Foi a segunda manutenção seguida do juro básico da economia brasileira.
Decisão confirma expectativa do mercado, que prevê taxa estável em 2014.
A decisão de manter o juro estável era amplamente esperada pelo mercado financeiro, que prevê a estabilidade da taxa neste mesmo patamar até o final deste ano por conta do fraco nível da atividade econômica - apesar de a inflação oficial, medida pelo IPCA, ter somado 6,52% em 12 meses até junho.
Para 2014, 2015 e 2016, a meta central de inflação do governo é de 4,5%, mas o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. O governo considera que a meta foi cumprida ou não apenas com base no acumulado em 12 meses até dezembro de cada ano.
O Banco Central usa os juros básicos para controlar o aumento de preços. Com taxas maiores, a instituição busca reduzir o crédito disponível e, assim, o dinheiro em circulação. Dessa forma, é possível diminuir a quantidade de pessoas e empresas dispostas a consumir bens e serviços, e, teoricamente, os preços tendem a cair ou parar de subir.
Ao fim do encontro, o BC divulgou o seguinte comunicado: "Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11,00% ao ano, sem viés".
Tempo para ver resultado da alta implementada
De acordo com o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, o BC está dando uma parada para avaliar o cenário atual da economia. "Depois que faz um ciclo de alta, precisa parar e esperar, para ver os tais dos efeitos defasados, cumulativos do aumento de juros. Não vejo a perspectiva de que a inflação esteja fora de controle", declarou. Ele acredita que o IPCA tende a ficar um pouco acima do teto de 6,5% neste ano.
Para o professor do MBA Finanças do Ibmec/DF, José Kobori, o BC deve manter os juros para ver o impacto das elevações já feitas. Segundo ele, inflação deve terminar este ano exatamente em 6,5%, ainda dentro do limite do sistema de metas, mas o PIB, com um crescimento próximo de 1% em 2014, deve ser novamente "um fiasco". "E isso tem custo político", acrescentou.
O Banco Central, por sua vez, argumenta que parte do aumento dos juros feito até abril deste ano ainda não teve efeito pleno na inflação, uma vez que as decisões sobre a taxa básica da economia demoram alguns meses para terem impacto. "O aumento de taxa de juros primeiro alcança a atividade e depois alcança a inflação. Acreditamos que, ao final deste ano e ano que vem, esse aumento de taxa de juros vai continuar alcançando a inflação", afirmou o diretor de Política Econômica da instituição, Carlos Hamilton, no fim de junho.
Administrados pressionam e Copa não ajuda, mas alimentos cedem
Para este ano, a expectativa é de uma pressão inflacionária maior dos chamados preços administrados, como telefonia, água, energia e combustíveis, que ficaram "represados" em 2013. A previsão tanto do Banco Central quanto do mercado financeiro é de que os preços administrados registrem uma alta de 5% em 2014, contra uma elevação de somente 1,5% no ano passado.
Entre as medidas que contiveram o aumento dos administrados em 2013 estão a desoneração das tarifas de energia elétrica, anunciadas pelo governo federal, a ausência de um repasse mais forte das cotações internacionais do petróleo para os preços domésticos da gasolina, o que causou impacto no fluxo de caixa da Petrobras, além do não reajuste de tarifas de ônibus em algumas capitais, por conta das repetidas manifestações que aconteceram no país em junho do ano passado, entre outras.
Ao mesmo tempo, a Copa do Mundo de 2014, que aumentou o turismo no Brasil e a procura por produtos e serviços de hotelaria, transportes, bares e restaurantes, também não ajuda o controle da inflação, pois gera impacto nos preços. Em junho de 2014, a inflação somou 0,4%, bem acima da média dos últimos 10 anos (0,23%) e também dos últimos 5 anos (0,17%). A expectativa dos economistas é de que, em julho, o IPCA fique novamente acima da média histórica.
Por outro lado, os preços dos alimentos mostram uma dinâmica melhor em 2014. Em junho, foi registrado um recuo de 0,11% no grupo de alimentação e bebidas, o que foi comemorado pelo Ministério da Fazenda. "É um indicador importante para recuperar a confiança do consumidor e aumentar o orçamento das famílias para aquisição de bens duráveis. Melhora a confiança na economia", avaliou o secretário de Política Econômica, Márcio Holland, no início deste mês.
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