemouth News/REX
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