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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Estudantes dos EUA criam e-mail imune à espionagem

Sistema garante privacidade dos dados entre quem manda e recebe a mensagem

Alessandra Horto
Rio - A preocupação com a privacidade de dados dos usuários que navegam na internet ganhou as salas dos centros de excelência de estudos da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Os estudantes das unidades criaram um serviço de e-mail que seria blindado à espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) do país. O ProtonMail já está em fase de testes e é aberto ao público comum.

Fernando de Souza se preocupa com o uso correto da navegação na internet
Foto:  Paulo Araújo / Agência O Dia
Os estudantes defendem que o serviço tem mais segurança do que o Lavabit, antigo programa usado por Edward Snowden na divulgação do monitoramento de órgãos públicos em contas governamentais e civis.
Entre os diferenciais apontados estão a criptografia ‘end to end’, em que a mensagem não pode ser receptada por qualquer pessoa que não seja a emissora e a receptora do conteúdo. E, também, a localização dos servidores do ProtonMail na Suíça, um dos países com leis mais rígidas sobre a proteção de privacidade.
Presidente da Organização Não-Governamental SaferNet, Thiago Tavares defendeu ser essencial para o futuro da democracia a proteção da privacidade do usuário. Ele lembra que a segurança é feita em camadas.
“Os documentos divulgados por Edward Snowden comprovaram que a interceptação de dados ocorre no transporte de infraestrutura de dados e não apenas na aplicação. A criptografia citada seria nova tentativa de neutralizar o agente da interceptação das informações que estão na ponta, ou seja, tanto para quem envia quanto para quem recebe”, explica.
Contudo, para Tavares, isso não significa que os laboratórios da NSA não sejam capazes de quebrar a segurança dos códigos, pois não existe 100% de segurança. “A agência está pelo menos dois anos a frente no sentido estratégico na atuação da análise de novos dados”, explica o presidente da entidade.
Ele cita que o governo brasileiro tem sido alvo de interesse de diversos setores mundiais devido ao pré-sal e também pela atuação de empresas como Embraer, Vale e Petrobras, que possuem informações sensíveis de valores imensuráveis. O presidente ainda destaca o compartilhamento de dados entre países que compõem o grupo chamado “Five Eyes”: Estados Unidos, Austrália, Canadá, Inglaterra e Nova Zelândia.
A facilidade na troca de informações entre as potências deveria despertar mais agilidade no governo brasileiro, no sentido de se empenhar na preservação dos dados. “Há um avanço tímido, o Brasil ainda tem muito dever de casa para fazer. É necessário implementar política de estado e não de governo, pois este é transitório. Acredito que esse problema terá respostas médias, levando pelo menos cinco anos”, afirma.
Brasil tem oito satélites de comunicação alugados
Thiago Tavares cita ainda que o Brasil tem oito satélites que possuem autorização para operar no país. Porém, todos os equipamentos são alugados. As unidades servem de ponte para o tráfego de dados, inclusive, os que são das Forças Armadas. O primeiro satélite brasileiro deve ser lançado até 2016.
Outra questão apontada por Tavares é a necessidade de se pensar em um modelo de gestão própria, agregando as ações estabelecidas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Exército, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, entre outros setores.
“Não tenho rede social com informações abertas e uso todas as medidas de proteção no meu computador. Nunca se sabe quem vê” Priscilla Oliveira, jornalista
Sobre a troca de informação entre as pessoas comuns, o especialista ressalta ser necessário ocorrer uma mudança cultural entre os usuários. Ele acredita que esse processo vai demorar.
“Atualmente, a sociedade valoriza a exposição em troca de prestígio nas redes sociais. Toda mudança de paradigma leva tempo e com o uso da internet não será diferente”, prevê. Na edição do último domingo, O DIA mostrou que o mapeamento dos hábitos de navegação tem sido responsável por novos golpes na internet.
Usuários ainda temem por ataques
A criação de um sistema de e-mail contra espionagem é vista com ressalvas pelos usuários, que têm incertezas sobre a segurança blindada. Para o assistente multimídia, Fernando de Souza, 27 anos, é difícil existir um programa completamente seguro.
“Tenho familiaridade com a internet desde muito novo e sempre me protegi e me interessei pelas novas formas de segurança. Mas faço isso como medida pessoal. Por exemplo, uso antivírus e não acesso o meu e-mail em lugares que não são confiáveis,” ensina.
A jornalista Priscilla Oliveira, 28, também é incrédula: “Sou muito desconfiada em todas as situações, principalmente, com a segurança dos meus dados pessoais. Então, não tenho rede social com informações abertas e uso todas as medidas de proteção no meu computador.”
Projetos para aumentar a segurança

A espionagem dos Estados Unidos não causou desconforto apenas aos países monitorados. Os próprios americanos também ficaram apreensivos, cita Alexandre Freire, especialista em Segurança da Informação e professor da UFRJ. Segundo ele, existem alguns movimentos no Brasil com o objetivo de criar serviços para oferecer um e-mail mais seguro aos cidadãos brasileiros.
Freire lembrou que o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) estava trabalhando em projeto para melhorar a segurança das operações na internet. Uma das questão em debate é a proteção do e-mail do Brasil enviado de dentro do país para a própria federação, sendo que a grande rede tem o seu uso global.

“Esses e-mails não poderiam ser enviados para fora do país. A segurança existe até um determinado perímetro porque essa mensagem precisa deixar a sua infraestrutura e ser encaminhada para outra”, ressaltou o especialista Alexandre Freire.

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