Instada nos últimos dias por dissidentes do governo cubano a falar sobre violações de direitos humanos na ilha, a presidente Dilma Rousseff disse a jornalistas nesta terça-feira em Havana que só tratará do tema em "perspectiva multilateral" e afirmou que a questão não pode ser "só uma arma de combate político-ideológico".
"Nós vamos falar de direitos humanos em todo o mundo? Vamos ter de falar de direitos humanos no Brasil, nos EUA, a respeito de uma base aqui que se chama Guantánamo", respondeu a presidente, logo após depositar flores no memorial de José Martí, herói nacional cubano, na primeira parte de sua agenda oficial em Cuba.
Dilma confirmou ainda que terá um encontro com o ex-ditador Fidel Castro, 85, durante sua rápida visita oficial à ilha comunista. "Sim, com muito orgulho eu vou [encontrar Fidel]", afirmou.
Fidel está afastado formalmente do poder desde 2008, por motivos de saúde. A presidente não revelou em que momento ocorrerá o encontro.
Questionada se falaria com autoridades cubanas sobre o caso da blogueira Yoani Sánchez, que espera do governo da ilha autorização para ir ao Brasil, Dilma respondeu: "O Brasil deu seu visto para a blogueira. Agora, os demais passos não são da competência do governo brasileiro."
Sánchez, crítica do regime dos Castro, recebeu na semana passada da embaixada brasileira em Havana visto de turista para visitar o Brasil para participar do lançamento de um documentário, no dia 10.
Javier Galeano/Associated Press | ||
Dilma Rousseff fala a jornalistas em visita em Havana, sem tratar sobre direitos humanos no país |
O governo de Cuba, porém, deve conceder um "visto de saída" à opositora. A resposta oficial cubana deve sair na próxima sexta-feira.
Dilma teria ainda na manhã desta terça-feira uma reunião de trabalho com o ditador Raúl Castro.
PORTO
À tarde, a comitiva presidencial deve seguir para o porto de Mariel, a 50 km da capital. O obra tocada pela brasileira Odebrecht no local está orçada em US$ 900 milhões, dos quais US$ 640 milhões estão sendo financiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Dilma chamou o porto de "um sistema logístico de exportação de bens produzidos em Cuba". O Brasil é hoje o quarto maior parceiro econômico de Cuba, atrás de Venezuela, China e Espanha.
De acordo com os dados do governo cubano, de 2010, o Brasil ultrapassou os EUA como provedor da ilha --apesar do embargo, uma brecha permite que cubanos comprem comida e remédios americanos.
Segundo Brasília, as vendas brasileiras à Cuba chegaram a US$ 550 milhões em 2011, alta de 32% em relação ao ano anterior.
BÚLGARO
Dilma chegou a Cuba na companhia do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e da Saúde, Alexandre Padilha.
Alejandro Ernesto/Efe - 30.jan.2012 | ||
Dilma é recebida pelo chanceler cubano, Bruno Rodríguez, em sua primeira viagem como chefe de Estado a Cuba |
Esta é a primeira visita da brasileira ao país como presidente. Ela irá passar dois dias na ilha e depois segue para o Haiti.
Dilma desembarcou ontem no aeroporto José Martí pouco antes das 17h locais (20h em Brasília) e foi recebida pelo chanceler cubano, Bruno Rodríguez.
Na chegada ao hotel, a presidente parou para tirar fotos com estudantes brasileiras e teve uma surpresa: foi saudada em búlgaro. O pai de Dilma, Petar Roussev --Pedro Rousseff--, era búlgaro.
"Blagodaria [obrigado, em búlgaro]", agradeceu Irena Nikolova, 28, a Dilma. Irena, filha do embaixador da Bulgária na ilha, acompanhava as brasileiras. O pai dela serviu também no Brasil.
DISSIDENTES
Em uma entrevista coletiva, realizada na segunda-feira, em Havana, dissidentes cubanos afirmaram que não esperam nada de relevante da visita da presidente Dilma em relação à situação dos direitos humanos na ilha.
"Acho que no pessoal (Dilma) pode estar preocupada pelo que acontece em Cuba em matéria de direitos humanos. Mas, não espero que ela trate o caso de Wilman Villar abertamente", disse José Daniel Ferrer, um ex-preso de consciência do "Grupo dos 75" e líder da dissidente União Patriótica de Cuba.
Criado em agosto de 2011, o grupo pertencia desde o mês de setembro a Wilman Villar, o preso que morreu no último dia 19 de janeiro após uma greve de fome que iniciou na prisão, segundo afirma a oposição interna. No entanto, o governo nega esse jejum e que se tratava de um dissidente.
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