SELVA

SELVA

PÁTRIA

PÁTRIA

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A hora da sagração

Congresso petista, que tem início hoje, deverá aclamar Dilma Rousseff, candidata inventada e ungida pelo presidente

O PT realiza a partir de hoje, em Brasília, o seu 4º Congresso Nacional. A relevância política do encontro se deve ao lançamento oficial, pelo partido, da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República, o que ocorrerá no sábado, quando se encerra o evento.
Acompanhada por Luiz Inácio Lula da Silva e, provavelmente, por boa parte dos atuais ministros, a chefe da Casa Civil deve discursar, apresentando-se oficialmente aos petistas como a legatária de Lula. Será a primeira vez, desde 1989, que o PT entrará numa campanha presidencial sem ter seu líder histórico como candidato.
A despeito de rusgas internas e das previsíveis disputas por cargos na burocracia partidária, o clima geral do encontro, segundo as expectativas, deve ser ditado pela aclamação festiva da ministra. O que parece óbvio, mas também não deixa de ser irônico.
Sim, porque Dilma Rousseff é um nome que Lula sacou do bolso do colete. É bem menos uma candidata do PT do que uma invenção do lulismo, ungida pela vontade exclusiva do presidente.
Ex-militante de um grupo clandestino adepto da luta armada, incorporada aos quadros do PDT sob a influência do brizolismo na década de 1980, Dilma filiou-se ao Partido dos Trabalhadores tardiamente, apenas em 2001, mais de duas décadas depois da sua fundação, em 1980.
Quadro respeitado por suas virtudes gerenciais e capacidade técnica, Dilma se projetou politicamente apenas no segundo mandato de Lula, depois que a cúpula do PT e as principais figuras do governo no primeiro mandato foram abatidas pelo escândalo do mensalão.
No empuxo do bonapartismo presidencial, sem capacidade de interferência na definição da candidata que irá respaldar, o PT busca agora conquistar espaço no desenho da postulação. É compreensível que o faça, na tentativa de recobrar algum protagonismo político.
Tem-se presenciado nos últimos dias lances de uma queda de braço entre PT e Planalto acerca de ênfases e termos a serem utilizados nas diretrizes do programa de governo de Dilma -que o partido deve aprovar no congresso.
Na primeira versão do texto do PT, mencionava-se o "sucesso da transição que Lula realizou". Revista pelo Planalto, a passagem se refere agora ao "sucesso alcançado por Lula". Menções elogiosas à estabilidade econômica, antes ausentes do documento, foram incorporadas por orientação do presidente.
Paradoxalmente, muitos militantes petistas veem no nome gerado pelo lulismo uma oportunidade de resgatar bandeiras históricas e programáticas do partido. Dilma teria perfil mais ideológico e seria mais estatizante e afinada com velhos preceitos de esquerda do que o atual presidente, um líder de massas pragmático e habilidoso, mas pouco doutrinário.
Será difícil, no entanto, que o PT consiga ir muito além do que Lula deseja. Afinal, embora ausente da cédula, ele é o fiador e o espelho da candidatura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário