A chegada do primeiro veículo médio com internet a bordo dá início ao processo de popularização da rede sobre rodas no Brasil
André Julião
UM PARA LÁ, UM PARA CÁ
O sistema Splitview, desenvolvido pela Bosch e usado
pela Mercedes, permite que o motorista acesse informações
sobre o trânsito, enquanto o passageiro passeia pela internet
Comprar um carro com acesso à internet no Brasil não é mais um privilégio para quem pode gastar em modelos importados luxuosos. A Chevrolet lançou recentemente o Agile Wi-Fi, que, como o próprio nome diz, vem com um modem que dá acesso à web sem fio dentro e nos arredores do veículo. O comprador tem direito a um ano de serviço sem desembolso adicional. Mas o veículo não é dos mais baratos (R$ 43.653 até o fechamento desta edição) e o acesso tem que ser feito por meio de um laptop, tablet ou smartphone.
O Agile Wi-Fi, no entanto, é o começo da popularização dos carros conectados no Brasil. No mundo, quem vem acelerando forte nessa corrida é a Ford. Desde 2008, a montadora americana equipa alguns de seus veículos com o sistema Sync. Com ele, o motorista sincroniza o smartphone com o computador no painel do carro e pode executar uma série de funções. Por meio de comandos de voz, o motorista escolhe músicas numa rádio online, como a Pandora. E, ainda utilizando a voz, pode perguntar ao Sync o nome do artista e da canção que está tocando. A resposta vem numa simpática voz sintetizada.
Outra função desempenhada pelo sistema é acessar dados do próprio carro, como o nível de combustível. Com o carro parado, o motorista pode assistir a vídeos no YouTube e acessar sites. No Salão do Automóvel de Detroit, nos EUA, que acontece até o dia 22 de janeiro, a montadora apresentou a versão do Sync para o Focus Electric, modelo movido a baterias de lítio. O programa traz na tela sugestões da melhor rota, levando em conta quanto de energia o carro ainda tem para seguir em frente. Para os engenheiros da Ford, recursos como esse já são passado. Eles trabalham no aprimoramento do Sync e prometem inovações como a leitura em voz alta das postagens no Twitter, por exemplo.
OUSADO
Conceito NS4, da Toyota, tem sistema de câmeras e sensores para evitar colisões mesmo à noite
Claro que as outras montadoras não ficam assistindo imóveis a esse desfile tecnológico. Asiáticos, europeus e americanos desenvolvem suas próprias maneiras de seduzir o motorista que não quer passar dez minutos sem checar seus e-mails. Incentivos para que as montadoras se dediquem é o que não falta. Num primeiro momento, a popularização dos carros conectados atenderá principalmente a chamada geração Y – pessoas nascidas de meados da década de 1970 até a de 1990. Ou seja, é a última leva de humanos que nasceu com um pé no analógico e foi pousando o outro no digital. Quando as próximas gerações, que já crescem brincando com tablets e smartphones, estiverem dirigindo, a indústria espera ter desenvolvido uma tecnologia à altura das necessidades desses novos clientes.
Com isso em mente, a General Motors, maior montadora do mundo, apresentou no evento de Detroit a nova geração do compacto Sonic. O carrinho carrega em seu interior o OnStar, um sistema que fornece informações como GPS, alertas de riscos de acidentes e diagnósticos do carro. Além disso, conta com o MyLink, sistema cuja parte visível é uma tela sensível ao toque que permite ao usuário criar bibliotecas de música personalizadas e acessá-las via bluetooth. A empresa apresentou ainda os carros-conceito Code 130R e TRU 140S, todos equipados com o sistema.
Ainda na linha desses veículos que as montadoras criam para adiantar os conceitos que irão explorar no futuro, o NS4, da japonesa Toyota, despertou muitos olhares curiosos no salão de Detroit. Elétrico e com design futurista, ele conta com um novo sistema anticolisão, constituído de radares e câmeras. Tudo isso para detectar pedestres e outros veículos, mesmo à noite. Além disso, o carro traz, como outros, tela sensível ao toque que comanda as funções do veículo no painel de navegação.
JUVENTUDE
Chevrolet tenta atrair público jovem com o Sonic, semicompacto com acesso à rede
Basicamente, o que as montadoras estão apresentando e já exibiam em versões anteriores de seus modelos é conectividade, seja com smartphone, seja em bluetooth, wi-fi ou funções ligadas ao painel de navegação. Segundo Jeff Schuster, vice-presidente da consultoria americana LMC Automotive, tudo isso está migrando agora para os modelos compactos e movidos a energias alternativas (híbridos e elétricos). “Antes, isso só era encontrado nos carrões, que perderam espaço no mercado por conta da mudança do consumidor americano, sem condições financeiras de adquirir modelos caros”, disse à ISTOÉ.
“Até 2016, os consumidores vão considerar conexão à internet tão importante quanto características como segurança e economia de combustível”, disse Thilo Koslowski, especialista da consultoria Gartner. Ele compara o fenômeno ao que ocorreu com outros itens, como os celulares. Hoje, os usuários esperam mais desses aparelhos do que simplesmente fazer ligações. Fotos, vídeo, música, e-mail, navegação na web, tudo estava ausente na primeira geração de aparelhos. “Os consumidores estão mudando de comportamento e ele molda o que as pessoas esperam dos seus carros. No final, seu veículo vai se transformar numa plataforma multifunções”, afirma.
Mas tanta conectividade tem seu preço. Pesquisadores da empresa de segurança eletrônica iSec Partners demonstraram como é possível forçar alguns carros a destravar as portas e dar partida no motor enviando mensagens de texto especiais para um sistema antirroubo presente nos veículos. Preocupado com isso, o Departamento de Transportes dos EUA solicitou que a indústria automotiva desenvolvesse um plano para desenvolver defesas contra ameaças à segurança e aprimorar a confiabilidade de sistemas desse tipo. Especialistas afirmam ainda que essas tecnologias são potenciais fontes de distração para os motoristas, que normalmente já são bombardeados por celulares com cada vez mais recursos.
As preocupações com segurança, porém, não devem afetar a invasão da internet carro adentro. Os fabricantes defendem que o motorista não se distrai mais com eles do que se estivesse acessando o GPS, por exemplo. O aprimoramento das tecnologias de comando por voz também contribui para a união entre inovação e segurança. Dirigir nunca foi tão divertido. Para o motorista brasileiro só resta uma questão. Com a nossa banda larga, talvez a maior preocupação da internet seja a mesma das ruas: o limite de velocidade.
Colaborou Marcio Orsolini, de Detroit (EUA)
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