Como o acidente no Itaquerão e a discussão
sobre a mudança do horário dos jogos marcados para as 13h podem tirar
parte do brilho da festa do sorteio das chaves na Copa
Rodrigo Cardoso
O sorteio das chaves da Copa do Mundo, na sexta-feira 6, na Costa do
Sauípe, deve esquentar o clima no País nesta reta final antes do início
do torneio. Um acidente ocorrido na quarta-feira 28 na Arena Corinthians
fará com que os cartolas da Fifa, durante a estadia na caliente Bahia
de todos os santos, deixem o clima de festa de lado para se debruçarem
sobre um assunto espinhoso. Na ocasião, a entidade terá de revalidar a
abertura do Mundial no Itaquerão, cuja conclusão das obras sofrerá um
atraso de cerca de três meses, depois que um guindaste que içava o
último módulo da estrutura de cobertura se partiu e derrubou a peça de
420 toneladas sobre a fachada do estádio. Dois funcionários morreram no
local.
ESPANTO
O estrago feito pelo acidente que danificou a fachada
da Arena Corinthians e matou dois operários
Não há como adiar essa decisão, já que, com o sorteio em Sauípe,
serão definidas as cidades onde as seleções irão jogar e, claro, as que
forem direcionadas para a sede de São Paulo têm de saber em qual campo
irão atuar. Seis partidas estão programadas para acontecer na nova casa
do Corinthians. A situação da Arena preocupa. Apesar de apenas 5% do
estádio ter sido interditado pela Defesa Civil para que seja feita uma
perícia, o Ministério Público paulista pode pedir a paralisação total
das obras. Não se sabe se o acidente ocorreu por algum problema técnico
do guindaste, por falha humana ou porque o solo cedeu enquanto a peça
era içada. Presente no estádio no momento do acidente, Andrés Sánchez,
ex-presidente do Corinthians, acredita que uma fatalidade explica o
ocorrido. Um dia depois da tragédia, os nove guindastes da obra do
Itaquerão foram interditados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. “A
obra vai atrasar, com certeza. A data Fifa não me interessa, quero saber
da segurança da operação”, disse Antônio Pereira do Nascimento,
coordenador do Programa de Construção Civil, em São Paulo, do MP.
PORTA-VOZ
Presente no estádio no momento do acidente, Andrés Sánchez,
ex-presidente do Corinthians, diz que o acidente foi uma fatalidade
Se a perícia, que pode levar 30 dias, for ágil e não complicar a
situação do Corinthians comprovando que o acidente não causou danos
estruturais ao prédio, tudo leva a crer que a conclusão do estádio, que
deveria ocorrer este mês, ficará para fevereiro ou março. Para o
arquiteto Eduardo de Castro Mello, responsável pelo projeto do estádio
Mané Garrincha, em Brasília, trata-se de uma expectativa muito otimista,
considerando-se os problemas de logística que a Odebrecht, a empresa
responsável pela construção do Itaquerão, irá enfrentar. “Fabricar outra
estrutura como aquela, transportá-la para a obra e trazer outra grua
para substituir a que quebrou e era a única no Brasil não é tão simples.
E, em fim de ano, complica mais ainda”, afirma ele. “A gente torce para
que seja feito um milagre e tudo se resolva.”
Acidentes seguidos de mortes também foram registrados em duas outras
arenas da Copa, em Brasília e Manaus, onde uma pessoa morreu em cada uma
delas. A proximidade do início do Mundial e a falta de um plano B da
Fifa para São Paulo deverão forçar a entidade a mudar o cronograma e
esperar a conclusão do Itaquerão. Pesa ainda o fato de a entidade ter
marcado para São Paulo, em junho de 2014, o seu congresso anual. A rede
hoteleira da capital paulista é considerada pelos cartolas a única capaz
de receber os representantes de 209 associações que aqui estarão para o
evento.
PREOCUPAÇÃO
O homem forte da Fifa, Joseph Blatter, não terá vida tranquila, no Brasil,
durante a semana do sorteio dos grupos da Copa: assuntos espinhosos em pauta
Outro tema que a Fifa irá tratar a portas fechadas na Bahia, longe do
clima de festa, será a pressão para mudar o horário de 24 dos 64 jogos
marcados para as 13h. “Simulamos recentemente quatro partidas começando
às 13h em quatro cidades e instalamos chips que mediram por telemetria a
temperatura do corpo nos 11 jogadores de um dos times”, conta Rinaldo
Martorelli, presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais
de Futebol. “Provamos cientificamente que há riscos para a saúde dos
atletas e fui até a Fifa entregar o documento de 25 páginas.” Já na Copa
das Confederações, realizada em meados de junho, jogadores das Seleções
da Espanha e da Itália reclamaram publicamente do calor durante as
partidas.
O Comitê Organizador Local (COL) confirmou que os cartolas vão se
reunir, antes do sorteio, para decidir sobre esse tema também. “A saúde
dos atletas tem de estar em primeiro lugar. Mas marcam-se jogos às 13h
por causa da tevê, que é quem mais injeta dinheiro na Copa”, diz Carlos
Alberto Parreira, coordenador-técnico da Seleção, favorável à disputa de
partidas a partir das 16h. Esse é outro embate que promete. “A cada 1%
de peso perdido por causa da desidratação o rendimento do atleta cai
5%”, explica o fisiologista Turíbio Leite Barros Neto, do instituto
Vita. Apesar do sorteio dos grupos, como se vê, o clima ainda não está
para festa.
Fotos: EDUARDO VIANA/AFP PHOTO/LANCEPRESS; EVELSON DE FREITAS/ESTADÃO; Enrique De La Osa/REUTERS
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