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terça-feira, 19 de novembro de 2013

O foragido que queria governar o Paraná

Henrique Pizzolato, condenado no mensalão e agora procurado pela Interpol, disputou o governo do estado em 1990. Ficou em quarto lugar criticando os corruptos

  André Gonçalves, correspondente Corria o último debate do primeiro turno da campanha para governador do Paraná, em 1990, quando um azarão resolveu colocar o favorito contra a parede. O candidato do PT queria que José Carlos Martinez, do mesmo PRN de Fernando Collor, listasse cinco afastados por corrupção no governo do então presidente. Sem conseguir uma resposta, o petista baixou a lista para quatro, três, dois – até que ofereceu um Fusca zero quilômetro se o oponente apresentasse pelo menos um nome.
Linha do tempo
Como foi a trajetória de Henrique Pizzolato:
• 1952 – Nasce em Concórdia, no Oeste de Santa Catarina.
• 1988 – Candidato pelo PT a prefeito de Toledo, no Oeste do Paraná. Fica em terceiro lugar, com 1.851 votos.
• 1989 – É eleito presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR), após carreira no Sindicato dos Bancários.
• 1990 – Concorre a governador do Paraná pelo PT. Faz 192.497 votos (6,13% dos válidos) e fica em quarto lugar no primeiro turno, atrás de José Carlos Martinez (PRN), Roberto Requião (PMDB) e José Richa (PSDB).
• 1992 – Concorre pela segunda vez a prefeito de Toledo. Repete o terceiro lugar de 1988, com 4.021 votos. No mesmo ano, é eleito representante dos trabalhadores no conselho de administração do Banco do Brasil.
• 2003 – Depois de virar diretor do Previ, bilionário fundo de pensões dos funcionários do Banco do Brasil, é escolhido para ser diretor de marketing do Banco do Brasil na gestão Lula. No cargo, teria liberado repasse de R$ 73,8 milhões, por meio da Visanet, para a DNA Propaganda, empresa de Marcos Valério, operador do mensalão. Também recebeu R$ 336 mil do “valerioduto”, que diz ter repassado ao PT.
• 2012 – É condenado no julgamento do mensalão a 12 anos e 7 meses de prisão, em regime fechado, pelos crimes de peculato, formação de quadrilha e corrupção passiva.
• 2013 – Tem a execução da pena decretada no dia 15 de novembro. Antes disso, porém, foge para a Itália.
A lembrança não veio e, pela postura, o autor da pergunta virou a zebra do debate, transmitido ao vivo pela TV Paranaense (atual RPC). Mas quem era o tal questionador? Henrique Pizzolato, que duas décadas depois foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão no julgamento do mensalão por, entre outros crimes, corrupção passiva.
Pizzolato, que deveria começar a cumprir a pena em regime fechado na última sexta-feira, fugiu para a Itália e ontem entrou para a lista de procurados da Interpol (a polícia internacional). Lembrado em Brasília como o influente diretor de marketing do Banco do Brasil durante o primeiro mandato da gestão Lula, ele nasceu em Concórdia (SC), mas construiu carreira sindical e política no Paraná. Radicado em Toledo, no Oeste, concorreu à prefeitura duas vezes (1988 e 1992), sem sucesso, e ocupou a presidência da CUT do Paraná entre 1989 e 1991.
Funcionário de carreira do Banco do Brasil, Pizzolato subiu no PT graças à atuação como sindicalista. “A conjuntura econômica do país nos anos 1980 praticamente impunha às categorias que negociassem reajustes de três em três meses. E os bancários eram referência nessa luta”, lembra o deputado federal Ângelo Vanhoni (PT), ex-vice-presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba.
Em 1990, no entanto, não era ele o favorito do partido para disputar o Palácio Iguaçu, mas sim Claus Germer, professor da UFPR que em 1988 havia disputado – e também perdido – a prefeitura de Curitiba. Esse e outros vários episódios da campanha, inclusive a história do debate na TV Paranaense, estão descritos no livro Os Anos Heroicos: o Partido dos Trabalhadores do Paraná do nascimento até 1990, do jornalista e militante petista Roberto Elias Salomão. “O Pizzolato não era uma invenção, um simples sindicalista de Toledo, mas um nome em ascensão. Já o partido nem de longe tinha a estrutura que tem hoje”, diz Salomão.
Nas duas disputas anteriores para governador, os candidatos do PT fizeram votações inexpressivas – Edésio Passos somou 12.047 votos em 1982; e Emanuel Appel teve 51.187 votos em 1986. Pizzolato só se viabilizou como candidato em 1990 após um confronto interno com o então vereador de Londrina Luiz Eduardo Cheida. De acordo com o livro de Salomão, pesou a favor do sindicalista o apoio de Gilberto Carvalho, que na época já era próximo de Lula e hoje ocupa a Secretaria-Geral da Presidência.
“Ele [Pizzolato] era um cara talentoso, bom de argumentação, que discutia filosofia e sempre que se posicionava citava algo de um grande pensador”, lembra Jorge Samek, candidato a governador pelo PT na eleição seguinte, em 1994, e atual diretor-geral da hidrelétrica de Itaipu. Na propaganda de televisão, Pizzolato chamava atenção pelo uso de crianças e pelo tom de revolta dos discursos.
Se não chegou a empolgar a maioria do eleitorado paranaense, a participação de Pizzolato pelo menos cumpriu as expectativas do PT. Com 192.497 votos (6,13% do total), ele chegou em quarto lugar no primeiro turno da eleição, que acabou sendo vencida por Roberto Requião (PMDB). Apesar disso, o PT conseguiu eleger três deputados estaduais e, pela primeira vez, três federais – incluindo o também bancário e atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
Destinos cruzados
A trajetória de Martinez, alvo de Pizzolato no debate eleitoral de 1990, acabou se cruzando com a do petista outra vez em Brasília no caso do mensalão. Depois de perder a eleição de 1990, Martinez virou deputado federal e, como presidente do PTB, foi citado como uma das peças-chaves do mesmo mensalão que levou à condenação do petista. Martinez, porém, não foi a julgamento por ter morrido em uma acidente aéreo.

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