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sábado, 7 de junho de 2014

Made in Brazil

O cargueiro militar KC-390 vai decolar pela primeira vez neste ano. Projetado para competir num mercado de 50 bilhões de dólares, ele é o voo mais alto da Embraer

Pieter Zalis e Bela Megale
O MAIOR - Ilustração do cargueiro da Embraer, cuja principal fábrica fica em São José dos Campos, a última cidade visitada pela Expedição VEJA
O MAIOR - Ilustração do cargueiro da Embraer, cuja principal fábrica fica em São José dos Campos, a última cidade visitada pela Expedição VEJA      (Divulgação)
Até o fim do ano, um colosso militar deixará os hangares da Embraer para riscar o céu pela primeira vez. Maior e mais importante projeto da empresa brasileira, o cargueiro KC-390 não foi criado apenas para ser um sucesso comercial (coisa que já é, antes mesmo de seu protótipo ter saído do chão: 28 unidades do modelo foram encomendadas pela Força Aé­rea Brasileira (FAB) e outras 32 estão reservadas para cinco países). O KC-390 nasceu para ser um marco na história da aviação militar. Com 34 metros de comprimento, tem capacidade para atingir 80% da velocidade do som e carregar carros blindados de até 20 toneladas. Perto dele, o americano C-130 Hercules, o atual líder no segmento, lembra um teco-teco.
O KC-390 é o voo mais alto de uma empresa que nasceu em berço de ouro (os primeiros 150 funcionários da Embraer vieram do ITA, o principal centro de excelência da engenharia brasileira), esteve à beira da falência, foi privatizada e hoje ocupa o terceiro lugar no ultracompetitivo ranking das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, só superada pelos pesos-pesados Boeing e Airbus.
A Embraer deve seu sucesso, primeiro, ao fato de nunca ter abandonado o padrão de excelência que lhe deu origem. É ainda hoje a empresa privada que mais atrai estudantes do ITA, e só em cursos de treinamento e aprimoramento de seus profissionais investe 9 milhões de reais por ano. No campo estratégico, a partir da privatização, em 1994, adotou princípios que se revelaram acertos fundamentais: a diversificação de produtos e clientes, o estabelecimento de parcerias internacionais e a alocação contínua de investimentos pesados — no ano passado, foram 737 milhões de dólares, recorde histórico.
Até o ano 2000, 90% da receita da Embraer vinha do mercado de aeronaves comerciais. Naquele ano, no entanto, depois de realizar pesquisas que previam um aumento anual de 2,2% no mercado de jatos executivos, a empresa passou a diversificar sua produção. O resultado foi que, em pouco mais de uma década, as linhas Legacy, Phenom e Lineage venderam mais de 700 jatos executivos.
A área militar, segmento que remonta às origens da companhia, produziu receitas de 1,2 bilhão de dólares em 2013, e hoje o principal produto, os Super Tucanos, voam nos céus de nove países.
Com essas iniciativas, a Embraer diminuiu sua dependência de um único mercado (no ano passado, apenas 53% da receita veio da aviação comercial), aumentou sua cartela de clientes (hoje exporta para mais de cinquenta países) e tornou-se uma multinacional de produção — possui seis fábricas espalhadas pelo Brasil, Estados Unidos, Portugal e China.
No Brasil, a principal unidade fica no município paulista de São José dos Campos e é a prova de como o investimento em produtos de alto valor agregado e que envolvem uma cadeia produtiva complexa contribui para formar um círculo virtuoso que beneficia todos ao seu redor. A Embraer foi a primeira empresa do setor tecnológico a se instalar em São José dos Campos. Não fosse ela, e o ITA, dificilmente a cidade seria o que é hoje: um polo tecnológico com mais de 100 empresas do setor aeroespacial, sessenta de tecnologia da informação e 27 startups, grande parte delas fornecedora da própria Embraer. Cerca de 40% das exportações de alta tecnologia brasileiras partem do município.
Por essas características, a cidade foi escolhida para ser a última parada da Expedição VEJA, projeto criado para mostrar o Brasil que empreende, supera as adversidades e compete ombro a ombro com os melhores do mundo. Em 28 dias, o ônibus de VEJA visitou onze municípios de catorze estados brasileiros, além do Distrito Federal, na busca de histórias de sucesso individual e coletivo, que foram publicadas nas páginas da revista e no site de VEJA. O ônibus deixou a estrada, mas o projeto continua — na forma de matérias semanais que, até o fim deste mês, poderão ser lidas em VEJA.com e por meio dos debates que a revista organizará com o objetivo de discutir os problemas e soluções encontrados ao longo dos 11 938 quilômetros percorridos pela equipe de reportagem.

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