O IBGE muda a lista de produtos e serviços que valem para o cálculo do custo de vida no Brasil. O peixe e outros itens que se popularizaram nos últimos anos passam a assumir um lugar de destaque no índice
Michel Alecrim
O salmão, quem diria, agora é um termômetro eficaz da inflação brasileira. A entrada desse peixe no carrinho do supermercado de um grande número de pessoas – e também popularizado pelos bufês de restaurantes por quilo – fez com que ele passasse a fazer parte do grupo de itens que mede o custo de vida no Brasil. Para acompanhar as mudanças de hábitos de consumo da sociedade, o IBGE anunciou na semana passada a alteração dos métodos de cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA. A partir de agora, o instituto deixa de computar em torno de 50 itens e inclui na lista outros 50 produtos e serviços. Bastar dar uma olhada na relação divulgada pelo IBGE para entender as razões que levaram aos ajustes. Não contam mais para a análise da inflação o preço de máquinas de costura (que desapareceram dos lares brasileiros) e gastos com barbeiro (profissional substituído pela tecnologia dos aparelhos portáteis). Além do salmão, passaram a contar no cálculo da inflação despesas com internet, telefonia celular e tevê a cabo, que cada vez mais pesam no bolso de milhões de brasileiros.
A tabela do IPCA é reformulada a cada cinco anos, com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE. Para algumas especialistas, é preciso fazer uma atualização mais frequente. “Em cinco anos, muitas mudanças ocorrem”, diz André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas. “O ideal seria que, de dois em dois anos, a cesta de compras fosse atualizada. Isso permite que o governo tenha uma política monetária mais adequada.” Além de excluir e acrescentar itens, o IBGE muda periodicamente o peso de cada produto ou serviço para a contabilidade final. A partir de agora, por exemplo, os gastos com educação terão importância estatística menor. Na visão de alguns críticos, seria uma forma de puxar a inflação oficial para baixo, já que o reajuste das mensalidades escolares tradicionalmente sobe mais do que a média do IPCA. “Foi apenas uma coincidência que itens com preços em alta tenham perdido peso”, diz Irene Machado, gerente de Índices de Preços do IBGE. É justamente o menor peso das mensalidades escolares que deve melhorar o resultado do IPCA de 2012. Se a nova tabela tivesse sido aplicada ao longo do ano passado, economistas calculam que, em vez de 6,5%, o índice oficial da inflação teria sido de 6,1%.
Na traumática história da inflação brasileira, não faltam exemplos de vilões para a aceleração desenfreada de preços. Em 1977, alarmado com uma alta de 4% dos preços em um único mês, o ministro da Fazenda Mario Henrique Simonsen encontrou em um vegetal o culpado pela disparada. “Essa inflação é do chuchu”, disse ele, que acabaria diminuindo o peso do legume no cálculo da inflação. A estratégia, porém, não deu resultado e o dragão inflacionário continuou fazendo vítimas por muito tempo. Curiosamente, mais de três décadas depois, o chuchu saiu da nova lista divulgada pelo IBGE. Tomara que a presidenta Dilma não reclame, nos próximos meses, que a culpa da inflação é do salmão.
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