A presidente Dilma Rousseff aproveitou a cerimônia de posse do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para fazer uma defesa enfática do povo brasileiro, que nas últimas semanas tem acompanhado as ações de combate à corrupção no governo federal. Para Dilma, os corruptos são minoria no país. "O Brasil é um país de pessoas de bem, honestas, que vivem do fruto do seu esforço pessoal e que abominam o crime e prezam a legalidade", declarou. "O Brasil tem se afirmado, cada vez mais, como o país que constrói a sua Justiça e que a realiza e pune aqueles que cometem ilícitos", completou.
Dilma, contudo, reforçou as críticas feitas na semana passada sobre a ação da Polícia Federal na Operação Voucher. "Farei tudo que estiver ao meu alcance para coibir abusos, excessos e afrontas à dignidade de qualquer cidadão que venha a ser investigado." A presidente ficou muito irritada com a operação deflagrada pela Polícia Federal na semana passada. Não gostou de ter sido pego de surpresa e repudiou ao ver os acusados serem embarcados algemados nos aviões. Para complicar ainda mais, a foto de seis presos — incluindo o secretário executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa; o ex-presidente da Embratur Mário Moyses; e o secretário nacional de Desenvolvimento de Programas de Turismo, Colbert Martins — foram publicadas em um jornal no Amapá na sexta-feira. Nela, os acusados estavam sem camisa segurando placas com os próprios nomes.
Ao ser empossado para outro mandato de dois anos, Gurgel agradeceu a Dilma por "trilhar o caminho iniciado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva" de contemplar a lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República. Segundo Gurgel, a escolha é uma demonstração do espírito republicano e democrático da presidente da República. O procurador afirmou que o Ministério Público "continuará agindo com independência e com uma crescente interação com os órgãos de controle".
Em entrevista coletiva após a posse, Gurgel mostrou ter captado bem o recado de Dilma. "O discurso da presidente, a meu ver, realça que nesse país nós temos que ter rigorosamente observados os direitos daquelas pessoas que são investigadas", observou. O procurador reconduzido ao cargo — ele ficou duas semanas ausente no período entre o fim de seu mandato anterior e a posse — também aproveitou para fazer duras críticas ao vazamento de fotos de presos da Operação Voucher.
"É absolutamente inaceitável a exposição de pessoas tal como feito. Isso deve ser apurado e os responsáveis devem ser punidos", defendeu o procurador-geral. Ele acrescentou que não vê nenhuma justificativa para que os detentos tenham sido fotografados sem camisa. "Só haveria necessidade daquilo durante exame médico legal. Evidentemente, a fotografia não precisaria ser feita naquela circunstância."
Nitidamente incomodado com a situação, o chefe do Ministério Público Federal disse que tratará as investigações referentes à Operação Voucher como assunto prioritário. Ele, porém, não adiantou quais as medidas serão tomadas. "Tenho que tomar pé das representações encaminhadas e do estado atual das investigações. A julgar pelas notícias da imprensa, os fatos são realmente graves", afirmou.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também demonstrou contrariedade com a divulgação das fotos. "É realmente uma situação abusiva, inaceitável, violadora de direitos básicos da pessoas presas."
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