O capitão do cruzeiro italiano Costa Concordia, Francesco Schettino, afirmou nesta quarta-feira que os administradores do navio pediram que se aproximasse do litoral na noite de 13 de janeiro, quando a embarcação encalhou e naufragou, segundo conversas gravadas e que vazaram aos jornais italianos.
O jornal "La Repubblica" publicou trechos de uma conversa entre o capitão Francesco Schettino e uma pessoa identificada apenas como Fabrizio. No diálogo, ele compromete um administrador da Costa Cruzeiros, proprietária do navio.
"Fabri, qualquer outra pessoa no meu lugar não seria tão escrupulosa em ir para lá porque eles estavam me pressionando, dizendo vá até lá, vá até lá", disse Schettinno na conversa.
"A rocha estava lá, mas não aparecia nos instrumentos que eu tinha e eu fui até lá para satisfazer o administrador, vá até lá, vá até lá", afirmou.
A conversa aparentemente foi gravada sem o conhecimento de Schettino, enquanto ele era mantido sob custódia após o acidente, e foi postada no site do "La Repubblica". Uma fonte do gabinete da promotoria disse que a transcrição era genuína.
18.jan.12/Reuters | ||
Capitão Francesco Schettino, na sala de comando do navio; capitão diz que empresa pediu aproximação ao litoral |
RESGATE
As equipes de socorro reiniciaram as buscas no interior do cruzeiro Costa Concordia nesta quarta-feira, depois de uma interrupção das operações por causa do mau tempo, anunciaram as autoridades italianas. Ao menos 16 morreram e outras 16 pessoas continuam desaparecidas.
As buscas foram retomadas tanto na superfície como na parte submersa do navio, informou Francesca Maffini, porta-voz de Franco Gabrielli, o funcionário do governo italiano nomeado para coordenar toda a complexa operação de resgate.
Na véspera, foram iniciadas as operações preliminares para bombear o combustível que ameaça contaminar a ilha italiana de Giglio.
A equipe técnica da empresa holandesa Smit Salvage, encarregada do bombeamento do combustível, quer estudar todas as possibilidades para extrair de maneira segura as 2.400 toneladas de combustível de dentro dos 23 tanques do navio.
Carlo Ferraro - 24.jan.12/Efe | ||
Empresa inspeciona Costa Concordia para retirada de combustível; tanques têm mais de 2.000 t de diesel |
Na segunda-feira à tarde, uma mancha de óleo de cerca de 200 metros por 300 surgiu não muito longe do navio e os especialistas em meio ambiente acreditam que tenha emergido após o naufrágio, trazida pelas correntes marítimas.
Na terça, um barco especial do Ministério do Meio Ambiente lançou boias absorventes em torno da mancha, composta por detergentes e óleo de cozinha e de motor.
Nesse meio tempo, os mergulhadores militares abriram um novo buraco no casco do barco, a cerca de 20 metros de profundidade, e localizaram o 16º corpo na ponte número 3, onde ficava grande parte dos botes salva-vidas. No total 16 pessoas permanecem desaparecidas.
O promotor geral da região considerou nesta terça que a justiça não deve limitar a sua investigação ao capitão Francesco Schettino, e sim se concentrar também nas eventuais responsabilidades da empresa proprietária do transatlântico, a Costa Crociere.
Schettino e seu imediato a bordo, Ciro Ambrosio, são por enquanto as únicas pessoas acusadas do naufrágio. Foram acusados por homicídios múltiplos, naufrágio e abandono de navio, mas não foram indiciados formalmente. O comandante do navio é mantido em prisão domiciliar.
24.jan.12/Associated Press | ||
Equipes da Marinha italiana participam de resgate; 16 passageiros ainda estão desaparecidos em navio |
PROMOTORIA
Ontem (23), o chefe da Promotoria do Estado da Toscana, Beniamino Deidda, disse à imprensa italiana que a Justiça italiana deve investigar também a responsabilidade da Costa Cruzeiros, dona do navio Costa Concordia, que naufragou no dia 13, e não só o capitão da embarcação, Francesco Schettino.
"Até o momento, a atenção está, de forma geral, concentrada na responsabilidade do capitão, que se mostrou tragicamente inadequado. Mas quem escolhe o capitão?", questionou Deidda em uma entrevista que deve levantar novas polêmicas no caso do acidente que já deixou 16 mortos e quase duas dezenas de desaparecidos.
Na opinião do promotor os investigadores devem passar a focar também nas decisões tomadas pela dona do navio.
Além da responsabilidade da empresa pela contratação de Schettino, o advogado italiano diz que há outros fatores que devem ser levados em conta pelo inquérito.
Entre as questões estão a preparação da equipe para a emergência. Ele diz que os "barcos de segurança não desceram, a tripulação não sabia o que fazer [e] a péssima preparação para gerenciamento de crise".
Além disso, o promotor classificou como "absurdo" o fato de que ao menos em um registro, um membro da tripulação aparece em um vídeo dizendo aos passageiros para retornarem às cabines e negando que havia uma emergência em curso.
Danilo Bandeira e Ivan Moura/Editoria de arte/Folhapress | ||
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