Sobreviventes de um dos prédios que desabaram no centro do Rio na noite desta quarta-feira (25) lembraram do ataque terrorista de 11 de Setembro, nos Estados Unidos, por causa da nuvem de poeira formada depois do acidente.
"Pensei naquele prédio dos EUA, foi uma sensação muito estranha", disse o decorador Gilberto Figueiredo, 33.
Gilberto trabalhava a três semanas no edifício Liberdade, no número 44 da avenida Treze de Maio, na Cinelândia. O edifício, de 20 andares, e o Colombo, de dez andares, desabaram e jogaram escombros nos prédios vizinhos. Um terceiro prédio menor, onde funcionava uma loja de produtos naturais, acabou ruindo também.
A equipe de Figueiredo fazia reformas no 9º andar do Liberdade, colocando divisórias e pintando as salas de uma empresa instalada no local.
Quando começou o desabamento, ele disse que estava descendo de elevador e ouviu estrondos. Ao chegar ao térreo, disse que o prédio começou a desabar de vez, mas conseguiu escapar.
Daniel Marenco/Folhapress | ||
Bombeiros observam máquina que trabalha na remoção de escombros após desabamento no centro do Rio |
Um de seus funcionários, André Moraes, 38, também sobreviveu. "Não sei como estou aqui", disse ele, que ainda conseguiu salvar Cristiane do Carmo, 28, que havia contratado os serviços para a reforma da empresa.
Ela também chegou a tempo no térreo, mas foi atingida na cabeça por um pedaço de concreto e caiu no chão. Internada no hospital Souza Aguiar, Cristiane passa por cirurgia nesta madrugada.
Outras testemunhas contaram que, um pouco antes do desabamento, algumas pedrascaíram do alto do Liberdade. Pouco depois, houve um estrondo e o prédio veio abaixo.
Vanderlei Almeida/France Presse | ||
Veículos estacionados próximos aos prédios que caíram no centro do Rio são cobertos por poeira e entulho |
Ainda está em observação no hospital outro funcionário, Alessandro da Silva Franco, quedespencou do elevador quando o prédio já estava desabando e também conseguiu sobreviver. Ao todo, cinco pessoas deram entrada no Souza Aguiar.
No início da madrugada, parentes de desaparecidos estavam na porta do hospital à procura de informações sobre as vítimas.
Segundo a prefeitura, as informações serão centralizadas em um posto montado no térreo do prédio da Caixa, na avenida Almirante Barroso.
SOBREVIVENTES
"A possibilidade de encontrar sobreviventes é muito pequena. Vamos trabalhar durante a madrugada, temos relatos de familiares que acusam a existência de desaparecidos, mas não é possível precisar um número", disse Sérgio Simões, secretário estadual da Devesa Civil.
Cerca de 40 bombeiros continuavam nos escombros dos prédios por volta da 1h30.
Ernesto Carriço/Agência O Dia | ||
Pessoas que estavam próximas à região onde dois prédios desabaram, no Rio, ficaram cobertas de poeira |
Segundo Simões, é "leviano fazer qualquer afirmação sobre qualquer causa do desabamento". Mais cedo, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) também disse que não era possível determinar causas, mas que "possivelmente foi um problema estrutural".
RESGATE
Além dos três prédios que desabaram, havia suspeitas de que outro prédio pudesse ter sofrido abalos, mas uma vistoria feita pela Defesa Civil afastou a possibilidade de novo desabamento. Os prédios ficam ao lado do Theatro Municipal. O teatro não foi atingido, mas seu anexo, onde funciona a bilheteria, sofreu danos por causa dos escombros.
Pessoas que estavam em um edifício próximo usaram a luz de seus telefones celulares para chamar a atenção dos bombeiros e buscar socorro. Com as escadas cheias de escombros, não havia como sair. Um grupo de 30 pessoas foi resgatado.
Zelador de um dos prédios, uma das vítimas disse que o edifício Liberdade estava vazio quando houve o desmoronamento, mas de acordo com o analista de sistemas Fernando Amaro, 29, que estava no quarto andar do Liberdade, um grupo de 30 pessoas participava de um treinamento profissional no imóvel.
"Eu estava na banca de jornal em frente e, de repente, ele simplesmente caiu", disse o Amaro, 29, que tinha acabado de sair do edifício quando houve o desmoronamento.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Moradores de edifícios vizinhos contaram que sentiram os imóveis balançarem, como se estivesse acontecendo um terremoto. "Senti meu colchão tremer. Abri a janela e não vi nada, só poeira. Fiquei desesperada, não sabia o que fazer", disse a auxiliar de enfermagem Diane Silva Souza, 35, moradora de um apartamento na rua Senador Dantas.
"Ouvimos um barulho enorme, progressivo e constante, como se algo estivesse desabando mesmo. Olhei pela janela e pude ver o prédio já na metade, desmoronando como se estivesse ocorrendo uma implosão programada. Uma nuvem de poeira se espalhou por todos os lugares e pessoas gritavam desesperadas na rua", disse o advogado Vitor Rocha, 29, que assistia uma aula em um prédio próximo.
Carros que estavam estacionados no entorno ficaram cobertos de entulho. A poeira se espalhou até o Largo da Carioca, a cerca de 450 metros dos prédios que caíram.
INCÊNDIO
Às 21h30 houve um princípio de incêndio. De acordo com bombeiros, havia forte cheiro de gás no local. Jornalistas e curiosos foram afastados. Um cordão de isolamento mantinha todos a cerca de um quarteirão do local do desabamento.
Fiscais da CEG (companhia de gás do Rio) foram chamados para fechar as tubulações de gás, por medida de segurança. A empresa informou que não havia registro de reclamações de vazamento de gás no prédio, nem vistoria agendada. A Light desligou o fornecimento de energia nos arredores para evitar incêndios.
Foram fechados os dois sentidos da avenida Almirante Barroso, entre a rua Senador Dantas e a avenida Rio Branco. A rua Evaristo da Veiga também foi interditada ao tráfego. As interdições serão mantidas nesta quinta e a Defesa Civil recomendou a pessoas que trabalham na área isolada que não entrem nos prédios.
Quatro estações do metrô no entorno do desabamento foram evacuadas: Uruguaiana, Carioca, Cinelândia e Presidente Vargas. Mas, segundo o Centro de Operações do Rio, todas as estações serão abertas normalmente, às 5h.
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