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domingo, 6 de abril de 2014

Com forte participação do governo, indústria bélica nacional se reinventa

Setor está presente em mais de 60 países

Aurélio Gimenez e Stephanie Tondo
Rio - Em tempos de paz, armamentos não letais e de vigilância ganham cada vez mais destaque na chamada indústria de defesa e de segurança nacional. Esses equipamentos são as principais atrações da maior feira de segurança pública e corporativa da América Latina, a LAAD Security 2014, que ocorre de terça a quinta-feira, no Riocentro.

“A indústria nacional hoje compete de igual para igual com as empresas lá de fora. Podemos não ter toda a gama de produtos, mas o que é produzido, pela sua alta tecnologia, é exportado para vários países em todo o mundo”, diz o organizador e diretor da feira, Sérgio Jardim, acrescentando que a indústria bélica brasileira cresce em torno de 10% ao ano.

De acordo com o major brigadeiro- do-ar José Euclides da Silva, diretor do Departamento de Produtos de Defesa do Ministério de Defesa, atualmente há 144 companhias cadastradas como Empresas Estratégicas de Defesa (EED). Estas fazem parte do programa Estratégia Nacional de Defesa (END), documento do governo federal que estabelece como política pública o reequipamento das Forças Armadas e o fortalecimento da indústria nacional de armamentos.
O Guarani é o novo blindado do Exército
Foto:  Divulgação
“Atualmente, são 144 empresas cadastradas, com a autorização para fabricar 830 produtos para a área de defesa. Destas, 54 estão localizadas no Rio de Janeiro”, lembra o diretor. Com uma fábrica na Baixada Fluminense, a Condor Tecnologias Não-Letais é uma dessas companhias com reconhecimento em escala internacional, presente em 45 países e que vende produtos até mesmo para a Organização das Nações Unidas (ONU).
Na LAAD, a Condor apresentará uma máscara contra gás, inspirada no personagem Darth Vader, do filme Guerra nas Estrelas, que as forças de segurança passarão a usar em manifestações públicas no Brasil, além de uma rede antidistúrbio contra black blocs.
Federação quer criar um polo aeroespacial no Estado do Rio

Com a definição da compra de 36 caças de combate da sueca Grippen NG para a Força Aérea Brasileira, os estados começam a se mobilizar para fortalecer suas empresas, já que 80% da estrutura das aeronaves serão montadas no país, como parte de transferência de tecnologia. Como boa parte da indústria aeroespacial está localizada em São José dos Campos (SP), a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) reivindica a instalação de um polo desse segmento em território fluminense.

Para tanto, o Fórum Empresarial de Defesa e Segurança da entidade lançou há duas semanas o Comitê Aeroespacial Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho, base para implantação de uma indústria semelhante à naval e metal-mecânica, dois setores fortes no Estado do Rio de Janeiro.

Coordenador do fórum, Carlos Erane Aguiar, do grupo Condor, lembra que o estado já possui 51 empresas catalogadas como de interesse aeroespacial, segundo dados do Comando da Aeronáutica III (3º Comar). Além disso, o Rio abriga diversos centros de tecnologia, possui duas bases aéreas, a de Santa Cruz e a do Galeão.

“O mercado aeroespacial comporta aviões e helicópteros comerciais e militares, produção de satélites e lançador, veículos aéreos não tripuláveis (Vant), mísseis, equipamentos aviônicos. Ou seja, é um segmento que tem todas as condições para se desenvolver no Rio de Janeiro, onde está boa parte das reservas do pré-sal nacional, e possui mão de obra altamente qualificada”, explica Aguiar.
Defesa e segurança
- Manifestações
Os eventos esportivos, como a Copa do Mundo, e as manifestações populares ocorridas no ano passado reaqueceram o debate sobre o emprego de armamento letal e não-letal tanto pelas Forças Armadas quanto pelas forças de segurança pública estaduais.

