Dilma vai para o confronto com Marina usando os mesmos métodos de terror que o partido condenava no passado, quando o alvo era Lula. O detalhe é que a candidata sataniza a adversária atribuindo a ela propostas semelhantes às de seu governo
Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
Diante da
ameaça de perder a eleição, a campanha da presidenta Dilma Rousseff
partiu para um ataque sórdido contra a candidata do PSB ao Planalto,
Marina Silva. Munida de impressionante desfaçatez, a propaganda do PT
lançou mão, na última semana, dos mesmos métodos que combatia num
passado recente. Numa tentativa clara de manipulação, a presidenta
ocupou o horário eleitoral na televisão para dizer que a proposta de
Marina Silva de conceder autonomia ao Banco Central vai enriquecer ainda
mais os banqueiros e prejudicar a população. O vídeo, totalmente
apelativo, mostrou uma família vendo a comida desaparecer do prato. As
cenas estão recheadas de um cinismo explícito, pois o governo Lula, no
qual Dilma foi gerente e chefe da Casa Civil, não apenas adotou a
autonomia operacional do Banco Central como fez mais: indicou um
banqueiro, Henrique Meirelles, para presidir a instituição e conferiu à
presidência do BC o status de ministério. Nos dois governos de Lula, nem
o Ministério da Fazenda, ao qual o Banco Central deveria estar
subordinado, podia dar ordens a Meirelles. Se, como prega a peça
publicitária do PT, seria lícito dizer que aumentar os juros é jogar
afinado com os banqueiros, então nunca antes na história um governo
esteve tão em sintonia com os bancos como o do PT.
GOLPES BAIXOS
O PT deu autonomia operacional ao Banco Central e escolheu um banqueiro para
presidi-lo, mas Dilma (à dir.) ataca Marina querendo tachá-la de candidata
tutelada pelos bancos, exatamente por defender a autonomia do BC
A propaganda petista também agiu com
descaramento quando acusou a adversária do PSB de se opor ao uso dos
recursos do pré-sal para financiar a educação. Os petistas escondem o
fato de terem resistido à proposta que destinou 10% dos recursos do
petróleo para o ensino público. Na época das discussões sobre o assunto
no Congresso, o governo atuou nos bastidores pela liberdade para
escolher onde seriam feitos os investimentos. A verdade factual, no
entanto, parece estar longe da campanha petista.As pesquisas realizadas
depois da mudança no discurso da presidenta mostram que ela recuperou
pontos na corrida eleitoral e neutralizou a vantagem de Marina Silva em
um eventual segundo turno. A diferença, que já foi de dez pontos
percentuais, caiu para quatro e as duas encontram-se empatada,s
considerada a margem de erro, de acordo com o último Datafolha.
Não foi a primeira vez, nesta campanha, que
o PT recorreu ao medo e a golpes baixos a fim de obter êxitos
eleitorais. Semanas atrás, numa nova tentativa de manipular o eleitor, a
campanha petista comparou Marina aos ex-presidentes Jânio Quadros e
Fernando Collor, numa alusão à dificuldade que ela terá de governar, sob
o risco de ter o mandato interrompido. A esdrúxula equiparação foi
criticada até por petistas, como o senador Jorge Viana (AC). “Essa ideia
de tentar comparar Marina a Collor e a Jânio Quadros é desinteligente.
Ou de querer buscar desvio ético e moral na vida de Marina, isso também é
perda de tempo e não tem nenhum sentido”, afirmou.
Até agora, apenas um caso provocou
transtornos para a campanha da presidenta. Os tucanos entraram com uma
ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reclamando do terrorismo
eleitoral protagonizado pelo PT. O tribunal considerou a linguagem do
programa petista degradante e inapropriada para uma disputa democrática e
determinou a retirada do ar das agressões. Para o relator do caso,
ministro Herman Benjamin, o tom adotado pela campanha do PT “não combina
com a postura ética que deve nortear o debate político e as campanhas
eleitorais”.
A constatação é de que o PT age como se o
fim justificasse os meios, sendo “o fim” a eleição de Dilma, e “os
meios”, as práticas de terrorismo eleitoral. Pelo jeito, para o PT vale
mesmo “fazer o diabo” para vencer a eleição, usando palavras da própria
presidenta Dilma. Nesse vale-tudo, quem perde é o eleitor.
Foto: Eraldo Peres/AP
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