“Cada vez mais esse tipo de armamento se faz presente e necessário para garantir a ordem pública. Porém, é necessário treinamento para usá-lo”, diz o vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), Carlos Afonso Pierantoni Gambôa.
Indústria bélica está presente em 60 países
Foto:  Divulgação
- Produtos estratégicos
Entre os diversos produtos listados como estratégicos pelo Ministério de Defesa estão bomba de fragmentação, fuzil de assalto, pistola PT92, A-20 Super Tucano, míssil anti navio de superfície, entre outros.
- Projeto Vant-B
A aeronave de vigilância ficou conhecida a partir do emprego pela Polícia Federal na prisão do traficante Menor P. O equipamento também é usado pelas Forças Armadas para reconhecimento em ambientes hostis.
- Projeto Guarani
Consiste em dotar o Exército com nova família de veículos blindados, desenvolvidos pela Iveco, em Minas Gerais.
- Prosub
Desenvolvimento do primeiro submarino de propulsão nuclear. O estaleiro está sendo construído em Itaguaí, onde haverá uma nova base naval.
- SISFRON
Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras numa área de 16 mil quilômetros.
Orçamento cresce para R$ 9 bilhões

Em recente audiência pública no Senado, o ministro de Defesa, Celso Amorim, destacou que o orçamento da pasta tem crescido de forma positiva nos últimos anos. Segundo ele, em 2003, o total era de R$ 3,7 bilhões e, hoje, é de aproximadamente R$ 18,5 bilhões. Se forem considerados apenas os investimentos, a cifra aumentou de R$ 900 milhões para quase R$ 9 bilhões, no mesmo período.

Amorim afirmou que o fortalecimento das Forças Armadas é uma questão prioritária, sobretudo por contada defesa da riqueza dos recursos naturais, como o pré-sal e a Amazônia Azul, além das fronteiras.
Contra o armamento
- Causa e consequência
Para pacifistas, o investimento na indústria bélica é uma forma de combater a violência com mais conflitos, sem atingir a verdadeira causa: as desigualdades. “Esse tipo de indústria trata das consequências da falta de oportunidades para a juventude, da falta de educação, emprego”, diz Tião Santos, coordenador da ONG Viva Rio. “É claro que o Estado sempre vai precisar manter a ordem pública, contudo, deve se preocupar mais com prevenção que com a repreensão. Fica difícil haver paz quando as pessoas levam três horas para chegar ao trabalho ou quando não têm serviços públicos essenciais de qualidade”, completa Antônio Carlos Costa, da Rio de Paz.
Para pacifistas, o investimento na indústria bélica é uma forma de combater a violência com mais conflitos
Foto:  Divulgação
- Armas não-letais
Para Tião, o termo “não-letais” deveria ser corrigido. “Já houve mortes e incidentes graves com esses armamentos. Não são inofensivos”, argumenta. Muito usados em protestos, esses equipamentos são condenados por representarem disposição maior do Estado em confrontar manifestantes que em dialogar. “O mais importante nesse tipo de enfrentamento é ter uma polícia que use a inteligência e seja capaz de dialogar. Fora desse parâmetro será impossível ter manifestação democrática”, argumenta o coordenador da Viva Rio.
- Questão econômica
Sem dúvida, a indústria bélica é grande geradora de emprego e tem vantagens econômicas. Porém, pacifistas acreditam que esses objetivos podem ser alcançados de outras formas. “É preferível ver jovens empregados em empresas de tecnologia de ponta, na Educação e setor de serviços”, afirma Antônio Carlos Costa. “O século passado enriqueceu com a indústria armamentista. Agora, é preciso construir uma sociedade pacífica”, alega Tião.
Fortes impactos no meio ambiente

Para o consultor ambiental Alessandro Azzoni, o aumento da exploração do pré-sal realmente exige investimento na indústria bélica no Rio, para defensa do território. No entanto, é preciso haver fiscalização para que os danos ambientais sejam minimizados.

“Toda indústria causa impacto ambiental, mas a bélica tem componentes mais fortes, pois trabalha com metais mais pesados. As máquinas usam muito lubrificante, que gera resíduos de óleo. Além disso, esse setor usa muita energia nuclear, que produz lixo radioativo. Mas o que mais me preocupa são os testes de armamentos, que provocam desgaste ambiental grande”.

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